RIP Ivic

Tenho pena de não me lembrar muito bem dos jogos de 1987/88, em que demolimos tudo que era adversário no campeonato e somámos a Supertaça Europeia e a Intercontinental. Tenho ainda mais pena, ao chegar a casa e ler que Tomislav Ivic tinha falecido hoje com 77 anos, de ter mais más memórias que boas recordações do croata. Lembro-me perfeitamente daqueles dois jogos contra o Feyenoord, especialmente o que jogámos na “banheira”, com 47 defesas e aqui vai disto pum bola prá frente que atrás está muita gente. Lembro-me de estar furioso depois de um empate a zero nas Antas contra o Famalicão, quando o meu amigo e companheiro de estádio se atirou contra as redes a insultar tudo o que via. Ivic foi um deles.

É a vida. As homenagens querem-se na altura certa e por isso lamento não a poder ter feito quando Ivic merecia. Fica a memória.

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Baías e Baronis 2010/2011 – Falcao

 

foto retirada do record

Época: Como é que se descreve uma temporada do nível que Falcao fez desde Agosto de 2010? Podia citar os quase quarenta golos que apontou. Ir buscar as dezenas de artigos que foram escritos a louvar a capacidade goleadora do nosso Radamel. Podia até citar montanhas de opinadores, analistas, treinadores, jogadores, agentes, velhos e novos, todos a elogiar os feitos do colombiano. Chegava o camião de estatísticas que provam que foi um dos melhores jogadores da Europa na época que agora terminou. Decidi, como fiz para o compatriota Guarín, ir buscar um texto que escrevi sobre ele depois do “poker” ao Villarreal: “Quatro golos. Quatro lanças, quatro facas, quatro patadas, quatro tacadas. Quatro vezes me fizeste saltar em euforia nas bancadas hoje no Dragão, distribuindo high-fives pelos meus companheiros. E a cada um desses pulos de puro êxtase futebolístico, só conseguia pensar: que privilégio é ver-te a jogar ao vivo. Assistir às desmarcações, às fintas de corpo, aos remates e aos cabeceamentos que fazes e continuas a fazer. Já levas quinze golos marcados na Europa esta temporada e gostava muito de te ver a fazer qualquer coisa de parecido na próxima com a nossa camisola. Uma vénia para ti. Uma não, perdão: quatro!”. Falcao é dos melhores pontas-de-lança que já vi jogar. Ponto.

Momento: Complicado, complicado…escolher só um é difícil, e por muito que o golo da final de Dublin tenha sido histórico porque nos deu a vitória na competição, acho que opto pelo jogo contra o Villarreal no Dragão. Foram quatro golos, qual deles o melhor, e que representam a globalidade dos artifícios que Falcao tem para dar ao futebol: um penalty, um golo de oportunidade e posicionamento, um de cabeça em voo cheio de força e outro de cabeça com colocação perfeita, quase sem saltar. Todos eles bonitos, todos eles perfeitos.

Nota final 2010/2011:

BAÍA

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Ouve lá ó Mister – Bem-vindo, Vítor!

Vítor, novo líder do povo portista!

Em primeiro lugar, gostava de te dar as boas vindas ao lugar mais importante na hierarquia da bola portuguesa. Chegaste ao topo da carreira no teu país e tens pela frente um universo de imprensa agressiva, adversários críticos e cronistas sarcásticos. Prepara-te para uma enorme temporada onde vais ouvir o teu nome repetido até à exaustão em chalaças mais ou menos humorísticas com o rei dos árbitros, piadinhas às tuas conferências de imprensa e intromissões pela tua vida privada. Habitua-te, estás no FC Porto. Bem-vindo.

A tua entrada não é feita pela porta grande, como já deves ter reparado. Acabas por te ver envolvido neste rápido processo de transição pós-Villas-Boas e como já conheces a maneira como a malta gere estas tretas, vais apanhar um bocado com o lastro que foi ficando. Porque agora se sai um jogador é porque vai atrás do antigo mister, ou porque não te liga nenhuma e quer jogar noutro lado, é o costume. Uma das vantagens que tens e aposto que vai ser reconhecida por todos, é que tens o Presidente a apoiar-te. Sabes, como também sei, que és a segunda aposta quase cega em dois anos seguidos, e olha que o shôr Jorge Nuno raramente toma decisões dessas sem pensar tanto como um puto do 9º ano no exame de Português. Aliás, é a primeira vez que um adjunto é elevado directamente a treinador principal do FC Porto, o que te deve dizer que tem confiança em ti. Mas também tens de saber que acabas por ser um gajo que vai estar pressionado. A época passada foi, à falta de melhor expressão, “do carago”, e a próxima, por muito que a malta tenha a noção que vai ser complicada, não pode ficar muito atrás. É evidente que o campeonato é o principal objectivo, mas ninguém fica satisfeito se fôr eliminado na fase de grupos da Champions’ ou se perder a Taça para o Bidoeirense. Parece mal.

Para além disso, tu acabas por ser um rapaz fácil de mandar embora, como o Villas-Boas foi no início da época passada. Se as coisas correrem bem, impecável, nada a apontar; mas se começamos a tropeçar logo no início…pois começam as comparações e “ai no tempo da outro é que era, se o estupor do russo não tivesse vindo…” e é uma chatice. Não quero que isso aconteça porque quero confiar em ti e acreditar em toda a gente que já trabalhou contigo e que diz que tu és um tipo porreiro, estudioso, dedicado e inteligente. Só tens de pôr isso no teu dia-a-dia e continuar o excelente trabalho que fizeste no ano passado. Repara que para marcar a data até mudei a imagem desta rubrica! É esta a confiança que tenho em ti, homem!

Vais começar logo com decisões importantes, pá. O plantel está mais ou menos definido mas nunca se sabe o que é que vai acontecer num futuro próximo, quem fica e quem sai. Que tal dares uma hipótese à canalhada dos júniores? Não vais ter grande margem de manobra, mas é um apelo que vou fazer a todos os treinadores a quem envio estes torrõezinhos da minha psíque, por isso já levaste com ele. Salvo seja, é claro. Castro, Sérgio Oliveira, Rui Pedro…há vários que podem dar jeito e ficarem no plantel para serem bem aproveitados durante a época. A Copa América vai-te lixar a cabecinha, já sei, mas sei que tu sabes.

E, só para terminar, um pequeno conselho de um gajo que já passou por vários treinadores: não te deixes cair na esparrela do discurso fácil. Acredita que à primeira chance que tiverem, os abutres crucificam-te. Por isso, caro Vítor, habitua-te a estes bitaites sem piada nenhuma que te vou amandar antes dos jogos. Se não gostares, tens o meu contacto. Caso contrário, como prometi ao teu antecessor, pago-te um fino com todo o gosto!

Sou quem sabes,
Jorge

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Gone André Gone

Longa vai a história e só se passaram dois dias. De rumor com muito fumo passamos para um incêndio de proporções bíblicas entre o treinador com a ascensão mais meteórica desde Mourinho e o público que o apoiou durante um ano. E que ano, minha gente!

André sai. Sai pela porta pequena na perspectiva dos adeptos, pelos portões do Taj Mahal quando visto pela imprensa. Entram quinze milhões para a nossa bolsa, com a perspectiva de mais alguns “trocos” caso siga Moutinho ou Falcao ou qualquer outro juntamente com o técnico. É um negócio incrível numa altura em que teoricamente as proverbiais vacas estão anoréticas e ajudará a aditivar o orçamento que estará à disposição do próximo treinador para reforçar a equipa, ou simplesmente para manter algumas das peças-chave que possam não querer sair imediatamente. Urge saber que elementos do plantel terão ficado chateados com esta saída e perdido a vontade de permanecer na Invicta para saber com quem é que podemos contar no arranque da temporada 2011/12.

Esta é a análise racional que podemos fazer desta situação. Abaixo, segue a parte mais emotiva. Estão prontos? Vamos a isso.

É uma desilusão. E ao mesmo tempo que continuo a afirmar que compreendo a saída tendo em conta o tamanho da oferta e das condições que terá ao seu dispôr, tanto económicas como a nível de projecto e de ambiente (a única coisa verdadeiramente em comum de jogar na Premier e jogar em Portugal é que ambos começam por “P”…), sinto-me como se tivesse sido abandonado por um amor de Verão depois de quatro quecas extremamente bem dadas. Porque durante toda a época, apesar de me manter alheado das frases bombásticas e focar-me mais nas conferências de imprensa sobre futebol e menos sobre individualidades, havia qualquer coisa em André Villas-Boas que me fazia acreditar que podíamos ter aqui um rapaz que podia ser “dos nossos”. As frases iam ficando lá no fundo…mas ficavam. A atitude era guerreira, nossa, vibrante, alegre, nervosa, portista. Era igual a nós, celebrava as vitórias e sofria as derrotas como nós, como comentei tantas vezes com amigos ou colegas lá no meu sector do estádio. Aquela pequena parte dentro de mim, por detrás de várias camadas de racionalidade e algumas de cinismo, guardavam essas frases para num futuro próximo poder aproveitar o elogio do homem e do treinador.

E…tudo caiu por terra. O timing é mau, muito mau, se bem que nunca se sabe quando é que uma proposta destas se pode repetir. Mas o que André escusava de ter feito e dito tanta coisa durante a temporada sabendo que a malta lhe ia atirar tudo à cara se chegasse ao ponto em que se contradissesse. E o problema neste tipo de coisas é que a malta normalmente não tem memória de peixe. As marcas ficam e muita gente lembrar-se-á de tudo o que se passou desde segunda-feira de manhã, não do que André fez nos onze meses anteriores. A Supertaça, o Campeonato, a Europa League, a Taça de Portugal, os 5-0 no Dragão e a reviravolta da Taça na Luz, os 5-1 ao Villarreal, a demolição dos russos, a facilidade de tantas vitórias, o crescimento de Moutinho, a velocidade de Hulk, o instinto apurado de Falcao…tudo isto teve o dedo de André Villas-Boas.

Não lhe podemos retirar o mérito destes triunfos, por muito que estejamos magoados com a aparente indiferença com que temos sido brindados. Mourinho fez o mesmo e 7 anos depois ainda há quem não lhe perdoe. Com ou sem razão. E é por isso que não fico furioso. Apenas desiludido. Mais comigo que com Villas-Boas. Porque até eu tinha a esperança que fosse um dos nossos e não é. É acima de tudo um treinador profissional de futebol e portista sempre que pode. No ano passado calharam de coincidir.

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