Baías e Baronis – FC Porto vs Nacional

A primeira frase que tem de ser dita sobre este jogo é que perdemos mal. Quem viu o jogo percebeu que só uma equipa trabalhou para tentar ganhar, ainda que tenha sido um esforço fraco e sem a garra e agressividade que um confronto contra uma equipa como o Nacional exigia. Houve falhas a mais na rectaguarda, a começar pelo infeliz guarda-redes e continuando pela permissividade da defesa e da incrível porosidade do meio-campo, que foram incapazes de controlar uma equipa que se resguardou bem na zona defensiva, empilhando jogadores atrás de jogadores em zonas recuadas e que jogou sempre com uma agressividade bem acima da nossa média. Não há grandes pontos positivos a tirar deste jogo a não ser o facto da derrota que já se anunciava há vários meses não ter acontecido num jogo do campeonato. Mas uma derrota é uma derrota e uma equipa como a nossa não pode de forma nenhuma perder um jogo em casa, ainda que numa competição inferior, e não tentar a todo o custo recuperar moralmente de uma pressão que sofreram mas à qual não mostravam querer soçobrar. Perdemos. Siga a rusga:

(+) Guarín  Foi o menos mau dos rapazes de azul-e-branco vestido que alinharam na noite fria do Dragão. Talvez pelo recuo das linhas madeirenses, o colombiano jogou na posição 6 mas foi bem mais subido no terreno que alinhou em quase todo o jogo, arrastando jogo para a frente e apenas ficando a perder na não-cobertura da sua posição defensiva pela parte dos seus colegas. Nem Moutinho nem Ruben conseguiram recuar o suficiente para tapar os contra-ataques que eram invariavelmente conduzidos pela zona central, onde Guarín não estava, compreensivelmente. Usou muitas vezes o corpo para combater a fúria adversária, na maior parte das vezes com sucesso.

(+) João Moutinho  A nível ofensivo foi o melhor, juntamente com Guarín. Não conseguiu a habitual rotação de jogo com que pauta a organização da equipa mas foi dos poucos jogadores clarividentes do nosso lado, como de costume.

(+) Rolando  É complicado jogar bem quando se está a tentar tapar as falhas do colega do lado, mas Rolando conseguiu-o, tal como tinha feito ano passado quando Bruno Alves estava naqueles dias difíceis em que parecia alvejar mais pescoços que bolas. Foi prático e simples e era o que pedia. Tem de ser um pouco mais patrão e exigir dos colegas a atenção e a concentração com que tem encarado os jogos.

(-) Falta de agressividade  Não é o primeiro jogo que o FC Porto trava o ritmo deliberadamente para tentar encontrar espaços numa carapaça contrária que parece imune aos rasgões de Hulk ou à subida dos laterais. A alternativa natural é rodar a bola entre os jogadores do meio-campo e esperar por uma falha da defesa. Quando essa rotação é, como hoje, feita a um ritmo de treino, é menos provável que o adversário facilite e abra espaços e hoje exibimos uma falta de ritmo que foi por vezes incomportável para uma equipa que quer ganhar esta competição, como acredito que aconteça. Villas-Boas berrava e gesticulava para dentro de campo mas nada fez os seus meninos mexerem-se de uma forma que convencesse os adeptos que havia vontade de vencer sendo melhor que o adversário e não apenas com lances fortuitos. Fomos fracos fisica e mentalmente e não conseguimos mudar a maneira de agir durante os 90 minutos.

(-) Sereno  Foi o único, juntamente com Guarín, que usou o corpo para lutar contra a maior força e intensidade de jogo do adversário. Quando digo “corpo”, refiro-me aos pitões, aos ombros e aos braços. Estou à espera que alguém faça um estudo estatístico para contabilizar a quantidade de vezes que Sereno se aproxima de um adversário sem fazer falta, seja ou não marcada pelo árbitro. Aposto que a percentagem se aproxima dos 0%. Falhou consistentemente hoje à noite e incomoda-me saber que pode ser opção para jogar na equipa titular. E já agora, alguém me explica porque é que André Pinto está emprestado e temos este rapaz no plantel?

(-) Walter  Lento, incapaz de se soltar para rematar e com decisões que ninguém percebe, Walter é definitivamente um ponto de interrogação em termos da necessidade do FC Porto entrar no mercado de inverno. Não o vejo neste momento como alternativa a Falcao no onze titular e apesar de parecer ter potencial, não me parece uma solução a curto prazo que seja suficientemente produtivo para nos tornar uma equipa tão eficaz e mortífera em frente à baliza como o trio do início da temporada o foi.

(-) Hulk  Tem de render mais. Prendeu-se em demasia à bola e parecia insistir sempre em jogadas individuais em vez de jogar simples e passar a bola para o lado. Com James apagado e Walter totalmente perdido, compreendo que recaia em si a responsabilidade de rasgar as defesas, mas deve aprender um pouco com Moutinho: quando não dá para furar, tem de se parar e rodar a bola.

(-) Emídio Rafael  Preocupa-me as consecutivas falhas técnicas e de posicionamento do moço. Aparece muitas vezes a apoiar o ataque, quase sempre bem colocado para receber a bola, mas quando a recebe habitualmente não sabe o que fazer com ela, e quando a perde parece hesitar entre a pressão rápida e o recuo estratégico no terreno. É confrangedor ver a incapacidade de comunicação com os centrais.

(-) Kieszek  Seria fácil crucificar o polaco. Apesar de tudo teve culpas evidentes no primeiro golo, mas o que fez não foi nada que Helton ou Vítor Baía não tivessem feito no passado. Ainda assim é uma falha tremenda que levou a que uma exibição que até aí não estava a ser beliscada acabasse por se tornar num pesadelo com falhas constantes que decorreram do nervosismo que se apoderou dele. Esquece este jogo, rapaz, e continua a trabalhar como dantes.

Não é o fim do mundo mas é um bom aviso. Nunca alinho nas tretas das equipas invencíveis porque o trajecto é bom mas não é o que interessa mais. Perder não me custa, perder muito é que chateia. Villas-Boas sabe isso e sabe também que vai ter de distribuir umas estaladas metafóricas nalguns rapazes e fazê-los perceber que não se pode facilitar e que é preciso continuar a trabalhar e a jogar no mesmo ritmo rijo e intenso que impusémos na segunda metade de 2010. Só assim podemos libertar-nos da histeria em que a imprensa vai en
trar e da pressão que vamos sofrer para não perder de novo, especialmente para o campeonato. É que se isso acontece…começamos a perder mais que a vantagem pontual, perdemos a credibilidade e a união entre os adeptos e a equipa. Não nos podemos dar ao luxo de assumir que este foi nada mais nada menos que um jogo mau que perdemos com algum azar e bastante azelhice.

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Ouve lá ó Mister – Nacional

André, re-contratado!

Desta vez é muito simples. Não precisas de ideias nenhumas, de conselhos pseudo-inteligentes da minha parte nem de opiniões tácticas ou tecnico-tácticas ou estruturo-tecnico-tácticas de ninguém. Só precisas de desenferrujar as pernas dos rapazes e voltar em grande.

Por isso:

– Bacalhau deglutido? Check.

– Rabanadas saboreadas? Check.

– Espumante sorvido? Check.

– Guronsan absorvido? Check.

Siga, rapaz. Tenho saudades da bola.

Sou quem sabes,
Jorge

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Um tipo humilde

“Renovação? Temos falado muitas vezes com o clube e tudo dependerá do que acontecer agora nestes meses. As conversas estão em aberto, já estamos comprometidos há muito tempo e estou disponível para continuar, mas isso dependerá sempre do interesse das duas partes.

“Cada domingo era muito difícil, mas custou-me especialmente falhar o jogo da Supertaça. Felizmente ganhámos.”

O treinador está a ajudar-me muito, o departamento médico está sempre em cima de mim, os meus colegas também puxam sempre por mim, isso é importante.

Mariano González, em declarações à “imprensa”, no dia 29 de Dezembro de 2010.

Um rapaz que está lesionado há tanto tempo como ele e que esse motivo não é inscrito na Liga mas acaba por recuperar mais depressa que o previsto, ficando de fora das escolhas durante mais um mês…tem a humildade de perceber e de admitir que as renovações de contrato não são automáticas e que se prendem por pormenores de produtividade e/ou investimento futuro.

Nesse período nunca levantou problemas, nunca veio para a imprensa reclamar, nunca barafustou por estar de fora. Levantou a cabeça e continuou a trabalhar para recuperar da lesão e para poder ser opção para o treinador e provar assim que merece que lhe renovem o contrato. É um dos capitães de equipa e dá o exemplo para os outros na perfeição: só através de humildade e de trabalho é que se vai longe no FC Porto.

Todos sabem o que sinto pelo rapaz. É tolo, trapalhão e distraído ao mesmo nível que é esforçado, lutador e humilde. E tem o meu apoio, para lá das piadas fáceis que por vezes faço à custa dele.

Bem vindo de volta, Mariano!

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Um tipo honesto

Um jogador à Porto (aquele mito que perdura nos três maiores clubes portugueses, bem explanada pela expressão “à”), segundo a nossa perspectiva, é aquele rapaz que dá o litro em campo, que é positivamente agressivo, que sabe o seu lugar na equipa e no seio da estrutura e que não se coloca à frente da instituição. Joga simples, joga fácil e não tenta abusar da sorte nem tem tiques de vedetismo excessivo para lá do que o talento lhe permite. É para além de um bom jogador um bom homem de família, digno, respeitador e honesto.

Hoje em dia, no nosso plantel, temos um excelente exemplo da imagem mental de um jogador à Porto, personificado em Jorge Fucile.

Fucile (ou Fucíl, para Valdemar Duarte), depois de um excelente Mundial, chegou a falar do interesse de clubes italianos e alemães para a sua saída, nunca andou a pedir para sair, a reclamar melhores condições em público mas ao contrário de muitos outros, o Jorginho que até tinha razões para assumir essa posição, nunca o fez. A dignidade com que se apresentou fê-lo ganhar ainda mais adeptos entre dragões:

“Não estou desesperado para sair do FC Porto. Estou num grande clube, que me tem dado todas as condições para evoluir e não tenho pressa de sair. Tenho grande respeito pelo presidente, pelo clube, pelos adeptos, e por muito valorizado que esteja o meu passe, nunca me ouvirão dizer que gostaria de jogar neste ou naquele clube, enquanto for jogador do FC Porto. Uma coisa é dizer que gostaria de experimentar novas sensações, outra coisa, muito diferente, é dizer que pretendo sair do FC Porto. Não sou ingrato e gosto do meu atual clube. Sei que há clubes que estão a demonstrar interesse em contratar-me, o que é bom para mim. Mas no meio de tudo isto há um clube com quem tenho contrato e que merece respeito. O meu e o de outras pessoas.”

23 Julho 2010

Ficou-me na memória. Gosto deste puto e aprovo a renovação até 2014. E é também por isto que lhe perdoo exibições como a de ano passado em Londres, onde não havia buraco suficientemente grande para se enfiar. Só gostava que não se pusesse a fintar meia equipa adversária sozinho para não vir a correr como um demente para ver se recupera. Mas isso, como se diz aqui no burgo, são outros quinhentos.

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