Vectores do potencial insucesso: psicológico

Este é o que creio ser o mais importante e menos fácil de resolver de todos os problemas que podemos encontrar na equipa do FC Porto 2012/2013, independentemente de virem ou não a ter o sucesso que todos esperamos possa ainda surgir. Não me lembro de ver um onze portista tão desanimado em jogo como nos últimos tempos. Os rapazes parecem-me tristes, infelizes, com pouca vontade de jogar, de levar a água ao proverbial moínho com a velocidade e o ritmo que grande parte dos jogos assim obrigam. E não consigo interpretar o que se vai passando pela cabeça dos moços só de uma forma, porque não consigo vê-los só como mercenários (porque lhes tenho respeito) ou apenas como miúdos sem experiência (até porque não são). Mas o que se passa?

Há uma espécie de desânimo precoce que se apodera da equipa e que os faz quase desistir depois de meia-dúzia de infortúnios. Começamos logo pela aparente ausência de critério no passe depois de várias jogadas sem que consigamos um remate ou uma incursão perigosa pela área. Cedo, cedo demais se começa com passes longos para as alas, sem que o apoio do lateral esteja pronto a chegar ou os médios correctamente posicionados. Muitas vezes se vê Jackson a receber a bola de costas, sem linha de passe que tenha uma remota possibilidade de sucesso, obrigando-o a descer até zonas impróprias para um jogador da sua habitual posição. Movimentação mais curta no meio-campo leva a que os laterais subam por vezes em demasia, fazendo com que uma perda de bola se torne numa chatice para a zona recuada, que naturalmente inclinada para o ataque se vê à rasca para defender em condições.

Não há melhor imagem que a de Danilo, que falha os simples passes que deveriam arrancar uma jogada ofensiva de uma forma…quase ofensiva para os adeptos. Da próxima vez que tal acontecer (e acreditem em mim, vai haver uma próxima vez), reparem na expressão corporal do homem. Desânimo, frustração, que se traduzem no baixar de braços, no abanar da cabeça e na corrida lenta para trás, como que se tivesse já desistido de continuar a dar o contributo à equipa. E Danilo é só um exemplo do que vejo em Varela ou em James, em Otamendi ou até em elementos com mais experiência como Lucho ou Helton, que em alturas pivotais no decorrer de uma partida parecem cair numa profunda fenda e ficam a moer sozinhos, como um “emo” depois de uma bem sucedida tarde passada perto de tantas oh tantas lâminas.

E isto é que não compreendo. Não foi esta a equipa que por duas vezes esteve a vencer na Luz e que, deixando-se empatar depois de cada golo, nunca perdeu o Norte e continuou a apontar para a vitória? Não foi esta equipa que incapaz de porfiar contra o Paris Saint-Germain, continuou até ao fim à procura do golo da vitória? Não digo para terem o mesmo comportamento dos “alumni” de 2009/2010 e daquela vergonhosa (sim, é esse o termo) final da Taça da Liga, onde a frustração de uma derrota inequívoca contra o Benfica levou a que meia-equipa começasse a dar pancada no adversário, com o próprio capitão a encabeçar as tropas. Aliás, grande parte dessa temporada foi passada à patada e ao murro, o que em nada ajudou na caminhada para um terceiro lugar que a única coisa boa que trouxe para o clube foi a presença na Europa League no ano seguinte, que viríamos a ganhar. Mas pelo menos nessa altura via-se um lampejo de orgulho, uma reacção a quente de uma equipa que há muito não sabia perder e que encarou essa derrota da pior maneira possível. Nessa época perdemos, e perdemos bem, mas no meio da rebaldaria que se tinha tornado o balneário e a desorganização colectiva, ao menos via-se alguma mágoa por estar a ser derrotado em campo e fora dele. Este ano, só vejo resignação. Na cara dos jogadores, do treinador, até de alguns adeptos. Não vejo espírito de luta, de garra, de afirmarem que são melhores porque são de facto melhores e provarem-no dentro do relvado. Vejo muitos braços caídos e são essas manifestações de desinteresse que deixam um sócio estupefacto e a pedir melhores momentos.

E francamente, é a faceta negativa de Vitor Pereira. Uma espécie de anti-Adriaanse, que se parece dar bem com todos os “seus” jogadores, mas que é incapaz de os motivar a jogar a um nível alto em todos os jogos. Mas estico-me, e isso são contas para outra altura, corra bem ou corra mal até ao final do campeonato. Agora…só precisava que alguém arranjasse uma injecção de moral para os nossos rapazes. Deus sabe que precisávamos bem dela neste momento.

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Vectores do potencial insucesso: técnico

Aqui, meus amigos, começam as grandes questões e aquelas que são mais facilmente escondidas quando a equipa mostra alguma eficácia no decurso dos jogos. Se é notório que alguns dos jogadores do plantel têm uma capacidade técnica acima da média, há uma evidente e enervante incapacidade na performance em jogo corrido de exibir algumas características que parecem óbvias quando falamos de futebol moderno, onde os rapazes que fazem do futebol o seu modus vivendi insistem em mostrar tão pouco no que diz respeito a elementos básicos que são ensinados aos menos talentosos e que saem naturalmente aos génios.

O controlo de bola é uma miséria. Uma. Miséria. James, Jackson, Alex Sandro, Lucho e Moutinho brilham, Defour é o típico jogador da Europa Central, frio, controlado, recebe, controla, passa. O resto…é mau. Varela e Atsu parecem estar num eterno jogo de Arkanoid, tantas vezes a bola pincha perto de si, para não falar dos centrais, de Danilo e de Fernando, cuja posição pareceria indicar que a recepção da bola e de a “matar” no chão perto de si seria uma peça fundamental do treino diário. Se é, não parece, porque a quantidade de tempo perdido neste tão simples acto, repetido ad nauseam ao longo de uma vida, é suficiente para num jogo fechado, com adversários pressionantes e mais rápidos, originar perdas de bola e forçar a que a equipa abdique de lances de ataque para se concentrar na defesa em contra-pé dos ataques adversários. Continuemos.

Os passes falhados são uma constante. Uma constante. E numa equipa que tem o passe na sua matriz principal de jogo, na sua filosofia-base do modo como encara uma partida, seria conveniente que fizesse desta pedra basilar o enfoque máximo do que pratica. Mas tal não acontece. Sucedem-se passes após passes com a pontaria de um rinoceronte bêbado com o corno torto a apontar para o anel de Sauron. E os passes lateralizados, de natureza menos propensos a falhas quando comparados aos passes verticais de maior risco, não fogem deste esquema infeliz de bruaaahs na bancada quando Fernando endossa a bola para a linha lateral, Varela roda para o que pensa ser Danilo e Otamendi insiste em passar para as costas do colega do lado. Perde-se tempo, espaço e momento ofensivo em tantas diferentes alturas do jogo que quando comparo o FC Porto a outras equipas do mesmo nível (como o Benfica, por exemplo), parecemos uma equipa de Marianos González com delirium tremens. Os passes de risco, os que podem criar perigo, são ainda piores, como era de esperar, com enervantes envios demasiadamente longos ou absurdamente curtos. Perdemos 20 ou 30% dos lances de ataque neste tipo de oportunidades falhadas.

E os remates? Raramente vão dois ou três consecutivos à baliza, daqueles à inglesa, de fora da área. Dos poucos que sabem e conseguem rematar com algum intuito, Moutinho e Defour lá vão acertando na baliza, porque Lucho, Varela e Fernando (convenhamos que se soubesse rematar em condições já não andava por cá…) são rematadores de ocasião e a ocasião raramente se apresenta em perfeito estado para um balázio bem colocado. Danilo lá vai tentando quando a sorte lhe bufa nas costas e descai para o meio, mas o pé esquerdo raramente faz mossa. Jackson, já deu para perceber, só marca dentro da área.

Calma, vem aí pior…as bolas paradas.

Uns dias antes do jogo no Funchal, um amigo mostrou-me um video dos distritais de Aveiro, onde um rapaz marcava um livre perfeitamente por cima da barreira, bola com bom efeito, direitinho ao canto. Golo certo, sem hipótese para qualquer Schmeichel, quanto mais para o pobre keeper contrário. Até bati palmas, congratulando-me pelo excelente golpe técnico de um rapaz que provavelmente entrega cartas durante o dia e treina à noite quando pode. E depois vi Danilo a marcar um livre. Corpo inclinado para trás, trajectória errada, bola para a bancada. Fiquei de boca aberta, de onde saíram diversos exemplos de vernáculo portuense do bom. E é assim há anos, onde temos marcadores de livres directos que aplicam a fortíssima biqueira da bota à boa maneira de Fernando Couto para fuzilar as barreiras adversárias ou, em dia bom, para fazer a bola roçar a baliza tão perto quanto o relatador da rádio local lhe apetecer gritar. Com jogadores que deambulam perto da área, que descobrem espaços para rapidamente serem levados pela metafórica ceifeira adversária e o árbitro apontar um livre que pode ser a diferença entre um zero-zero e uma vitória difícil…não há e continuará a não haver quem os marque como gente crescida.

Esta é uma das áreas em que não noto melhorias há vários anos. Cito o meu pai, que me massacra sempre com estas palavras que cada vez fazem mais sentido na minha cabeça: “Mas estes gajos não treinam estas merdas?!”. Não, pai. Pelos resultados que mostram, não.

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Vectores do potencial insucesso: táctico

O segundo vector que merece análise é o táctico. E aqui sou um dos defensores de Vitor Pereira desde que começou a introduzir o estilo que hoje pauta o jogo do FC Porto, pelo menos nos dias bons. Gosto de ver a equipa a pausar com a bola nos pés, a rodar pelo meio dos meios-campos adversários enquanto procura o espaço para o passe que devia ser constante mas certo, para a melhor opção, a melhor posição, a melhor oportunidade para maximizar o sucesso da aventura. E foi notória a mudança desde o estilo…em pânico do ano passado, com menos bom futebol e mais “atira a bola pró Hulk” que se viu em 2011/2012, que só resultou no campeonato graças à forma fantástica do brasileiro, bem apoiado por Moutinho e James, que com o regresso de Lucho viram o meio-campo estabilizado e mais fiel ao tipo de jogo que o treinador queria colocar a equipa a jogar. Este ano, livre do “refugo” visto pela SAD e pelo treinador como supranumerários, com nomes como Hulk, Janko, Fucile, Guarín, Belluschi e Álvaro a serem despachados com mais ou menos lucro, a filosofia foi assente em peças escolhidas a dedo, apostas arriscadas e versatilidade de posições e alternativas encontradas dentro do próprio plantel. Foi esse o “rationale” com que arrancámos a temporada.

Mas o estilo não agrada a todos. Há muita gente com quem falo que desgosta do jogo horizontalizado, com rotação de bola excessivamente lenta, com menos remates e mais posse, uma estrutura ofensiva baseada no centro do terreno com os laterais subidos ma non troppo, os extremos que não o são e os centrais a levar o jogo para a frente. Uma boa parte do povo vê-se no meio de uma máquina do tempo parada no mesmo, sem que o sumo que é espremido dos lances de construção arrastada possa saciar a gula ofensiva que pauta o ataque portista. Talvez por isso, juntamente com a crise e os jogos às sextas-feiras e domingos à noite, tenha servido para afastar a gente do estádio. Talvez. E a verdade é que o jogo só muito raramente agradou a todos e trouxe a alegria do futebol-espectáculo às massas.

E há mais.

Os jogadores não parecem gostar. Vejo-os tristes, resignados a um jogo de toque curto com movimentações tantas vezes infrutíferas, enredados em teias montadas por equipas hiper-defensivas que povoam o meio-campo com tantos homens quanto a lei lhes permite, tapando todos os buracos por onde a bola pode passar. E os próprios jogadores, alguns mais espertos que outros mas em grande parte lentos, com pouca aptidão física e mental para deambulações aparentemente sem rumo, muitas vezes parecem parar no relvado à espera que a bola lhes seja endossada para que possam participar do jogo. Vi tantas vezes o flanco direito sem o apoio que um lateral ofensivo poderia dar e que Danilo, por não o ser, não o faz. Izmailov, que chegou para ser um James quando James não estava, perde-se muitas vezes nas próprias simulações e é incapaz de recuperar a bola, o ânimo e a vontade. Jackson está tantas vezes sozinho que começo a questionar se não estará em formação para eremita. E nos últimos jogos temos visto os centrais, quer Mangala ou Otamendi, a arrastar o jogo com a bola nos pés, tentando criar o desiquilíbrio que os outros seis à sua frente são incapazes de gerar.

A táctica é ambiciosa mas tem falhas. Tem falhas por um motivo muito simples: é bonito querer jogar à Barcelona. É audacioso pensar que o podemos fazer. E é utópico pensar que o conseguimos facilmente ao fim de meia-dúzia de meses.

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Vectores do potencial insucesso: físico

Serão quatro posts consecutivos sobre o que pode ter levado à queda de produção do FC Porto desde Fevereiro. O primeiro lida com a parte física.

É triste ver o FC Porto em Março de 2013. Quando comparamos este mesmo FC Porto com o que enfrentou o PSG no Dragão em Outubro, o Marítimo (sim, este último que nos roubou dois pontos) no Dragão em Novembro, o Benfica na Luz em Janeiro ou foi a Guimarães em Fevereiro, as diferenças são tantas que é um exercício quase doloroso tentar analisar. Temos jogadores em clara baixa de forma física, com lesões a enfiarem-se pelo meio, como é normal em cada época. É? Talvez seja, talvez não, a verdade é que há jogadores que estão com dificuldades em manter níveis físicos que possibilitem que dêem o contributo em pleno à equipa.

Alguma quota das lesões que foram ocorrendo podem-se dever a razões de exagero físico. Não sou médico nem tenho grandes conhecimentos de anatomia e do sistema muscular, limito-me a dizer “ai” quando me magoo, sei que tenho uma ruptura no menisco e para lá disso não vou, nem quero. Mas se formos atrás, a Agosto de 2012, e constatarmos que o plantel foi construído com princípios de rotatividade e de multi-funcionalidade de alguns jogadores, percebemos que há algumas lacunas devido a apostas exageradas num ou noutro jogador que acabam por desgastar A e sub-utilizar B. Exemplos mais evidentes destas duas apostas: Moutinho e Kelvin, respectivamente A e B no exemplo anterior. Moutinho foi utilizado non-stop em jogos consecutivos, intercalados com viagens pela selecção onde nunca antes tinha jogado tanto, com partidas em que está em campo noventa atrás de noventa minutos, com poucas paragens. A movimentação que o lugar dele obriga a introduzir no meio-campo e em toda a dinâmica ofensiva da equipa é tão evidente que todos notam quando não está presente. Cansou, estourou, a equipa rebentou. O outro rapaz é um dos exemplos de apostas em elementos de rotação que caíram ao lado. Kelvin, tanto como Iturbe e Kleber, foram apostas que nunca conseguiram vingar numa equipa onde chegaram a entrar por diversas vezes mas que por não conseguirem mostrar o serviço necessário, foram baixando na ordem de selecção, desaparecendo para um limbo difícil de contrariar e ainda mais difícil de habitar. Saíram da equipa (e alguns do plantel), obrigando outros a esforço mais intenso.

A profundidade do plantel não é grande. Nunca foi e a aposta seria nisso mesmo. Nem o mercado de inverno, que poderia servir para colmatar falhas no planeamento ou lesões prolongadas, nem a equipa B, que fornece um ou outro jogadores de uma forma excessivamente pontual para o plantel principal, serviram como consolo às falhas dos titulares. Danilo continua sem alternativa directa, bem como Alex Sandro, obrigando a adaptar um central em caso de emergência. Defour foi obrigado a jogar como trinco, médio-volante, médio-ponta e até como extremo nalguns jogos, para tapar ausências importantes. Castro joga a espaços e dez minutos de cada vez. Jackson continua a fazer todos os minutos porque a alternativa que está no banco para o render não parece colher o entusiasmo do treinador. Liedson já jogou pelo FC Porto? Meia-dúzia de minutos. (Kleber jogou mais, fez menos, saiu e não voltará tão cedo…) Entretanto, como o plantel é curto, aparecem as lesões. James, Moutinho, Atsu, Varela. Ah, e Maicon, Alex Sandro, Fernando e Mangala. São lesões a mais, na maioria musculares, que minam as escolhas do treinador e o obrigam a inventar soluções no meio de jogadores cansados, sem capacidade para se esticarem mais do que conseguem durante um jogo, sem pensar no próximo que vão ter de fazer entretanto. Não conseguimos aguentar o ritmo, o corpo ressente-se e os resultados são o que se vê. Uma equipa presa por arames tão finos como teias de aranha-bébé, sem força para piques, sem intensidade para duelos contra formações agressivas, de defesa subida, com pernas e força e garra superior à nossa.

O tanque esvaziou-se cedo demais por culpa de um planeamento arriscado, apostas que saíram ao lado e azares consecutivos que nunca poderiam ser debelados porque se estimou que Murphy não apareceria na pior altura para fazer o maior estrago.

Amanha: a parte técnica.

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Baías e Baronis – Marítimo 1 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

O FC Porto não vence este jogo por um simples e inequívoco motivo: falhou um penalty. E já sei que não jogou bem, compreendo que temos vários jogadores lesionados, outros em baixo de forma física (e acima de tudo mental) e outros ainda que sempre que entram em campo fico a pensar no porquê da selecção do jogador…e especialmente do jogador na selecção. Sim, estou a falar de Varela. Mas o FC Porto empata porque Salin defendeu o penalty de Jackson e acima de tudo é essa a grande verdade do jogo. Mas se olharmos para lá do penalty falhado vemos que os jogadores não estão bem. Não parece haver vontade e inteligência suficiente para conseguir mandar o infortúnio para o caralho, não vejo discernimento em quantidade que nos permita alegrar pelo menos com o entusiasmo, senão com o resultado. Não vi nada. Só vi resignação com a perda da autonomia e da auto-dependência para ser campeão. Só. Vamos a notas:

(+) Defour. Parecia que se queria redimir da expulsão na Andaluzia e até um certo ponto foi-o conseguindo, com esforço, com suor e o sentido prático que já nos habituou a ver-se em todos os lances em que se envolveu. Fez a assistência para o golo e apesar de não conseguir nunca substituir Moutinho, a verdade é que fez o jogo que lhe era pedido, apoiando todo o meio-campo a par de Fernando, deixando Lucho e James mais libertos para construir. Esteve bem.

(+) Castro. Foi dos menos maus, numa altura em que ainda conseguiu mexer com a equipa, recuperar bolas e fazer o que quase ninguém tinha feito até à altura…rematar à baliza. Não foi feliz mas fez por isso, ao estilo dele.

(+) Salin, o keeper do Marítimo. Claro, contra os grandes estes cabrõezinhos fazem sempre jogos fabulosos. Talvez esteja a ser injusto porque Salin já há algum tempo se tem mostrado como um guarda-redes com capacidade, seguro sem ser genial, firme sem ser maravilhoso. Aquela defesa à cabeçada do Jackson na segunda-parte…estupendo. Seu estupendo filho da puta, que nos roubaste dois pontos. Se não formos campeões, espero que te compremos e te ponhamos a rodar a jogar no Aleppo FC. Sim, o da Síria.

(-) Otamendi. Já não levava um Baroni há montes de tempo, por mérito próprio. Mas hoje, Nico tirou o dia. Exibiu-se sempre com falhas ridículas no approach à bola, falhando tacticamente como o Pepe na altura do Del Neri mas ainda pior foram as falhas técnicas, os controlos de bola fracos que permitiram a Heldon isolar-se duas vezes na cara de Helton. A sério. Duas vezes. Esteve distraído e foi incapaz de se concentrar até ao fim do jogo. Foi um jogo muito mau, talvez pela primeira vez este ano.

(-) Varela. Curto, grosso e directo: em Março de 2013, Varela tem tanta utilidade na equipa do FC Porto como uma saca plástica cheia com água salgada no meio do Oceano Atlântico. Pensei em metaforizar com um cacto no meio do deserto, mas mesmo parado e inconsequente ainda pode ajudar a tapar vento ou a dar sombra para proteger do Sol.

(-) Penalty falhado. Mais um. Há mérito para o guarda-redes, que adivinhou o lado e evitou que a bola entrasse. Mas é o terceiro penalty falhado por Jackson, pelo que pergunto: será ele o mais indicado a ser o marcador de penalties? Mesmo? Não há mais ninguém? Nada?

(-) Quando o corpo *pum*, a mente vai atrás. Somos neste momento incapazes de aguentar um jogo intenso, incapazes de viver as emoções de um jogo como homens que se esqueçam das infelicidades e que ganham força com os minutos, que insistem e puxam e agarram e comem a relva até conseguirem o objectivo a que se propuseram umas horas antes. Estamos lentos, previsíveis, horizontais, sem propósito, sem alma, sem força. Os rapazes estão lá, tentam, falham, mas não voltam a tentar para falhar melhor. Ou para terem sucesso, sei lá, já vi tanto a acontecer que acredito em tudo. Vejo um Danilo que é incapaz de fazer um jogo decentemente adaptado ao flanco. Vejo James a simular para roubar faltas. Vejo Alex Sandro à rasca das pernas a centrar para o primeiro poste com uma consistência newtoniana. Vejo Varela sem se mexer. Vejo Lucho a falhar passes consecutivos na desmarcação. Vejo Jackson a rematar torto vezes demais. E vejo-os a fazer tudo isto e a ficarem impassíveis quando lhes são marcadas as faltas, quando os remates vão ao lado ou os passes ao fundo. Vejo-os amorfos, sem alma, sem convicção. E não consigo perceber o porquê desta inversão de moral, não sei se são as lesões, se é Moutinho, se é Vitor Pereira ou a sua incapacidade de os motivar em condições. Só sei que não percebo como é que se abdica de ser campeão nacional.


Enquanto escrevo, o Benfica vai vencendo em Guimarães, com um penalty marcado. Marcado. Às vezes são estas as pequenas merdas que fazem a diferença. Good for them. Estão a aproveitar consistentes deslizes de uma equipa que sabendo não poder deslizar, mostrou algum empenho mas nem perto do nível suficiente para poder chegar ao tasco, bater com as botas na porta e dizer: “Mas que merda é esta? NÓS É QUE SOMOS CAMPEÕES, CARALHO!”, ganhar os três pontos e ficar com uma bebedeira na fila de check-in no aeroporto. Parabéns, rapazes. Conseguiram pôr-me chateado convosco.

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