Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Sporting

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Foram três e deviam ter sido mais. Acabei o jogo a tentar justificar a primeira parte em Alvalade ou a enormidade de erros e golos falhados que marcaram a partida da Taça que perdemos contra estes mesmos rapazes. Foi fácil fazê-lo e a diferença não está apenas relacionada com a maior eficácia que mostrámos hoje, debaixo daquela chuvinha tão típica da Invicta. A grande diferença está na maturidade da equipa, na forma como se conseguiu exibir a um nível superior, a mostrar que é uma equipa grande e joga como tal, reduzindo o Sporting a um espectador tão atento como Fabiano. A vitória é inequívoca e só não foi mais volumosa porque mais uma vez ziga-se ou zaga-se quando se devia biqueirar. Ainda assim, uma bela noite no Dragão. Vamos a notas:

(+) Tello. Quantas vezes já disse eu para os meus botões (ou colarinho ou golas ou seja lá o que quiserem usar para manter a metáfora consistente) sobre ti, meu pirralho catalão: “Chuta a bola para a baliza, carago, não penses, não dribles, não torças o pescoço, just kick it!” E não havia melhor jogo para que conseguisses finalmente ouvir os ensinamentos deste teu adepto que vive para o momento em que te esqueces que há mundo à tua volta e te consigas focar só na baliza, só na rede e só na bola a bater nela. Na rede, não na baliza. Foste rápido, foste eficaz, foste perfeito. Três golos ao Sporting. Embrulha, emoldura, imortaliza e leva esta para casa.

(+) Jackson. Aquele “talonazo”, Jackson…upa. Mas assim um upa da altura do pé direito do Dragão, que se verga cada vez que tu te lembras de sacar umas destas do fundo da arca onde os guardas. Minto, não será no fundo mas estará mais à tona, tal é a facilidade com que tu jogas de costas para a baliza e continuas a percepcionar tudo que se passa à tua volta. É notável ver-te a jogar, meu querido Jackson, com a noção tão presente que no final desta temporada vais passear para outros recantos onde vais continuar a mostrar ao Mundo o quão raro é haver um país com dois pontas-de-lança tão bons como tu e o Radamel. E que triste que é terem nascido os dois na mesma altura.

(+) Evandro. Vi-o no onze e temi que pudéssemos arrancar para um jogo mais contido e menos afoito para a frente. A ideia de termos Brahimi no meio seria interessante numa quantidade enorme de jogos mas neste, contra um dos meios-campos mais fortes (fisica e tacticamente) do nosso futebol, o teu nome parecia o mais decente para tentar tapar o adversário. E foi, porque ele fez com que fosse. Muito mexido, a tapar a falta de acutilância e lentidão no posicionamento de Herrera (especialmente na primeira parte) e a jogar como se o lugar fosse dele desde o início do ano. Faltou ser mais activo na construção de jogo para se aproximar um pouco mais da verticalidade que Óliver traz ao jogo, mas esteve muito bem e saiu exausto.

(+) A entrada para a segunda parte. Todos no estádio antecipavam um regresso forte do Sporting para a segunda parte, temendo o recuo do FC Porto para tentar segurar a esquelética vantagem de 1-0 num clássico, que tem tanto de Mourinhesco como de assustador para os adeptos. Nada mais errado. Voltamos como tínhamos terminado, com jogadas em alta intensidade pelas alas, subidas de flanco dos laterais (bem melhor Danilo na segunda parte com um Carrillo bem abaixo de Nani) e o meio-campo a pressionar alto e a forçar os jogadores do Sporting a cometerem erros atrás de erros, um mais infantil que o outro. Foi aí que o Sporting se eclipsou de vez e a parca luz que até aí tinha emitido deixou de se ver no horizonte da Invicta, como um carro que fica sem bateria e se deixa lentamente apagar. E apagou, por nossa culpa.

(-) Chuta o senhor? Tenha a bondade. Não, meu caro, chute você. And on and on. Repetem-se as ocasiões onde há situações de remate que são colocadas em segundo plano para que mais um toque, mais uma finta ou mais um cruzamento sejam feitos quando seria tão mais fácil chutar a bola para a baliza. Compreendo que os jogadores se preocupem em encontrar a melhor posição possível para o remate, mas num jogo destes onde um ressalto pode significar a diferença entre vitória ou derrota, há que ter melhor decisão nessas alturas cruciais do encontro.

(-) A primeira parte de Herrera. Lento, complicado, despreocupado para proteger a bola, foi ineficaz em alturas cruciais quando deveria ter sido bem mais prático e não fosse a presença de Casemiro atrás (muito faltoso…porque tinha de ser) e Evandro ao lado (a correr nos locais que Hector não pisava) e o mexicano teria desaparecido no nevoeiro e na chuvinha que ia caindo inclemente sobre o relvado. Subiu muito de produção na segunda parte, com melhores movimentos mas acima de tudo com mais critério no passe e na deambulação pelo centro do terreno, decorrente do espaço oferecido pelo Sporting.

(-) O critério de Soares Dias. Ficou a ideia, enquanto ia protestando nas bancadas depois de mais uma falta ser marcada a favor do Sporting e outra igualzinha não ter sido apontada a nosso favor, que havia dualidade evidente de critérios. E houve, porque os jogadores do Sporting assumiram o espírito de Vidigal, Beto, Rochemback e amigos, prosseguindo a jogar com os braços sempre que lhes apetecia, puxando e empurrando os nossos jogadores sempre que lhes apetecia, apenas parados com rara exceptionalidade pelo árbitro. E se todas as mãos-na-bola/bolas-na-mão dentro da área do Sporting são discutíveis, as mãos-na-camisola/camisola-quase-que-lhes-ficava-nas-mãos começou a enervar o público, que ainda viu Cedric e William ficarem até ao final do jogo em campo por qualquer tipo de prece divina que com toda a certeza terão feito antes da partida começar, somando-se João Mário e os fantásticos números de “vamos saltar todos juntos” ou Nani, o homem que assume o estatuto que lhe dão cá por ter andado lá e que acha normal os guinchos que emitia na direcção do fiscal de linha sempre que uma brisa lhe afagava o cabelo. Houve demasiados lances idênticos punidos com falta contra nós e raramente com falta a nosso favor. E chateou-me.


Mais um jogo complicado que passamos a ferro e muito provavelmente menos uma preocupação até ao final da época. Sexta-feira, em Braga, o adversário vai dar muito mais luta…

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Señor Lopetegui,

Tenho muitos amigos sportinguistas e creio que deve ser um recorde no rácio entre amigos que partilham um campo todos os sábados e uma vida no resto dos dias da semana. Juntamo-nos na futebolada há dezanove anos (já viste a coincidência do númbaro?) e há sempre lagartagem ao barulho. Uns mais ferrenhos, outros menos, outros ainda que não conseguem dizer qual foi o onze do Sporting na temporada 2001/2002, que em circunstâncias normais os deveria fazer ruborizar de vergonha mas que é tolerado pelo resto da malta porque, para ser sincero, poucos são os que sabem essas coisas, seja de que clube forem. Mas o grupo é composto por mais de dez amigos e seis são do Sporting. Seis. No Porto e arredores. Somemos a essa comandita o meu chefe. É sportinguista. O meu chefe, Julen, o gajo que me avalia o desempenho, que me orienta o trabalho e que serve como bússola profissional nos tempos que correm. Lagarto de fé e alma, pouco praticante mas ainda assim verde até aos ossos. Estou, no fundo, rodeado desse povo estranho no trabalho e na camaradagem.

E dou-me bem com todos eles. Os amigos, como é evidente, com quem partilho um elo metaforicamente umbilical de curso e percurso, mas também o chefe, que é um tipo porreiro. És és, oh, deixa-te lá disso, as pessoas estão a ler, vamos lá. Partilhamos dia após dia as amarguras e exaltações de um trabalho complexo mas gratificante que se faz na secretária do emprego ou no relvado sintético com a bola a rolar ou à mesa com um bom conjunto de finos pela frente.

Mas garanto-te, Julen, que nada me saberia melhor que poder chegar na 2a feira ao trabalho ou no próximo sábado ao salutar convívio semanal com o gangue, de peito feito a poder dizer: “Então, gostaram do jogo? Quando entrou o terceiro não quiseram saber se já tinha começado a novela? E o quarto, foi giro? Reclamem do penalty, agora, que tal? E aquele túnel duplo a meio da primeira parte? E os cruzamentos perfeitos? E que tal as mudanças de flanco criteriosamente por cima do lateral? E as cabeçadas para a rede? Gostaram de tudo? A vingança é fodida, não é? É ou não é? O rabinho dói, não dói? Queres uma almofadinha para as nádegas, que devem estar todas rebentadinhas das marradas de piroco que foram apanhando! E um chá? Um chazinho quentinho, qualquer coisa para acalmar os nervos? Não serve? Não se metam com os grandes, caralho, que quando picam o bicho, este não pica de volta. Este enche-vos de sémen até ao duodeno! Todo lá dentro!!!”

Deixa-me poder dizer isto aos gajos. Anda lá, garanto que também te vai saber bem!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Boavista 0 vs 2 FC Porto

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Para um observador imparcial, não-versado nestas andanças da bola, deve ser um espectáculo deprimente e/ou entusiasmante reparar nas reacções na forma como um homem adulto, pai, bem adaptado à vida moderna, pagador de impostos e fã de Pink Floyd vive um jogo de futebol deste nível. E este, que foi um derby com muito pouco de derby (já lá vamos), enervou-me tanto porque como todos os portistas que assistiram ao vivo aquele jogo pós-dilúvio que se disputou no Dragão há uns meses e que a meio da segunda parte da partida de hoje começou a pensar: “Queres ver que ainda vamos empatar outra vez a zero com este monte de gajos que ainda ano passado jogavam na terceira divisão da Liga do São José da Pila Murcha?!”. Foi por pouco e a culpa teria sido nossa. Vamos às notas:

(+) Ruben Neves. Perfeito no passe, duro nas bolas divididas e agressivo quando foi preciso. O trabalho de Ruben foi mais fino, mais elegante e bem mais eficaz que o que habitualmente pauta os desempenhos de Casemiro e apesar de não se ter destacado por nenhum lance individual, foi na forma pausada e inteligente com que rodou continuamente a bola entre os colegas, com passes laterais quando necessário e verticais com alguma audácia, que marcou a diferença em relação aos outros dois rapazes do meio-campo, pelo menos até à entrada de Evandro. Grande jogo.

(+) Tello. Se a entrada de Brahimi foi boa apesar de se ter perdido aqui e ali nas fintinhas do costume, a de Tello teve mais impacto. Hoje lutaste, minha motinha estuporada! Hoje, nos trinta e tal minutos que estiveste em campo, deste o litro todo pela causa e não te alheaste das bolas, não fugiste de nada e foste sempre até ao fim para tentar cruzar a bola para um colega e finalmente conseguiste! O mérito também é teu, carago, porque o Jackson ainda está a perceber onde bateu a bola antes de entrar mas se não fosses tu, a vitória podia ter fugido. Hoje lutaste, rapaz, por ti e por todos. Finalmente!

(+) Marcano. Continuo a dizer que gosto deste rapaz porque é rijo e tem aquela mentalidade “no-nonsense” que tanto gosto de ver num defesa central. Sim, eu sou da velha guarda e acho que centrais à David Luiz (ou o que quer que o Sergio Ramos seja, esse parvalhão) prejudicam mais a equipa do que a beneficiam e prefiro ver um gajo que não tem problemas em mandar a bola para a última fila de cadeiras em vez de ficar a brincar com ela como o seu colega do lado insiste em fazer jogo após enervante jogo. Simples, prático, bom toque de bola aplicado quando deve ser. Like.

(+) José Ángel, pela profundidade no ataque. Subiu impecavelmente pela linha e ajudou imenso quer Quaresma quer Hernani…quer Tello pela quantidade de vezes que apareceu em apoio ao extremo. Pecou um pouco pela falta de agressividade defensiva perante Uchebo, que usou quase sempre bem o corpo para o tirar da frente…e Ángel deixou. Não pode, nem que faça falta, o que aconteceu poucas vezes. Ainda assim um jogo muito positivo para o suplente de Alex Sandro, que se arrisca a ser titular para o próximo ano. Leram aqui pela primeira vez, não se esqueçam.

(-) Herrera O que é que eu te posso dizer que tu já não saibas, meu imbecil. Perdoa-me por falar assim contigo mas é o mais eufemístico dos nomes que te posso chamar hoje. É que não parecias estar em campo. Alheavas-te da bola e do terreno com uma facilidade tremenda, falhavas passes como o Maicon, tremias perante a pressão de um qualquer Idris (que nem Elba é, caramba!) e fugias do jogo como um ratinho amedrontado depois de sair do esgoto numa grande cidade. Foste fraco, Hector, foste o Herrera do ano passado e esse moço não tem lugar neste FC Porto. Mas tu tens e eu sei que tens, por isso vai dormir descansado que amanhã é outro dia. E não voltes a jogar como hoje, por favor.

(-) Muita posse de bola, pouco perigo. Cento e quarenta por cento de posse de bola. Contei eu, não é engano. Ou pelo menos foi a imagem que me ficou do jogo, depois de oitenta e tal minutos em que o Boavista saiu daquela zona do Petit (afinal era ali que o rapaz trabalhava) aí umas duas ou três vezes, bem contadas. E o que fizemos nós durante esses oitenta minutos? Pouco, muito pouco. Sim, as trocas de bola foram decentes e o jogo foi completamente dominado. Mas criámos pouco perigo, excessivamente pouco perigo, de tal forma que os próprios jogadores se começaram a enervar em crescendo e só o golo de Jackson ajudou a acalmar o povo. Há que ser mais incisivo na criação de lances de perigo para as balizas contrárias, mesmo que tenham emparedado as mesmas.

(-) Derby só em nome, por agora. Este não é o Boavista. “Isto” não é o Boavista. Por muito que tenhamos estado tempo demais a tentar desatar aquele nó górdio (sem piadinhas aos Silvas, o Elpídio e o Ricardo, bons espécimens de pançudos que por lá passaram) do Bessa, a verdade é que não houve alma nem saber nem grande capacidade para nos fazer frente ou pelo menos para mostrar que queriam mais que uma merdice dum ponto contra o FC Porto. Um derby não é isto, Petit, um derby joga-se como tu jogavas, de presas e pitões afiados, a querer ganhar mais que o outro sem medo do que possa acontecer se não conseguirem. É que se queres ser um treinador de merda como o homem que sempre mostraste ser perante nós, vais pelo bom caminho para te juntares aos Ulisses e Motas desta vida. E já agora, nem meia-dúzia de picardias entre os jogadores para amostra. Afonso Figueiredo, o novo Briguel, ainda tentou, mas ninguém lhe deu troco. Já não se fazem derbies da Invicta como antigamente, carago.


Mais três pontos num relvado difícil (literalmente) mas acima de tudo a confirmação que a equipa não desiste até conseguir o objectivo. Pode demorar tempo suficiente para mandar pavimentar a Índia de ponta a ponta, mas não desiste. O que já não é nada mau.

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Ouve lá ó Mister – Boavista

Señor Lopetegui,

Saudades, caríssimo, saudades de visitar aquele estádio onde já tive um arraial de emoções tão grande que a minha juventude passou por tudo. Alegria, nervosismo, medo, prisão de ventre, soltura…se fizer número na tradicional panóplia do sentimento humano, já passei por isso no Bessa. E garanto que não fui lá mais que meia-dúzia de vezes, mas houve sempre tanto para contar que enchia aqui umas páginas e tu tinhas uma manhã chatita a ler sobre as minhas desventuras em vez de estares a mentalizar o Herrera que não deve deixar parar o cérebro depois de receber a bola nos pés. E hoje vai ser bem necessário enfiares alguns conceitos na mona do nosso povo, porque os rapazes devem estar desmoralizados…senão repara:

  • Danilo, Alex Sandro, Casemiro estão de fora, castigados num jogo em que três dos nossos jogadores levaram amarelo. Guess who? Yup, eles.
  • Óliver re-estourou o ombro na Suíça e fica de fora mais dias do que devia. Devia ficar zero. Fica muitos.
  • É um derby e os gajos vão estar motivados para ver se nos lixam mais dois ou três pontos.
  • O Benfica ganhou o jogo esta semana com mais uma bela arbitragem.
  • Vão jogar num relvado sintético, que é giro para amigos aos sábados de manhã mas não é nada agradável para jogar à bola em condições.
  • O outro treinador é um dos mais feios da Liga e gosta tanto do FC Porto como o Rui Santos. Talvez menos.

Ou seja, está tudo contra nós. Se tudo correr mal, o Tello vai andar atrás da bola a pinchar como louca, o Quaresma vai levar uma ou oito charutadas nos primeiros 10 minutos e não vai resistir a dar uma de volta, o Jackson vai ser ensanduichado tantas vezes que vai mudar o nome para Jackson Mortadelinez, o Ruben vai ficar com as coxas em sangue depois de se raspar pela enésima vez à procura de cortar mais uma bola dividida no meio-campo e o resto…sei lá, Julen, só sei que não tenho um feeling muito bom para o jogo de hoje.

Apostaria numa equipa de combate, eu que sou medroso. Defesa com Ricardo, Indi, Maicon e Marcano. Meio-campo com Ruben, Herrera e Evandro, ataque com Brahimi, Quaresma e Aboubakar. Deixar os gajos cansados, dar a estocada nas alturas certas e esperar que comecem a stickar o nosso pobo. E depois…aplaudir os adeptos visitantes e sair pelo túnel, satisfeitos por um trabalho bem feito.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Guimarães

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Eu bem digo que estes jogos contra o Guimarães têm qualquer coisa de diferente. Seja pela corja que aparece a invadir as nossas bancadas ou pela feroz sub-competição no relvado em que uns se tentam ultrapassar aos outros com tudo o que arranjam ao alcance e que possa servir como aríete para mandar abaixo mais um adversário, a verdade é que estes jogos tem aquele “it” que faz com que o estádio pareça outro, mesmo a uma sexta-feira à noite. E hoje tivemos um FC Porto dominador na primeira parte e trapalhão na segunda, com a única constante a ser a interminável quantidade de golos falhados que deixaram o povo à beira de um ataquinho. E uso o diminutivo porque raramente houve perigo para a nossa baliza…mas se tivesse havido qualquer azar, estaríamos agora a lamentar todas as oportunidades desperdiçadas. Enfim. A notas:

(+) Jackson. Dizia-me o meu colega do lado: “este gajo deixou de ser apenas um poacher e agora é um avançado completo”. Metáforas Footballmanagerianas aparte, tem toda a razão. Jackson tem os timings certos para a libertação da bola, um controlo do seu espaço e do espaço dos outros acima da média, excelente noção de passe e desmarcação e ajuda mais a equipa que se lá puséssemos doze Aboubakares. Estarei talvez a ser um pouco injusto para com o camaronês, mas é impossível que pense sequer em roubar a titularidade a Jackson enquanto o colombiano se mantiver a este nível. Mesmo sem golos.

(+) Marcano. Firme, seguro na defesa, prático e assertivo. Sem problemas em mandar a bola para longe e até a subir um pouco com a bola controlada. Nunca será um central genial mas é daqueles tipos que dá sempre jeito ter no plantel porque é certinho e inventa pouco. Terá roubado o lugar a Indi devido a estas características? Só Lopetegui pode responder.

(+) Casemiro. O saco de porrada preferido dos rapazes da terra do Afonso, esteve bem em todos os lances em que se viu envolvido e só não conseguiu fazer mais porque estava a ser tantas vezes calcado e pontapeado que pouco havia mais para fazer senão cair e queixar-se. Já deu muitas este ano mas ao longo de vários jogos e hoje foi um homem sacrificado mas nunca deixou de colocar o corpo e os tornozelos em prol da equipa.

(-) Tanto golo desperdiçado…outra vez. No jogo contra o Paços escrevi: “Aos vinte minutos, o meu colega do lado abriu a mão em cima da minha perna. Sem tocar, acalmem-se. Apenas quis mostrar com aquele gesto que já tínhamos suficientes oportunidades falhadas para que o resultado que acabou por ser o final já o pudesse ser por aquela altura.“. Mais um jogo, mais uma lista de lances que entram direitinho para o livro ilustrado que se transformou esta temporada de 2014/2015 em relação ao desperdício na frente de ataque. Hoje, com a ajuda de Assis (mas é possível apanharmos um guarda-redes pateiro do outro lado nalgum jogo este ano?! Vamos andar a pagar o karma da exibição do Helton em Braga até quando, meu Deus?!) mas acima de tudo com a inépcia de tantos nomes que até custa iterar por eles. Jackson, Danilo, Óliver, Herrera, Maicon ou Hernâni, todos eles falharam golos que podiam ter custado caro. E tantas oportunidades criadas para apenas um golo lá dentro e um sofrimento tramado na segunda parte é uma infelicidade que começa a ser difícil de aguentar.

(-) A segunda parte, especialmente depois da primeira. Uma primeira parte interessante, intensa, com bom entrosamento entre sectores, mais de 70% de posse de bola, (apenas) um golo e futebol agradável. Começa a segunda e eis que volta o FC Porto ausente, indolente, a pensar que tudo está resolvido e que diabo, são só 45 minutinhos que não custam nada a passar. Não é? Não, não é. E já aconteceu em várias ocasiões este ano vermos a equipa lentamente a desagregar-se após uma ou duas falhas que servem como catalisador da desunião da equipa e a partir das quais raramente se consegue juntar o Humpty-Dumpty com todas as suas peças. Desligando a cabeça, as pernas logo se seguem e o caldo está entornado já já a seguir. Quaresma, que vinha a fazer um jogo medíocre, ainda conseguiu piorar; Herrera cortou a energia para os hidráulicos e acabou-se bem antes dos 65 minutos que esteve em campo; Óliver não acertava a movimentação no terreno, Alex Sandro começou a facilitar, Danilo deixou de subir, Brahimi desapareceu do jogo e Jackson teve, mais uma vez, de recuar para trás da linha do meio-campo. É um caso de estudo, sem dúvida, a forma como a equipa se começa a encolher quando os adversários são mais físicos e mais agressivos sobre a bola, especialmente em jogos disputados antes de outros desafios importantes. Ou talvez não seja assim tão complicado de perceber. De qualquer forma, somem um árbitro permissivo para com o adversário (a sério, caríssimo, não acha que pelo menos o Cafú e o Bernard deviam estar já de banho tomado e fato vestido quando apitasse para o final do jogo?) e um jogo importante a meio da próxima semana e temos aí uma receita para um potencial desastre. Outra vez.

(-) Lances de treino técnico muito mal trabalhados. Cruzamentos. Pontapés de canto. Lançamentos laterais. Há no FC Porto uma espécie de desaprendizagem tremenda em tantos lances que exigem dos jogadores treino contínuo, que parecem fazer com que um rapaz que até tem talento comece a parecer um João Pereira quando pega na bola e segue pela linha pronto a cruzar uma bola para o avançado que a espera ansiosamente na área. O talento não se treina: estes lances sim. E se do ano passado para este crescemos em termos de talento individual (a prova está nas estupendas mudanças de flanco de Óliver ou Ruben Neves ou no controlo de bola de Brahimi ou Quaresma, para dar breves exemplos), continuamos a falhar nestes pormaiores que por vezes dão vitórias que não se conseguem de outra forma. Modo demagógico ligado: mas ninguém treina isto!?

(-) Vitória Lenhadores Clube. Eu sei que o Casemiro não é nenhum anjo, longe disso. Oferece, completamente grátis, a sua quota parte de pancada em todos os jogos e é imprudente nos lances que disputa. Mas quando enfrenta uma equipa que fazem Casemiro parecer um Tello, não há grande hipótese de brilhar, nem a esse nem a nenhum nível. E hoje vimos uma equipa de malta cheia de fibra, na flor da juventude e com sangue na guelra suficiente para encher sete aquários. Ou, se quiserem ver as coisas sem lirismos, foi uma horda huna que pôs as putas das patas no relvado do Dragão e que desatou a pontapear tudo que via à primeira oportunidade que conseguiu. E conseguiu tantas e tantas vezes, com total compreensão do árbitro que deu amarelo a tudo que era portista e que fazia uma ou outra falta (bem menos duras, ainda que posicionalmente diferentes) mas abdicou dos vermelhos para Cafú ou Bernard…ou Bouba ou “gajo-aleatório-de-cinza-e-preto” porque coiso. Assim vale a pena ir jogar a um estádio bonito. E faltou André^2, que devia estar com as mãos firmes num comando de Playstation a comandar os substitutos. Repito: é fácil parar o FC Porto à força. Não devia ser era permitido fazê-lo fora da lei.


O primeiro de seis jogos tramados já lá vai e três pontos já cá estão. Segue-se o Boavista no Bessa. Boy, does this bring back the memories…

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