Hulk visto lá fora

“I’m not particularly glad that Manchester City won this one, but I’m deliriously cock-a-hoop that Porto lost – and for one, sole reason: Hulk. Jesus wept, what an overrated pile of festering guano that man is. Shite touch after shite touch followed by pleading tumble after pleading tumble. Waiting to feel a touch, any touch from his marker, that being his cue to plough himself into the Dragão turf.

He possesses the bodily bulk of a brawny bison, yet he reacts to contact by bouncing around and wincing through tear-beaded eyes like he’s fabricated from balsa wood and blu-tack.

The guy has nothing. Nothing. A few utterly superfluous and largely ineffective flicks and a shot that is less ‘Howitzer’ and more ‘Surface to Air missile’. €100 million release clause? All I can say is, his agent must be bloody good. F**k him. F**k you Hulk, you whining, diving, useless cheating bag of day-old cat vomit. The most overrated player in world football, and I will hear nothing to the contrary.”

in Who Ate All the Pies?

A cotação de Hulk para o mercado inglês é alta e o nome ainda faz sentido equacionar como potencial reforço de qualquer um dos grandes clubes. Não por cem milhões de euros, muito longe disso, mas o alvo é apetecível especialmente a partir do momento em que as convocatórias para a selecção brasileira são mais constantes.

Mas o comum adepto inglês é isto que vê no nosso homem. Um jogador que não usa o corpo como deve, que cai mais vezes do que deve e que reclama como um bébé chorão, não trazendo consistência para o jogo de uma equipa, tornando-se num devaneio de quem tem dinheiro a mais para gastar num bibelot.

Uma coisa é certa: Hulk é bom, um excelente jogador e um homem que quando está em forma e com sentido prático apurado se transforma no tal “Incrível” que resolve jogos. Mas quando está num dia mau…só serve para enervar as bancadas.

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Nestes dias, o ponta-de-lança que não é ponta-de-lança não é ala quando é ala

Ontem, lá para o meio do último terço do jogo, Vitor Pereira decidiu mais uma vez pela entrada de Kleber para a zona central, retirando Rodriguez e fazendo Hulk descair para a linha. Aliás, aposto que ontem as três substituições foram adivinhadas pela grande maioria dos portistas, não por terem sido fracas e previsíveis mas porque pareceram adaptadas, pelo menos no papel, ao jogo em questão. O ponto que gostava de focar é a necessidade da introdução de um elemento ofensivo central numa altura em que o jogador que estava a ocupar aquela posição está numa condição física que já não lhe permite efectuar a transição para a lateral de uma forma eficiente. Tornando o discurso mais coloquial e menos formal, meter o Kleber ao meio e encostar o Hulk na ala quando o moço está cansado não rende.

A ideia é interessante, especialmente quando a equipa está a precisar de transformar o jogo numa sequência de passes mais directos e incisivos, abdicando da troca de bola a meio-campo. Com a colocação de um corpo extra na área, capaz de receber cruzamentos e servir como parede para tabelas entre ele e os extremos que fazem diagonais ou médios mais subidos para remates frontais, a capacidade ofensiva e a pressão são aumentadas para carregar nos últimos cinco minutos como um elefante do exército de Aníbal. O de Cartago, não o de Boliqueime, entenda-se.

Mas o que vi em Alvalade foi a entrada de Kleber que pouco cheirou a bola, alimentado por um James desacompanhado, um Álvaro esforçado e um Hulk francamente cansado. Foram apenas 15 minutos mas tanta falta fazem esses novecentos segundos de intensa pressão, quando o adversário está a começar a duvidar das próprias capacidades físicas e técnicas, naquele período em que ataque após ataque começa a gerar no pontual inimigo uma descida de auto-confiança como a de um adolescente borbulhento quando se olha ao espelho. E Hulk, quando é encostado à linha para finalmente poder pautar o jogo com os arranques, as fintas em progressão e os remates de longe, já está cansado de umas largas dezenas de minutos a pressionar centrais e a perseguir as bolas perdidas sozinho com os colegas a 20 ou 30 metros atrás no terreno.

É algo que deve ser revisto por Vitor Pereira por forma a rentabilizar melhor o nosso Givanildo. Ou então é colocar o rapaz na ala onde é mais produtivo…e esperar até chegar o tal messiânico ponta-de-lança que possa entrar direitinho para titular e Falconizar o nosso ataque. Ou não.

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The loneliness of the long distance runner

Listen, my friend, there are two races of beings. The masses teeming and happy –common clay, if you like –eating, breeding, working, counting their pennies; people who just live; ordinary people; people you can’t imagine dead. And then there are the others –the noble ones, the heroes. The ones you can quite well imagine lying shot, pale and tragic; one minute triumphant with a guard of honor, and the next being marched away between two gendarmes.

Jean Anouilh

Hulk. A alcunha leva-nos a pensar em grandeza, em fausto, na potência e na força do seu futebol, nas arrancadas e nos remates de longe, nos livres directos e nas pernas dos defesas, incapazes de manter o passo do número doze adversário. Desde 2008, quando cá chegou rodeado da dúvida e da incerteza sobre um rapaz que tinha acabado de aterrar vindo do Japão, Hulk é titular absoluto no FC Porto e é talvez a imagem mais reconhecida do clube no exterior, que mantém o público internacional curioso e interessado em qualquer lado onde joguemos. É o poster-boy da equipa, o homem da cláusula, o jogador dos golos fantásticos e agora até é aquele tolo que oxigenou a cornadura.

E a idolatria, aquela a que é votado por muitos adeptos, erguida à custa de trabalho e empolada por tudo que é imprensa, tão ansiosa por criar heróis ao mesmo tempo que espera por uma única brecha na armadura para os encher de setas, é uma pêga cara. Viu-se esta sexta-feira, quando Hulk foi substituído por Vitor Pereira e uma boa parte do Estádio do Dragão irrompeu em aplausos. O escárnio e a maledicência a que Hulk foi votado naqueles segundos, depois de dezenas de minutos seguidos em que nada saía bem, por muito que tentasse, ele, o homem que já nos salvou em tantas ocasiões, que ainda no ano passado jogava e fazia jogar, que brilhou com a força de mil sóis acima de tantos outros…acabou por ter o mesmo destino de Mariano ou tantos outros que vergados pela incapacidade ou pelo azar, saíram de campo sob vaias do público.

O episódio foi sanado e ainda bem. Pelo próprio Hulk, que pôs a mão na consciência e percebeu que a atitude tinha sido abaixo de estelar, abaixo de si, abaixo do seu nível. Só espero que Hulk se aperceba que aqueles que lhe forçaram o franzir do sobrolho são OS MESMOS QUE O APLAUDEM E SÃO OS PRIMEIROS QUE LHE CANTAM AS GLÓRIAS TODAS AS SEMANAS, os mesmos anormais que gostam de ir ao Dragão para assobiar a equipa ao primeiro passe falhado e que vêem o apoio ao clube como uma brincadeira, um show de noventa minutos por entre a conversa e um ou outro balde de pipocas.

Tenho ideia que Hulk tem os pés mais assentes na terra do que lhe dão crédito. Mas se ainda não entendeu isso, se ainda não entendeu que o público é exigente ao ponto de não compreender que os resultados não aparecem depois de um simples estalar de dedos, Hulk está pronto para seguir o mesmo caminho de Quaresma ou Jardel. Ficarão os números e as memórias dos lances mágicos, mas desaparecerá dos nossos corações. Se, como espero, já percebeu que a melhor forma de lidar com este tipo de povo está na calma, no sentido prático e no passe, sacrificando um pouco da estrela que tem dentro dele, vai-se adaptar melhor, como Maniche, Lisandro ou tantos outros. Jogadores mais inteligentes, mais cerebrais, menos geniais. Resta saber se é isso que todos querem: um Givanildo triste e prático ou um Hulk explosivo e que tem direito a falhar como só os génios falham?

Como de costume, no meio está a virtude.

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