Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Já passou a fezada depois do sorteio? Já estamos todos mais calmos depois de percebermos que vamos jogar contra um tubarão que faz o do Spielberg parecer um carapau que nem é de corrida? Já falaste com os teus muchachos e disseste-lhes que isto da Champions é para homens e se estão com medo é melhor começarem a telefonar aos agentes porque aqui não temos medo de nada nem de ninguém? Bueno. Vamos ao próximo adversário que esse ainda vem longe.

Na altura em que o árbitro apitar para o início do jogo, já vais saber como ficou o benfas em Vila do Conde. Não me parece que estejam ventos ciclónicos, por isso podemos prever que os gajos até nem se vão safar mal e que vamos arrancar para a jornada com sete pontos de atraso. Podem ser quatro ou cinco, é verdade, mas o mais provável é serem sete. E não faz mal nenhum, porque continuamos com a mesma missão que tínhamos há duas ou três ou mais semanas: ganhar. E tens de continuar a ganhar, independemente do adversário, do estádio ou do relvado. Temos de manter o sonho aceso, Julen, especialmente numa altura em que lá em baixo estão todos a torcer para que percas pontos, eles que já começam a sentir a pressãozinha a morder-lhes os tornozelos e a cravarem as unhas nos gémeos. Continua a ganhar e vais ver que os gajos vão ceder, mais tarde ou mais cedo vão ceder!

Não sei quem é que vais colocar a jogar mas pensa que vais ter duas semanas para trabalhar os rapazes de maneira a que estejam em forma para um Abril que vai ser uma parvoíce de jogos. Mas tudo começa hoje na Madeira e nesta segunda vez que botas as perninhas na ilha, faz lá o favor e ganha pela primeira vez. Estamos contigo, hombre!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Arouca

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Lentidão, expulsão, reorganização, PENALTY!, calma, concentração, GOLO!, luta, suor, sofrimento, HELTON!, tranquilidade, PRIIIIIIIIIU, paz, descanso, massagens, sono, cama, amanhã há mais. Há dias em que a pressão se torna tão intensa e as pernas incapazes de responder que me questiono se estará alguma força divina a conspirar para que não sejamos campeões. Tudo nos acontece, desde as lesões de elementos-chave, aos dilúvios que impossibilitam o futebol, aos menores rendimentos de algumas peças importantes, e hoje às expulsões de guarda-redes numa zona tão próxima do meio-círculo como da baliza. Vamos lutando e vamos sofrendo até a gorda cantar de vez. Notas já aqui em baixo:

(+) Helton. É inegável a empatia do brasileiro com os adeptos e se houver justiça no Mundo e os joelhos do homem aguentarem, será o titular até final do campeonato. Ajuda a equipa e transmite confiança com o jogo de pés, com a elasticidade com que aborda os lances (salvou o golo do Arouca num voo estupendo) e com a inteligência emocional e a “ratice” que há tanto tempo peço que os nossos jogadores tenham. Todos estes factores fazem dele titular e não se fala mais nisso. Desculpa, Fabiano, mas há que saber quando fomos derrotados.

(+) Quaresma. Lutou desde o primeiro minuto e saiu esgotado quando a equipa precisava de mais velocidade pelo flanco e quando Brahimi, também cansado, ainda conseguia manter a bola nos pés tempo suficiente para ir deixando o relógio passar. Quaresma foi a imagem de um jogador “dos nossos”, que nunca vira a cara à luta…apesar dos adversários lha terem tentado virar à força, como no lance do penalty não assinalado (é que nem falta foi…se não achou que tinha havido contacto, não seria pelo menos jogo perigoso?!) ou em vários outros onde foi puxado e obstruído como única forma de impedir o seu progresso. Assistiu Aboubakar e ainda falhou mais um ou dois golos por mérito do guarda-redes. Bom jogo.

(+) Marcano. Destaco o espanhol pela facilidade com que parecia aparecer a saltar com os avançados contrários, ao contrário do seu colega de posição (ver abaixo), e como desarmou os atacantes do Arouca pelo chão e pelo ar de uma forma consistente e simples, sem inventar nem decorar os lances. Curioso pensar que aquele que era originalmente o teórico quarto posicionado na luta por um lugar se assume agora como titular indiscutível e a grande perda para a primeira mão dos quartos da Champions. É a prova evidente que com trabalho e simplicidade de processos qualquer um pode ser titular. Basta mostrar que tem valor para isso.

(+) Luta e espírito de sacrifício. Não foi bonito. Não foi bom. Não foi agradável. Não foi fácil. Mas foi o jogo possível para uma equipa que se viu a jogar desde o quarto de hora com dez, depois de um jogo desgastante fisica e mentalmente na passada terça-feira. É fácil arranjar desculpas para a falta de acuidade ofensiva ou para as constantes falhas nos passes a rasgar e na ai-tão-estuporada forma como cedemos o meio-campo ao adversário, mas a perspectiva manteve-se intacta de início a fim. Era um jogo para ganhar. E a equipa manteve-se fiel aos princípios quando pôde e lutadora quando não era possível. Lutou e correu e trabalhou sempre com o intuito de guardar a vantagem, subalternizando-se a um Arouca que tinha muito transpiração e pouca inspiração. E nós rebatemos esses dois vectores do jogo ao nível que era necessário. Casemiro, Alex Sandro, Herrera, Aboubakar e tantos outros terminaram o jogo exaustos mas cientes que tinham feito o seu trabalho. O aplauso das bancadas no final da partida foi o prémio merecido.

(-) Fabiano. O jogo fora da baliza não é o seu ponto forte e nunca o será. E este tipo de saídas parvas, que já nos custaram dois pontos este ano no Estoril, são exactamente o tipo de eventos que fazem dele um homem que não dá segurança necessária para um guarda-redes de uma equipa que durante tantos anos se habituou a ver nomes que nem seria preciso pensar muito para concluir que estávamos tranquilos lá atrás. Com Fabiano esse cenário raramente acontece e mais cedo ou mais tarde há uma ou outra falha que lhe tolhem ainda mais a moral e a reputação. Hoje, com a expulsão (certa, na minha opinião, porque com ou sem Ricardo na cobertura, em jogo corrido é uma decisão que aceito sem problema) e o lance que lhe deu origem, Fabiano perdeu-se aos olhos dos adeptos, que preferem ver Helton de muletas na baliza do seu clube.

(-) Indi. Relembrem-me lá quanto é que pagamos por ele? Por um internacional holandês que não ganha UMA ÚNICA PUTA DUMA BOLA DE CABEÇA AOS ADVERSÁRIOS? UMA, PARA AMOSTRA!!! E não era propriamente uma equipa de Janckers, carago! É inegável que tem força e parece que sabe o que quer quando sobe com a bola controlada, mas cedo se mostra nervoso e tão propenso a erros como um Stepanov alcoolizado. Com Maicon e Marcano a marcar pontos consecutivos, não vejo hipótese do Bruno Martins “ora cá vem a bola, deixa-a bater, ora raios” Indi voltar a ser titular tão cedo. Pelo menos até Maicon se lembrar de fazer uma finta de corpo a um adversário em cima da linha de golo, à Mangala. Se calhar nem assim.

(-) A entrada de Tello. Um flashback para os meses de Setembro/Outubro, em que Tello não se fazia aos lances, adormecia em campo e mostrava tão pouco que me fez questionar o porquê da sua contratação se o nível exibicional não subisse. Sei que esteve em Espanha por motivos familiares e o pai estará enfermo, mas se não estava em condições para jogar, devia ter dito ao treinador e pedido para ficar de fora. Caso contrário, não há desculpa para deixar o lateral passar por si várias vezes e pela incapacidade de pressionar para ajudar a equipa a tapar o flanco. Um one-off, espero.


Três pontos. Sofridos, suados. Uff.

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Ouve lá ó Mister – Arouca

Señor Lopetegui,

Calma. Nada está perdido. Havia muita malta a botar fé (vai aprendendo expressões nortenhas, precisas delas para ficares cá alguns anos) no Braga e na possibilidade de terem ido ontem à capital do império sacar uns pontinhos ao benfas, mas não aconteceu e ninguém morre por causa disso. Ainda faltam muitos jogos e acredito que os rapazes ainda se vão esticar ao comprido um destes dias. Just watch.

Temos é de continuar o nosso percurso e não olhar para trás. Não pensar que está tudo feito e tudo conquistado e que podemos agora descansar porque estamos nos quartos da Champions e yadda yadda e o campeonato está perdido e aqui d’el rei que nos pilharam pontos ou que ofereceram pontos aos outros. Isso é tarefa para a retórica dos Gomes das Silvas deste rectângulo ao lado do teu país e que já começas a conhecer e a detectar as manhas dessa turba. É preciso continuar depois da sequência mais complicada de jogos da temporada e enfrentar a próxima sequência de jogos que ainda vão ser mais complicados. Porque se os de grande nome foram abaixo, não penses que os próximos vão ser fáceis. O Arouca é uma equipa com capacidade inferior aos que enfrentaste antes, mas uma pequena falha contra estes e cai-te o Carmo e a Trindade em cima (mais uma expressão lusa, esta não é cá do Norte mas também a aprendes que te faz bem) e não sabes para que lado de hás de virar.

Vais entrar em campo com uma defesa diferente. Ricardo à direita, Indi e Marcano ao meio, Alex na esquerda. É assim, não é? Não inventes muito, rapaz, e olha que tirar o Evandro da equipa para entrar o Óliver até pode parecer boa ideia mas pensa bem se vale a pena. O teu conterrâneo já está porreiro do ombro senão não o tinhas convocado contra o Basileia, mas talvez seja melhor manter o meio-campo as-is. E na frente, idem aspas (isto hoje é só expressões populares, carago!) para o Aboubakar, se ainda tiver pernas, mais Brahimi e Tello. Seja quem for, que tenha pernas!

Uma vitória, nada menos, para continuarmos a chatear os moços da frente.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Braga 0 vs 1 FC Porto

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Um jogo tramado contra uma equipa tramada cheia de jogadores tramados num estádio tramado. Se disser “tramado” mais uma vez pode ser que ganhe uma raspadinha. A verdade é que não houve tantos tramados como se imaginaria, ou se houve foi por culpa própria. Sim, o Braga corre muito. Claro, o Braga é rijo. Óbvio, o Braga joga em contra-ataque. Mas não correu assim tanto. Não foi assim tão rijo. Quase não contra-atacou. O que sobra do jogo? Uma vitória arrancada com (mais) um golo em 1×1 de Tello, a lesão de Jackson e a percepção que os rapazes estão com ganas de continuar mas continuam com pouca imaginação na altura de criar lances ofensivos. Vamos às notas:

(+) Casemiro. Às vezes é preciso jogar assim. Duro no contacto físico e certeiro no controlo da zona central, onde Pedro Tiba (um cabrãozinho que dá vontade de esbofetear até ficar com a mão em sangue, bem como Pedro Santos. Qualquer Pedro que jogue no Braga, pronto) e Danilo se dispunham como unidades mais agressivas e que Casemiro ajudou a tapar. Não esteve tão bem contra Ruben Micael (e não imaginam o quão estranho é escrever esta frase) mas foi acima de tudo pela inteligência nos últimos minutos que o brasileiro brilhou. Sacou pelo menos três faltas a jogadores do Braga, no equivalente centro-campista da dupla lateral+extremo na linha à espera que os minutos passem, ganhando lançamentos atrás de lançamentos. Às vezes é preciso jogar assim. E Casemiro, hoje, fê-lo na perfeição.

(+) Marcano. Certinho, direitinho, eficaz, prático…é o central perfeito para acompanhar um outro que seja líder. Maicon não o é e nunca o será porque é demasiado falível em lances fáceis (hoje esteve bem, com uma ou outra falha pontual que não deixaram preocupação) e o exemplo de Marcano parece sair direitinho do manual “Como ser Aloísio em dez simples lições”. Impecável no corte, sem inventar no passe e acima de tudo a transmitir uma tranquilidade que faz com que seja o central número um nas escolhas de Lopetegui. Ou nas minhas, pelo menos.

(+) Tello. Esforçado e eficaz. Quem vir este Tello e fizer uma comparação com o mesmo fulano que usava o mesmo número na camisola aí por volta de Setembro/Outubro arrisca-se a sofrer uma lesão na espinha tal é o efeito de chicote que receberá na base do pescoço. Este Tello é que devia ter andado por cá desde o início do ano, um Tello que não desiste, que vai às bolas todas, que arrisca e que não se atemoriza perante um ou cinco defesas. Um Tello que se atira para cima do defesa no 1×1 e que aparece em frente ao guarda-redes e não se atrapalha todo como fez tantas vezes no arranque da temporada. Este Tello pode ficar. O outro pode voltar a Barcelona.

(-) Herrera Já não sei que te dizer, rapaz, mas começo a ficar preocupado. Das duas uma: ou vais ao médico e queixas-te que há qualquer tipo de narcolepsia hiper-temporária que se apodera de ti durante os jogos, ou eu vou telefonar ao Casemiro e faço com que ele ande com uma daquelas varetas que dão choques ao gado para ver se te assusto o suficiente ao ponto de acordares. Demasiadas bolas perdidas pela assustadora lentidão com que executa e pensa o jogo, demasiados passes falhados, demasiadas vezes em que me apeteceu gritar para o despertar daquele torpor que tanto me enerva. Se o Speedy Gonzalez é mexicano, tu deves ser o estupor do arqui-inimigo dele. O Slowy Herrera ou qualquer merda parola do género.

(-) As saídas aéreas de Fabiano. Se o rapaz já vai em seis jogos consecutivos sem sofrer golos em competições nacionais, deve uma enorme caixa de chocolates e uns ramos de rosas aos seus defesas. Não sendo o zénite da eficácia defensiva mundial, a linha defensiva vai limpando a folha do seu keeper que não consegue assentar-se como um nome que não deixa reservas aos adeptos. E não o consegue pelas constantes falhas em saídas a cruzamentos, pelo jogo de pés (que está melhor, atente-se!) medíocre. Não é mau guarda-redes, longe disso, mas ao ver Helton no banco dá-me logo uma sensação nostálgica e apetece-me trocar de brasileiro na baliza.

(-) A lesão de Jackson Foda-se. Trinta destes seguidos. Foda-se. Putas das toupeiras. Foda-se.


A vitória era o mais importante e não estou muito preocupado se a equipa joga bom futebol ou não. Digo isto com toda a sinceridade que um portista pode ter neste momento, em que andamos atrás do líder há tempo demais e onde um mínimo percalço nos pode afastar de vez do título. Três pontos. Check. Next!

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Ouve lá ó Mister – Braga

Señor Lopetegui,

Mas que bela dose de sportencavanço que demos aos verdes na semana passada, Julen! Foi bonito de ver a malta a cascar no Nani ou no Patrício, eles que são bons rapazes mas que nem sempre se dão bem com os ares aqui do Norte e ainda bem. Os meus parabéns pela vitória, pela exibição e pelo facto de nos manteres activos neste sonho de sermos campeões este ano. Mas…e tudo vem com um mas para dar aquele ar de tensão sublimada por uma ou duas frases inconsequentes a abrir um artigo…mas…se não ganharmos ao Braga, serviu para pouco mais que uma moralização temporária das tropas, aí dentro e cá fora.

Já sabes o que o Braga vale. Uma enormidade de defesas prontos a partirem as pernas a muitos dos nossos, agressividade a rodos no meio-campo e velocidade no ataque. São putos rijos, cheios de sangue quente que vêm, como nós, de uma batelada de jogos sem perder. Para lá de quatro, imagina, o que dá para ver que este campeonato não está a ser um modelo de consistência para nenhuma das equipas, mas ainda assim pode funcionar como um barómetro para percebermos que vão cair em cima de nós como caíram em cima do São Helton como no jogo da Taça da Liga. Por isso há que fazer reunir a malta, explicar-lhes que aquele tolinho que está do banco dos que jogam em casa é um tolinho, sim, mas já foi nosso tolinho. E sabe perfeitamente como é que há-de enervar os nossos, onde acertar e com que índice de força: canela-pum ou gémeo-trau. Mentaliza-os que vai ser mais um jogo de enfesto e que se preparem para ele mais afincadamente que a Umbelina na noite de se encontrar com o Nérso ali no banco de trás do Ford Fiesta kitado.

Ganha o jogo e passa um bom fim-de-semana a veres os outros. Também não é mau jogar antes do adversário de quando em vez.

Sou quem sabes,
Jorge

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