
A grande maioria dos Portistas acordou esta manhã, uns alegremente de férias e outros não-tão-alegremente a fazer os preparativos para mais um dia de trabalho (e outros ainda, sem trabalho nem dinheiro para férias, acordaram para um dia com novas expectativas). Aposto que nenhum pensou que iria levar com a notícia do defeso: André Villas-Boas estará a caminho do Chelsea. O JN avançou, a Lusa tentou confirmar e tudo que era publicação online desatou a copiar o texto da segunda para os seus serviços informativos. O mundo estava a abanar. Sucedem-se insultos nos blogues, gargalhada geral na oposição, e nem Fernando Nobre se sentiria mais ridículo que o grosso dos adeptos que, tomando a notícia já como verdadeira apesar da ausência de confirmação oficial, começaram já a campanha “Villas-Boas, és um vendido!”.
Não me junto à multidão com as forquilhas em riste. Passo a explicar porquê.
Sempre houve, há e continuará a haver uma perspectiva extremamente romântica do futebol em Portugal. Os treinadores que vencem são tratados como semi-deuses olimpianos, ao passo que os derrotados acabam por ser comparados, com mais ou menos metáforas, a esterco. No nosso caso, particularmente esta época que findou, o facto de termos um treinador que venceu quase todas as competições em que participou acabou por ditar a elevação a um estatuto de Grande Figura. Aliado a este facto está, inegavelmente, a filiação clubística de André Villas-Boas: é portista, assumido e este sim, desde pequenino. Poderia haver melhor junção de vontades? Um portista a vencer no FC Porto? Orgasmos gerais para a malta.
Os momentos sucederam-se durante a época. Era a cadeira de sonho, levada ao extremo pela imprensa, ávida pelo curto soundbite que transforma o etéreo no eterno enquanto o dragão pisca o olho. O portismo estava visível em tudo, na defesa da equipa e da instituição, na forma como vibrava e celebrava o golo mais inconsequente dos rapazes de azul-e-branco que alinhavam à sua frente. Nunca duvidei (e ainda não duvido) da verdadeira vontade do rapaz em permanecer por cá durante alguns anos. E nós, todos nós, com ele.
Ainda de manhã, em conversa com um amigo que no primeiro dia de férias já estava tão exaltado e me perguntava como é que isto era possível, se já se sabia mais alguma coisa, que o site da CMVM estava tão lento, não havia nada no site oficial, que desespero! Disse-lhe: “Ó rapaz, sai de casa, vai até uma esplanada, pede um sumo de laranja natural porque ainda é cedo para um fino. Lê um livro, olha para o mar e descansa a cabeça. Logo à noite vês se é verdade ou não.”. Foi o que fiz, alheei-me das conversas e discussões durante o dia, sem que houvesse novidades para comentar e foquei-me no trabalho que era o que mais interessava. Cheguei a casa e, como pensei, nada de novo na frente azul.
Voltando à visão floreada da coisa e usando uma comparação com aquele jogo de computador que me une ao nosso treinador (Football Manager), é interessante perceber que a malta tem uma ideia semelhante da realidade como se fosse treinador virtual naquele mundo. Em norma quando se começa uma carreira, procura-se um clube de que se gosta, com quem se sente alguma afinidade, e arranca-se a vida. As vitórias e derrotas sucedem-se mas a motivação não quebra, a vontade de levar o clube à frente, melhorando a equipa, comprando A ou B, despachando o lixo e aplicando as nuances tácticas jogo após jogo até chegar à perfeição. “Pois vencemos tudo no fim do ano? Não interessa, nem penso em sair do clube, para o ano há mais para ganhar e recordes para bater! Já tenho alinhavada a nova equipa, vendo este e compro aquele e está o plantel bem organizado, impecável! Renova-se o contrato? Pode ser, quero é ver se o rapaz rende a médio direito, isto é que vai ser, a época de 2024/2025 vai ser a melhor de sempre!!!”. Pois é. E se eu fosse um jovem de 78 anos diria: “Balelas”.
Não posso ser ingénuo a esse ponto. Um treinador é profissional e acima de tudo para um treinador que pretende ter uma carreira curta como Villas-Boas já disse várias vezes, torna-se complicado recusar uma oferta da magnitude destas que lhe seja colocada em cima da mesa. Se teve uma conversa com Pinto da Costa e lhe explicou que é isso que deseja fazer, olhos nos olhos, selado com um cumprimento e um desejo de boa sorte, parece-me normal. Se foi por trás das costas e negociou com o russo sem falar com ninguém, já acho mal. Quero acreditar na primeira e não na segunda.
O que fica disto tudo? Em primeiro lugar precisamos de uma confirmação oficial. Até surgir estaremos sempre no reino da especulação. Se Villas-Boas sair, os meus votos para o seu futuro vão depender da forma como as coisas se tiverem passado. Se ficar, amigos como dantes. Que trabalhe bem o Iturbe e se decida se o Souza serve ou não para trinco. Mais que isso, neste momento, é invenção.
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