Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Moreirense

foto retirada de desporto.sapo.pt

Sentado nas escadas ainda fora do Dragão, descascava mais uma das maravilhosas castanhas assadas que prometi comprar da próxima vez que o FC Porto jogasse em casa e ia pensando no jogo que estava a uma hora de começar. É raro haver bons jogos depois de uma jornada de Champions, seja contra que equipa fôr, mas ainda costumam ser mais fraquinhos quando encontramos este tipo de pseudo-muros que de vez em quando (mais vez que quando) aparecem no nosso estádio. E o argumento é sempre o mesmo para começar: equipa recolhida, a defender nos primeiros trinta metros do seu campo, com o FC Porto habitualmente lento a construir e ainda mais lento a concretizar. Não esperava tantas dificuldades mas há que admitir que fizemos por isso. Pouca imaginação, ainda menos capacidade de rotação de bola no meio-campo contrário com domínios de bola imperfeitos, muitos passes falhados e um tremendo receio de chutar a bola à baliza. Valeu Jackson, dos poucos que teve uma exibição acima da média. Notas abaixo:

(+) Otamendi Recebi um sms depois do jogo de Paris de um amigo que me dizia:”eh pá, o Zlatan é bom mas o Otamendi, ui”. E hoje, o “ui” era merecido mais uma vez. Apesar do aparente paradoxo mental que é afirmar que um defesa central foi o melhor jogador do FC Porto contra o Moreirense, a verdade é que Otamendi esteve perfeito em quase tudo que fez e não falhou uma única vez nas intercepções, cortes, disputas de bolas aéreas, posicionamentos defensivos e até quando levava a bola para a frente. É o nosso primeiro avançado, este rapaz, e está a atravessar a melhor fase desde que cá chegou no Verão de 2010. Perfeito, perfeito.

(+) Jackson Mereceu o golo que marcou e já merecia ter marcado pelo menos mais um antes dele. Vendo Jackson a jogar ao lado de Kleber é a melhor forma de perceber que o brasileiro não tem qualquer hipótese de roubar o lugar ao colombiano e que é exactamente por isso que nunca será uma opção válida neste plantel, pelo menos a jogar como tem feito. Jackson posiciona-se muito bem perante os centrais mas é o que faz quando lhes ganha a bola que faz dele um elemento fundamental no ataque do FC Porto com três homens. Recolhe a bola, cria espaço, desiquilibra a zona central e roda a bola para o colega melhor colocado na ala. Pode ser mais lento a executar do que os adeptos gostavam, mas é um excelente avançado não só pelo que faz mas também pelo que ajuda os outros a fazer.

(+) Defour É lutador como poucos, este belga. Se somarmos a capacidade de luta a uma noção táctica de cobertura de espaços bastante inteligente, temos um jogador “de plantel” muito importante que está a ser bem aproveitado a trinco. É verdade que tapa bem melhor os espaços à sua frente, deixados pelas subidas de Moutinho e Lucho, do que quando é obrigado a descair para as laterais para tapar as ausências dos laterais, (que Fernando faz muito melhor), mas a facilidade de rodar a bola para o colega melhor colocado é muito útil para jogos em que precisamos de uma rotação mais elevada nos motores. “Prático”, talvez seja a melhor palavra que o descreve.

(-) O meio-campo criativo Lucho, Moutinho e James não funcionaram bem hoje à noite. Já tinha falado nisto aqui há uns meses (“Mas, e há sempre um “mas”, o que vai acontecer quando as coisas correrem mal? Assim mal, mesmo mal? Quando não sair um passe em condições porque ficam muito curtos ou longos demais, ou quando o relvado fôr difícil de combater ou o adversário rijo demais para contornar ou ultrapassar? Quando passar um jogo inteiro a procurar espaços na armadura contrária sem os descobrir? Quando o ponta-de-lança disser alhos quando o prato do dia eram bugalhos?“) mas o problema fica mais bicudo quando nenhum dos três criativos consegue fazer melhor que o meio-campo adversário. Os espaços não apareciam também porque as movimentações eram feitas de uma forma muito aberta, com as linhas muito espaçadas, distâncias impossíveis de percorrer com a bola e pouca facilidade de rodar a bola entre os três, ainda que Defour, Danilo e Varela tenham tentado integrar-se na construção ofensiva com graus variados de produtividade, que vão do “Mariano González de directa” ao “Mandla Zwane com três prozacs no bucho”. Nada saía bem e o jogo tornou-se mais directo sem grandes resultados, especialmente na primeira parte. Melhorou na segunda parte com a entrada de Kelvin e a subida de Alex Sandro, mas raramente houve jogadas inteligentes de início a fim.

(-) Podemos substituir os cantos por lançamentos laterais? É verdade que um deles deu golo, dou essa de barato. Mas aproveitar um em DEZASSETE cantos é um rácio baixo para qualquer standard que queiram aplicar. E se formos a analisar os lances que nos dão estes números, podemos facilmente perceber que os cantos nem sequer originam situações de perigo com remates à baliza. A maior parte são interceptados ao primeiro poste ou a bola é enviada com uma trajectória tão pouco tensa que só um guarda-redes anão com problemas nas vistinhas seria incapaz de lhe chegar com facilidade. É frustrante perceber que um canto traz em teoria menos perigo para um adversário do FC Porto que um cruzamento do meio-campo e é algo que não entendo como ainda não conseguimos melhorar nesse aspecto.


Nem todos os jogos podem ser grandiosos, com golos brilhantes e lances geniais. Às vezes temos mesmo de pegar no martelo e cascar em cima do adversário mesmo que não nos sintamos inspirados o suficiente para moer a defesa como o proverbial rolo compressor. E é destes jogos que os campeonatos são feitos, em que as coisas nem sempre correm bem mas que terminamos com os três pontos no saco. Mas é triste que haja tantos destes jogos que parecem ser orientados para fazer os adeptos sofrer, em que nada corre bem e se vê que alguns jogadores não conseguem dar a volta à falta de criatividade pontual com algum lampejo de génio que faça com que a bola entre na baliza mais facilmente. Enfim, foi um pobre jogo para terminar 2012 no Dragão.

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Ouve lá ó Mister – Moreirense


Amigo Vítor,

O FC Porto não vence um jogo desde 25 de Novembro de 2012. Já quase não nos lembramos dessa longínqua data, meu amigo, e o mundo mudou tanto desde essa altura. Os ingleses não tinham um parto a esperar em Junho de 2013, o Vale e Azevedo ainda não queria entrar na indústria da organização de eventos, o Sporting ainda não tinha uma vitória na Europa e ninguém falhava de “falhas individuais que afinal não existem porque quando um falha, falham todos”. Era um mundo mais puro, pacato, tranquilo, onde olhávamos para o horizonte com sorrisos abertos enquanto o céu estava azul e o sol brilhava numa alegre manhã de Outono. E hoje, ao que parece, há um cenário pós-apocalíptico surge ao longe em platinado cinzento, feio, feio, Vitor, tão feio. E cabe-te inverter a maré das evoluções dos vómitos anti-portistas e trazer de novo o facho para o nosso lado. Hoje é o dia para o fazeres.

Gostei que tivesses convocado o Kelvin e o Iturbe. É verdade que lhes tens dado poucas oportunidades mas também é verdade que concordo que ainda estão verdinhos. Mas tendo em conta que o Varela teve um mau jogo em Paris e que o Atsu tem tido jogos abaixo do nível dele, que tal experimentares o Juanito a titular? Não sei se concordas, mas parece-me uma partida adequada para o rapaz ir ganhando terreno. Ainda tens os jogos todos da Taça da Liga e quer-me parecer que o vais usar aí, mas fica a minha ideia. De resto, aposta nos onze mais fortes. O povo que vai estar no Dragão quer ver bom futebol, golos e pouca emoção no resultado a não ser tentar calcular quando é que vem o próximo na baliza deles.

Não esperamos nada mais que isto: onze gajos de azul-e-branco que olhem para o adversário a preto-e-branco. São gajos a jogar de xadrez. É para destruir, como se fosse um derby.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – SC Braga 0 vs 2 FC Porto

foto retirada de publico.pt

Aparentemente, tivemos sorte. O golo de James apareceu vindo do nada, quando quase todos os portistas já estavam a contar com dois pontinhos perdidos e lamentados, porque tínhamos feito o suficiente para os sacar, mais o do empate. Mas o Braga esteve bem, altivo, pressionante e mostrou que é um clube grande. Mas tivemos sorte, é verdade. O remate de James bateu num dos melhores jogadores em campo e Jackson aproveitou bem a falha do Salino (que poético ter acontecido a um homem que já não devia estar em campo, várias foram as patadas que Xistra, como de costume, ignorou). Foi sorte. Até houve um penalti contra nós que não foi marcado (e devia). Foi muita sorte. E também foi sorte, mas para o Braga, não termos enfiado logo duas pazadas à Dona Brites mesmo nas nalgas dos de Braga logo no início do jogo. E também foi sorte para o Braga terem ficado com onze gajos em campo durante todo o jogo. Mas a sorte, aquela que dá frutos, também se trabalha. E o jogo foi rijo, bem disputado, com (ou contra?) um árbitro que tomou muitas decisões no mínimo não-salomónicas e com um adversário que deu a luta esperada e caiu quando já não merecia. Tivemos sorte. Fizemos por isso. Vamos a notas:

 

(+) Otamendi e Mangala Não gosto de ver Otamendi a jogar do lado direito da defesa, acho-o lento demais para compensar as ausências de Danilo e prefiro vê-lo do outro lado. Mas hoje, para me contrariar, esteve impecável na intercepção e continua a saber pegar na bola e arrastar o jogo para a frente pela relva. Serve como ponto de contacto com o meio-campo (Fernando e/ou Moutinho) e é o homem com cabeça mais tranquila na nossa zona defensiva. Vou repetir: é o homem com cabeça mais tranquila lá atrás. É estranho dizer isto, mas é a verdade. E ao lado dele, a aproveitar o pé esquerdo para jogar nessa mesma zona, Mangala. Mangalhador. Mangaleiro. Mangalão. Excelente na antecipação, no corte rápido pelo chão e pelo ar, está muito melhor no posicionamento e acima de tudo na agressividade, que temi pudesse ultrapassar o seu talento. Nada disso, pelo menos por agora. Maicon vai ter trabalho a meter-se entre estes dois…

(+) Helton Nas alturas certas, nos momentos adequados, qualquer bola que veio na direcção da nossa baliza foi interceptada pelas luvas de Helton, que salvou tudo o que tinha a salvar. Pelo ar, pelo chão, fora da baliza, em cima da linha de baliza, quase dentro da baliza (!), Helton esteve em todo o lado e mais uma vez foi o guarda-redes que o FC Porto precisava num tipo de jogo que é tão importante ter um guarda-redes que possa safar eventuais falhas dos defesas. Helton hoje defendeu tudo. Nada mais há a dizer.

(+) Os golos de James e Jackson Um orgasmo, foi o que foi. Porque é nestas alturas, em que o jogo que está empatado a zero está a entrar nos “golden years” e a luz já se começa a ver ao fundo, quando os suplentes já entram depois de aquecerem tempo demais e só servem para queimar tempo…e nestas mesmas alturas, quando um puto colombiano com primeiro nome inglês se lembra de mandar um tiraço à entrada da área e faz um rapaz exultar num apartamento bem longe de Braga. E o golo de Jackson, curiosamente outro colombiano com primeiro nome inglês, pôs-me a saltar e a ganir para o ar em festejos enormes, exactamente por ter feito o contrário do que tinha vindo a fazer até aí: mudou de direcção e rematou em vez de continuar a correr no mesmo sentido. Excelente.

 

(-) A definição de loucura Einstein disse que a definição de loucura é tentar fazer a mesma coisa vezes consecutivas e esperar resultados diferentes. E tomemos como exemplo as atitudes de Atsu e Jackson durante o jogo, em que tentaram passar por Salino e Douglão respectivamente, usando sempre as mesmas artimanhas que não tiveram grande arte e quase nenhuma manha. Tanto um como outro simbolizaram os principais problemas do FC Porto neste jogo e em vários outros que não conseguiu ter a capacidade física e mental para furar as barreiras adversárias de uma forma individual. E temi que voltássemos a esse paradigma da arrogância ali em alguns momentos durante o jogo porque vi alguma atrapalhação e demasiadas bolas perdidas. Há que continuar a manter os jogadores focados no jogo de equipa e abdicar de jogadas individuais quando não há condições de sucesso provável.

(-) Xistra Já cá faltavas, Carlos. Uma arbitragem absurda, com inúmeras decisões a serem tomadas em sentido contrário perante situações idênticas, que só serve para enervar os jogadores e para confirmar que até pode ser bom rapaz, mas como árbitro é uma nódoa. O penalty até acaba por ser dos lances mais perdoáveis porque é quase impossível de ver sem ser em câmara lenta (mas não tragam a merda das novas tecnologias, Deus me perdoe se eu não estou de acordo com o Rui Santos…), mas veja-se o caso do final da primeira parte, em que depois de Alan ter tentado pregar o pé de Varela à relva, elevando o banco portista em protestos e queimando-se ali pelo menos 40 ou 50 segundos, Xistra decide não só não dar amarelo ao pseudo-Predator, mas permitir que Moutinho coloque a bola no local para marcar o livre…e mandar toda a gente para o balneário. Ismaily mas principalmente Salino e Alan, abusaram de belos momentos de pancada durante o jogo todo e Salino então com várias entradas a pé juntos, acabou por levar amarelo…aos 87 minutos. Xistra consegue reunir consenso entre quase todos os adeptos: é mau para todos.


A primeira (e mais importante) barreira de Braga está ultrapassada e um dos jogos mais difíceis de todo o campeonato foi ganho com todo o mérito, contra onze fulanos de vermelho e um de amarelo. Custou-me ver o jogo todo e recebi várias repreensões da zona do sofá no meu lado direito onde a benfiquista residente assistia ao jogo. Aparentemente o vernáculo que saía da minha boca era um tanto ou quanto exagerado para um Domingo à noite, ainda mais com o Natal tão próximo: “A culpa é daquele filho da puta!”, e percebia o que estava a fazer. Não quis saber. E garanto que não houve vernáculo em nenhuma das bolas que entraram na baliza do Beto, só um grito de “GOLO!” como que a reproduzir o que um amigo me enviava por SMS. Soube bem. Sabe sempre bem.

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Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Vai ser um jogo fodido. Tu sabes disso, eu sei disso, toda a gente sabe que vai ser um jogo fodido. O Braga pode ter perdido o jogo com o Cluj e até pode ter sido enrolado como massa de pizza e atirado para um forno de lenha de Alvalade…e antes de te rires, pensa que perderam lá o jogo, onde tantos outros clubezecos foram sacar pontos. Mas estes cabrõezinhos, para lá do Benfica, são os únicos que me metem algum medo neste campeonato. Não muito, mas o suficiente para ter um cuidado extra quando lá vamos jogar, e continuo a afirmar que este é um dos jogos mais difíceis do ano. Por isso vamos lá ter cuidado com estes rapazes e passar à acção quando fôr preciso.

Há dois ou três pontos que acho que tens de salvaguardar para podermos ganhar o jogo e já sabes que podes ouvir o que te digo ou não. Mas aconselho que o faças porque eu até sei o que digo, ou pelo menos é o que as vozes na minha cabeça me dizem, sempre com aquele ar angelical que parecem jovens belgas a cantar em coros de igreja todos vestidos de branco. Ou desfiles da Victoria’s Secret com as putas das asinhas cheias de pena. Pena não tinha eu delas, cambada de galdérias. Estávamos a falar de quê? Ah, sim, o Braga. Dois ou três pontos. Três, vá, para ficar redondo e poderes fazer aquela subida de tom no “dois”. Ora então vamos a isso.

Primeiro: O titular do lado esquerdo da defesa deve continuar a ser o Mangala. O Mangalho. O Mangalhão. E para além de lhe chamares isso, deves mandá-lo dar uma ou duas charutadas no Alan logo no início do jogo para o Predator saber quem é que manda nesta merda. Mangalha-o.

Segundo: Do meio-campo para a frente, sou sincero contigo e por muito que goste do Defour, por mim entrava o Fernando. É um jogo em que vamos precisar de mais força no meio-campo e com cretinos como o Custódio e o Ruben Amorim (para lá do Ruben Micael, que se levar dois encostos vai parar ao Sameiro), o Moutinho vai precisar de ter as costas quentes e o Lucho de ter uma sombra ali perto. Quero o Polvo em campo.

Terceiro: Convence os jogadores que o jogo vai ser difícil, que não se deixem iludir pelo “mau trajecto recente” ou pelas piadas do anormal do cabelo louro lá de baixo e passem a acreditar na sorte. Porque a sorte, como disseste, constrói-se com suor e trabalho. E é isso que tens de lhes espetar nas cabecinhas.

Ganha, Vitor. Make me happy, dude.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Académica

foto retirada do MaisFutebol

A tarde estava fria na Invicta. Nos arredores do Dragão sentiam-se já os aromas das castanhas a crepitar nos fogareiros de alguns balcões ambulantes que trabalhavam para manter o carvão em brasa e aquele maravilhoso fruto a tostar, torrar, arder. E o povo perto do estádio passeava bem-disposto na praça mesmo perto das entradas, famílias com crianças a correr, com cachecóis ao pescoço e camisolas no corpo, visitavam a Loja Azul, sorriam, conversavam, confraternizavam. Um ar natalício pairava pelo ar e o jogo não fugiu muito dessa onda. Foi conseguido, não tenhamos dúvidas, mas a custo. Com dificuldades na ruptura e na criação de espaços, a equipa nunca desistiu de procurar o golo apesar da inacreditável quantidade de passes falhados que resultaram em jogadas inconsequentes. Uma vitória perante uma boa Académica que defendeu rija e atacou pouco, com um golo a cair do céu como uma prenda…lá está, natalícia. Vamos a notas:

 

(+) A calma perante a adversidade O estilo não agrada a toda a gente, como sabemos. A capacidade de controlar um jogo e manter um ritmo estável, com os compassos certos para as alturas adequadas, com acelerações pontuais que não levem a que a equipa se desfaça e se note uma desagregação táctica a níveis de um qualquer Couceiro. E admiro a forma como a equipa se tem conseguido controlar e unir como um grupo que sente que estão presos uns aos outros e ficam felizes por isso mesmo, como durante o jogo de hoje quando nada parecia correr bem na construção de lances ofensivos. Vi Moutinho a coordenar as peças no meio-campo e a falhar recepções e passes laterais; Mangala a insistir na ajuda ao ataque e a não conseguir passar da mediocridade; Danilo a tentar fintar quatro jogadores da Académica de cada vez e a forçar tabelinhas com Lucho que nunca funcionariam; Jackson a controlar a bola e a ter de recuar vinte metros com a bola para descobrir uma linha de passe no meio do centro do terreno controlado pela Académica. E não vi a equipa a partir-se ao meio pela parte fraca porque nenhum dos jogadores, os titulares e os três (muito jovens) suplentes, nenhum deles cedeu ao facilitismo do jogo ofensivo rápido e directo. Manteve-se a trocar a bola e a aplicar os princípios de jogo que o treinador lhes transmite. Gostei, para lá de ter funcionado melhor ou pior.

(+) O centro da defesa Estou a ficar impressionado com a calma de Abdoulaye perante situações de pressão. Parece que o rapaz é feito de algum tipo de aço que não verga, não enferruja, não parte. Ainda tem muito a aprender e só daqui a um bom número de jogos é que vamos poder perceber se ali está um líder a sério que possa ser um futuro patrão da nossa defesa, ou se estamos a criar ondas a mais depois de duas centenas de minutos de jogo. Já o moço argentino ao lado dele está em excelente plano, com discernimento na posse de bola e boa noção de quando deve ou não subir no terreno. E acima de tudo, temos dois centrais que não têm medo de nada nem ninguém. Ainda hoje Otamendi, quando colocado perante a oportunidade de uma bola dividida com um qualquer adversário, não hesitou em raspar as coxas na relva (como o homem gosta de entradas de carrinho, e ainda bem!) e meter os pés ao barulho. Só me dá vontade de gritar para alguns rapazes que tiram o pé com medo das lesões: “Estão a ver? Estão a ver aquele tolo?! É assim que todos deviam jogar, carago!”. Precisamos de jogadores assim, desde que joguem ao nível que têm vindo a fazer nos últimos tempos.

(+) O golo de Moutinho Palavra que pensei que a bola fosse para fora, tal foi a direcção que o remate me parecia que levava quando saiu do pé direito do João. Ele, que até então estava a fazer um jogo fraco, com muitos passes falhados, indecisão na posse e uma terrível dose de azar nas decisões binárias do passa/corre. Mas o remate foi um brilhante pedaço de futebol, um naco de inspiração pessoal que me catapultou da cadeira com os braços no ar a gritar “golo!” e a cantar a cover do La Bamba que Moutinho já sabe que toda a gente vai cantar, quer marque, quer não. Hoje mereceu-a, mas só pelo golo.

 

(-) As consistentes falhas nos passes Até compreendo que falhem alguns passes longos; que o Abdoulaye aponte para o Varela e a bola vá ter ao James ou ao Jackson; que o Moutinho tente furar pelo meio de quatro pares de pernas só para ver a última gâmbea a interceptar a pelota; ou que Danilo arranque uma tabelinha com Lucho que acabe por não funcionar porque o passe sai curto ou longo demais. Compreendo perfeitamente, desde que aconteça de uma forma pontual e não como neste jogo contra a Académica, principalmente na primeira parte. Fraquíssimo índice técnico nos passes, tremenda displicência de alguns rapazes na forma como recebiam a bola (Mangala e Danilo fartaram-se de fazer más recepções e deixaram a bola passar por eles vezes demais) e muitos “picos” na forma como arrastavam a bola para a frente. Treinos específicos, técnicos ou mentais. Ou ambos.

(-) Não matar o jogo às vezes dá cagada O golo da Académica (piu, Helton, porra, grande piu) enervou os adeptos, que temem sempre que atrás do primeiro golo vem sempre um segundo…mas a equipa não pareceu abanar. Gostei de os ver sem tremer, a jogar com calma e tranquilidade na posse de bola, mas tudo era evitável na cabeça e no coração da malta que está sentado a ver o jogo no estádio ou em casa ou no café ou seja lá onde estiver a ver o jogo. E aposto que poucos dos que estavam nas frias bancadas, quando viram o golo da Académica (piu, Helton, raios, porra, gaita, gremlins, piu, PIU!), ficaram descansados e a pensar que não haveria qualquer problema até ao final do jogo e nada mais poderia acontecer de mal à nossa equipa. Mas o principal problema é que antes, durante dez ou quinze minutos, houve várias oportunidades de matar o jogo que foram desaproveitadas uma atrás da outra e que podiam ter transformado o final do jogo num autêntico passatempo para os adeptos a tentar adivinhar quem ia entrar e para o lugar de quem. O normal, em jogos deste nível. Azar? Talvez. Mas depois do que vi este ano em Vila do Conde já não tenho certezas de nada…


jogos mais complicados que outros, mas os adversários também ajudam a que os jogos tenham esses factores de dificuldade. E a Académica hoje fez um jogo bem fechado mas não defenderam apenas em número. Fizeram-no em estrutura, com bom planeamento no posicionamento dos jogadores no meio-campo e apesar de pouco fortes no ataque, foram o adversário mais complicado que apanhámos no Dragão neste Liga. E o próximo jogo do campeonato é em Braga…

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