Ouve lá ó Mister – Genk

Señor Lopetegui,

Ora então muito bom dia e bem vindo a esta que será a sua casa nos próximos meses, a não ser que a direcção se lembre de sacar um Del Neri e o ponha na rua ao fim de umas semanas. Bem vindo a um dos melhores clubes do Mundo, que luta pelo campeonato todos os anos, que tem um estádio belíssimo e uma massa adepta exigente, a um clube que tem arrecadado troféus atrás de troféus nos últimos quarenta anos. Bienvenido.

Não estando habituado a estas lides, fica a apresentação. E fica também uma palavra de estímulo e de parabenização pelo posto que agora ocupa e que enche de inveja tantos que o vêem todas os dias com o emprego de sonho de tantos portistas espalhados por esse globo fora. Quem é que não quereria partilhar balneário com Helton e Quaresma, quem é que não gostaria de trocar umas bolas com Óliver ou Alex Sandro, quem é que não sonha todos os dias a caminho do lúgubre e enfadonho emprego (não são todos, comparados com o seu?) que mais valia estar a escolher o onze que vai jogar a próxima partida do FC Porto? É por esta e por outras que o meu amigo Julen está numa posição privilegiada para mostrar o que vale e para se abraçar todos os dias ao espelho com a auto-congratulação de quem chegou ao big-time. Mas, qual Peter Parker catalão, também sabe que com grande poder também vem grande responsabilidade. E hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, meu caro.

Ninguém espera muito destes jogos. Reformulo: as pessoas normais não esperam muito destes jogos. Nós, os pensantes, percebemos que são jogos para experimentar, para testar opções principais e alternativas, para dar aos jogadores algum entrosamento em campo e para que os treinadores percebam que tipo de matéria-prima ali têm para lá do que vêem nos treinos. Por isso venham de lá esses onzes, apareçam as jogadas, suem os corpos e trabalhem para mostrar serviço. Não lhe peço mais que isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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E começam as imbecilidades – versão 2014/2015

oh-for-fuck-sake-not-this-shit-again

Recupero um post que publiquei em Agosto de 2010, quando André Villas Boas pegava então no leme da equipa. Na altura, depois de duas derrotas no Torneio de Paris e alguns jogos menos conseguidos no resto da pré-época, uma imensa minoria de portistas insurgiu-se contra os métodos, os jogadores, as opções tácticas, a juventude do treinador, a careca de Pinto da Costa, os óculos de Antero e a tonalidade do relvado do Dragão. Aqui o tem: leiam para se recordarem.

Hoje, ao intervalo do jogo contra o Venlo, comecei a ver o reaparecimento desses abutres. Sem sequer ver o jogo para lá de um play-by-play num ou noutro site da especialidade, vi dezenas de tweets de portistas (sim, carago, de portistas, porque de adeptos de outros clubes nem se fala e nem interessa falar) a rirem-se do treinador, das contratações e das estratégias para o futuro. Houve um ou outro que disse qualquer coisa como: “Afinal o Tello não era tão bom e é para isto que veio?”. Numa palavra: patético.

Esqueçam lá essas tretas, deixem os homens trabalhar e julguem os resultados daqui a uns meses. Até lá, acompanhem a pré-época como eu tenho vindo a fazer, com um misto de excitação e desconfiança típicas de quem vê bons nomes a chegar mas não conhece o treinador que vai lidar com eles. Sigam estas fases preliminares com vontade de apoiar o clube e de incentivar jogadores e treinadores que representam as vossas cores, deixem os cinismos e os juízos antecipados de lado e tenham calma.

A seu tempo, tanto os grunhos e os racionais farão as suas análises. Com mais ou menos verborreia.

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Baías e Baronis – Emirates Cup

No final do torneio, que acabámos por quase vencer (bastava que um dos penalties tivesse entrado…), fiquei com a sensação que temos hipótese de ser uma equipa, mas ainda não para já. Já estou habituado a que o FC Porto faça pré-épocas com ritmos mais relaxados, sem excitações em demasia e a trabalhar para atingir o pico numa altura mais avançada da temporada, e esta não foi muito diferente nesse aspecto. E gostei muito de algumas coisas, muito pouco de várias outras, mas resumindo toda a competição, aproveitando para juntar o resto da pré-época num simples balanço de positivos e negativos aqui em baixo. Vamos a isso:

(+) A importância de ter um “Fernando”. Sempre que vejo o “polvo” assusto-me ao pensar que podemos vir a ficar sem ele a qualquer dia. É verdade que o meio-campo formado por Castro e Defour (em alternativa temos Josué e Herrera) em vez de qualquer um dos anteriores) poderia funcionar contra grande parte das equipas que vamos defrontar cá dentro, mas para jogos mais a sério…é uma riqueza ter um jogador do seu nível. Talvez Defour seja a opção mais válida para o substituir, ganhando em passe o que perde em força, mas Fernando prepara-se, ficando, para ser mais uma vez um jogador pivotal no plantel. Contra o Galatasaray fez muita falta na altura em que era necessário tapar o centro do terreno com o seu “sósia” Felipe Melo a fazer o que queria do nosso meio-campo. Regressou contra o Nápoles em grande.

(+) Actualmente, a defesa é o sector mais forte da equipa. Otamendi foi talvez o melhor jogador de toda a pré-época do FC Porto, mas esteve muito bem acompanhado por Alex Sandro e Mangala. Danilo alternou o génio com a indolência do costume e Fucile parece estar a melhorar (o jogo com o Nápoles foi muito bom). As alternativas que jogaram no primeiro encontro, Maicon e Abdoulaye, não fizeram má figura, e mesmo Reyes, que está ainda “encostado”, parece ter já qualidade para fazer alguns jogos. É verdade que estamos a abusar com apenas três laterais de origem, mas já sabemos que Maicon pode fazer a lateral direita (ou até Ricardo, se ficar no plantel) e Mangala a esquerda, por isso é um problema gerível e se o treinador assim optar para poder ter um plantel mais controlado em número e em opções, so be it.

(+) Qualidade técnica do plantel mais alta. Sim, é verdade que saíram James e Moutinho e o nível de qualidade perdeu uns enormes quilos ou litros ou libras ou lá qual é a unidade de “qualidade técnica” que quiserem inventar. Mas entraram Quintero, Herrera, Josué e Carlos Eduardo, todos eles médios com criatividade acima da média e talento que chegue para calçar as mesmas botas dos antigos 8 e 10 para conseguirem, a médio prazo, fazer com que a equipa consiga carburar com o seu talento próprio. Há elementos que entraram também este ano que não serão headliners no concurso mundial de talento e técnica para a bola, casos de Ricardo, Ghilas ou Licá, bem como o regresso de Fucile e Iturbe, mas que podem fazer com que a equipa volte pelo menos aos níveis de controlo e rotação de bola que teve a espaços no ano passado, especialmente fazendo com que não tenhamos problemas em olhar para o banco e possamos escolher alguém de jeito para mudar algo no ataque.

(-) Há qualidade nos reforços…mas há qualidade para jogar já? Gostei de Josué no meio, detestei-o na linha. Gostei de Quintero no meio, mas achei-o muito confiante e a proteger mal a bola. Hesito perante Kelvin e Iturbe, ambos tecnicamente bons mas indecisos nas alturas mais importantes. Ricardo está a ser testado como lateral na eventualidade de Danilo, Alex Sandro e Fucile estiveram lesionados (laterais do FC Porto: Ricardo e Mangala…pensem nisso.), Tiago Rodrigues deve ser cedido, Herrera ainda não tem ritmo e os dois que vieram do Estoril, Licá e Carlos Eduardo, parecem nervosos em demasia para serem opções imediatas. Com a saída de James e Moutinho, apostaria rapidamente em Defour no centro porque é o que tem mais experiência para poder assumir a função com o mínimo de perda para o jogo de equipa. Para o lugar de James, é mais complicado e depende do tipo de jogador que Paulo Fonseca quiser. Pessoalmente, punha as fichas em Juan Iturbe, pelo menos para começar a época. Parece-me o mais dinâmico e interessante de todos no presente momento.

(-) Bolas paradas ofensivas, não só pelos penalties. Acabámos por quase vencer este torneio, bastava que um dos penalties tivesse entrado e tínhamos ganho esta treta. A jogar devagar. Sem grandes parangonas, com o nome que levámos a Inglaterra a ser perenemente ignorado pelos bifes e outros que tais. E um único penalty marcado pelo adversário, que esteve ao nosso alcance por duas vezes, fez com que não conseguíssemos sair do Emirates com a taça na mão. É isto que tem de estar na cabeça dos jogadores quando vão marcar um penalty, seja lá quem for o marcador de serviço nesse dia. É para marcar e mais nada. Visualizar o objectivo, imaginar a bola no fundo das redes, partir para a marcação e enfiar a redondinha lá dentro. Até pode ser o Fernando a marcar, quero lá saber, tem é de ser um gajo com condições técnicas mas acima de tudo mentais. Jackson e Lucho já falharam penalties a mais. E para lá dos penalties, é preciso trabalhar os livres e os cantos, tanto na movimentação ofensiva como na própria marcação. Treino específico exige-se pronto.


Falta uma semana para começar a época…acham que estamos prontos?

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Os jogos de apresentação aos sócios e os sócios que se exaltam nos jogos de apresentação

Resultados dos últimos dez jogos de apresentação do FC Porto aos adeptos, todos eles realizados no Dragão:

 

Nalguns jogos deveria haver uma estrelinha ao lado, como no caso de 2010/2011, quando jogámos também contra o Ajax ainda antes do jogo contra a Samp, numa exibição bem mais fraca.

Conseguem tirar alguma métrica de análise deste quadro? Há uma coisa que parece mais ou menos evidente: raramente há resultados grandiosos contra equipas superiores a nós, pelo menos no papel. Houve sete vitórias, dois empates e uma derrota (provocada por maus visitantes, incapazes de perceber que a etiqueta devia ser superior aos treinos…escoceses, pá, manias de William Wallace…). Dessas sete vitórias, três foram por margens de três golos e quatro por apenas um, incluindo a deste ano. E reparem nas minhas memórias desses jogos, retiradas das crónicas escritas aqui no Porta 19. Não há emoção, festa, grandes espectáculos de futebol, dinâmicas subidas de flanco e combinações com seis, sete, vinte passes consecutivos até que o médio defensivo marque de calcanhar dentro da pequena área, todo de costas e no ar. Não há nada disso. Os jogos de apresentação são, desde há muito tempo, uma seca.

As equipas adversárias são todas estrangeiras, quase todas também em pré-época, a tentar ganhar índices físicos aceitáveis para uma época que é sempre mais longa do que se pensa, a procurar a melhor forma de encaixar com novos colegas e muitas vezes novos treinadores e novos métodos. Mudam treinadores, tácticas, cadeiras, preparadores físicos e defesas-esquerdos. Os jogos mantém-se aborrecidos e a única coisa que devia preocupar os treinadores e a direcção são as possíveis lesões ou castigos que possam surgir destas partidas, bem como a inadaptação de um ou outro jogador às ideias do treinador e à postura da equipa e de um jogador do FC Porto nessa mesma equipa.

Não queiram fazer omeletas sem que a galinha acabe de parir o ovo. Tenham calma, não se exaltem, critiquem o que devem criticar, mas façam-no jogo-a-jogo, não exacerbando a parvoíce como já vi em muito blog durante todo o dia de ontem, porque estamos tramados e porque não houve evolução desde o ano passado e a merda é a mesma e as comissões e os empresários e falta um jogador para a frente que faça a diferença e yadda yadda yadda.

A procissão ainda nem sequer está no…raios, o padre ainda está no trânsito, amigos!

PS: já agora, se quiserem consultar as crónicas:

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 0 Olympique Lyonnais

foto gamada do MaisFutebol

Ah, o Dragão. É sempre uma alegria voltar ao nosso estádio, numa tarde solarenga que rapidamente se transformou num início de noite morrinhado. Que é como quem diz, o meu azar de há tantos anos que diz é mais provável que chova em dia de jogo do FC Porto em casa que Portugal ganhar uma medalha de ouro nos Olímpicos mantém-se estóico. Enfim, fui de camisola vestida, peito em riste e pronto para o arranque de uma nova temporada. E não gostei muito do que vi porque estava à espera de mais. Mais fio de jogo, mais criatividade, mais rotação no meio-campo, mais empenho, mais garra. Foi o último jogo da pré-época e nesta altura pensei que a equipa já tivesse um rendimento mais alto e que conseguisse ser, no fundo, uma equipa. Vi pouca evolução desde o final da época passada e nem tudo é desculpável pelas ausências de vários elementos. Mas não quero começar a tirar conclusões precipitadas porque ainda é cedo e a época só começa para a próxima semana…mas ainda não tenho confiança naqueles rapazes. Vamos a notas:

 

(+) Atsu O que mais me impressionou no puto é que afinal estava enganado: sabe jogar devagar. Sabe pensar o jogo, perceber quando é a melhor altura para subir e atacar o defesa e quando deve parar, esperar pelo lateral ou rodar para o meio. Teve algumas iniciativas individuais que mostram que tem tudo para lutar pela titularidade na ala esquerda porque ganha a Varela em velocidade, a Iturbe pela calma e a Kelvin no sentido prático. Só não ganha a James porque o colombiano nunca iria fazer o que Atsu faz e vice-versa, mas é um candidato a aplausos constantes dos adeptos. Que continue assim.

(+) Fernando Se Fernando sai do FC Porto até ao final de Agosto, estamos bem tramados. Não há nenhum elemento com as suas características no plantel, com a disponibilidade física para pressionar alto (até ao lado do ponta-de-lança o vi a correr hoje) mas acima de tudo com a inteligência táctica para cobrir a lentidão de Lucho a tapar o flanco direito da defesa que vai dar pano para várias fardas militares este ano. Fernando é único e continuo a acreditar que se soubesse sair da posição dele com a bola controlada e fosse mais perfeito nos passes verticais, já estava a jogar em Inglaterra há que tempos. Fica, rapaz, pelo menos mais um ano, caso contrário lá vamos nós ter de virar o triângulo ao contrário em permanência em vez de transitoriamente em alturas difíceis durante o jogo…

 

(-) Ritmo Quem acompanhou minimamente a última temporada do nosso clube, e creio que todos os que lêem o que escrevo o fizeram, sabe que o FC Porto de Vitor Pereira não é uma equipa que se possa considerar rápida. Longe disso. Mas a intensidade que colocámos hoje em campo frente ao Lyon foi baixa demais para o nível que se pretende. Não acredito que o próprio Vitor Pereira se reveja na velocidade de troca de bola, na incapacidade de criação de lances em cima da área do adversário e na quase impossibilidade de ver um normal desdobramento para acções ofensivas que demore menos de vinte ou trinta segundos a ser efectuado. Compreendo que se queira manter a posse de bola, alternando o toque curto com alguns passes laterais longos pelo ar, mas é cansativo ver uma equipa que, ao fazer isso mesmo, não progrida no terreno. Teremos de ser mais rápidos, mais assertivos na imposição de um ritmo de jogo que crie espaços nas defesas adversárias, sob pena de termos bola sem fazer nada com ela.

(-) Passes e rotação do meio-campo Ora voltamos ao mesmo: o toque de bola dos jogadores do FC Porto está novamente a assemelhar-se ao de três guaxinins alcoolizados a pontapear tijolos esféricos. Há vários jogadores que têm técnica individual de meter inveja a milhares de jogadores por esse mundo fora, mas que incorporam o espírito de Mariano sempre que a bola chega perto dos pés e não se conseguem desenrascar com um simples passe-e-corta pelo relvado. A somar a isso temos a fraquíssima rotação do meio-campo quando é necessário criar linhas de passe a partir da defesa. Fernando recua para vir buscar jogo, Defour roda sozinho a tentar encontrar a saída do poço do inferno e Lucho passeia em campo, lento, arrastado, com boa visão mas fracas pernas. Vi várias vezes Otamendi a sair com a bola controlada ou Maicon a virar o flanco com passes de quarenta metros simplesmente porque não havia ninguém a quem pudesse colocar a bola em segurança. Ou correm todos…ou não há produtividade.

Foi bom voltar ao Dragão. Foi bom rever a malta, sentar-me na minha cadeira e apreciar a vista do interior de um dos mais bonitos estádios do mundo. O jogo não foi bom. O jogo foi mau. E a equipa que vai entrar em campo em Aveiro daqui a uma semana tem de apresentar um nível de futebol muito superior ao que vimos hoje porque tudo ainda parece muito insípido, muito fraco, muito…pouco. Passei mais de metade do jogo a desculpar-me mentalmente com o facto de ainda estarmos em pré-época, com as ausências e os fracos índices físicos. No próximo jogo…começo a não ter razões para me desculpar.

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