Ouve lá ó Mister – Nacional da Madeira

Camarada José,

Hoje é dia grande, rapaz. Ou melhor, seria um dia estupendo, recheado de pequenas conquistas e onde o povo poderia escolher quem lhe tocasse mais profundo na psique e na alma. Em dia de eleições, o FC Porto raramente se agiganta em relação a outros emblemas, mas hoje pode ser um dia ligeiramente diferente dos treze que se antecederam nestes moldes. Não sei ainda o que vai acontecer, mas algo está no ar e claramente não são pólens.

Por falar em sinais de primavera, a chuva que tem caído inclemente por estas bandas (ainda ontem houve uma tromba de água apocalíptica que vislumbrei mesmo quando estava a sair de um parque subterrâneo) pode estragar um bocado o espectáculo. O jogo no relvado, não o que se vai desenrolar na Porta 16, entenda-se. Nada que se compare ao nevoeiro enviado pelo Deus da Choupana, que não perde uma oportunidade para nos tentar lixar naquele campo de onde este ano saímos com uma vitória bem gostosa, com penalties por marcar contra nós e tudo, à grande. Mas hoje era engraçado mostrarem um bocadinho mais do que têm vindo a fazer nos dois últimos jogos, não achas? Repara que estes não jogam de amarelo e por isso serão um adversário teoricamente abatível, ao contrário de Paços e Tondela, esses titãs do futebol nacional. Estes, o Nacional, também serão um titã que cospe setas de ferro e mata percevejos com o olhar? Não creio. E vocês também não. Por isso dêem lá uma prendinha aos sócios que vão votar e a todos que puxamos para o mesmo lado ainda que de forma diferente…e ganhem o jogo. Não vos custa nada, aposto.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Nacional 1 vs 2 FC Porto

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Se me disserem, daqui a uns anos, que um jogador do FC Porto ficou surpreendido ao ser substituído cinco minutos depois de se começarem a jogar os últimos quinze minutos de um jogo interrompido por causa do nevoeiro…nao creio que haja dificuldade em perceber que foi Lopetegui o autor do feito. E mais um jogo em que uma equipa do FC Porto acabou a mostrar mais cagaço que um miúdo tímido em frente a um bully que lhe rouba a sobremesa todos os dias. No entanto, uma vitória é uma vitória e não foi mau de todo, mas continua a ser incrível a insegurança que a equipa mostra em campo.

(+) A jogada do segundo golo. Um exemplo do que deveria acontecer em 90% e não em 2% das jogadas ofensivas da equipa. O lateral a aparecer no overlap em tabelinha com o extremo que flecte para o centro, um cruzamento aberto para o outro extremo que se aproxima do centro, rodando a bola para o médio mais próximo do avançado que remata…e a única falha foi essa, ainda que compreensível, porque logo apareceu mais um jogador em zona de segunda bola, a aproveitar o ressalto e a marcar. Perfeito. Fizessem isso mais vezes e não estava aqui aborrecido com eles.

(+) Indi. Está a fazer uma segunda época bem melhor que a primeira e ainda hoje foi inteligente na forma prática como cortou várias bolas para a bancada, exactamente como eu quero que um central faça quando não é fácil e certa a saída com a bola. Ainda assim, parece estar sempre mais à vontade defensivamente do lado esquerdo, onde consegue impôr a presença física…e provavelmente porque precisa de jogar menos com a cabeça.

(-) O medo. Mais que a ineficácia ofensiva, onde Aboubakar parece incapaz de enfiar uma única bola dentro da baliza, sozinho ou acompanhado. Mais que os passes falhados pelos centrais. Mais que as falhas defensivas de Marcano em número preocupante e crescente. Mais que os extremos que não conseguem furar, os laterais que dão muito espaço a defender e os trincos que fazem o mesmo no meio-campo. Mais que tudo isso é o medo, o incoerente temor de qualquer adversário que apareça pela frente de jogadores experientes, que deveriam conseguir jogar a um nível vastamente superior ao que estão actualmente a mostrar em campo. Há uma notável incongruência nos movimentos dos jogadores, que continuam a não estar entrosados, muito por culpa de um treinador que muda mais frequentemente de equipas do que seria aceitável numa equipa que não tem os pés tão firmes na terra como ele pensa que tem. E não satisfeito com isso, lá segue Julen na sua demanda de “treinador mais cagarola de sempre no FC Porto”, com mais uma saída de um jogador ofensivo para entrar outro para “segurar o meio-campo”. Já vi mais homens a tentar “segurar o meio-campo” sem o conseguirem do que os que tentavam, na altura do Adriaanse, “criar desequilíbrios ofensivos”. Vejam os últimos quinze minutos (os de hoje) e percebem o que estou a dizer: uma equipa cheia de receio do adversário, a recuar para a área com o treinador a enfiá-los ainda mais lá nas profundezas do rectângulo sem que haja calma e inteligência para conseguir sair no contra-ataque com um mínimo de eficácia. Jogar assim, com este medo, é de equipa pequena. E de treinador pequeno.


Mais uma exibição fraca de uma equipa medrosa, liderada por um dos treinadores mais medrosos que me lembro de ver ao nosso leme. Está encontrado o anti-Adriaanse.

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Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Ainda estou mal disposto por causa do jogo a meio da semana e não me parece que passe tão cedo. Pedi-te duas coisas muito simples: tenta ganhar e não inventes. Abdicaste da primeira por causa da segunda e deste-me uma azia que só vai passar quando receberes o troféu de campeão nacional das mãos do Proença ou seja lá quem for que te vai colocá-lo nas mãos. É que não há outra oportunidade para ti, meu caro, que não a vitória nesta prova. Tudo o resto, para lá de uma hipotética conquista da Europa League (sonha, Jorge, tu sonha bem alto, rapaz!), só vai ajudar a soletrar mais um enorme falhanço dos objectivos e um pontapé no rabo para daqui a uns anos escreveres as tuas memórias e ocultares este período.

Hoje, mais uma viagem à ilha. E se a última vez que foste a uma ilha apanhaste no pandeiro, espero que não lhe tenhas tomado o gosto porque esta ilha, apesar de diferente em hábitos e costumes, também fala numa língua esquisita e é malta que bebe bem e do bom. Um amigo meu diz que tu bebes uns chupitos antes do jogo e depois passas os noventa minutos todo zurdinado e por isso é que tomas as decisões que tens tomado recentemente. Não sei, francamente, mas vou voltar a pedir-te o que fiz antes do jogo contra o Chelsea, desta vez com maior assertividade porque o adversário é mais fraco: ganha o jogo e por favor não inventes. A sério, pá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Nacional 1 vs 1 FC Porto

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Os bombos. Os cabrões dos bombos deviam ser proibidos, barrados da entrada em qualquer estádio de futebol pós-1980s, onde a malta do Minho (Famalicão, Tirsense e amigos) trazia quarenta adeptos e o que pareciam 700 bombos para a bancada e davam cabo dos tímpanos de qualquer ser humano, bem mais que o Sr. Lourenço e a sua corneta. E estes, na Madeira, com aquele vibrar fatídico que aponta o caminho para a morte, a rampa que dá acesso aos domínios de Hades e do qual estivemos tão periclitantemente perto, são dos piores que me lembro. E o som do tambor continua, marca o passo e a marcha que não conseguimos manter, numa equipa que tem tanto de talento como de cansaço e pressão acumulada e que cedeu hoje depois de tantos jogos estóicos, soçobrando perante uma equipa com mais força, mais agressividade e muito menos a perder. Não foi mau, podia ter sido melhor. Vamos a notas:

(+) Tello. Muito bem em quase todo o jogo mas especialmente na primeira parte, onde para lá do golo fez meia-dúzia de boas jogadas de entendimento com Danilo que podiam (e nalguns casos deviam) ter tido melhor aproveitamento. Foi o Tello que me dá gozo ver jogar, um rapaz cheio de audácia ofensiva, sem parar, em constante movimentação pelo flanco e a fazer diagonais sempre que possível. O golo é exemplo disso, aproveitando uma jogada em tudo idêntica feita pouco tempo antes, optando por trocar as voltas aos defesas e rematar sem defesa possível. Ágil e rápido, é assim que Tello tem de continuar. Acabou o jogo exausto.

(+) Danilo. Fez com Tello um flanco direito de criar inveja a muitos clubes por essa Europa fora, com uma empatia quase perfeita na temporização e no endosso da bola, a fazer com que o outro lado, por muito que Alex Sandro tenha tentado (e tentou, oh se tentou!), nunca conseguiu funcionar com Brahimi como o compatriota fez do outro lado do campo. E ainda mandou mais um petardo ao poste. Merecia ter entrado.

(+) Quaresma. Fez em vinte minutos o que Brahimi não conseguiu fazer nos outros setenta. Inusitadamente objectivo no 1×1, foi mais prático, mais inteligente e criou várias situações de perigo (apesar dos cantos, quase sempre mal marcados, não é, Ricardo?) que podiam ter dado golo se não estivéssemos novamente em dia não na finalização. E é a prova que é melhor tê-lo no banco para que entre cheio de força, porque apesar de não poder fundamentar com uma base estatística, parece ser melhor aproveitado nestas circunstâncias.

(+) Helton. Há uma diferença muito grande com Helton em vez de na baliza do FC Porto. A facilidade com que o jogo flui mesmo passando pelos pés do guarda-redes não tem rival em Portugal e poucos terá pelo Mundo fora, fazendo com que a bola saia rápida, prática e prontinha para os jogadores de campo prosseguirem com o seu trabalho. A somar a isso teve duas ou três saídas complicadas bem resolvidas e um voo a defender um livre directo que ia direitinho para a baliza. Mais uma bela exibição.

(-) O estouro físico. Pouco antes do golo do Nacional, começou-se a notar. Herrera, que até tinha feito uma primeira parte jeitosa, começava a falhar passes. Alex Sandro continuava a correr mas com um ritmo mais baixo. Marcano parecia que estava pronto a vomitar e Brahimi perdia-se na 400ª rotação sobre o seu próprio eixo. No final do jogo, por muito que os rapazes tentassem, já não havia mais nenhuma gotinha para espremer da camisola e as pernas não respondiam, os joelhos dobravam a custo e a cabeça já tinha desaparecido. Mérito para o Nacional por ter (quase) conseguido aproveitar a nossa quebra física, compreensível depois dos esforços dos últimos tempos, mas há que fazer descansar algumas peças-chave num ou noutro jogo. Se for possível, claro.

(-) A ineficácia ofensiva, mais uma vez. Não condeno a falha defensiva que deu origem ao golo porque foi fruto de um lance inteligente e de um posicionamento globalmente deficiente, não havendo um culpado mas vários. Condeno sim a aparente impossibilidade de marcar mais que um golo com várias situações de remate fácil travado pela lentidão de Herrera, a trapalhice de Aboubakar e o nervosismo de Quintero. Somem-se mais uma bola na trave e outra no ferro e temos mais um jogo em que criámos oportunidades que chegasse para sairmos da Madeira com um sorriso nos lábios. Não conseguimos em grande parte por culpa própria.


Hoje perdemos dois pontos. Sim, podíamos ter perdido três. Até podíamos ter sido goleados. Mas também podíamos ter feito o mesmo e a meia-dúzia de quilómetros do outro estádio onde aqui há uns meses perdemos outros três. A ilha definitivamente não nos dá sorte em 2015…

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Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Já passou a fezada depois do sorteio? Já estamos todos mais calmos depois de percebermos que vamos jogar contra um tubarão que faz o do Spielberg parecer um carapau que nem é de corrida? Já falaste com os teus muchachos e disseste-lhes que isto da Champions é para homens e se estão com medo é melhor começarem a telefonar aos agentes porque aqui não temos medo de nada nem de ninguém? Bueno. Vamos ao próximo adversário que esse ainda vem longe.

Na altura em que o árbitro apitar para o início do jogo, já vais saber como ficou o benfas em Vila do Conde. Não me parece que estejam ventos ciclónicos, por isso podemos prever que os gajos até nem se vão safar mal e que vamos arrancar para a jornada com sete pontos de atraso. Podem ser quatro ou cinco, é verdade, mas o mais provável é serem sete. E não faz mal nenhum, porque continuamos com a mesma missão que tínhamos há duas ou três ou mais semanas: ganhar. E tens de continuar a ganhar, independemente do adversário, do estádio ou do relvado. Temos de manter o sonho aceso, Julen, especialmente numa altura em que lá em baixo estão todos a torcer para que percas pontos, eles que já começam a sentir a pressãozinha a morder-lhes os tornozelos e a cravarem as unhas nos gémeos. Continua a ganhar e vais ver que os gajos vão ceder, mais tarde ou mais cedo vão ceder!

Não sei quem é que vais colocar a jogar mas pensa que vais ter duas semanas para trabalhar os rapazes de maneira a que estejam em forma para um Abril que vai ser uma parvoíce de jogos. Mas tudo começa hoje na Madeira e nesta segunda vez que botas as perninhas na ilha, faz lá o favor e ganha pela primeira vez. Estamos contigo, hombre!

Sou quem sabes,
Jorge

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