Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Vai ser um jogo fodido. Tu sabes disso, eu sei disso, toda a gente sabe que vai ser um jogo fodido. O Braga pode ter perdido o jogo com o Cluj e até pode ter sido enrolado como massa de pizza e atirado para um forno de lenha de Alvalade…e antes de te rires, pensa que perderam lá o jogo, onde tantos outros clubezecos foram sacar pontos. Mas estes cabrõezinhos, para lá do Benfica, são os únicos que me metem algum medo neste campeonato. Não muito, mas o suficiente para ter um cuidado extra quando lá vamos jogar, e continuo a afirmar que este é um dos jogos mais difíceis do ano. Por isso vamos lá ter cuidado com estes rapazes e passar à acção quando fôr preciso.

Há dois ou três pontos que acho que tens de salvaguardar para podermos ganhar o jogo e já sabes que podes ouvir o que te digo ou não. Mas aconselho que o faças porque eu até sei o que digo, ou pelo menos é o que as vozes na minha cabeça me dizem, sempre com aquele ar angelical que parecem jovens belgas a cantar em coros de igreja todos vestidos de branco. Ou desfiles da Victoria’s Secret com as putas das asinhas cheias de pena. Pena não tinha eu delas, cambada de galdérias. Estávamos a falar de quê? Ah, sim, o Braga. Dois ou três pontos. Três, vá, para ficar redondo e poderes fazer aquela subida de tom no “dois”. Ora então vamos a isso.

Primeiro: O titular do lado esquerdo da defesa deve continuar a ser o Mangala. O Mangalho. O Mangalhão. E para além de lhe chamares isso, deves mandá-lo dar uma ou duas charutadas no Alan logo no início do jogo para o Predator saber quem é que manda nesta merda. Mangalha-o.

Segundo: Do meio-campo para a frente, sou sincero contigo e por muito que goste do Defour, por mim entrava o Fernando. É um jogo em que vamos precisar de mais força no meio-campo e com cretinos como o Custódio e o Ruben Amorim (para lá do Ruben Micael, que se levar dois encostos vai parar ao Sameiro), o Moutinho vai precisar de ter as costas quentes e o Lucho de ter uma sombra ali perto. Quero o Polvo em campo.

Terceiro: Convence os jogadores que o jogo vai ser difícil, que não se deixem iludir pelo “mau trajecto recente” ou pelas piadas do anormal do cabelo louro lá de baixo e passem a acreditar na sorte. Porque a sorte, como disseste, constrói-se com suor e trabalho. E é isso que tens de lhes espetar nas cabecinhas.

Ganha, Vitor. Make me happy, dude.

Sou quem sabes,
Jorge

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Sabes, há alturas em que pareces um Capucho núbio

 

Sim, este post é sobre o Varela. Especialmente pelo que tenho vindo a apreciar nos últimos jogos e que se prende com uma certa Capuchização do estilo do Silvestre desde a saída de Hulk e as constantes cambiantes de James do flanco para o interior onde pode melhor soltar a liberdade criativa como um Da Vinci depois de uma tripe de ácido. Varela, neste momento, está em processo de transformação de um jogador rápido, voador sobre o flanco e incisivo nos dribles em progressão e a agir como uma flecha apontada do flanco para a baliza adversária, num homem mais calculista, frio, que surge em zona de finalização muito mais central, que descai para o flanco oposto ao que é ocupado em part-time pelo colombiano e que fazem dele uma personagem atípica tendo em conta o passado recente na nossa equipa.

Voltemos a 2009, quando Varela chegou. Capacidade técnica mediana, muita velocidade com a bola e intensa vontade de passar pelos oponentes em corrida, numa prova ao sprint que normalmente terminava num cruzamento perigoso (ou não) onde Falcao tentava a todo o custo empurrar a bola para a baliza ou, no pior dos cenários positivos, atravessava a área até chegar a Hulk, no outro flanco. Depois de uma lesão que o chutou para fora do Mundial de 2010, no ano seguinte, o da glória Villas-Boasiana, Varela decaíu no nível, na velocidade e na entrega, tremendo em muitos jogos mas continuando a ser um elemento considerado titular num tridente de ataque que demoliu defesas atrás de inertes defesas com um avassalador ataque que destroçou meio-mundo e deixou o outro meio agarrado aos testículos com medo que caíssem depois da traulitada que levaram.

Em 2011/2012 e agora em 2012/2013, Varela parece diferente. Mais calmo, quase sempre com um compasso de espera antes de passar à acção, controlando melhor a bola e cedendo mais ao jogo colectivo. Parece mais trapalhão mas mais inteligente, menos explosivo e mais pensativo. Ainda no jogo contra o fraquito Dínamo Zagreb, vi Varela a fintar sem tocar na bola, a inclinar o corpo para fazer com que o inepto croata caísse na deambulação da própria mente e cedendo à inércia para que lhe desse a hipótese de continuar com a bola na sua posse, a galgar terreno como um leopardo vagaroso acabado de sair de uma operação às varizes. Com Atsu a trincar-lhe os tornozelos com a juventude e raça própria de um jogador com um estilo peculiar e pouco habitual no FC Porto desde há muitos anos, Varela parece ter admitido a derrota no corpo mas nunca na mente, protegendo muito mais a bola com o corpo, criando espaço para ele e esperando que os colegas surjam em posição mais vantajosa que ele para lhes endossar o esférico direitinho, redondinho, pronto para o tiro de morte.

Estás diferente, Silvestre. E se começares a correr com os cotovelos dobrados a noventa graus, os braços perpendiculares ao corpo e conseguires controlar uma bola de primeira sem problemas, estás a uma fita no cabelo de ficares um novo Capucho, com uma tez bem mais escura. E não é tarefa fácil, garanto-te. Aquele nível não se consegue treinando. Nasce-se com ele.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Dínamo Zagreb

foto retirada de desporto.sapo.pt

Começo pelo Dínamo: não me lembro de ver uma equipa tão fraquinha a jogar na Champions, palavra. Pouco discernimento defensivo, um saco de jogadores no meio-campo e um ou outro ataque muito de vez em quando é o pouco que estes rapazes tiram de um jogo inteiro. E o FC Porto deixou-se ir no balanço da não-necessidade de acelerar acima de uma velocidade de cruzeiro que nos assenta bem e que ninguém poderia esperar que fosse assim tão diferente. Ganhámos bem, sem qualquer dúvida, com bons golos e uma ou outra jogada agradável, mas foi acima de tudo um exercício de treino, com jogadores a passo e sem se chatearem muito com o resultado ou com problemas de eventuais lesões. E não me importei nadinha porque o jogo contra o Braga está aí à porta e as prioridades, hoje à noite, estiveram bem trocadas. Mais uma vez, foi uma vitória fácil contra uma equipa medíocre e que nos assenta bem. Notas abaixo:

 

(+) Moutinho Xissa, miúdo, que belo jogo fizeste tu hoje! Para lá do livre directo (muito bem marcado), foi na luta que Moutinho esteve acima da média dos colegas (acima até do seu nível tradicional), porque recuperou muitas bolas não só pelo posicionamento mas pela luta e pela atitude. Não é à toa que os adeptos adoram vê-lo com a nossa camisola e continuo a afirmar que foi dos melhores negócios que fizemos desde que sou portista, porque é muito raro o jogo em que Moutinho está em campo a mais. As coisas podem não lhe sair sempre bem, pode falhar passes consecutivos, ocasionalmente escolher mal o timing da corrida ou da desmarcação, até pode rematar ao lado ou por cima. Mas quando João Moutinho está em campo, o FC Porto é diferente. E quando João Moutinho joga como fez hoje, inteligente, perspicaz, lutador, criativo (o calcanhar para Varela…upa upa!), o FC Porto é melhor.

(+) Mangala Muito bem na cobertura de espaços e na transição pela lateral, foi prático quando era preciso ser prático e raramente deu um metro que fosse aos avançados que lhe caíam na sua zona de cobertura. É muito alto e usa bem a força e a estatura para lutar contra o oponente directo, vencê-lo no corpo-a-corpo e sair para o ataque para tentar o desiquilíbrio. Nunca será um excelente lateral mas se fosse a Vitor Pereira, pelo menos enquanto Alex Sandro não tiver ritmo (especialmente agora contra o Braga e depois…contra o Braga), mantinha o francês na esquerda.

(+) Jackson Excelente no domínio e posicionamento para recepção da bola, correu que se fartou e lutou com todos os adversários que lhe tentaram, quase sempre sem sorte, tirar-lhe a bola. Não parece muito forte mas tem uma estupenda capacidade de choque, recebendo pancada de criar furúnculos nas costas e ombros e omoplatas e em todo o torso superior e mantendo-se estóico de pé e com a bola controlada. Foi quase sempre mal servido mas quando conseguiu alguns espaços para rematar também não foi eficaz. Merecia um golo.

 

(-) Lucho Marcou o primeiro golo, é verdade, mas durante o resto do período que passou em campo esteve “off”. Muitos passes falhados mas acima de tudo muitas transições perdidas em alturas quando podíamos e devíamos partir para ataques mais rápidos e quando a bola chegava a Lucho, as coisas paravam, travavam, amoleciam, definhavam. Não esteve mal ao ponto de ser criticado, mas também me pareceu um pouco cansado. Teve um jogo fraquinho e notou-se. Foi bem substituído.

(-) Dínamo Zagreb ou o estado do futebol croata Uma simples frase deve chegar para ilustrar o que quero dizer: o Dínamo de Zagreb, ESTE Dínamo de Zagreb, é hepta-campeão da Croácia e lidera a actual edição da Prva HNL (a Primeira Liga deles) com dez (!) pontos de avanço ao fim de 16 jogos. Uau.


Mais um milhão e mais três pontinhos para o saco, num jogo simpático, uma exibição q.b. contra uma equipa fraquinha. Surpreende-me ouvir gente a dizer que os gajos ainda criaram perigo e até podiam ter ganho, quase como se fosse um sacrilégio parar um bocadinho e descansar até o jogo de Domingo, esse sim bem mais importante que este. E afinal de contas o PSG acabou por ganhar à equipa do gordo, por isso é mesmo para decidir o primeiro lugar em Paris. E valerá a pena? Com equipas como o Milan e o Real Madrid em segundo lugar? São piores que Barcelona ou Manchester United? Não sei que vos diga.

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Ouve lá ó Mister – Dínamo Zagreb


Amigo Vítor,

É o último jogo em casa da Champions este ano. Dois mil e doze na Europa encerra-se hoje aqui no nosso cantinho, mas já sabes que lá para Fevereiro cá estaremos de novo. Só que isso já é em dois mil e treze. Dois mil e treze, Vitor, raios partam esta treta dos anos passarem para todos, pá, parece que ainda ontem estava a entrar para as Antas para ver este mesmo Dínamo de Zagreb quando o Doriva decidiu espetar aquele balázio aí a quilómetro e meio da baliza. Bons tempos, homem, bons tempos.

Hoje o jogo é diferente. Já estamos qualificados e estes não-muito-simpáticos moços do leste ainda não conseguiram marcar um golo. Parece-me uma situação adequada, lembras-te do primeiro jogo do grupo? Lá em Zagreb? Que miséria de adversário, palavra, ainda não percebo como é que te deixaste vir para trás e esperar que os animais nos caíssem em cima de tal maneira que quase que marcavam uma chouriçada e nos tramavam logo no arranque. Não quero ver esse relambório outra vez hoje à noite, pá, até porque vai estar frio ou chuva ou ambos. E gostava mesmo de ouvir o hino da Champions todo contente e continuar o jogo com uma excelente partida e com os melhores em campo. Ah, por falar nisso, já te decidiste se vais pôr o Nando e o Sandro? Vê lá se estão em condições para jogar à bola a sério, olha que o relvado vai estar rápido e escorregadio pra carago e não me quer parecer que seja o melhor jogo para os rapazes regressarem, especialmente porque a seguir vamos à pedreira. Homem, não me censures, já sabes que sou pessimista e acho que o céu vai sempre cair em cima das nossas monas, sou uma espécie de Chicken Little. Mas com barriga. E, do ponto de vista dele, um estupor dum canibal. Mas de que raio é que eu estou a falar?! Ah, sim, o jogo. Ninguém está à espera de grandes jogatinas. Queremos é um jogo sério, em que os rapazes não tirem o pé, que troquem bem a bola e não se ponham com brincadeiras sem que tenham vantagem para isso.

Ganhar, Vitor. Este é só mais um.

Sou quem sabes,
Jorge

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