Ouve lá ó Mister – Basileia

Señor Lopetegui,

Que saudades destes momentos, caríssimo. E que saudades de estar nos oitavos de uma competição destas, onde já não colocávamos as nossas patinhas há dois anos, que é tempo a mais para quem já teve hábitos mais interessantes que os actuais. Viena ou Gelsenkirchen são ideias que nos estão presas na cabeça e que nunca de lá saem a não ser que possamos colocar mais uma…que é como quem diz chegar lá outra vez. É um sonho, não duvido, uma coisa a que os ingleses chamam “pipe dream”, algo que é quase impossível de atingir mas que se mantém perene nas mentes e almas de tantos que, como eu, pensam nisso sempre que ouvem o hino da Champions.

E é isso mesmo que hoje temos de volta, esse sonho que vivemos todos os Setembros e na boa parte de Fevereiros. De chegar tão longe como já duas vezes chegámos ou, em alternativa, derramar suor e sangue a tentar fazê-lo de novo. Ninguém te censura se ficarem por aqui. Podem chatear-te a cabeça mas em verdade te digo que a malta já ficou razoavelmente satisfeita por ter passado a fase de grupos. Mas que temos a esperança de poder chegar aos quartos, lá isso temos. E está ao nosso alcance, por muito que o Basileia tenha uma equipa jeitosa e firme e segura e competitiva, nós também temos. Aproveita bem os teus recursos, coloca os que achares melhores em campo e vê se não sofres golos. Marcar já não é mau e se conseguires dois ou três, ainda melhor. Foca-te neste objectivo e deixa o campeonato para segundo plano, pelo menos hoje.

Hoje, Julen, é dia grande. É dia de Champions. Joga à altura disso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Tudo a ganhar e tudo a perder

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O resultado do sorteio dos oitavos da Champions foi agridoce. Não duvido que nas tensões que cada bolinha que ia sendo aberta e à medida que os nomes iam sendo revelados, o nervoso bem-mais-que-miudinho ia-se apoderando dos nossos corpos e das nossas mentes. E quando iam saindo os Bayerns e os Chelseas, os nomes que ficavam para o fim adoçavam a nossa boca com a perspectiva de um regresso a Londres ou uma visita a uma terra repleta de dinheiro, indústria e alguns emigrantes lusos, um dos quais na cadeira de treinador. As primeiras reacções são cautelosas da parte de quem é responsável, com as luzes das câmaras firmes à busca do soundbyte. Do lado dos adeptos, euforia. Estes? De onde? Não foi lá que fomos roubados com a Juve e perdemos a única coisa que o Sporting pode dizer que é melhor que nós? Raios me partam se não vamos lá espetar cinco e até podemos descansar em casa porque o campeonato nessa altura deve estar tramado e mais vale jogar pelo seguro. No campeonato, claro!

Pois é. E agora, com quatro pontos de atraso cá por casa, temos um confronto europeu dos bons, porque são sempre bons. Não ponham esse ar de prepotentes ao pensar que um jogo contra suíços vale menos que um outro contra ingleses ou alemães. Especialmente porque nos colocamos perante uma possibilidade de win/win e lose/lose. Não é muito complicado de entender a periclitância (maldição de termos antigos que hoje só me vem à cabeça filmes portugueses dos 1940s) da nossa situação, mas para os mais lentos ou preguiçosos, passo a explicar.

Uma vitória na eliminatória é natural, esperada e fruto da maior qualidade do nosso plantel perante um grupo de jogadores com um misto de talento e força, com determinação mas que serão, teoricamente, abaixo do que consideramos “ao nosso nível” no panorama europeu. A História fala por si e o palmarés é de tal maneira díspar que nem devia fazer comichão imaginar que estamos no mesmo escalão, nem sequer no mesmo desporto. Somos melhor que eles, ponto. É essa a forma de encarar esse jogo que mais me chateia, porque apesar de ter visto pouco deles na fase de grupos, a verdade é que estão cá. No mesmo grupo do Real e do Liverpool, apesar da coça que levaram em Madrid e de terem até perdido com o Ludogorets. Mas estão cá, fizeram por isso e merecem tanto como qualquer outro. Vencer é expectável. E se acontecer, há mérito? Para nós, portistas que estarão cá amanhã a apoiar mesmo que caia meia Invicta para o lado do Mal, sim, porque passaremos para os quartos da prova de clubes mais importante do mundo, mas haverá sempre quem venha chutar para baixo, aninhados perante um qualquer complexo que nunca vou conseguir entender, e menosprezar o feito desvalorizando o adversário.

E se perdemos? E se somos eliminados por uma das surpresas da prova, pelo menos até esta altura? Inclemência das opiniões, martírio na praça pública, uma vergonha nacional, bandeiras a quarto-de-haste porque a meio até parecia que estaríamos resignados. Suíços?! Só perco com esses gajos quando luto contra um Toblerone, era só o que me faltava agora aqueles bardamerdas mandarem-nos para fora! Guerra para cima deles, é o que eu digo, que eles se lutarem todos com aquelas roupinhas paneleiras dos que fazem figura de urso em Roma que mais parece uma trupe dos Cardinallis hão-de cair todos como o Robben! E então, venham eles!

Se fossemos jogar contra o City ou o Barça, tudo tranquilo. Ganharíamos com mérito e perderíamos pela valia do adversário. Mas estes? É melhor ganhar mesmo, para evitar que os imbecis tomem controlo do senado.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Shakhtar Donetsk

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Um ambiente pacífico, relaxado e de bom convívio, a fazer lembrar saudosas noites das Antas, que enchiam de espaço vazio com a visita de um qualquer Famalicão, viveu-se hoje no Dragão. Um jogo tranquilo entre duas equipas com muito pouco a ganhar e ainda menos a perder, de onde se retiram três notas importantes: Ricardo a dizer que não está aqui só para jogar na B; Aboubakar a mostrar que de vez em quando um ou outro remate fora da área até podem dar jeito e Ruben Neves que começou cedo a tramar os joelhos. Vamos a notas:

(+) Ricardo (Pereira, ou “2”). Pezinhos de veludo, fibra nas bolas divididas e um bem-estar geral que contagiou o público e encorajou a equipa. Foi assim que Ricardo (Pereira, que isto de ter tantos Ricardos num plantel devia dar para aquelas palhaçadas à 80s do Ricardo 2 ou 3) se mostrou mais uma vez numa posição que não me agrada mas onde conseguiu uma excelente exibição. Preferia vê-lo como extremo, em alternativa a Tello ou Quaresma, mas compreendo que perca para os “nomes”, pelo menos por agora. Ainda assim, admito que se está a adaptar bem à posição e não é por ser magricelas que não lutou até não poder mais, interceptando bolas em zonas subidas, investindo pela lateral e jogando sempre em alta velocidade e intensidade, mostrando a Lopetegui que pode contar com ele e mandar Opare para outro lado porque este está cá para ficar. A não ser que saia em Janeiro, claro.

(+) O golo de Aboubakar. Vincent, meu filho, as redes ficam caras e se continuas com essas parvoíces vamos ter de te tirar o dinheiro para as arranjar direitinho do teu ordenado. Estamos entendidos? Que volte a acontecer, ouviste?

(+) A resposta das segundas linhas que podiam ser primeiras. Gostei de Evandro no meio-campo, menos nervoso e mais prático que da última vez que o vi. Falta-lhe um pouco mais de audácia para subir no terreno como Herrera (eu, a elogiar Herrera. eu. vejam lá que a meio do jogo cheguei a dizer que o homem fazia falta para impôr ritmo naquele meio-campo. vou ao médico em breve, garanto) mas precisa de mais jogos, mais confiança; Ruben muito bem até à lesão (recupera rápido, puto!), Quaresma sem problemas em arriscar e a subir no terreno com o apoio dos colegas, apesar de algumas jogadas escusadamente “Quarésmicas”; Marcano a jogar fácil na defesa e a servir como tampão no meio-campo, a mostrar que na Europa pode ser muito útil em jogos de mangas arregaçadas e dentes cerrados; Fernández bem nas saídas da baliza com a cabeça e com os pés; Aboubakar a trabalhar muito sem conseguir ser produtivo, muito por culpa de Juanfer Quintero que hoje não estava para ali virado. Há ali alternativas no plantel e não sendo titulares de caras, podemos rodar algumas peças sem que se ouçam muitos riscos na agulha.

(-) Maicon. No jogo em Lviv, falei de Maicon assim: “Maicon chegou ao jogo contra o Boavista como um dos jogadores em melhor forma no plantel, imperial na defesa, perfeito no corte, tranquilo em posse e sem parvoíces de maior a apontar. E depois…foi expulso no Dragão por uma entrada idiota e hoje fez uma rosca à Maurício que ia dando auto-golo e cortou a bola para os pés do avançado do Shakhtar, dando origem ao 2-0.“. Hoje, o regresso do…aham, capitão foi marcado por mais uma avalanche de imbecilidades que fariam Stepanov corar de vergonha. Lento demais em posse, tremido no passe curto e absurdo no longo, foi mais um jogo que marca a diferença entre o Maicon de início de época e a contínua saga do careca que por ali anda a oferecer bolas aos avançados. Continua a facilitar em demasia nos jogos “fáceis” e faz com que comece a pensar em dar mais uma oportunidade a Reyes ou a primeira a Lichnovsky.

(-) Adrián. Uma simples frase: Bolatti conseguiria passar por ele em passo lento. Meu Deus, rapaz, se nem neste jogo, onde podias mostrar mais serviço, te dignas a mexer as pernas, não vejo como é que vais ganhar lugar na equipa. Nem tu, ao que parece.

(-) Quintero. O meu bobblehead preferido continua a não conseguir ganhar pontos em relação ao mais-que-provável dono do lugar na equipa principal (Óliver) porque é tão evidente a diferença de ritmo entre os dois como se estivéssemos a comparar Cristiano Ronaldo com o homónimo brasileiro em 2014. Lento, incapaz de se movimentar em condições para criar espaços no meio-campo e com pouca desenvoltura sem o apoio de Evandro. E Ruben. E depois Marcano. Não deve ter precisado de tomar banho, porque pouco fez hoje à noite.


Duas alemãs, uma suíça, uma italiana, uma francesa e…*suspiro*…duas inglesas. Venha qualquer uma das seis primeiras, por favor.

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Ouve lá ó Mister – Shakhtar Donetsk

Señor Lopetegui,

Não há nenhum portista que queira perder um jogo, seja para que competição for. Mesmo aqueles atrasados que no ano passado (e em tantos outros “anos passados”) desejaram que o FC Porto perdesse para o treinador ir para a rua ou seja lá que inane objectivo a que algumas almas se vão propondo no normal decurso das suas infelizes vidas cheias de fel e ódio e má disposição generalizada…mesmo esses, acredito que lá no fundo sabiam da estupidez que estariam a proferir nesse momento. E os que o desejam, ou são outra estirpe de portistas menos de acordo com o que é habitual chamarmos de “ser humano” ou de “gente racional”, merece ser enforcada pelos tomatinhos até chorarem lágrimas de sangue.

Este intróito menos agradável está aqui por um motivo: em relação ao jogo de hoje, digo-te isto com todas as letras: no one cares. Mesmo. Certo, a malta quer sempre ganhar e nem sequer pensa que um empate possa ser um bom resultado no último jogo da fase de grupos, quando podemos bater um dos nossos recordes de pontos nesta etapa das competições europeias ou seja lá qual é o recorde que podemos atingir. Mas nós somos o Ronaldo, sempre à busca do próximo alvo estatístico a abater? No. One. Cares. Mesmo.

O que a malta se importa mesmo é pelo jogo de Domingo. Esquece todas as rivalidades Real vs Barça em que estiveste mergulhado nos últimos anos, porque te posso garantir que isto chega perto se não a ultrapassa. Hoje vem ao Dragão o Shakhtar, rei da Ucrânia, senhor feudal de todos os brasileiros decentes agora a jogar no estádio emprestado de Lviv, penta-campeão em título do campeonato lá do burgo…e toda a gente vai estar a pensar no jogo de Domingo. Por isso o que esperamos do jogo de hoje? Zero lesões, uma exibição agradável, nada de extraordinário, não perder para deixar este grupo para trás sem a mácula de uma derrota caseira…mas acima de tudo preparares os rapazes mentalmente para o que aí vem. Bom jogo. No pressure!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – BATE 0 vs 3 FC Porto

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Vi o jogo numa televisão que tremia tanto como as pernas do Costa perante Cantona naquela fatídica noite em Manchester aqui há dezassete anos. Mas o jogo, menos tremido, foi tranquilo, sem grandes motivos de preocupação e acabou por constatar que esta equipa começa a ficar pronta para adaptar o jogo a diferentes circunstâncias, quando elas assim o obrigam. Foi uma vitória fácil, tornada ainda mais fácil pela forma como nos impusemos como equipa grande, com um jogo pausado, sem acelerações exageradas, com entreajuda entre sectores, facilidade de desdobramento ofensivo e sentido prático elevado na altura de fazer sempre o mais simples e abdicar da brincadeira. E quando assim é, especialmente na Champions, conseguimos mostrar que estamos à altura. Pelo menos nesta fase de grupos. Vamos a notas:

(+) Herrera. Duas assistências, um golo. Vou repetir: duas assistências e um golo. É isto que Hector traz no saco no regresso da Bielorrússia, depois de uma exibição que roçou a perfeição e que terá sido uma das suas melhores partidas com a nossa camisola no lombo. É estranho elogiar um jogador que no seu jogo de estreia na Champions foi expulso por acumulação de amarelos em meia-dúzia de minutos e que tem vindo a mostrar tanta insegurança em posse e incapacidade de mostrar no clube o que já vimos de tão bom na selecção, mas a verdade é que Herrera tem vindo a subir de produção e a crescer no meio-campo da equipa. E uma nota de quase alívio, porque já o critiquei tantas vezes que o elogio de hoje até sabe melhor. Carago, homem, se sabe.

(+) Casemiro. Mais um elemento em crescendo, parece que está finalmente a mostrar as capacidades que faziam dele um jogador tão apreciado pelos adeptos do Real Madrid, apesar de perceberem que não tinha lugar numa equipa com tanta qualidade. Continua a mostrar que nunca será um trinco à Fernando, mas mostra bons dotes posicionais (a recuperação de bola para o golo de Herrera é excelente, no momento certo e na altura certa) e capacidade de passe a meia-distância que lhe dão enormes vantagens para um jogo de ataque apoiado como o FC Porto precisa de ter. Parece estar a gostar mais do que faz, ao contrário do que se via no início de época.

(+) Jogar como equipa grande. Ao contrário do que tinha feito no jogo em casa contra estes rapazes, Lopetegui não inventou no meio-campo e apresentou aquele que parece ser o escolhido como “titular”, seja lá o que essa palavra possa trazer no FC Porto 2014/2015. Foi aí que vencemos o jogo, com uma boa rotação de bola entre sectores proporcionada por uma boa exibição de Casemiro e Herrera, com Óliver um pouquinho atrás. Mas a interligação entre Quaresma e Danilo esteve em alta, acima da mostrada por Alex e Brahimi no outro flanco, com Jackson a recuar sempre que necessário e a defesa a subir quando lhe era pedido. Os centrais firmes e sem magia mas com empatia e sentido prático, os laterais afoitos no ataque e inteligentes a recuar, o meio-campo a receber e rodar como era necessário. Bem, muito bem.

(-) BATE. Não houve nenhum jogador do FC Porto que se tenha exibido num nível abaixo do que era pretendido e não fosse o relvado parecer um lago gelado no Minnesota e a bola teria sido trocada com mais facilidade. Muita dessa facilidade prende-se com a fraca exibição do BATE, uma equipa com poucos argumentos para esta fase da prova. Sim, são campeões bielorrussos há quarenta e nove anos, mas compará-los ao FC Porto (ou a qualquer outra equipa do nosso nível) assemelha-se a tirar uma fotografia tremida a um nenúfar mirrado no meio de um lago e chamar-lhe um Monet. Vencemos bem, mas contra um adversário fraquinho.


Primeiros no grupo (obrigado, Athletic!), seguimos em frente prontos para o que daí vier. Seja quem for, esta barreira está ultrapassada com inteligência e (algum) bom futebol. Gostei.

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