Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 CS Marítimo

Cheguei cedo ao estádio. Já com dois cafés no bucho depois das 18h, encontrei dois dos meus amigos/colegas de bancada em conversa intercalada com bocejos lá íamos debatendo as últimas novidades nas nossas vidas, passando o tempo até entrarmos pela porta (dezanove, claro) de entrada para o Dragão. Tinha dormido mal e estava cheio de sono, o dia de trabalho foi rotineiro e pouco entusiasmante depois de uma semana intensa. Cansado, ensonado, subi a interminável escadaria na companhia da malta boa que comigo se habituou a ver o jogo, mas desta vez ia mortiço. Precisava de algo que me acordasse…e a brilhante pentângulação do primeiro golo foi o primeiro estalo que levei nas bochechas, logo se seguindo aquela obra de arte do rapaz que hoje jogou com o número dezassete e que tantas vezes tem feito por merecer as minhas críticas. Hoje, vergo-me perante ele e perante a equipa, porque me despertou e fez um dos melhores jogos do ano. Não há nada a dizer de negativo, há que aproveitar o descanso de uma grande exibição e dar os parabéns à equipa. Vamos a notas:

 

(+) A dinâmica da equipa A maior mais-valia do FC Porto actual vê-se quando James se junta a Lucho e Moutinho no meio-campo e começam a trocar a bola com um rendilhado difícil de igualar e com resultados visíveis. A jogada do primeiro golo é trabalhada, treinada, e fruto de um misto de rotina com inspiração que um equipa com um avançado como Jackson está a mostrar ser, letal. É isto que os adeptos pedem a Vitor Pereira, que dê hipótese a que os jogadores gostem de jogar juntos, que se enquadrem num plantel que tem opções múltiplas, umas melhores que outras como em todos os plantéis, mas que quando as mais válidas e talentosas estão em campo possam pôr na relva tudo o que os coloca no topo da lista. Hoje, como já vimos noutros jogos este ano (contra o Guimarães ou o Paris Saint-Germain, por exemplo), fomos muito melhores porque fomos unidos, inteligentes e criteriosos no passe, na retenção da bola e na busca do cenário certo no momento certo. E os adeptos agradecem, aplaudem e sorriem.

(+) James Sim, o segundo golo foi um lance de sorte, mas foi das poucas situações em que a sorte ditou o que James produziu, já que o resto foi tudo dele. Muito boas desmarcações e excelente a descair do flanco para o centro quando a equipa precisa de rodar a bola com inteligência e capacidade técnica e visão global de jogo, nem sempre é pelo meio que cria mais perigo, mas é certamente por aí que faz com que o jogo flua com mais intensidade e progressão ofensiva. Está a conseguir uma posição na equipa que o está a transformar numa das principais figuras da equipa não só pelo nome e pelo potencial mas pelo futebol jogado em campo. E isso é bem mais importante que vários Sequins de Ouro da bola mundial.

(+) Jackson Já me convenceu. No início tive dúvidas quanto ao seu valor pela aparente falta de mobilidade e entrosamento com os colegas, até porque o investimento tinha sido alto e estava à espera que fosse uma questão cesariana de chegar, ver e vencer. Mas percebo agora que é um jogador diferente de Falcao, menos goleador “à boca do golo” e diferente na movimentação na área e em progressão. Ambos os golos que marcou são fruto de inteligência posicional e facilidade técnica no controlo da bola e do corpo perante a bola, especialmente pela forma como se movimenta na última linha de defesa do adversário e sempre a centímetros do fora-de-jogo, como um Filippo Inzaghi núbio com sotaque espanhol. Gosto do moço.

(+) Varela Não há dúvida nenhuma na minha cabeça que Silvestre Varela é, por mérito dos últimos jogos em que esteve em alta, titular absoluto do FC Porto. E é-o porque é mais jogador que o novo pretendente ganês que ganhando pontos pela juventude e irreverência, perde em experiência e discernimento táctico para o português. Hoje, Varela esteve em bom plano pelo jogo que fez e pela agressividade que colocou em campo ao serviço da equipa, pela luta que travou com tudo que lhe aparecia pela frente e por nunca desistir quando achava que tinha hipótese de triunfar. E marcou um golo que fica na memória de todos que hoje estiveram no Dragão. Bom jogo, rapaz.

 

(-) Marítimo e a complacência da arbitragem Não fosse o resultado ter-se avolumado facilmente e o jogo podia ter caído para as profundezas de um inferno de pancadaria caso os jogadores do FC Porto perdessem a cabeça com as entradas do adversário que começaram a enervar os adeptos. Quando a defesa do FC Porto é composta por nomes como Mangala, Otamendi e Abdoulaye, juntamente com um Defour que hoje parecia ter bebido sete latas de Coca-Cola antes do jogo tal foi a vontade com que entrou para acertar em alguém, um ou dois pequenos incidentes podem descambar em estupidez generalizada e sangue quente a mais. Não aconteceu (mérito aos nossos moços) e Cosme Machado teria culpas se tivesse acontecido, tal era a displicência com que lidava com algumas patadas que os madeirenses acertavam em James ou Lucho. Vá lá, correu bem.

(-) As lesões Maicon, Fernando, Helton e depois Lucho. Parece azar demais para ser verdade mas não houve uma única substituição táctica na equipa do FC Porto hoje à noite já que todas elas foram fruto de lesões dos titulares que tiveram de sair para dar lugar aos colegas que se colocaram nos mesmo sítios, com as mesmas características mas estilos bem diferentes. E não sei porque é que Lucho continuou em campo, porque pareceu-me ver Vitor Pereira e Nelson Puga a mandarem o rapaz sair de campo ou, no mínimo, encostar-se à direita em troca com James para que não tivesse de percorrer muitos metros com uma possível lesão. Não sei se algum recuperará para Kiev, mas é um motivo de preocupação para todos. Imaginam um onze na Ucrânia com Fabiano, Miguel Lopes, Otamendi, Abdoulaye e Mangala, Defour, Danilo e Moutinho, Varela, James e Jackson? Uau.


Do jogo de hoje sobrressai ainda uma nuance mais evidente: quando o FC Porto joga perante uma equipa que não se fecha lá atrás no casulo da sua própria rede defensiva, os resultados são brilhantes. Há alturas em que parece estarmos a ver um grupo de rapazes genuinamente entusiasmados com o estilo de jogo que apresentam e crescem à medida que o jogo vai avançando. Para lá da excelente visão de James, do instinto de Jackson ou do esforço de Lucho em terminar um jogo com dores, a questão coloca-se: porque é que não jogamos sempre desta forma? Não sei explicar, mas hoje também não quero. Só quero apreciar esta charutada que demos aos nossos amigos madeirenses. Pum. Vezes cinco. Soube muito bem.

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Ouve lá ó Mister – Marítimo


Amigo Vítor,

Já passaram as emoções rocambolescas da noite de alouíne e das bruxas e do raio que as parta a todas e lhes enfie o cabo da vassoura pelo respectivo esfíncter acima. Não gosto dessa treta, admito, e se vamos trazer tradições americanas para este lado ao menos que venha o dia de acção de graças porque é uma festa de grande comezaina e onde as famílias se juntam para ficar uma tarde inteira a ver futebol. Adaptava-se o perú para leitão e o futebol deles para o nosso e zás, era uma festarola à tuga. Nisso, alinhava. Mas enfim, desvio-me do ponto principal.

Logo à noite vou ao Dragão ver o meu clube jogar contra aquele clube das camisolas parecidas com a bandeira da naçom mas que usam calções brancos porque se fossem amarelos havia qualquer espécie de implosão estética que fazia com que o buraco da Madeira se transformasse numa máquina de fazer dinheiro. De qualquer forma, vai ser uma hipótese de voltar a ver o Briguel e não há muitas coisas neste mundo que me agradem mais que ver o Briguel a perder. E então perder connosco…geez, dude, é branco sobre azul.

Também sei que este jogo aparece numa altura em que a grande maioria do mundo portista civilizado já está a olhar para a próxima semana e para o que se vai passar em Kiev, porque aí decide-se se vamos já confirmar a passagem à próxima fase da Champions. Esquece isso por agora. E obriga os teus rapazes a esquecerem isso hoje, porque a partir de amanhã já se podem preocupar outra vez com os cantos do Veloso (ao contrário dos penalties do pai dele que já sabemos que são uma borrada, não é? ehhhhhhhhhhh). Hoje temos de jogar em condições e sem aquela tremideira absurda que mostrámos contra o Estoril e que não me agradou nem um bocadinho. Por isso raspa lá o pó de ouro do teu fato e arranca uns aplausos da malta. Desafio-te, anda lá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Leitura para um feriado tranquilo

  • Quanto tempo têm de trabalhar os adeptos para terem guito para ir à bola? Um gráfico bem explicado no Stadium Guide;
  • E musiquinhas da bola? Ui, amigos, está (quase) tudo online, até um álbum sobre o FC Porto, lançado por António Frazão em 1975. Podem visitar e ouvir em 45Football.com;
  • Como podem estar entediados a meio do feriado, nada como se porem no papel de um referí neste joguete online. É uma seca, admito, mas pode haver quem goste. Leiam e joguem a partir do KCKRS;
  • Os japoneses excederam-se novamente. Finalmente chegou o melhor substituto para os Kraljs deste mundo, porque intercepta bolas aéreas sem sair da relva. Apresento-vos a “Super Great Toiler Keeper”! Vejam em The Verge;
  • A aventura de um inglês na Alemanha, onde viu vários jogos e enfrascou litros de cerveja, descrita num texto longo mas que vale bem a pena ler, no The Ball is Round;
  • Afinal, o que é que Godinho Lopes percebe de futebol? O A Norte de Alvalade tenta responder a esta pergunta;
  • O Soccer by the numbers analisa o impacto negativo do futebol na educação da nossa juventude;
  • A influência do regresso de Van der Vaart ao Hamburgo e a importância da “equipa” no apelo que um clube pode ter perante um jogador bem cotado, em análise no Bundesliga Fanatic;
  • Para terminar em grande, o “nosso” Bicampeões do Mundo faz-nos regressar a Abril de 2011 para ilustrar aquela que o NGP cita como a vitória que lhe deu mais gozo…e a todos nós também, ou pelo menos está na lista dos tops!;

 

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