Baías e Baronis – Rio Ave 0 vs 1 FC Porto

20141230 - RIO AVE FC - FC PORTO

Quase a ritmo de amigável, não fosse a agressividade do meio-campo do Rio Ave e o permanente cascanço nas pernas dos nossos rapazes, mas um jogo que teve pouco de agradável e onde o resultado é o suficiente para sairmos dos Arcos com três pontinhos num dos jogos mais complicados da fase de grupos da Taça da Liga. Alguns bons apontamentos, um meio-campo sôfrego e preso em zona de construção, salvou-se Adrián López que fez o melhor jogo até agora pelo FC Porto, Aboubakar pela luta, Ángel pela simplicidade e Marcano pela inteligência na compensação das muitas falhas defensivas da equipa como um todo. A notas, que se faz tarde:

(+) Adrián López. Esteve bem, finalmente. Um pouco mais lutador do que tinha vindo a mostrar, tratou de levantar a cabeça e tentar combinar com Quaresma e Aboubakar numa linha ofensiva que trabalhou e que nem sempre foi feliz mas que conseguiu mostrar alguns bons pormenores. Uma diagonal muito bem feita acabou com um remate ao poste, depois de dois golos falhados perto da baliza. Neste momento, para recuperação da moral do jogador, até nem foi mau de todo.

(+) Marcano. Reyes, que acabou o jogo como capitão, teve várias falhas na marcação e acima de tudo na intervenção perante os fortes (fisicamente, apenas) avançados do Rio Ave, quase todas elas cobertas por Marcano, que se mostrou sempre firme e seguro na zona recuada, tanto a “cobrir” o mexicano como a dobrar José Angél na linha esquerda. Menos bem no passe longo, foi prático e simples quando era necessário não inventar. E não inventou.

(+) José Ángel. Uma espécie de Emídio Rafael com sotaque castelhano. Joga simples, sobe muito pela ala mas treme no momento de fazer alguma coisa de concreto com a bola. Ainda assim mostrou que está pronto para ser chamado à titularidade, o que com Alex Sandro em modo “montanha-russa” a nível exibicional, pode (e talvez deva) acontecer mais vezes. Rijo a defender, tem de melhorar na decisão dos lances em que é pressionado na defesa recuada. Uma exibição em geral positiva.

(+) Os adeptos do FC Porto em Vila do Conde. Já trabalhei ali perto e sei o frio que pode estar numa noite de Inverno como esta, onde felizmente o vento não apareceu em grande. E centenas de adeptos estavam ali, estóicos, a queimar as rabanadas e a aletria toda a cantar e a incentivar a equipa. Grandes, é o que vocês são!

(-) Evandro. Perdeu pontos, na minha opinião, porque continua a mostrar-se muito nervoso com a bola na sua posse, transmitindo aos colegas que não sabe muito bem o que fazer com ela. Herrera, com todos os seus defeitos, é titular de caras perante o brasileiro.

(-) Casemiro. Sim, rapaz, tu interceptas muitas bolas, mas fazes muitas faltas desnecessárias. E não, meu querido, tu não sabes passar a bola ao longe como achas que sabes, acredita em mim que já cá ando há mais tempo do que tu: se pensas que é uma boa ideia passar a bola pelo ar por cima do defesa, certifica-te que a bola passa PELO AR POR CIMA DO DEFESA. Food for thought.


Pouco mais há a dizer sobre o jogo. Teoricamente seria o segundo jogo mais complicado logo após a partida na Pedreira, por isso esta vitória acaba por “encostar” uma das formações que podiam lutar por um eventual segundo lugar caso houvesse algum acidente de percurso. Enfim, nunca se sabe…

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Ah, sabe bem estar de volta, não sabe, caríssimo? Espero que a Navidade tenha sido proveitosa e que te tenha possibilitado um descanso ao nível que mereces, com toda a preocupação botada às urtigas e o enfoque virado com definitiva e empenhada acuidade perante a garrafinha de vinho e qualquer repasto que a tua famelga tenha como tradição cozinhar para o dia de Natal. Sim, porque tu agora tens de te deixar dessas coisas de festejar o Natal no dia de Reis, essa parvoíce que tem tanto de espanhol como de parvo. Reis. Vai-te lá esquecendo disso porque gostava que ficasses cá uns bons aninhos, se subires um pedacinho do nível de futebol que temos indo a apresentar.

Como ainda és novato no clube (meia-dúzia de meses teus não compensam quase trinta anos meus), vou-te explicar um detalhe que afecta o jogo de hoje como um prego num pneu de bicicleta. As coisas, por aqui, funcionam assim: se perdes o jogo de hoje, és uma besta que nunca devia ter pensado em vestir um fato de treino durante o dia para seguir carreira depois de acabares de jogar; se vences, ninguém quer saber disto para absolutamente nada e a vergonha é mesmo não teres apostado em mais rapazes novos para AGORA SIM fazeres uma rotação em condições. No win situation if there ever was one.

A minha postura perante a Taça da Liga é sempre a mesma desde o início: se der para ganhar, força. Mas não vale a pena perder o sono à custa disto. Usa a oportunidade para dar minutos aos rapazes novos, experimenta o que quiseres e brinca com as tácticas à Football Manager da forma que te apetecer. Se der para ganhar, porreiro.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 Rio Ave

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Quem saiu do estádio aos 85 minutos, como faz habitualmente, perdeu três golos, todos eles memoráveis. Desde o calcanhar de Alex Sandro (involuntário, note-se), aos pés esquerdos de Quintero e Danilo, por motivos diferentes, foi um festival de cinco minutos de golaços e alegria bem espalhada. Mas o resto do jogo não foi tão entusiasmante nem tão bem disposto, porque o FC Porto mostrou mais uma vez que ainda tem um bom caminho a percorrer até conseguir estabilizar a equipa até um ponto em que se possa considerar madura. Há ainda muita desorganização a meio-campo, especialmente sem bola, para que possamos olhar para um futuro próximo com o optimismo que todo aquele talento poderia fazer crer. Ainda assim, a vitória assenta bem. Vamos às notas:

(+) Danilo. Estás com uma moral, rapaz, que nem pareces o mesmo que cá chegou e andou dois anos a penar até conseguires fazer meia-dúzia de exibições decentes! Desde as intercepções na defesa, as subidas pelo flanco, as diagonais que fazes para o meio, estás a dar uma tremenda vida ao corredor direito, que já não via a ser tão explosivo desde que o Bosingwa por cá andava! O golo que marcaste então…upa upa, aos noventa e coiso minutos ainda tiveste pica para receber a bola no meio-campo e cavalgares por ali fora para rematares de pé esquerdo e meteres a bola na gaveta com uma pujança e o mérito de quem trabalhou para isso. Parabéns, homem!

(+) Tello. O melhor jogo dele desde que chegou ao FC Porto, foi dinâmico, vivo, alerta, trabalhador e uma tremenda enxaqueca para o lateral que o defendia. O golo é exactamente o que este rapaz deveria fazer em todas as circunstâncias em que se encontre olhos nos olhos com um defesa no centro da área: finta, drible, arranque, remate. Entrou desta vez e acredito que pode entrar muitas mais vezes se esta “motinha” continuar a ser prático e não abusar do adorno técnico. Esteve muito bem no resto da partida, a aproveitar as subidas de Danilo e a trocar bem a bola com ele. Gostei do entendimento e gostei do empenho.

(+) O enorme talento de Quintero no último passe. Recebe a bola à entrada da área e penso: “vai sair remate em banana, para o cantinho!”. O homem parou e deixou a defesa sem saber o que fazer. Pensei: “oh, porra, remata lá a bol…” e o gajo faz-me aquela parvoíce ao alcance dos deuses só lá do topo. Nada de deuses merdosos, responsáveis pelos figos ou pelos ribeiros secos. Zeus, Hermes, Apolo, os grandalhões. E fiquei com a nítida impressão que Óliver estava meio quilómetro fora de jogo quando recebeu o passe de Juanfer, mas já vi o lance na televisão e vou amanhã mesmo marcar consulta para oftalmologia.

(-) Sofreguidão na zona pressionante do meio-campo. Não é uma novidade mas assusta-me perceber que o FC Porto não consegue segurar-se quando se coloca em vantagem. Há qualquer tipo de entorpecimento mental, de permissividade que se apodera dos jogadores depois de marcarem o primeiro golo, que lhes retira a pressão da cabeça e os faz cometer parvoíces consecutivas, do guarda-redes ao ataque. Hoje, mais uma vez, o golo de Tello fez com que a maioria da rapaziada de cor-de-rosa não conseguisse assentar a cabeça e começasse a falhar passes, a arriscar em demasia com trocas de bola curtas em zonas proibidas, a fazer passes absurdos para a frente e a permitir lances sucessivos de potencial perigo para a nossa baliza. E a subida de um elemento para a pressão subida…é só visto. Óliver, Tello ou Quintero andavam a correr como doidos no meio-campo adversário, procurando interceptar a bola que estava a ser trocada entre a zona defensiva do Rio Ave, fazendo tantos estragos no oponente como uma formiga paralítica a cabecear um rinoceronte. No entanto, o dano era pior para a própria equipa, que se desposicionava no meio-campo e abria brechas bem aproveitadas que só não causaram mais perigo porque o adversário era modesto para o nível onde queremos jogar. É que se fizermos isto contra um Manchester City ou um Barcelona…

(-) Brahimi. Já disse há algum tempo que quando Yacine estiver em dia bom, vai ser um espectáculo vê-lo e devia haver quota extra para os bilhetes. Mas quando as coisas lhe correrem mal…é de fugir. E hoje foi um destes últimos, em que o argelino não acertava com os domínios de bola, os arranques em drible ou os (poucos) passes aos companheiros. E para compor o ramalhete, ainda deu um pontapé num adversário e merecia ter sido expulso. Belo jogo, rapaz. Não faças muitos destes, por favor.


Vinha preparadíssimo para uma crónica cheia de referências ao rabo do Alex Sandro, porque me pareceu que foi com essa parte do corpo que tinha marcado o golo. Eram piadas sobre os “anais da história” e afins. A repetição, que vi há pouco, tirou-me as dúvidas, e o calcanhar não é tão fácil/brejeiro para usar. Hélas.

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Desde o dia 2 de Novembro que não ponho os pés no Dragão. Hoje, vinte e sete dias depois, voltarei a entrar no meu teatro de sonhos para ver o meu clube a defrontar uma das boas equipas deste campeonato, agora que estamos já satisfeitos por uma excelente passagem pela fase de grupos da Champions’, seja qual for o resultado que venhamos a conseguir no jogo em casa contra o Shakhtar, daqui a semana e meia. E por esse motivo, os meus parabéns a ti e ao grupo todo.

Mas hoje, outro galo canta. Porque os teus rapazes têm uma tendência fantástica para desaprender as lições de tempos idos, porque o jogo tem características completamente diferentes do de Borisov e porque não podemos arriscar sequer perder pontos na caminhada para um título que está ainda muito longe mas que continua perfeitamente ao nosso alcance. E é por isso mesmo que temos de entrar para esta partida, para mais uma destas inúmeras partidas de domingo à noite, com o fim-de-semana a terminar e a perspectiva de uma árdua semana de trabalho que se coloca perante os nossos olhos, é pelas almas dos milhares de portistas que vão estar no Dragão com a ânsia de um jogo bem disputado que termine com uma vitória para as nossas cores que temos de entrar com força, com a capacidade de um grupo de triunfadores que queremos sair do estádio com um sorriso de orelha a orelha, torneado por uma alegria que só o FC Porto nos consegue dar. E tudo depende de ti, do Brahimi e do Óliver, do Quaresma e do Jackson. E, noutra escala, depende também do acerto do Indi, das subidas do Danilo e dos passes do Casemiro.

Não deixes baixar a moral do grupo que comandas mas acima de tudo não deixes esmorecer o ânimo do povo que vos acompanha semana após semana. Ganhem o jogo, vençam com dignidade e mérito…e transforma um dos piores momentos da semana numa orgia de golos e boa disposição. Está nas vossas mãos.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Rio Ave

Pouca gente, pouco futebol, pouca alma. Foi assim a história de um jogo que termina com um resultado muito acima da exibição e que marca mais um degrau na escada que vai levar a que esta época termine sem honra e com pouca glória. Os três golos nascem na segunda parte, depois de quarenta e cinco minutos do futebol mais desgarrado, inconsequente e tristonho que me lembro de ver nos últimos tempos, o que até parece hiperbólico tendo em conta a qualidade de jogo que temos vindo a colocar em campo mas que para os dezassete mil e tal que hoje estiveram no Dragão foi a confirmação que estes rapazes precisam de um homem forte que os ponha na linha. Enfim, valeram Jackson, Quintero e as claques. A notas:

(+) Jackson. Marcou o 19º golo no campeonato 2013/2014 e salvo qualquer tipo de enxurrada de golos de Derley (15) ou Lima (14) nos dois jogos que faltam, confirmou-se como goleador máximo da Liga pelo segundo ano consecutivo. E esforçou-se por isso, para lá do penalty que me parece evidente, porque veio atrás construir jogo, correu para salvar colegas de lances desperdiçados e roubou a bola com vários “carrinhos” que fariam Otamendi ficar orgulhoso.

(+) Quintero. Só entrou ao intervalo mas teve tempo para fazer uma assistência que deu em penalty, uma assistência para o segundo golo e sofreu a falta que originou o terceiro. Não é mau mas podia ser ainda melhor, bastava que alguém começasse a apostar nele como titular em vez dos apagados Josué ou Carlos Eduardo, que não mostram (longe disso!) o mesmo talento e capacidade de jogar de frente para a baliza e para os adversários. Espero muito dele para 2014/2015.

(+) As claques do FC Porto. Sempre a apoiar, os loucos dos Super com um grupo enorme em tronco nu (não estava frio mas também não era tempo para veranear) em louvor contínuo ao clube, notando-se o cuidado de não individualizar os cânticos mas de unificar em torno de um ideal que todos queremos ver sempre mais alto: o FC Porto. Obrigado, malta, pela estupenda manifestação de querer e de portismo. Pelo ano que fizeram, mereciam mais retorno dentro de campo.

(-) Uma equipa derrotada. A imagem do Dragão com menos de metade da assistência, com a celebração de um golo a ser feita com alguns fugazes gritos de euforia de nível subjugado a uma realidade que é bem mais dura, bem mais cruel e oh tão autêntica. Como é triste ver um jogo do FC Porto em que a equipa entra em campo derrotada mentalmente, com o peso de uma época a carregar nos ombros, a frustração que nunca se converte em convicção ou na tentativa de fazer um melhor trabalho mas que explode em lances físicos ou na enervante indolência de quem caminha em passo arrastado para o cadafalso. Josué, Herrera e Defour fizeram exactamente o que um meio-campo não deve nunca fazer, jogando demasiado próximos, sem amplitude de movimentos, fracos no desdobramento e lentos no passe. Os centrais organizavam o jogo (ah, Sir Bobby, se visses isto pensarias que era uma homenagem…) tão mal, obrigados a enviar a bola pelo ar para os colegas que, incapazes de se anteciparem e de levantarem os pés do chão, esse hercúleo esforço só ao alcance de titãs, perdiam a bola e o Rio Ave partia no contra-ataque. Ver Alex Sandro, o melhor exemplo do total desinteresse pelo jogo na primeira parte, a falhar passe após passe a distâncias consistentemente reduzidas (cinco metros, meus amigos, é como acertar no túnel da Ribeira a partir dos azulejos do mestre Resente!), a sair para o ataque e a perder a bola porque nem se dava ao trabalho de a proteger…ou Herrera, que desliga quando tem a bola nos pés e a perde, vez após frustrante vez, para o adversário. Foram tantas as parvoíces e a explicação é tão simples: quando se entra em campo sem nada para ganhar e ninguém para nos corrigir…dá nisto.


E o terceiro lugar está garantido! Huzzah! E a época começa mais cedo mesmo que não joguemos a Supertaça! Huzzah! E os gajos que chegam tarde do Mundial vão fazer com que tenhamos de inventar outra vez para a pré-eliminatória da Champions! Huzzah! Foda-se! Huzzah!

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