Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo da Madeira foi um belo naco de trampa. Uma equipa sem ideias, sem construção de jogo, com uma dinâmica digna de nove tetraplégicos, o Helton e o desgraçado do Quaresma que queria fazer tudo sozinho. Foi penoso de ver para qualquer pessoa e então para um gajo que vive o clube como eu e tantos outros vivemos…rapaz, estás no mau caminho. E não me parece que seja só do mercado e da forma como a SAD está a tratar dos casos pendentes, para lá dos negócios de milhões que afinal não aconteceram ou das vontade de A ou B em ficar ou sair. És tu, Paulo, que não estás a conseguir pôr os gajos a jogar um futebol em mínimas condições. És tu, Paulo, que falas com os gajos e eles ou não te ligam ou não percebem o que estás a dizer. E nós, a malta que fica de fora, não está a gostar nada.

Este jogo é mais uma prova que tens de atravessar para recuperares a imagem de um treinador que impõe uma ideia, um estilo de jogo, uma concepção de uma estratégia que seja visível, implementável e executável. Até agora não vi nada disso. Vi que convocaste o Mikel e tenho gostado muito de o ver na B, mas não acredito que o ponhas a jogar em vez do Fernando. O que acredito, e custa-me muito dizê-lo, é que vai ser mais um jogo “à Porto do Fonseca”. Lento, desinspirado, triste, com jogadores e sem equipa. Convence-me que estou enganado e mostra que ainda consegues acender fogo no rabo dos teus pupilos. Nós, cá fora, continuamos a ser portistas e a acreditar que é possível virmos a ver bom futebol este ano. Mas começamos a perder as esperanças…

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Estoril 2 vs 2 FC Porto

foto retirada do maisfutebol

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta. Ah, e houve um penalty marcado fora da área e um putativo golo em fora-de-jogo. Nem liguei. Foi mais triste ver o FC Porto incapaz de lutar e de o fazer com convicção. Perdemos os primeiros pontos por culpa própria e ainda custa mais quando assim é. Notas, tristes, abaixo:

(+) Lucho. O capitão continua em alta e mostra em campo que a inteligência habitualmente vence a voracidade competitiva. El Comandante não tem pernas para muito, mas controla a bola com a genialidade de poucos e se tivesse malta com vontade de o acompanhar com estoicidade táctica e desejo de vitória permanente, não estávamos agora a lamentar a perda de dois pontos. Lucho em 2013/2014 joga mais à frente com uma perspectiva ofensiva dedicada quase em exclusivo ao jogo de frente para a baliza, ao contrário do que se tinha visto no passado recente, com a perspectiva de criar os espaços na frente que possibilitem aos avançados receber a bola em condições. Houvesse mais como ele…

(+) Licá. Lutador e esforçado como poucos, foi dos poucos que conseguiu ter a clarividência de avançar com a equipa para a frente e recuar quando era necessário. Marcou o primeiro golo porque acreditou que a bola passava…e passou. Tem mostrado melhores pormenores técnicos de base (domínio, passe…) mas é no espírito de luta que ganha, por exemplo, a Varela, Marat ou Kelvin, e continuaria a apostar nele para titular.

(+) Fernando. Falhou muitos passes mas foi esforçado e ao contrário de alguns colegas mostrou que não está bem quando perde sequer uma bola, que fará várias. Não se sente bem no esquema táctico, é evidente pela postura em campo, mas tenta compensar no que pode. E é deste tipo de gajos que precisamos, dos que ficam fodidos quando as coisas não correm bem. Acredita, miúdo, adapta-te e vais ver que rendes muito mais.

(-) Otamendi. Há-de haver qualquer merda que estejam a meter-lhe no mate que lhe anda a comer a cabecinha. Nos últimos jogos tem sido uma sucessão de parvoíces e apesar de não ter tido culpa no pseudo-penalty, fez o suficiente nos outros lances para ser colocado a apanha-bolas no próximo treino. Sim, é argentino e empiricamente espera-se sempre alguma instabilidade emocional e competitiva nestes moços, mas tem sido uma peça a menos. Mangala também não esteve bem, mas ainda assim conseguiu ser melhor que o colega, que podia/devia ter sido expulso ainda na primeira parte e que falhou com a consistência de um bloco de betão armado na maioria dos lances onde esteve envolvido. Esperam-se melhores dias.

(-) Organização táctica e fibra moral Somos uma equipa pequena, neste momento. Somos reactivos em vez de activos e parecemos ter regredido a uma fase no primeiro ano de Vitor Pereira (para ser mauzinho, até podia dizer que tínhamos voltado ao tempo de Octávio em termos de construção de jogo) onde os centrais chegavam ao meio-campo e olhando para a frente procediam a enviar a bola para a frente sem grande critério, esperando que algum arcanjo descesse do céu e colocasse a bola na baliza. Há uma lei de menor esforço vigente no FC Porto em Setembro de 2013, onde o meio-campo recuado não se entende, os extremos não o são ou não agem como tal, os laterais parecem distraídos e sobem pouco (ao contrário do que fizeram na Supertaça, por exemplo), o avançado parece alheado do jogo e não recua para os locais de recepção…e nem começo a tentar perceber o que transformou dois belos centrais em defensores tão permeáveis nestes últimos jogos. Acima de tudo falta ânimo, garra, vontade. Foda-se, falta muito ânimo, muita garra, muita vontade. Eu e todos os portistas queremos ver os azuisibrancos (ou só brancos como hoje) a chegar primeiro às bolas, mesmo que a equipa adversária seja mais rija, mais viril, mais bruta. Quero-os ver a arrancar relva com os dentes de fúria, a pontapear postes depois de falharem um remate, a empurrar o apanha-bolas de um qualquer adversário para acelerar o jogo. Não tenho visto nada disso nos últimos três jogos. Três. O primeiro, perdoa-se. Ao segundo, questiona-se. Ao terceiro já parece de propósito.


Abanei, mais uma vez, mas não caio. Não caio, caralho, não me deixo cair perante adversidades. E a inconsistência táctica e exibicional tem de ser corrigida com trabalho, com cada vez mais trabalho e com a construção de uma equipa que sirva para enfrentar dezenas de equipas como o Estoril e vencer sem problemas. E nos jogos grandes é nosso dever fazer o mesmo, ou morrer a tentar. Não caio. Não vamos cair.

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo na Áustria já passou, mas não passou de vez. Se leste o que escrevi aqui há uns dias, já começas a perceber como é que a malta funciona e o nível de expectativa que vais ter de cumprir para nos agradar. Lembras-te daquele rapaz que cumprimentaste em Paços antes do jogo acabar? O que foi bicampeão e que agora está no meio do deserto a pregar aos mouros? Pois, é nesse nível.

E já todos entendemos que a equipa está em construção (uns mais que outros) mas até uma casa que está ainda com as paredes a meio, já tem de ter pelo menos uma tenda ou qualquer oleado parecido para nos abrigarmos das intempéries que possam por aí vir. Estas coisas não são parvoíces da turba, Paulo, isto é o sentimento de toda a malta de dentro e de fora do clube, que não se importa que dês as tuas ideias aos rapazes mas entretanto tem de haver futebol. Nem nos podemos queixar, carago, sempre são cem por cento de vitórias em várias competições e por isso ninguém te pode chatear a cabeça por causa dos resultados. Mas os últimos dois jogos foram fraquinhos e tu sabes disso e até já o vieste dizer em público, o que me deixou bastante satisfeito pela tua honestidade. Mas olha que em Viena não disseste a mesma coisa…tem lá cuidado com as incongruências que os maldizentes vão-te massacrar a cornadura à primeira falha.

Hoje é mais um para ganhar. Vamos a lógica, tão simples e prática para quem não percebe nada da bola: o Estoril perdeu com o Sevilha; nós ganhámos ao Áustria de Viena. Eles jogam na Europa League e nós na Champions. A Champions é melhor que a Europa League. Ergo, nós somos melhor que o Sevilha e portanto somos melhores que o Estoril. É isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Estoril

Deve haver uma expressão melhor que a habitual para este tipo de jogos. “Serviços mínimos”, francamente, não consegue transmitir em pleno o tipo de partida que assisti nesta noite no Dragão. “Consultoria em secagem de tinta”, talvez. “Sleep-cardio”, também pode ser. Foi um bocejo gigantesco, intercalado por algumas boas conversas entre portistas que se dão bem e só se encontram ali mesmo no estádio, no meio do público que estava tão interessado no jogo como um touro que vê bandarilhas a dirigirem-se para o lombo. O jogo entrou numa espécie de estado de coma pelos quinze minutos, altura do penalty bem marcado (sem panenkadas) por Jackson, e raramente despertou desse estado vegetativo, com alguns espasmos lá pelo meio a animar o povo. A vitória foi tão fácil que terminámos com um meio-campo composto por Fernando, Castro e Izmaylov. Sim, leram bem. Vamos a notas:

(+) Lucho. Enquanto esteve em campo foi dos melhores jogadores da equipa pela simples razão de jogar com a cabeça levantada enquanto que a maioria dos colegas parecia procurar lentes de contacto perdidas na relva do Dragão (que pareceu melhorzinha, ainda bem!). Melhor no passe que nos últimos jogos, recuou bastante para construir o jogo a partir de zonas mais atrasadas, mas conseguiu sempre encontrar as melhores linhas para os quase-imóveis-colegas. Saiu para descansar porque vamos precisar de um Lucho em condições na quarta-feira.

(+) Maicon. Já antes do jogo tinha pensado que era um jogo importante para o rapaz, especialmente depois da última exibição no Dragão lhe ter valido uma data de assobiadelas dos atrasados que insistem nessa parvoíce. Uma pequena redenção, nada de mais, que a malta quer é que se jogue em condições e que jogadores como Maicon não tentem emular Madjers ou Futres. E foi exactamente isso que fez, jogou simples, prático, a aliviar para fora, para longe, para cima, sempre que foi necessário. O golo fez com que voltasse a receber aplausos, totalmente merecidos.

(+) Defour e Atsu, na primeira parte. Defour tem o que poucos conseguem ter em todo o plantel do FC Porto: inteligência no controlo da bola. Atsu também tem algo que poucos conseguem ter no plantel do FC Porto: velocidade. E ambos puseram estas duas características em prática, com o belga a rodar bem a bola de uma forma horizontal no meio-campo, um pouco à semelhança de um Meireles dos bons tempos, ao passo que o ganês surgiu várias vezes pelo flanco esquerdo do ataque, sem o apoio de Alex Sandro (que jogo de trampa, homem!) mas a conseguir safar-se muito bem da marcação rija dos defesas do Estoril. É importante que estas “segundas escolhas” (que acabam por ser “primeiras” uma grande parte das vezes) continuem a jogar e a dar garantias que temos alternativas para as lesões e abaixamentos de forma dos titulares. Baixaram de produção na segunda parte, mas gostei dos primeiros quarenta e cinco minutos.

(-) Pronto, joguem devagar. Mas não tanto! Se Sir Bobby tivesse estado no Dragão hoje à noite, decerto teria chegado ao final do jogo e perguntado: “I don’t perceber, isto foi um match?”, e mandava pôr pinos no relvado para começar o treino. É verdade que a equipa até entrou bem, com força e vontade de resolver o jogo, o que logo aí me faz questionar o porquê de não o fazer em todos os jogos…mas isso são outros meios-milhares. Mas a partir do momento em que o segundo golo entrou na baliza de Vagner…a equipa travou. Era expectável para qualquer portista que siga o calendário e a evolução da equipa durante a época e ninguém estranhou que o nível baixasse. Mas…e há sempre um mas…foi um exagero. Mesmo. Alex Sandro começava a correr sozinho sem soltar a bola e perdia-a consistentemente; Fernando “picava” a bola por cima dos oponentes para depois a ir buscar a seguir, nem sempre com sucesso; James ficava à espera que a bola lhe chegasse aos pés, não se mexendo e esperando que o adversário fizesse o mesmo, o que raramente aconteceu; Otamendi falhava intercepções, Danilo estava miserável no passe e inexistente no ataque. E a vontade de jogar só apareceu de novo com Castro, que naquele estilo nervoso que contagia os adeptos com mais nervosismo ainda foi dos poucos que abanou com a malta. Nem Izmaylov nem Varela conseguiram trazer dinâmica à equipa, que atirava a bola para Jackson, então perto do círculo central, para que a dominasse e recuasse para atrasar a bola a um qualquer colega dez metros ao lado. Não houve brio de mostrar aos adeptos algo que fizesse da noite mais interessante do que a simples, fria e estática certeza que a vitória era nossa, sem brilho nem grande alegria. Será daqueles jogos, como tantos outros, que nem no rodapé da história ficará, mas já vi dezenas de jogos que antecipam importantes confrontos europeus…e este entra sem dúvida para a lista dos piores.

(-) James. Está mal e não vejo evolução nos últimos jogos. Sim, veio de lesão, mas já reapareceu há alguns jogos e continuo a não ver nem um brilhozinho do James da primeira volta. Lento demais, desconcentrado, com pouca acuidade no passe e num estado de quase permanente descompressão física e táctica. Precisamos do James que rasgou defesas com passes perfeitos, que driblava fácil e passava simples. Precisamos desse James, caso contrário o modelo de jogo da hibridização estrutural ataque/defesa deixa de fazer sentido nos moldes actuais.

(-) A imagem de um campeonato desiquilibrado. O FC Porto não jogou sequer a passo, deixou-se estar sem cansar, sem arriscar lesões, sem preocupações excessivas com pressão e posse de bola. O Estoril começou a pressionar quase em todo o campo e manteve essa pressão o jogo todo. Quantas situações de verdadeiro perigo criou para Helton? Quantas? Lembro-me de um remate torto, dois cruzamentos tensos mas sem destinatário seleccionado…e nada mais. Noventa e quatro minutos de passeio para o FC Porto contra o sétimo classificado da Liga. Percebem agora porque é que fico tão chateado quando coloco sequer a hipótese de perder pontos para estes fulanos?!


Já vi tantos jogos destes que nem me preocupo. Entedia-me um bocado mas sinceramente já nem me chateio com isto. Ainda se o Estoril mostrasse um mínimo de argumentos ofensivos, ainda me podia preocupar, mas nem chegou para tanto. O que interessava era a vitória e essa, com os três pontos que tanto contam, ficou deste lado. E agora, meus caros…tudo a preparar Málaga, porque esses rapazes jogam bem mais que estes…

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Ouve lá ó Mister – Estoril


Amigo Vítor,

O jogo com o Sporting já lá vai. Longe, como um combóio à distância visto de uma qualquer estação deste país, especialmente em dias de não-greve, que parecem ser cada vez menos frequentes. Mas a metáfora do combóio não se aplica a nenhum minuto dos noventa e pico que foram disputados em Alvalade. Parecia mais uma daquelas maquinetas que se viam nos filmes de cobóis, da altura da construção dos caminhos de ferro nos “steites”, tás a ver o que estou a falar? Oh pá, não faço ideia como é que essas coisas se chamam, pera lá…(googling…googling…found!)…dresinas! É isso mesmo! E imagina que de um lado estava o Otamendi e do outro estavam dez desgraçados que acabaram de se formar em Direito Bibliotecário ou qualquer merda do género. Sem aspirações, sem vida, sem alma nenhuma, com a teoria lá dentro mas a prática…esquece. Pois foi assim que vimos a equipa na semana passada e há duas semanas, neste mesmo estádio onde hoje eu e tu vamos estar (em zonas diferentes, claro), contra o Rio Ave. Têm sido dias complicados, não haja dúvida, e algo me diz que este jogo contra o Estoril não vai ser muito diferente. Chama-me pessimista, mas é o que sinto.

Por isso peço-te que tentes mudar o meu estado de espírito e faças alguma coisa para motivar as tropas. Já sei que o jogo da próxima quarta-feira vai estar na cornadeira de tudo que estiver de azul-e-branco no relvado e fora dele, mas temos de encarar isto um jogo de cada vez. E primeiro vem aí o Estoril, que nos vai dar água p’las barbichas sem olhar duas vezes para cuspir para o chão depois de levar um ou quinze murros nos dentes. São rijos, os estupores, atacam rápido e defendem com firmeza. Mas não podemos perder mais pontos, Vitor, muito menos no Dragão e contra uma equipa que ainda no ano passado jogava contra o Arouca. Temos de ganhar o jogo com inteligência, mesmo sabendo que te vai faltar o oito no meio-campo e o vinte-e-dois na defesa, mas temos de ganhar este jogo de uma forma tal que a malta não se convença que os bons tempos já lá vão e que a próxima quarta-feira, que até nos podia deixar todos contentes, vai fazer muito estômago torcer e esófago contrair.

Diz que vai chover. Faz com que sejam golos, senhor, que sejam golos!

Sou quem sabes,
Jorge

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