E podemos dormir descansados? Podemos.

Estes cortes institucionais começam a ficar tão na voga que não tarda nada acredito que até são válidos. E depois de uma noite quase sem dormir enquanto pensava no caos que se poderia tornar a minha vida, tão cheia que está a minha lista de contactos com amigos sportinguistas, fui falar com um deles:

Jorge – Ouve lá, ainda podemos falar um com o outro?

Amigo sportinguista – Podemos. Mas não instuticionalmente.

Jorge – Ah. Pronto. Então trato-te por tu em vez de por Senhor Engenheiro?

Amigo sportinguista – É. Qualquer coisa como isso.

Jorge – Ok. Obrigado. Até logo.

Amigo sportinguista – Xau aí.

E o mundo, sem Brunos e Caldeiras, parece continuar a rodar nos eixos.

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Mas que puta de bomba nos estourou a meio metro dos dentes ontem à tarde, rapaz! Quando soube da notícia do Moutinho fui invadido por uma sensação de insegurança como se estivesse pendurado de uma ponte daquelas de cordas como no Indiana Jones, à espera que aparecesse algum cavaleiro do apocalipse que me dissesse ao ouvido: “tás fodidinho, rapaz, todo fodidinho…”. Mas não desanimo, nem tu podes desanimar, nem nenhum dos teus rapazes pode desanimar.

Só te peço para não entrares no jogo com a cagança de quem vai dezenas de pontos à frente do adversário. Entra com confiança, sem medo, mas com a suspeita que do outro lado pode haver gente que lhe está a apetecer correr mais do que costuma fazer noutros jogos. Até porque, e vamos lá ser sinceros, não há mais nenhum jogo em que estes rapazes possam brilhar a sério até ao final da época, com a possível do derby na Luz, onde muito provavelmente vão ter de untar os rabinhos com a pomada do costume, que este ano já por tantas vezes foi utilizada e reutilizada. E é isso que me assusta um bom pedaço, Vitor, é aquele orgulho que lhes pode dar contra nós e que não lhes deu nem na pontinha das unhas dos pés contra o Videoton, ou contra montes de outras equipas que lhes roubaram golos, pontos e dignidade.

Eles vão entrar com força, mas nervosos. Com vontade, mas a tremer. E não vai ser por culpa exclusiva da falta de cimento nas pernas que quase todos têm, mas vai ter de lhes ser injectado directamente nos olhos por nós. Nós é que vamos trocar a bola no meio-campo deles, pressionar logo à saída da defesa, castigar as alas, carregar nos médios, secar os avançados. Nós é que vamos ganhar esta merda e nem quero saber de que côr é o gajo que marque os golos, de que país veio ou que carro conduz. Nem quero saber o nome dele, hoje. Hoje só quero ver o FC Porto a ganhar ao Sporting e a empurrar os fulanos mais um bocadinho…mais um bocadinho…só mais um bocadinho para aquele poço de onde já não vão sair até ao fim do ano.

Vamos, Vitor, faz-me a vontade.

Sou quem sabes,
Jorge

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Alguém sabe o que é que o Sporting vale?

Vai ser um jogo do carago. E se ainda tivesse alguma noção do que o Sporting joga, talvez pudesse inferir alguma estratégia pura e simples para na minha cabeça, longe das desventuras do relvado, criar uma ideia base do que o nosso adversário vale. Não vejo um jogo do Sporting há meses, desde o longínquo Novembro em que ainda me lembro de estar à mesa a jantar em família e a ver o Sporting a empatar com o Genk ou a apanhar três do Videoton. Eram outros tempos, distantes e obscuros na minha mente, em que me lembro de ver os rapazes de verde e branco a correr pelo campo fora, distraídos e nervosos, enquanto colmatavam falhas tácticas com piores falhas técnicas, formando um conjunto para ser recordado por anos que ainda hão-de vir como uma das piores formações que há memória, sem entrosamento, com nomes mas com pouca inteligência competitiva, a rezar para que Patrício conseguisse livrar o clube de mais uma humilhação. Lembro-me disso. Não me lembro de muito mais.

Há meses que não os vejo, como disse. Não sei o que vale o Bruma ou o Ilori, ainda não vi o Miguel Lopes a jogar mais de cinco minutos e nem sei quem é que tem jogado no meio-campo. O Schaars ainda lá está? O Rinaudo continua a ser titular e capitão e caceteiro? O Joãozinho é titular? O Wolkosfinkel ainda marca golos? Vão alinhar com sete gajos da B ou com onze gajos experientes da A? Não faço ideia e o pior é mesmo este desconhecimento que me tolhe o raciocínio, porque não me lembro de nenhum clássico em que não consiga dizer com algum grau de certeza quem serão os onze que vão estar do outro lado. E acredito que muitos adeptos portistas estão na mesma situação que eu. Não gosto.

Assusta-me pensar que vamos jogar a Alvalade com trinta pontos de vantagem. Preocupa-me muito perceber que num jogo que não sendo de vida ou morte, me falte o mais básico entendimento da estratégia do adversário. É que ir a Aveiro e apanhar um Beira-Mar defensivo ou dar um salto à Madeira e esperar que o Marítimo jogue ao ataque é uma coisa. Aparecer naquele estádio em Lisboa e agir como se fosse só um jogo entre FC Porto e qualquer outro clube que está à espera que lá apareçamos com atitude de campeão e perceber que tudo pode correr ao contrário do que tantos esperam, é outra completamente diferente.

Por isso este jogo está-me a deixar mais nervoso que os outros. Não tenho medo de profissionais porque o mundo está cheio de amadores perigosos. E nem sei se vamos apanhar um Sporting rápido e agressivo no ataque, ou uma equipa que só o é em nome. Não sei se Jesualdo vai jogar pelo seguro ou se lhe vai dar para inventar porque acho que nem consigo perceber se uma invenção não passa do tradicional ou se o tradicional já é em si uma invenção. Só posso esperar que os nossos estejam a fazer o trabalho deles e tenham tirado a pinta aos putos do Jesualdo. Porque só vou perceber isso quando a bola começar a rolar.

No fundo, não estou confiante.

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O regresso do Professor Jota

Jesualdo está de volta a Portugal. E vai ser curioso vê-lo a defender as cores de outro clube depois da saída do FC Porto ter deixado muitos adeptos aliviados ao fim de uma temporada infeliz. Lembram-se de 2009/2010? Foda-se, parece que foi há vinte anos, palavra de honra. Os nomes do plantel eram tão diferentes, as perspectivas eram altas mas o mundo parecia outro, menos estranho, mais fácil de garantir com a qualidade do costume. Eram quatro campeonatos seguidos que tínhamos no saco, e se o primeiro foi arrancado a ferros pelas garras da garra do Co, Jesualdo ganhou os próximos três com sabedoria e perdeu o quarto por vários motivos, desde o túnel-gate à instabilidade da equipa, mas entretanto foi um dos principais gestores de talento e de potencial lucrativo dos seus activos, soube fazer crescer os jogadores que teve ao seu dispôr, percebeu como e quando Fernando e Anderson teriam de entrar para a equipa principal, tirou o melhor rendimento de Lucho, Lisandro, Fucile, Bosingwa, Bruno Alves, Meireles, Tarik e Quaresma e ainda teve tempo para ensinar Falcao e Hulk a perceberem como jogar na Europa e deu-lhes as bases que os “fizeram” como jogadores, como ambos já reconheceram em público várias vezes. Deu a cara pelo clube várias vezes, oferecendo o peito de frente para tanta ak-47 apontada para tantos e tantos jogadores durante os quatro anos que por cá passou. E teve pontos baixos também no percurso, com rumores de excessiva dependência dos capitães de equipa e alguma indisciplina no balneário, com filhos e enteados ao barulho – bocas nunca confirmadas – algo que se tornou incessante na especulação durante a última época, onde me ficaram na cabeça aquelas imagens humilhantes do nosso comportamento na final da Taça da Liga no Algarve. E houve escolhas de duvidosa qualidade, com nomes como Bolatti, Mariano, Stepanov, Benítez, Pelé, Lino e vários outros. Houve coisas boas e más, com as primeiras a ultrapassar claramente as segundas.

Vai ser estranho vê-lo do outro lado. Foram quatro anos com ele à frente do barco e a mudança para um homem como Villas-Boas foi pedida por muitos para que a equipa pudesse ter uma renovação, na altura era tão necessária e que se verificou que foi mais uma decisão ajuizada de Pinto da Costa (mesmo não mudando muitos jogadores, mudou a motivação e mudaram os métodos, abanou-se e bem a estrutura), não creio que Jesualdo tenha a mesma protecção em Alvalade que teve no Dragão. Houve confiança no seu trabalho durante vários anos durante os quais atravessou, como era natural, alguns períodos menos bons como no Inverno de 2008 em que foi muito contestado e poderia ter sido atirado à turba como sacrifício, mas sempre teve o apoio que necessitava para continuar o trabalho. Como Vitor Pereira no ano passado é um exemplo paradigmático desta paciência que não é fácil mas se torna obrigatória, temo que no Sporting não haja esse tipo de filosofia de aposta a longo prazo.

Que é como quem diz: Depois de Málaga e Atenas, Jesualdo, amigo, mais uma vez aí ninguém vai estar contigo.

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