A "crise" vista da bluegosfera

Não tenho a certeza se sobrevalorizo o efeito que o meu e outros blogs portistas têm sobre a opinião pública. A que interessa, pelo menos, porque se quiser ouvir o Rui Santos a falar sobre os nossos problemas posso sempre tentar enfiar a cabeça num tambôr dos Mareantes do Rio Douro e mandar arrancar a fanfarra porque o efeito seria o mesmo. Adiante.

A bluegosfera (termo cunhado por outro e abusado por mim, com todo o crédito ao seu autor, seja ele quem for) é ampla e vibrante. Há actualmente cerca de sessenta blogues portistas, mais ou menos activos, vários fóruns de opinião, centenas de perfis no Facebook, montanhas de twitteradores, páginas no LinkedIn…por toda a web fora há Porto, à imagem do que acontece no Mundo por estes dias. Focando-me um pouco nos blogues, desde o museu online do Armando Pinto no Lôngara ao excelente grafismo (e bons artigos) do SuperPorto ou do Mística do Dragão, do louvável trabalho do Coluna Azul na apresentação de dados sobre os nossos jogadores emprestados ao revivalismo da nossa história no Paixão pelo Porto ou no Dragãopentacampeão, do trabalho de recolha da Ana Ferreira no FCP para sempre às análises financeiras no Mística Azul e Branca, entre vários outros que estão aqui na coluna ao lado direito, há muito trabalho, muitas noites com sono roubado, muito esforço e dedicação para manter sempre uma atmosfera viva e dinâmica, que me deu vontade de arrancar também um que posso chamar meu.

Que me perdoem a heresia de colocar alguns acima de outros, mas há cinco que por vários motivos se conseguem destacar dos demais. Não falo numa questão de Portismo porque não devo nem posso afirmar que A é mais portista que B, longe disso. O quinteto fantástico de blogues a que me refiro são alguns dos mais activos, actualizados, interventivos e históricos em termos de actividade corrente ou passada sobre o FC Porto. São feitos sobre o clube e para o clube, criticam quando acham que devem criticar, louvam quando é merecido e analisam com a imparcialidade que os óculos da nossa cor lhes permite, e fazem-no há vários anos com a perseverança de quem sabe o que faz e acima de tudo gosta do que faz. Concorde-se ou não com eles, são a créme de la créme da opinião Portista nos intertubos, na minha opinião. Eles são, ordenados alfabeticamente:

Qualquer um deles tem estilos díspares, desde a análise fria e objectiva do Zé Luís ao espalhafato do José da Silva Pereira, passando pela língua afiada do Vila Pouca, o intervencionismo do BlueBoy ou do Lucho e pelas crónicas do José Correia ou do Alexandre Burmester. Cada um deles vê o FC Porto à sua maneira, a quente e a frio, intenso ou tranquilo, pacífico ou guerreiro. E nesta altura, quando as opiniões se dividem quanto aos culpados, se é que os há, da crise exibicional que estamos a atravessar, os blogs portistas continuam a defender o clube, a puxar pela intervenção correcta e adequada dos adeptos, a puxar para o mesmo lado aqueles que querem apoiar, lutar, vingar pelo nosso FC Porto. Vila Pouca, por exemplo, defende o clube mas não deixa de apelar a que o treinador não seja abandonado a navegar o barco sozinho por entre mares tempestuosos, como o faz neste artigo. Zé Luís atira-se de unhas, dentes e um fueiro bem afiado à imprensa, tão ágil a atacar-nos e sempre tão hábil a esconder os problemas dos outros e a exacerbar os nossos. Já José Correia opta por uma crítica mais directa à gestão do início de época portista e às opções do treinador, ao passo que José da Silva Pereira, no seu estilo cheio de smileys e piadinhas revisteiras (não gosto, mas há quem goste e louvo o extenuante trabalho estatístico), acaba por defender o treinador das bicadas permanentes dadas por tudo que é outsider ao FCP. Finalmente, o Bibó Porto apela aos adeptos, a todos nós, que nos unamos para atravessar um período menos bom para que todos juntos possamos regressar ao nível de futebol que desejamos.

Todos diferentes, todos portistas. Identifico-me com todos em determinadas alturas, mas nem sempre. E é assim que deve ser, cada um com as suas ideias e o fórum disponível para que ela seja publicada e avaliada pelos outros. Coloquem os vossos olhos nestes artigos e nestas opiniões, porque é este conjunto de pessoas que fazem da experiência uma arma tão útil, que já passaram por momentos destes e muito piores, que percebe muito mais disto que tanto comentador desportivo na TV ou nos jornais. Porque ao contrário desses, que ganham para dizer alarvidades, estes que estão do lado de cá trabalham pelo verdadeiro amor à camisola.

E não se pode pedir mais a quem corre por gosto. Só honestidade.

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Porque estes momentos merecem uma homenagem

Esta camisola foi usada pelos jogadores do Real Madrid antes do início do jogo frente ao Osasuna este Domingo, como homenagem a Cassano, ex-jogador do clube, que está agora a recuperar de uma intervenção cirúrgica ao coração.

Quem me conhece sabe que não sou fã do Real Madrid, por vários motivos. O autismo do modus vivendi do clube, o enjoativo estrelato, o chamamento centralista do passado feito presente e a excessiva atenção dada pelos media portugueses a uma equipa estrangeira recheada de malta que podendo defecar nos interesses nacionais, assim o faria (portugueses aparte, talvez), todos estes são motivos para me fazer desgostar do clube e da sua identidade. Ainda assim, quando uma simples ideia pode ser tão forte e tão apelativa ao sentimento cru da compaixão entre seres humanos a atravessar fases difíceis, há que louvar a atitude. Parabéns, moços. Para a semana voltamos às hostilidades.

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B&W FCP

Já não é a primeira vez que falo neste assunto, mas tenho dois clubes que apoio para lá do FC Porto. Fora de Portugal, claro, e não com o mesmo nível de paixão, mas sigo as aventuras e desventuras, acompanho o dia-a-dia (quando posso), torço por eles e identifico-me com os adeptos e os valores que as instituições representam. Esses dois clubes, como alguns já sabem, são o Newcastle United FC e o FC Barcelona.

Focando-me um pouco no Newcastle, o meu FC Porto de preto-e-branco que joga em Inglaterra, estou mais que satisfeito pela temporada que estão a fazer. Actualmente em terceiro lugar, é a melhor defesa da Premier League e uma das únicas duas equipas até agora imbatíveis (a outra é o Manchester City), depois de um defeso em que tanta tinta correu com críticas ao treinador e às contratações e, imaginem, à contratação de apenas um avançado quando os adeptos pediam mais um. Mas o que mais impressiona nesta equipa que este ano está a desafiar todos os limites é mesmo a solidariedade e entreajuda que faz com que o onze que entra em campo seja unido, lutador, disposto a deixar tudo em campo e a combater alguma falta de talento e de grandes vedetas mundiais com o espírito de sacrifício que até agora tem sido vital no percurso invicto. A inspiração, quando falta, é substituída pela transpiração e os resultados estão aí para todos verem e se surpreenderem.

Jogadores como Jónas Gutierrez, Steven Taylor, Yohan Cabaye, Danny Guthrie, Demba Ba, Ryan Taylor, Fabricio Coloccini ou Danny Simpson são heróis em Tyneside com bons motivos. Quem conhece um pouco do passado dos Geordies sabe que não se pode comparar o talento de Gutierrez ao de Ginola ou Waddle, o de Ba ao de Shearer ou Beardsley, o de Cabaye ao de Gascoigne, Speed ou Rob Lee. E claramente Alan Pardew não tem o mesmo carisma de Keegan, Robson ou Joe Harvey, mas quem vê os seus meninos em campo percebe que há ali vontade de jogar, vontade de fazer o clube regressar ao que um dia já chegou a ser…um pouco como vimos no ano passado no FC Porto, de início a fim da época. Esta atitude enche os adeptos de orgulho e a alegria voltou a St.James’ Park. E a minha casa também.

É pouco provável (diria MUITO POUCO provável) que o Newcastle mantenha a posição que tem até ao final da época. Mas a forma como a equipa se tem vindo a exibir dá garantias aos adeptos que não será por falta de esforço que os resultados vão deixar de aparecer. Pardew, tão contestado quando chegou ao clube na época passada e sem tréguas desde o início da época, já está de parabéns. Só gostava de ver o mesmo acontecer aqui ao nosso Vitor, até porque o talento, ao contrário do que acontece em Newcastle, está presente em grande quantidade na Invicta. Só precisa de ser bem domado.

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Identidade

Those who say: “Well it doesn’t matter to me that I have no sense of identity, it doesn’t matter to me that I’m British, it doesn’t matter to me that I’m English, it doesn’t matter to me that I’m from Shropshire or Yorkshire or Kent of Norfolk”…maybe they’re right but I can’t feel like that. I have this…I can’t help but belong. And I think it was Clemenceau, the French Prime Minister in the early part of the 20th century, who said that he was a patriot but he wasn’t a nationalist. And they said to him: “What do you mean by that?”, and he said: “Well, I think a patriot loves his country but the nationalist hates everyone else’s country.”. And I think a good football team to support is…you love your football team, you love your region, you love your city, you love your county, but it doesn’t mean you don’t hate everyone else’s. And I think it’s the best of belonging is that embracing of who you are and it’s just like an extra dimension in your life, it’s an extra feeling, it’s a sort of hugging feeling of belonging…I find it very important in my life and without it I think my life would be poorer.

Stephen Fry

Estas palavras, proferidas pelo genial Stephen Fry no final do segundo episódio do documentário da BBC “Fry’s Planet Word” (que recomendo vivamente), são perfeitas e tão adequadas ao que deve ser um adepto de um grande clube. Reformulo, o que deve ser um bom adepto de um qualquer clube. A “ghandização” do discurso pode ser o equivalente de tratar um terreno xistoso e baldio como se fosse um jardim zen com um daqueles ancinhos abichanados, mas identifico-me perfeitamente com ela.

E a forma como tanto portista está a bater em tudo que vê, criticando mais coisas do que pode e deve, insultando gente que trabalha e que está a tentar o que pode para dar a volta a uma situação difícil da maneira que sabe, entristece-me. Ao mesmo tempo, ver os adeptos que foram receber a equipa ao aeroporto a gritar “Somos campeões!” é um excelente exemplo do que Fry disse. O apoio tem de partir de dentro, caros dragões, porque de fora já sabemos que só temos crítica e escárnio. Unamo-nos, pois, e vamos pegar neste touro pelos cornos, estejam eles onde estiverem.

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Baías e Baronis – Olhanense 0 vs 0 FC Porto

 

retirada de desporto.sapo.pt

Começa a ser insuportável ver um jogo do FC Porto neste estado. Enquanto escrevo esta crónica, ao mesmo tempo olhei para o lado e na televisão surge a palavra “corrimento”. Sei que posso padecer de qualquer condição de demência, mas preferia ver uma representação gráfica desse conceito do que ver algumas repetições dos lances do jogo de hoje em Olhão. É deprimente perceber que os jogadores estão a lutar a metade (se tanto) do que podem fazer, com uma absurda quantidade de medo de falhar em quase todos os lances em que participam. Os passes são fracos, temerários, sem força, sem vida, sem garra. As jogadas são mal gizadas, trapalhonas e inconsequentes. E podia continuar aqui algumas horas a arranjar sinónimos negativos para a nossa exibição completamente sem chama e merecedora do empate. Siga para as notas:

 

(+) Fernando É difícil, como me sugeriram, encontrar um Baía que seja no jogo de hoje. Opto por Fernando, porque não tem culpa nenhuma que a grande maioria dos colegas estivesse à procura de uma rocha para se enfiar lá dentro e esperar que a má onda passe. Fernando esteve em todo o lado, a tapar os buracos e a recuperar as bolas em zona defensiva baixa, a cumprir mais que o seu papel a descer quando ambos os laterais (chamar lateral a Maicon pode ser exagerado, mas a verdade é que o rapaz não esteve assim tão mal) subiam para os lugares onde o treinador lhes manda estar. Fernando, juntamente com Rolando e, a espaços e apenas na segunda parte, Álvaro e Moutinho, foi dos menos maus.

 

(-) O ritmo do medo e a incapacidade de reagir a situações negativas Prefiro reunir os males num único Baroni, não me levem a mal. Não interessa nada ter a bola durante mais tempo, jogar no meio-campo do adversário, quando olhamos para James ou Hulk e vemos que não têm capacidade mental de furar, de rasgar uma defesa prática mas fraca. Os jogadores do FC Porto jogam a um ritmo medonho e com medo, com medo de tudo e de todos, com o temor que qualquer adversário lhes tire a bola, o que acaba por acontecer mais vezes do que devia. Vitor Pereira disse que os adeptos deviam esquecer o ano passado. Não posso, não consigo, não quero. São os mesmos rapazes que vi há alguns meses que estão ali em baixo e não precisava de ver a segunda parte contra o Villareal ou o cincazero ao Benfica. Só precisava de ver algum brilho nos olhos de James, alguma resistência ao choque de Hulk (sim, estou a falar a sério, Hulk foi ao chão várias vezes em luta contra adversários bem mais fracos mas com muito mais intensidade de jogo), algum tino de Belluschi nos passes e mais velocidade de Álvaro. Ver um grupo de jogadores talentosos a desperdiçar oportunidades consecutivas de brilhar e de mostrar que são os mesmos meninos que já me puseram rouco a gritar golo é frustrante. Perceber que são da minha equipa, ainda pior! E ter de estar a olhar para James e pensar na final da Taça, ver Moutinho e pensar na segunda mão da Taça na Luz, puxar por Hulk e sonhar com o cincazero…é muito difícil tentar entender o que se está a passar naquelas cabeças. Se o treinador não os consegue motivar a fazerem melhor, não conseguirão eles próprios levantar a cabeça?! Puxar ao orgulho, à honra, ao brio?! Porra, quando estou a jogar à bola com os meus amigos, do alto da minha quase total ausência de talento, não há nada que não faça (dentro da legalidade, entenda-se) para tentar ganhar um jogo! Tudo! É o exemplo mais fácil de todos mas é de tal maneira adequado que se torna tão irresistivelmente simples fazer o paralelismo. Para lá de todo este desterro, incomoda ver os jogadores a perder a bola e a demorar tempo demais a recuperar defensivamente, deixando a clareira aberta para contra-ataques adversários que só não aconteceram mais vezes porque a incapacidade técnica do Olhanense era evidente. Por isso é verdade que conseguimos ter a bola mais tempo. Até tivemos alguns remates. Poucos, mas alguns. E falhamos um penalty, que acontece e não é absolutamente censurável per se. Falhar um penalty contra o Olhanense é um acidente. Criar tão pouco em 88 minutos contra o Olhanense não é acidente nenhum. É inépcia.

(-) Meio-campo estático Vi a mesma jogada vezes demais: Mangala ou Rolando, com a bola nos pés, procuravam espaços no meio-campo adversário. Lá, pelo meio de vinte calções brancos e alguns azuis, não havia nesga por onde a bola podia passar em grande parte porque os nossos médios, numa movimentação lenta, pastosa, arrastada, sem intensidade nem destino marcado, faziam com que uma simples basculação lateral do Olhanense servisse para tapar a entrada. O central, tanto o luso como o francês, rodavam a bola para o lado ou paravam para entregar a Fernando, que procedia a recuar em posse…mas sem qualquer progressão. Foi enervante e durou “apenas” noventa e três minutos.

 

Et voilá, continuamos em primeiro lugar, pelo menos por mais um dia. Isolados, no less. Até podíamos estar quarenta pontos à frente, mas a qualidade de futebol apresentado não chega sequer a ser sofrível. É fraco, apesar da posse de bola, do domínio, do controlo ou da vitória nas estatísticas. A exibição que hoje estava à espera tinha de ser o total oposto desta. Os rapazes em campo tinham de comer relva, mostrar que tinham ficado indignados pela sua própria atitude em Chipre e dispostos a lutar contra Adamastores, Godzillas, Cloverfields ou qualquer tipo de bicho que lhes aparecesse à frente com um edredon e um molho de nabiças. Não vi e não sei quem culpar. Se eles, por não o fazerem. Se Vitor Pereira, por permitir que eles não o façam.

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