Ouve lá ó Mister – Arouca

Estimado Professor,

Em primeiro lugar, permita-me que lhe dê as boas-vindas ao novo lugar que ocupa na hierarquia e que o fez passar de Pedroso para as Antas. É uma mudança interessante de freguesia e de concelho mas acima de tudo é um passo acima no que diz respeito à sua experiência pessoal e apesar do lugar não ser permanente, só lhe pode dar um gozo bestial saber que está aos comandos de um dos clubes mais respeitados e vencedores do Mundo. Por isso, mais uma vez, bem vindo.

Tenho acompanhado com interesse o seu trabalho no FC Porto B desde o início da temporada e vi que está a fazer um trabalho estupendo, levando um grupo de miúdos (aditivado aqui e ali com umas peças interessantes de maturidade e experiência) ao topo da divisão em que estão inseridos e que o mérito é em grande parte seu. Tem sabido gerir talento, fez melhorar diversas peças-chave da equipa e construiu uma formação que mostra organização, querer e vontade de vencer em todos os jogos. E foi por isso com alguma surpresa que não vi pelo menos um nome da segunda formação para injectar algum sangue novo no grupo tão desmoralizado que agora gere. Mas não leve isto como uma crítica, porque quem os conhece melhor é o meu caro amigo, por isso deixo ao seu critério pelo menos por agora, mas daqui a algum tempo vai-me permitir alguns comentários construtivos para que saiba o que penso sobre o assunto.

Hoje não espero um jogo fenomenal ou uma exibição daquelas que apetece que o jogo dure cinco horas. Quero que vença, claro, mas quero acima de tudo que reabilite táctica e emocionalmente aquele grupo de retalhos que constitui a equipa do FC Porto 2013/2014. Lá estarei na bancada a apoiar, como de costume.

Sou quem sabes,
Jorge

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Crónica de uma saída anunciada

Recebi a notícia enquanto almoçava. Fiquei surpreendido, admito, até porque a esta altura da época não pensava que houvesse qualquer alteração no leme, por muito complicada que a situação estivesse, e está. Mas fui inundado por uma sensação de alívio que decerto não durará muito tempo, essa tradicional descarga de adrenalina negativa como tivesse acabado de desistir da subida a uma montanha íngreme enquanto a meio da ascensão, enquanto via os colegas mais à frente, quase a perder de vista. Era esse cume a que apontávamos, que agora ainda está ao alcance mas quase impossível de tocar com mãos virgens, e que vemos ao longe enquanto paramos para lamber as feridas, os rasgões que fomos sofrendo ao longo do percurso pelo matagal rasteiro mas cheio de cardos e cactos e espigões que nos foram fazendo sangrar ao longo de nove meses. Não estamos bem, estamos tristes, vamos sofrendo e queixando enquanto levantamos as mãos para o céu e perguntamos se ainda demora muito para acabar. E sabemos que há arbustos com bagas rejuvenescedoras pelo caminho, vermelhas com o sumo da fonte de um qualquer Ponce de León que nos faça erguer com a força e vitalidade de trezentos espartanos e que nos dê a hipótese de continuar a subir. Sempre a subir. Mas paremos com as metáforas e a hiper-deambulação poética para voltar ao assunto mais palpável e fácil de analisar.

Paulo Fonseca sai por culpa própria. Não duvido disso e estou para lá de ser um desculpadista das opções da SAD, das piadas de Pinto da Costa ou das falhas dos árbitros. A culpa de Fonseca é nítida em três vertentes: resultados, opções tácticas e liderança.

Os resultados são a parte fria da questão. É inegável que um treinador chega ao FC Porto com a perene necessidade de vencer. Não há volta a dar a esta exigência, a este zénite doméstico que é quase impossível de manter e que só os grandes alguma vez conseguem com assertividade e consistência. E ninguém lhe pedia para ser um Mourinho ou um Villas-Boas, mas pedia-se que não fizesse, no mínimo, pior que o seu antecessor. E não o conseguiu, espalhando-se ao comprido no campeonato, saindo da Liga dos Campeões com estrondo e mantendo-se amarrado com um fio à Europa League. Venceu a Supertaça, sim, com um jogo até bem razoável, mas foi numa fase tão incipiente da temporada que já ninguém se lembra, nem sequer dá grande importância. E o resto dos meses foi passando com vitórias quase sempre difíceis e demasiadas perdas de pontos. A derrota na Luz foi tão simples para os da casa que nem parecia natural a disputa de um jogo que não é suposto correr-nos bem mas que tantas vezes nos últimos anos tinha sorrido para os nossos lados. E o desaire no Dragão, anos depois do último, foi tão inusitado como esperado por quase todos e lamento dizê-lo, até pelo próprio treinador.

A parte táctica acaba por ser mais questionável tendo em conta o que é a hubris habitual de um treinador de futebol. Ninguém quer simplesmente pegar no trabalho que já estava feito, embrulhá-lo num papelinho todo catita e dizer que o conteúdo é todo novo, esperando que o mérito seja entregue por inteiro. Há uma contínua necessidade de afirmação, de deixar uma marca para o futuro e de dizer que “aquela” equipa é minha, “aquela” estratégia foi criada, inventada e aplicada por mim, pelo que agora está cá e o passado que se lixe. Não o questiono e é uma das formas que um novo nome tem de se fazer ouvir, especialmente quando houve uma ou outra alteração nos elementos que o rodeiam diariamente. Mas chega a uma altura em que os observadores mais atentos do resultado do seu trabalho (não do trabalho em si, atente-se), os adeptos, perdem a paciência. E este ano foi fácil perceber que algo não estava a funcionar. A insistência nos dois homens mais recuados no meio campo pareceu sempre estranha a um grupo que nunca o tinha feito e em especial a um ou outro jogador que pareciam desconfortáveis em demasia com o que lhes era pedido. Havia buracos enormes no centro do terreno, falta de apoio nas alas, um tremendo abismo entre o centro do ataque e o resto das posições ofensivas…tudo parecia estar a funcionar mal, sem entrosamento e com demasiadas hesitações na altura de colocar em campo o que todos já vimos que aqueles rapazes podem e sabem fazer. Fonseca foi-se perdendo em hesitações nas alas, mudando constantemente a estrutura sem deixar de privilegiar a sua visão, nunca querendo perder a estratégia geral e desperdiçando tempo e oportunidades em alterações que eram nucleares, não o parecendo.

E quando as coisas não funcionam, chega a altura da terceira falha, talvez a mais grave: a liderança. Nunca o treinador pareceu forte, nem no discurso e muito menos durante o jogo, onde os aplausos sempre pareceram exagerados e sem efeito na moral dos jogadores. Falhas após inconcebíveis falhas defensivas eram saudadas com uma ronda de incentivo em forma de meia-dúzia de palmas vindas do banco, de onde pouco mais parecia sair a não ser a compreensão pelo trabalho mal feito e a crença cega que iria melhorar no futuro. Dava a impressão que o treinador era pouco pai, pouco chefe, pouco disciplinador e muito amigo, muito compreensivo, muito new-age. Quando a espiral negativa dos resultados começou então a abanar a estrutura, não havia pulso. As falhas sucediam-se e a ausência de uma palavra forte para fora que ecoasse para dentro foi-se notando, ajudando a desfazer as fundações de uma equipa que é feita de massa fraca, com muitos jogadores a cederem psicologicamente às suas próprias ineficiências sem que conseguissem elevar a moral durante mais de cinco minutos de cada vez. E foi aí que Fonseca começou a perder o grupo, perdendo os adeptos por arrasto.

Perdemos, por isso, um treinador que foi uma aposta no início da temporada e que nunca chegou a conquistar seja quem fosse dentro do FC Porto. Há várias atenuantes (as perdas de Moutinho e James; a falta de um jogador decisivo nas alas que Quaresma, pelas características que tem, nunca será em pleno; o constante assédio a jogadores do núcleo central durante o mercado de Inverno) mas nenhuma delas pode explicar a quase completa implosão que o FC Porto atravessa neste ano. Exigia-se mais e melhor. Fonseca nunca conseguiu o mínimo e por isso sai, com consciência de um trabalho feito com honestidade mas sem capacidade para um clube deste nível.

Obrigado, Paulo. Que tenhas sorte no futuro, mas deixo-te um conselho: não tentes ser amigo dos jogadores a não ser que te retribuam em campo. Porque quer queiras quer não, antes de seres amigo deles, tens de ser chefe.


PS: Um bom exemplo da forma como a comunicação do FC Porto funciona está na notícia que foi colocada no site oficial do clube em relação à saída de Fonseca. Nem um agradecimento pelo trabalho efectuado ou uma palavra simpática. Estamos a passar de clube regional para clube grande, sem a mentalidade de gente superior. Entristece-me.

PS2: Interino ou não, Luís Castro é o nosso novo treinador. E eu, que ando desde o início do ano a ver os jogos da B e a apreciar o trabalho do “mister” (e há meses que ando para escrever sobre os valores que vão aparecendo na equipa secundária…o que prova que o timing é tudo e que eu, sinceramente, sou uma bestinha), não espero nada de extraordinário nos próximos tempos. até porque já tenho idade suficiente para não acreditar em milagres. Seja como for, bem vindo, caríssimo!

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Na estante da Porta19 – Nº17

Cinco Escudos Azuis: A História da Selecção Nacional de Futebol” traz-nos todo o percurso da nossa Selecção, desde os primeiros tempos da formação das Quinas, começando a representar o nosso país no longínquo ano de 1921 e atravessando mares e continentes levando a nossa bandeira a todo o mundo com o símbolo que nos é tão querido. De Cândido de Oliveira a Scolari em 2004, o livro é escrito pelo assessor de imprensa da Selecção na altura em que foi lançado, Afonso de Melo, notório benfiquista doente e que merece de mim todo o desrespeito pelas atitudes clubísticas que toma mas que louvo o trabalho feito em prol da Selecção que quase todos apoiamos. É uma história interessante para todos os portugueses, especialmente para percebermos que apesar de todos os problemas, chatices, casos Saltillo e outros que tais, continua a ser um elemento potencialmente agregador de nomes, factos e acima de tudo de um símbolo que é nosso e que devia pugnar por continuar a ser nosso, do povo, de todos nós.

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Baías e Baronis – Guimarães 2 vs 2 FC Porto

O minuto 85 é a imagem perfeita para alguém que queira perceber o que é o FC Porto 2013/2014. Incapazes de sair de uma zona de pressão por parte do adversário, a zona defensiva cometeu falhas atrás de falhas quando tentava movimentar a bola numa transição para o ataque que nunca saiu porque a bola não saía dali. Alex Sandro, Fernando e Maicon foram lentos a afastar a bola, fiando-se na sua capacidade de controlar o esférico, sem linhas de passe, sem movimentação ofensiva para receber a bola e começar uma fase de construção que se espera de uma equipa grande. Mais uma vez desperdiçámos uma vantagem de dois golos para perder mais dois pontos e acabar quase definitivamente com a esperança em vencer o tetra-campeonato. E não merecemos mais que isso, especialmente pela segunda parte que fizémos, digna de um clube pequeno, com mentalidade pequena. Quanto descemos, meu Deus. Notas abaixo:

(+) Ghilas (na primeira parte). Com características completamente diferentes de Jackson, é o avançado que precisamos neste momento pela força que mostra e pela movimentação agressiva que coloca ao dispôr da equipa enquanto está em jogo. Teve azar por não ter conseguido marcar na primeira parte (uma bola à trave e um cabeceamento a roçar no poste) mas conseguiu o remate que deu origem ao segundo golo e agiu sempre com determinação, raça, entusiasmo e vontade de jogar. Para primeiro jogo como titular na Liga não se podia pedir muito mais. Baixou de produção na segunda parte porque a equipa não agiu como tal e talvez porque não tenha ritmo para muito mais que 45 minutos…é o que acontece a um jogador que joga 4/5 minutos de cada vez…

(+) Danilo. Continua a ser dos poucos que se esforça para conseguir mais do que os miseráveis resultados e más exibições que os colegas têm protagonizado. Tem vindo a melhorar na primeira fase de construção dos lances ofensivos e está mais atento na defesa, só não tem culpa que a maior parte do sector defensivo esteja a dormir durante todos os jogos…

(-) Abdoulaye e Maicon. Um jogo completamente absurdo do senegalês, que nunca conseguiu assentar a cabeça de forma a poder ter uma atitude normal em jogo. Hesitações a mais, falhas na marcação a Maazou e um nível de agressividade quase sempre excessivo que fez com que nada lhe corresse bem porque nunca tentou jogar…normalmente. Tudo que fez foi em força e sem cabeça, desde o amarelo que levou às inúmeras desconcentrações que deixavam os jogadores do Guimarães sem problema a jogar contra uma defesa que nunca pôde confiar nos foras-de-jogo do adversário porque Abdoulaye lá estava sempre a facilitar, totalmente desenquadrado da equipa. Maicon, a seu lado, de quem espero sempre mais, foi o Maicon dos maus dias que têm sido bem mais que os bons nesta época. Distraído, displicente e sem velocidade suficiente que nem a inteligência posicional (que tem) lhe valeu. Um jogo muito mau de ambos.

(-) Herrera, Carlos Eduardo…e até Fernando. Foram incapazes, especialmente na segunda parte, de manter a bola controlada durante tempo suficiente para que a equipa se conseguisse organizar em condições. Fernando falhou muito na marcação à entrada da área e na cobertura dos espaços, mas Herrera e Carlos Eduardo foram inexcedíveis no desperdício e na incapacidade de impôr um jogo com consistência e acima de tudo força física e mental. Carlos Eduardo está num momento horrível e Herrera está um perfeito anti-Castro: joga sempre a um ritmo baixo demais para este nível e quando apanha Andrés ao quadrado e outros que tais, raramente consegue safar-se por cima. O nosso meio-campo é a principal razão, táctica e física, pelos maus resultados da equipa, cada vez tenho menos dúvidas disso.

(-) Quaresma. Lembro-me de uma frase que já se ouviu tantas vezes nas bancadas do Dragão: “Leva-a para casa, caralho!”. Exagerou nos lances individuais e apesar de raramente lhe apontar o dedo quando é dos poucos que tenta, a verdade é que há muitas alturas em que o jogo colectivo parece que lhe passa ao lado. Hoje foi uma delas, porque raramente passava a bola aos colegas em situações de perigo, optando por ser ele próprio a levar a equipa às costas. O Quaresma de 2007 talvez conseguisse. O de 2014 já não consegue e devia ter noção disso.

(-) Porque raio convocar Jackson?! Não consigo entender o porquê de convocar um jogador para depois o meter em campo quando se vê à distância que não está em condições, físicas e mentais, para disputar um jogo deste nível e com previsíveis dificuldades e para o qual era necessário um homem forte e capaz de lutar por um resultado essencial. Juro que não entendo.


Não baixo os braços, nunca o faço, mas começa a ser complicado mantê-los lá no alto“. Disse isto depois do jogo contra o Estoril. Não tenho nada a acrescentar.

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