Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Áustria Viena

Vi os últimos vinte minutos do Zenit-Atlético e enchi-me de excitação porque podíamos depender só de nós. Uma simples vitória contra um adversário que faz o Rio Ave parecer o Real Madrid, e logo estaríamos a pensar na segunda fase da Champions. Cheguei ao Dragão, com o frio a fazer-se sentir na minha face, já que o resto do corpo estava bem isolado contra as forças da natureza…e caiu-me logo a moral. Continuamos a oferecer lances de golo aos adversários e há uma indolência que raramente vi numa equipa do FC Porto que parece invadir os jogadores e possuí-los de uma forma inacreditável, tornando-os lentos, torpes, sem imaginação, sem vontade de jogar e acima de tudo de ganhar. No final, o empate sabe a pouco mas é exactamente o que merecemos. Nada mais, nada menos. Hoje, apenas duas notas:

(+) A segunda parte. Não foi um portento de táctica, nem teve o fulgor de uma avalanche de ataque continuado e agressivo pela força das nossas estocadas. Mas foi…alguma coisa. Entrámos melhor, com (alguma) garra e apesar de termos marcado cedo, não desistimos na procura do segundo, apesar de na grande maioria das vezes o termos feito muito mais com vontade de ganhar que com a consciência do que era preciso para o fazer. Alex Sandro e Danilo subiram bem pelo flanco, Josué rendeu mais no centro e Varela saiu do banco para uma exibição lutadora (fez mais em cinco minutos do que tinha feito em setenta e cinco no sábado). Maicon, talvez o melhor jogador do FC Porto, limpava o que era preciso lá atrás e Fernando, finalmente só no meio-campo que é seu, rodava a bola com critério para as melhores zonas. Não chegou porque insistimos em demasia nos lances de criação individual, em incontáveis passe-e-corta na lateral e em cruzamentos para a área onde Jackson poucas vezes conseguiu espaço. Viu-se um brilho nos olhos dos adeptos, ainda inconsoláveis pela primeira parte miserável que tinham assistido, mas lentamente se foi esfumando a oportunidade de vencer o jogo em remates tortos, cruzamentos sem a força certa e inúmeros passes falhados. Não foi bom, mas foi o suficiente para ter dado mais que um golo. Não que o tivéssemos merecido por aí fora, graças à nota que podem ler abaixo.

(-) A primeira parte. Repetimos os mesmos erros que temos vindo a cometer desde há semanas: oferecemos metade do jogo ao adversário pela lentidão na troca de bola, pela invulgar incapacidade de romper pelos flancos, pela desorganização a meio-campo, pelas impossíveis falhas técnicas, pela ausência de racionalidade na posse de bola e pela inutilidade de vários jogadores. Para lá de mais uma imbecilidade defensiva que deu novamente origem ao golo do adversário (sim, Danilo, a culpa foi tua desta vez), foi deprimente ver o FC Porto, uma equipa que tem capacidade para lutar de olhos nos olhos com tantas equipas por esse mundo fora, a ser incapaz de criar mais do que dois lances de perigo durante quarenta e cinco minutos. Mais, porque a basear quase todos os lances ofensivos através da subida de um dos seus laterais que com o pouco apoio que recebe dos (falsos) extremos, raramente sucede na iniciativa e limita-se a cruzar bolas para a área na fugaz tentativa de buscar o único homem que lá aparece no meio. As trocas de bola são facilmente interceptadas por uma equipa que defenda com um mínimo de estrutura, porque a movimentação é quase nula e quando de facto aparece algum rapaz que se digne a sair de uma zona tapada, rapidamente a roda para trás tal é o medo de pegar nela e prosseguir caminho. E se nos arrastarmos penosamente da área táctica para a técnica, o panorama ainda é pior. Algo se passa de estranho quando jogadores de nível tão alto controlam uma bola como se fosse um ouriço e estivessem de pés descalços. No fundo, a táctica não está a funcionar, os jogadores estão exageradamente nervosos sem a bola e hesitantes com ela e nada parece produtivo quando estamos no ataque. Tudo sai a uma velocidade inexistente, com jogadores tristes, recuados e medrosos. Foi muito, muito mau.


E voltamos a esta triste sina de depender de terceiros. Sim, vencer em Madrid é complicado, especialmente porque o Atlético é jeitoso e nós, francamente, não parecemos mostrar capacidade mental para lá irmos sacar três pontos. E mesmo que o façamos, Hulk e cª estarão em Viena para nos fazer engolir em seco e baixar a cara de vergonha. Ou não. Já não percebo nada disto.

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Ouve lá ó Mister – Áustria Viena

Mister Paulo,

Não preciso de te dizer que este jogo é importante porque já o sabes. E já o sabias há muito tempo, ainda antes da rocambolesca jornada dupla contra o Zenit, onde sacámos um ponto em seis depois de uma sequência de infantilidades, expulsões evitáveis e penalties (felizmente) falhados. E se estamos neste momento a lamentar essas oportunidades que tivémos ao nosso alcance e cuspimos fora como uma putéfia esquisita, a verdade é que a culpa é nossa e toda nossa. Tínhamos equipa para ganhar ao Zenit das duas vezes, cá e lá. Tínhamos equipa para ganhar ao Atlético no Dragão e botámos mais um toro na nossa própria fogueira. E tivémos equipa para ganhar a estes moços lá no Prater…será que me podes garantir que vamos voltar a tê-la aqui?

Depois do jogo de sábado, já não sei, palavra que não. Muitos viram um FC Porto a jogar bem, a trocar a bola, com o saco cheio de remates, percentagens altíssimas de posse de bola e um domínio do jogo que só não deu goleada porque a relva é verde e a bola rola para onde Deus quer. Já o Einstein dizia que o Barbas não joga aos dados com o universo, por isso deves interiorizar esta ideia: se as coisas acontecem, é por uma razão. Se te pões a defender um 1-0, vais-te lixar com F grande. Se continuas a ver os teus rapazes a trocar a bola na defesa com a capacidade técnica de um Mogrovejo a jogar de galochas, vais-te lixar com F grande. Se insistes que a equipa joga bem mas não tens coragem de lhes espetar duas lambadas quando notas (como todos notamos) que estão a baixar mais o ritmo que uma música de Marvin Gaye depois de uma rodada de Prodigy, vais-te lixar com F grande. E se não ganhas este jogo…vais-te foder mesmo, porque lixar já é um eufemismo muito simpático.

Então…no pressure.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Áustria Viena 0 vs 1 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol.pt

Vencemos o jogo e essa é a parte mais importante e a que fica para a história e que vai constar de inúmeros compêndios de estatísticas, em papel ou online. Mas quem assistiu à partida viu uma equipa europeia, com jogadores de técnica abaixo da média e uma estratégia e mentalidade competitiva mesquinha e de fraca estirpe…a defrontar o quinto classificado da liga austríaca. Foi mau, destruiu a minha moral e abafou por completo qualquer ilusão que pudesse ter que esta iria ser uma época descansada e que alguns dos maus vícios que foram adquiridos nalguns jogos do ano passado poderiam já ter desaparecido. Não. Ainda lá estão. Só gostei dos três pontos porque a exibição foi deprimente. Notas:

(+) Lucho. Exactamente há um ano atrás (confirmei agora via zerozero), Lucho mostrava o tipo de profissional que era (e é) ao jogar em Zagreb na primeira jornada da Champions pouco tempo depois de saber a notícia da morte do pai. Há um ano atrás, usando a terceira camisola exactamente como fez hoje em Viena, marcando um golo e orientando a equipa à vitória dentro de campo, Lucho serviu como a extensão natural do treinador no relvado e mostrou que a equipa estava unida e pronta para jogar com ele ao comando. E hoje foi mais um episódio da campanha “Lucho a Presidente”, onde o argentino pareceu o único que estava em campo com a cabeça bem assente nos ombros, com capacidade técnica afinada, coordenação táctica e agressividade a igualar o adversário. Marcou um, podia ter assistido mais um ou dois, mas nenhum dos seus colegas o acompanhou.

(+) O sentido prático de Mangala / O floreado de Marat. Porque cada um se quer no seu sítio. O francês viu a bola saltar em frente a ele e notando que o adversário vinha perto, pumba para a bancada; o russo deixava que os adversários caíssem sobre ele, tirava um da frente com uma finta curta de pés e jogava para um colega logo para a receber a seguir, perdendo o tempo necessário para desorientar o oponente. Ambos estiveram bem em várias ocasiões.

(-) Não sei o que chamar à primeira meia-hora do FC Porto. Não sei se foi do equipamento tão branco que parecia criminoso sujá-lo. Talvez tenham pensado que ia ser fácil e viram-se à rasca para conseguir mudar a mentalidade. Estava frio ou húmido ou sei lá o que raio aconteceu. Mas não percebo. E o que vi foi do pior que me lembro de ver há algum tempo, a fazer-me recuar ao inverno de São Petersburgo onde Vitor Pereira se deixou cair com estrondo depois da idiota manápula de Fucile o fazer ir prá rua mais cedo, ou o cincazero que sabemos dar mas também soubemos apanhar em Londres de onde Jesualdo saiu vergado e curiosamente Fucile fez mais um dos piores jogos da sua carreira. Mas não demonizo mais o meu homónimo, ele que hoje nem tem culpa nenhuma. Hoje, ao contrário desses jogos, a vitória ficou do nosso lado mas à custa de Lucho que finalizou aquela que terá sido talvez a única jogada interessante do encontro. O resto foi uma sucessão de idiotices, passes falhados, domínios de bola a rivalizar com o de um qualquer poste de electricidade, escorregadelas, remates falhados e faltas desnecessárias. Poucos ficaram longe da poça de lama que pareceu encher o cérebro da equipa, tal era a dependência nas tabelinhas mal feitas, a espera por jogadores que não apareciam no ataque, só para perder a bola e ficar à espera dos jogadores que deviam tapar a defesa. O centro do terreno esteve mal, tanto Fernando como Josué, com demasiados passes falhados e descoordenação táctica. Na defesa Mangala lá se safava mas Nico estava louco, Danilo adormecido e Alex Sandro a brincar demais. No ataque Varela era lento, Licá e Jackson inconsequentes e tecnicamente inúteis. E a falta de agressividade foi o mais inexplicável de tudo, com os austríacos a chegarem consistentemente à bola antes dos nossos. Foi mau demais e não consigo reduzir a exibição ao facto de ser a estreia na Champions. Gostava de o fazer mas não consigo. Hoje o FC Porto desiludiu-me, apesar da vitória.

(-) Otamendi. Vai ser um ano longo, ah vai, se continuas a fazer a quantidade de imbecilidades que hoje parecias incapaz de evitar. Cortes deficientes, atrasos medrosos, passes absurdos para o centro…houve um que chegou a uma zona onde estavam três gajos do Áustria e…nenhum do FC Porto num raio praí de vinte metros. Fiquei a pensar que o Nico precisa de óculos. E de Xanax. E de um par de estalos. Do Mangala. De mão fechada.

(-) Josué. Não pensei alguma ver dizer isto sobre Josué, mas o que vi hoje foi um rapaz displicente. Lento, constantemente a deixar-se antecipar pelos adversários pelo simples facto de cravar os pés no chão e esperar que a bola viesse ao seu encontro. Não gostei de o ver no lugar de Defour porque simplesmente não fez o que o belga tem vindo a mostrar: movimentação constante, toca-e-passa com a bola nos pés e acima de tudo passes adequados e simples. Josué não fez nada do que atrás referi.


Estava renitente. Agora, depois do jogo, estou pessimista. Pode ter sido só o primeiro, que serviu para desflorar alguns rapazes e todos sabemos que o primeiro pode ser complicado. Mas não explica tudo e acima de tudo exacerba alguma inexperiência que nos pode vir a tramar no futuro. Os próximos jogos o dirão.

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Ouve lá ó Mister – Austria Viena

Mister Paulo,

Vai ser o teu quinto primeiro. Passo a explicar. O teu primeiro primeiro (a estreia) foi no Olival contra o Valadares. O primeiro de todos, entre amigos, sem problemas, sem chatices. O segundo primeiro (o oficial) foi em Aveiro contra o Guimarães, onde estiveste bem e sacaste mais um primeiro mas não destes primeiros. Aqui falo de jogos, não de canecos. O terceiro primeiro (o do campeonato…se já estiveres cansado, ainda vem aí outro) foi em Setúbal contra o Vitória e também te safaste bem. O quarto primeiro (em casa) foi no Dragão, contra o Marítimo, e a malta ficou satisfeita. E este, caríssimo, é o teu quinto primeiro. E que primeiro, naquele estádio que nos puxa pelas memórias mais históricas que todos, novos e velhos, temos cá dentro do nosso coração que só se pinta de azulebranco, a cor mais portista do mundo.

Por isso é que o pessoal está assim para o renitente. É que todos sabemos que o Áustria não é um nome de meter medo, mesmo com o peso da cidade por detrás, só que este particular primeiro é tramado por ser na estranja. Não estamos habituados a ver o Porto fraquejar nestas alturas e há um medinho particular que me atravessa os poros e me faz pensar que se calhar ainda nos vamos ver lixados para mandar abaixo estes moços. Mas quero que saibas que estamos todos à espera de uma vitória, com mais ou menos dificuldades. Já sei que és novo nestas coisas e tens alguns moços na equipa que também não têm assim grande experiência a este nível. Mas não te preocupes com jogos bonitos, simpatias, truques de magia ou lances acrobáticos. Pensa nos três pontos. É só isso que um gajo quer trazer para casa. E se puderes passa lá na baixa e saca uma Sachertorte que é munta boa e vai-te saber pela vida no avião de regresso à Invicta.

Sou quem sabes,
Jorge

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