Baías e Baronis – FC Porto vs Pinhalnovense

Enquanto bebia mais um golo do meu copo de vinho, parecia que o jogo se tornava mais longo. Os ataques sucediam-se, nem sempre com a incisividade que se pedia e longe do fulgor da segunda parte frente ao Marítimo, mas eram constantes e sempre no mesmo sentido. Não se esperava outra coisa, porque o Pinhalnovense, apesar de se bater com galhardia e inteligência, não apresentava argumentos capazes de fazer com que o jogo invertesse o rumo natural. Ainda assim, foi pouco, foi (mais) um jogo em que não conseguimos fazer fluir o futebol melhor que temos e que acabamos por resolver, aqui sim à imagem do que se passou no Domingo, à bomba. Há 4 dias foi Guarín. Hoje, calhou a vez a Hulk. Vamos a notas:

(+) Hulk (os golos)  E se um rapaz rematar à baliza com força…é possível que seja o Hulk. Num jogo em que os movimentos conjuntos não conseguiam criar perigo para a baliza de Pedro Alves a não ser em remates quase inócuos, há que colocar a bola naquele que sabe mesmo rematar. E o primeiro golo, quase a papel químico do seu golo contra o Marítimo (o segundo do FC Porto), foi o abre-latas perfeito para uma situação que se começava a tornar perigosa e entediantemente perto de um prolongamento que os de azul-e-branco procuravam e que nenhum “amarelo” queria.

(+) James Rodriguez  Nota-se bem a diferença das primeiras para as segundas partes na produtividade do jovem colombiano. Entra tímido, recolhido, tristonho, mas quando está a jogar há vários minutos começa-se a soltar e a libertar a capacidade técnica e de ruptura aparentemente lenta mas continuamente em progressão que tem vindo a demonstrar. Pode ser bem melhor aproveitado a jogar no centro do terreno em vez de ser colocado nas alas, o que o faz uma alternativa excelente para um modelo em 4-4-2, como Villas-Boas experimentou na segunda parte.

(+) Belluschi  Foi irreverente e sempre que teve a bola nos pés tentou arrastar o jogo para a frente e/ou para os lados, fazendo o que Ruben teve grande dificuldade para conseguir. Era invariavelmente por ele que a bola passava nos movimentos ofensivos da equipa e ainda que as coisas não lhe tenham corrido sempre bem, não consigo censurar um jogador que coloca nos seus ombros essa responsabilidade e consegue pensar o jogo de uma forma mais acertada que outro rapaz, qual Atlas, com o mundo às costas, como Hulk.

(+) Sapunaru  Sempre seguro, teve a noção quase perfeita de quando devia subir e quando se devia manter um pouco mais atrás. É complicado neste momento tirar-lhe o lugar e mesmo Fucile não vai ter vida fácil para ser titular.

(+) Pedro Alves (guarda-redes do Pinhalnovense)  Defendeu quase tudo o que podia e apesar dos remates nem sempre levarem grande força, muitos deles foram bem colocados e levaram a que este rapaz fosse o melhor em campo. Não fosse ele e a falta de pujança nas bolas que saíam dos pés dos nossos homens e a vitória tinha sido garantida mais cedo e por números bem maiores.

(-) Hulk (para lá dos golos)  Compreendo os adeptos quando o assobiam. Não o faço mas compreendo. É preciso ver, fazendo um pouco o papel de advogado do diabo, que em Hulk recaem sempre as expectativas do comum mortal Portista, como em Quaresma, Deco, Capucho ou Madjer antes dele. São os irreverentes, os loucos, os que parecem alhear-se do jogo mas que os colegas procuram quando não sabem mais o que podem fazer. E esses talentos em forma de futebolista reagem, com raras excepções, quase sempre mal a este tipo de circunstâncias em jogos contra equipas que estão um pouco abaixo no nível motivacional. “Ah mas ganham muito dinheiro e têm de jogar!”, dirão. Pois é. E têm toda a razão. Todo este prélio para dizer uma simples frase: um jogador como Hulk tem de render muito mais num jogo contra o Pinhalnovense do que apenas dois bons remates que teve a fortuna de ver a bola a entrar. Muito mais.

(-) Emídio Rafael  Mais um jogo, mais uma prova que tem muito a aprender. Não sei se alguma vez será uma boa alternativa para jogar no lugar de Álvaro, já que quando Fucile estiver em condições acho que estará sempre à frente do português como escolha para a lateral esquerda. Continua nervoso, indeciso no passe, desconcentrado no posicionamento defensivo e inconsequente nos cruzamentos da ala. Posso estar a ser excessivo no nível de exigência mas acho que precisamos de um rapaz melhor ou pelo menos mais experiente.

(-) Fernando  Sei que está com pouco ritmo mas foi uma exibição muito fraca do “polvo”. Pouca clarividência no ataque, mau nos passes curtos, incapacidade de rematar à baliza em condições, não será a jogar assim que tira o lugar ao rapaz que, do alto da sua loucura, tem ocupado o “seu” lugar de uma forma tão prática e livre de grande contestação.

Ainda que tivesse ido ao jogo, era incapaz de assobiar. Lamento sempre a idiotice do assobio e não creio que seja vantajoso para quem quer que seja, dos jogadores ao treinador. Mas compreendo alguma indignação com a lentidão e a inépcia de algumas decisões no final de um número inusitado de jogadas perdidas acabam por enervar a malta. Foi fraquinho mas estamos nas meias-finais da Taça e isso é que interessa, com melhores ou piores exibições. Deu para rodar alguns jogadores e para descansar outros. Venha o próximo!

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Ouve lá ó Mister – Pinhalnovense

André, debulhador/treinador!

Gostei de ver o jogo contra o Marítimo. Estávamos com inteligência, com alguma audácia mas acima de tudo muita calma e tranquilidade. Eu sei que não foste tu que cunhaste esse termo mas foi o que a equipa mostrou no Sábado à noite, e ainda bem.

Contra o Pinhalnovense é diferente. Sem Moutinho a orquestra pia de outra forma e o mais provável é que a tuba soe mais alto que o violino no ensemble de azul-e-branco que deverá pisar o relvado. Ainda assim, confiamos todos em ti para fazeres as melhores escolhas. Estranhei teres convocado a comandita toda e não optares por um ou outro muchacho dos unter-19, mas estou a ver que ficaste escaldado contra o Nacional. Também nós!

Não vou estar lá mas vou estar a ver numa casa recheada de benfiquistas, com um bom vinho tinto a regar uma bela refeição, como de costume. Não quero sair de lá mal disposto, vê lá a minha vida…

Sou quem sabes,
Jorge

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Guarín…há um ano atrás

Ao dia 25 do ano da graça de 2010, escrevi o seguinte no Baías e Baronis referente ao jogo Estoril vs FC Porto, a contar para a Taça de Portugal:

“Em toda a minha vida como adepto portista já tive alguns belos presentes durante um jogo. Costa em Manchester, Mareque em Leiria ou Baroni…em qualquer um que tenha entrado. E ontem, meus amigos, tive mais uma entrada para o galarim dos piores jogos de sempre. O nome da abóbora de calções que entra para o Hall of Fame é nada mais nada menos que Fredy Guarín. Apesar de nada se poder dizer quanto à…não, esperem, vou recomeçar. Muito embora tenha sempre tentado…não, também não está bem. É melhor dizer as verdades primeiro. Guarín protagonizou os piores 45 minutos que há memória de ver um jogador do FC Porto a fazer desde há vários anos, ressalvando algumas muito más exibições que já vimos no passado (com Mariano no Top 5). Não conseguia dominar uma bola que fosse, e sempre que ia a correr para a tentar apanhar, o esférico já tinha saído. Foi atroz a maneira como perdia sempre a bola para o seu marcador directo quando tentava proteger a redondinha dos defesas e invariavelmente a perdia para o marcador directo. Apesar da atenuante de ter sido colocado a jogar como falso-interior-direito-barra-falso-extremo-direito por Jesualdo, nada pode justificar a total inépcia técnica que mostrou. Não chega arrancar feito louco pelo relvado fora com a bola mal dominada, marcar livres contra a barreira e dizer que se tentou. Este é um exemplo similar a Tomás Costa, que aparentemente sabe bem melhor o seu lugar. E o argentino, quando não sabe, manda a bola para fora. Guarín, como acha que sabe, tenta fintar (muito à imagem de Belluschi). E, como quase sempre lhe corre mal, perde créditos. E já tem poucos.”

Sensivelmente um ano depois, verborreei estas palavras sobre o mesmo rapaz na mesma rubrica, no jogo FC Porto vs Marítimo da Liga ZON/Sagres:

“Em declarações depois do jogo, o colombiano disse: “Por vezes, saem disparates mas hoje marquei”. Frase perfeita de um rapaz que, à imagem de Mariano, acaba por conquistar os adeptos à custa de suor, alguma atrapalhação mas muita luta. Os golos que apontou hoje foram a imagem de um rapaz que joga cheio de moral, com garra e capacidade de luta notáveis, a rodar a bola com simplicidade e certeza e que apesar de uma ou duas falhas por excesso de confiança nunca deixou de procurar fazer as coisas de uma forma prática e que permitisse aos colegas avançar com a audácia que era necessária. Já o critiquei tanto que parece que estou a assumir uma hipocrisia gritante, mas este Guarín que hoje vi a celebrar dois geniais golos não é o mesmo do ano passado. Está bem melhor e neste momento é titular por mérito próprio.”

Não parece ser o mesmo gajo, pois não? Nem o que escreve nem o que joga.

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Baías e Baronis – FC Porto vs Marítimo

Foto retirada do MaisFutebol

O resultado é, de certa forma, enganador. Não fizemos um jogo brilhante, longe disso, mas consguimos manter a calma e o ritmo que não parecia querer surgir para as jogadas mais simples e de troca de bola mais tranquila acabou por ser rebentado à bomba com um míssil de Guarín a 37 metros da baliza, que foi sem dúvida um dos melhores golos do género que já vi. Acima de tudo, notou-se uma diferença na forma da equipa jogar, mais recuada e um pouco receosa, a sofrer os efeitos de não querer estourar fisicamente porque Janeiro e Fevereiro vão ser meses muito complicados e as pernas não dão para tudo. O que custou mais foi assistir à incapacidade de, na primeira parte, conseguirmos soltar as amarras da pressão alta do Marítimo, muito bem executada, e que agrilhoou o nosso meio-campo de forma a torná-lo pouco mais que inútil. Até Guarín decidir que ia largar chumbo do pé direito. Tudo melhorou e a vitória assenta-nos bem. Vamos a notas:

(+) Guarín  Em declarações depois do jogo, o colombiano disse: “Por vezes, saem disparates mas hoje marquei”. Frase perfeita de um rapaz que, à imagem de Mariano, acaba por conquistar os adeptos à custa de suor, alguma atrapalhação mas muita luta. Os golos que apontou hoje foram a imagem de um rapaz que joga cheio de moral, com garra e capacidade de luta notáveis, a rodar a bola com simplicidade e certeza e que apesar de uma ou duas falhas por excesso de confiança nunca deixou de procurar fazer as coisas de uma forma prática e que permitisse aos colegas avançar com a audácia que era necessária. Já o critiquei tanto que parece que estou a assumir uma hipocrisia gritante, mas este Guarín que hoje vi a celebrar dois geniais golos não é o mesmo do ano passado. Está bem melhor e neste momento é titular por mérito próprio.

(+) João Moutinho  Não me canso, ao contrário de Miguel Sousa Tavares, de elogiar Moutinho. Só quem não sabe ver futebol é que pode criticar o rapaz por jogar calmo e raramente fazer passes de ruptura, apenas quando tem a certeza que a bola tem uma elevada probabilidade de passar pelos defesas. Caso contrário, João, o pequeno João, roda sobre si mesmo e procura um passe simples, uma variação de flanco, uma mudança de direcção, o atraso para o central ou o domínio de bola em progressão…tudo são palavras do léxico futebolístico do rapaz. É um deleite vê-lo a mandar no meio-campo da sua nova equipa ao fim de pouco mais de 20 jogos.

(+) Rolando e Otamendi  Quase perfeitos e a mostrarem uma simbiose muito acima do que esperaria. Rolando está em boa forma, a posicionar-se bem e a mandar no jogo, marcando o ritmo e orientando a defesa. Otamendi, por sua vez, menos bem no posicionamento mas milimetricamente perfeito nos cortes (abusas do carrinho mas vá lá que acertas limpinho na bola) e melhor a sair com a bola controlada. Os dois, tão diferentes, foram um bloco que não parece dar hipótese a Maicon neste momento. É mau para o brasileiro, é excelente para o FC Porto.

(+) James Rodriguez  Começou mal, lento e medroso, mas na segunda parte surgiu em excelente nível, com mais espaço e muito mais audácia, quase sempre que pegava na bola parecia que podia fazer algo de muito bonito. Continuo a achar que precisa de “inchar” a nível muscular e de ser mais rápido nos movimentos sem bola, mas podemos ter aqui um elemento muito útil para o futuro próximo.

(+) A ovação a Mariano  É paradoxal. Os adeptos que o aplaudiram serão muito provavelmente os mesmos que o vão assobiar daqui a umas semanas, mas hoje nada disso importava. Hoje, pelos 83 minutos, o Estádio do Dragão uniu-se em homenagem a um rapaz que trabalhou com humildade, acatou as opções da equipa técnica no início da época e sempre lutou para ser um deles, só mais um dos que jogam e fazem jogar. Mariano, capitão de equipa, é um exemplo para todos hoje confirmado com o público, os adeptos que nunca o idolatraram nem o irão fazer no futuro, mas que reconhecem, do fundo do seu coração portista e humano, que há ali valor. Não tem a técnica de James, mas tenta. Não tem a força de Hulk, mas luta. Não tem a velocidade de Varela, mas corre. E para nós, portistas, é um orgulho.

(-) Bolas paradas defensivas  Uma miséria, mais uma vez. A atenuante de Sapunaru estar fora a receber assistência não pode ser única responsável pelo facto de terem aparecido três (!) jogadores do Marítimo sozinhos e prontos para cabecear para a baliza, um deles a facturar e os outros apenas a controlar o espaço aéreo. Não sei o que se pode fazer de melhor, mas o posicionamento e o facto de não se acompanhar os jogadores que sobem na vertical acaba por ser um dos factos mais preocupantes da solidez defensiva da equipa.

(-) Lesões nas laterais  Venham de lá as bruxas. Álvaro, Fucile e agora Sapunaru?! Já começa a ser azar a mais. Temos alguma cobertura graças à polivalência de dois centrais (Otamendi para a direita e Sereno para a esquerda) mas é caso para pensar que é melhor pensar em ir à bruxa. Ainda se fossem lesões parvas como os outros que caem no chuveiro ou que se espetam de mota, mas assim é frustrante.

(-) Hulk ao meio  A equipa, principalmente na primeira parte, ficou muito presa de movimentos com Hulk a jogar a ponta-de-lança. Sem Hulk numa das alas a formação fica murcha, lenta, frouxa, incapaz de romper e tem de procurar outras alternativas que foram quase sempre barradas com inteligência (e algum jogo duro, há que dizê-lo) por parte do Marítimo, que carregou tanto o meio-campo com gente que Hulk nem conseguia quase receber a bola. Com o melhor “9” de fora (Falcao) e com a mensagem que foi passada a Walter de incapacidade para encher as botas de Radamel, Hulk perdeu muito do fulgor que transmite à equipa e notou-se. Na segunda-parte, particularmente depois da saída de Varela e da entrada de Fernando e a alteração para aquela espécie de 4-1-3-2, a equipa esteve melhor mas não o suficiente.

Em conversa com o José Correia do Reflexão Portista, que tive a sorte de encontrar antes do jogo enquanto tomava um café junto com o Miguel do Tomo I, quando soubemos que Hulk ia jogar no centro concordámos que a mensagem subliminar de Villas-Boas era: “É preciso outro ponta-de-lança.”. É possível que tenhamos razão, porque não gostei de ver a equipa na primeira parte e apesar do resultado ser acertado tendo em conta a produção das equipas, não foi um jogo fácil. Ainda assim fica na mente o golão de Guarín, a boa exibição dos centrais e o cérebro de Moutinho. Acima de tudo, a vitória e a reunião com os sócios. Venham mais destes!

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