O ataque vence jogos, a defesa vence campeonatos…e o meio-campo vence clássicos!

A frase original é antiga e não faço ideia quem foi que a disse. Sacchi, Shankly, Cajuda, sinceramente não posso precisar quem foi o autor da dita e aproveitei para a usar como base para um princípio que faz com que estes jogos sejam na sua grande maioria enormes secas em que a bola anda a rodar de um lado para o outro no centro do terreno e só aparece na área quando uma das equipas se lembra de recuar em excesso no terreno e a outra se decide a atacar. Já me esqueci de mais clássicos que Fonseca ou Jesus alguma vez disputaram e por isso posso falar com alguma autoridade do que se pode vir a passar no Domingo, sem que tenha o mínimo de influência nos procedimentos.

O jogo vai passar pelo centro e o facto do Benfica poder jogar com um eixo reforçado com Matic e Fejsa pode-nos trazer problemas extra, sabendo da lenta movimentação de Lucho, da presença recuada de Fernando e da incerteza quanto à performance de Carlos Eduardo em jogos grandes. Mais que proteger os flancos contra as subidas de Maxi ou Siqueira, de pressionar os centrais com Jackson ou Varela, da participação de Quaresma, Licá ou Kelvin numa das alas ou do eixo defensivo MM contra os putativos Lima e/ou Markovic, interessa ter uma equipa robusta no centro do terreno. Não sei se Fonseca vai continuar com Fernando-Lucho-Eduardo, um meio-campo mais ofensivo e feito para contrariar equipas que tapam o milieu com mais homens que uma trincheira em Verdun, ou se vai apostar no duplo-trinco, com Fernando e Defour atrás e Lucho mais avançado, servindo como distribuidor para corridas de Jackson e de um dos pseudo-extremos que temos no plantel. Uma coisa é certa: este jogo não é igual aos outros, como nenhum clássico é.

Em que apostariam vocês, dragões? Vamos à Luz jogar com uma estratégia mais audaciosa ou mais defensiva? Com Fernando certo pela qualidade e Lucho pela liderança, quem seria o terceiro homem: Defour ou Eduardo?

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O que é que reparam quando olham para um central?

imagem gamada de http://paixaopeloporto.blogspot.pt

Lembro-me da elegância de Aloísio, que deslizava pelo relvado à procura do momento certo para o toque perfeito a interceptar um ataque adversário. Era um prazer assistir aos jogos do brasileiro a partir das velhinhas bancadas das Antas, enquanto me sentava no cimento ou em poeirentas cadeiras de um azul que já o tinha sido mas que gradualmente se ia transformando num tom claro, gasto, poído. Vintage, para soar melhor. Bintage, com o sotaque certo.

Aloísio era a imagem do central quase perfeito que me habituei a ver enquanto crescia e ia conhecendo mais do futebol mundial. Havia certeza nas acções, correcção na atitude, adequação da força à situação. E chegou a capitão, discreto, líder por exemplo e pelo respeito que todos tinham por ele pelos anos que passou no clube, à imagem dos que actual usam a braçadeira multicolorida. E à medida que ia vendo outros jogadores que jogavam na mesma posição, mais gostava do brasileiro. Havia uma classe diferente nele, uma leveza de movimentos aliada à simplicidade de processos que me enfeitiçava e fazia aumentar a minha fé na minha própria capacidade de conseguir fazer o mesmo em futeboladas amigáveis. Nunca o consegui, o meu corpo assemelhava-se sempre a um rotundo rinoceronte sem corno (acho) a descer uma colina em alta velocidade quando tentava irromper numa diagonal e acertar só na bola, só naquele ponto certeiro em que o avançado se transformava num pilar de sal e o defesa saía alegremente com a esfera de couro controlada, de cabeça levantada e postura mandona. O normal era acertar no gajo ou mandar a bola para o meio do matagal abaixo do campo. Sim, admito, em campo sou um defesa à Jorge Costa. Ou passa o jogador e fica a bola, ou não passa nada, nem bola nem jogador e na grande maioria das vezes, nem relva.

E hoje, onde estão os Aloísios? Onde estão os centrais com controlo de bola decente, passe certeiro a cinco metros, ausência de loucura ou excessos de confiança? Onde estão os Aloísios, carago?

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Vectores do potencial insucesso: táctico

O segundo vector que merece análise é o táctico. E aqui sou um dos defensores de Vitor Pereira desde que começou a introduzir o estilo que hoje pauta o jogo do FC Porto, pelo menos nos dias bons. Gosto de ver a equipa a pausar com a bola nos pés, a rodar pelo meio dos meios-campos adversários enquanto procura o espaço para o passe que devia ser constante mas certo, para a melhor opção, a melhor posição, a melhor oportunidade para maximizar o sucesso da aventura. E foi notória a mudança desde o estilo…em pânico do ano passado, com menos bom futebol e mais “atira a bola pró Hulk” que se viu em 2011/2012, que só resultou no campeonato graças à forma fantástica do brasileiro, bem apoiado por Moutinho e James, que com o regresso de Lucho viram o meio-campo estabilizado e mais fiel ao tipo de jogo que o treinador queria colocar a equipa a jogar. Este ano, livre do “refugo” visto pela SAD e pelo treinador como supranumerários, com nomes como Hulk, Janko, Fucile, Guarín, Belluschi e Álvaro a serem despachados com mais ou menos lucro, a filosofia foi assente em peças escolhidas a dedo, apostas arriscadas e versatilidade de posições e alternativas encontradas dentro do próprio plantel. Foi esse o “rationale” com que arrancámos a temporada.

Mas o estilo não agrada a todos. Há muita gente com quem falo que desgosta do jogo horizontalizado, com rotação de bola excessivamente lenta, com menos remates e mais posse, uma estrutura ofensiva baseada no centro do terreno com os laterais subidos ma non troppo, os extremos que não o são e os centrais a levar o jogo para a frente. Uma boa parte do povo vê-se no meio de uma máquina do tempo parada no mesmo, sem que o sumo que é espremido dos lances de construção arrastada possa saciar a gula ofensiva que pauta o ataque portista. Talvez por isso, juntamente com a crise e os jogos às sextas-feiras e domingos à noite, tenha servido para afastar a gente do estádio. Talvez. E a verdade é que o jogo só muito raramente agradou a todos e trouxe a alegria do futebol-espectáculo às massas.

E há mais.

Os jogadores não parecem gostar. Vejo-os tristes, resignados a um jogo de toque curto com movimentações tantas vezes infrutíferas, enredados em teias montadas por equipas hiper-defensivas que povoam o meio-campo com tantos homens quanto a lei lhes permite, tapando todos os buracos por onde a bola pode passar. E os próprios jogadores, alguns mais espertos que outros mas em grande parte lentos, com pouca aptidão física e mental para deambulações aparentemente sem rumo, muitas vezes parecem parar no relvado à espera que a bola lhes seja endossada para que possam participar do jogo. Vi tantas vezes o flanco direito sem o apoio que um lateral ofensivo poderia dar e que Danilo, por não o ser, não o faz. Izmailov, que chegou para ser um James quando James não estava, perde-se muitas vezes nas próprias simulações e é incapaz de recuperar a bola, o ânimo e a vontade. Jackson está tantas vezes sozinho que começo a questionar se não estará em formação para eremita. E nos últimos jogos temos visto os centrais, quer Mangala ou Otamendi, a arrastar o jogo com a bola nos pés, tentando criar o desiquilíbrio que os outros seis à sua frente são incapazes de gerar.

A táctica é ambiciosa mas tem falhas. Tem falhas por um motivo muito simples: é bonito querer jogar à Barcelona. É audacioso pensar que o podemos fazer. E é utópico pensar que o conseguimos facilmente ao fim de meia-dúzia de meses.

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Vai ser golo, não foi?

As coisas têm corrido bem e as vitórias vão-se acumulando. E o esquema que Vitor Pereira implementou no FC Porto, uma espécie de hibridização entre o 4-3-3 estável (mas Hulk-dependente) e um 4-4-2 bastante móvel com variações entre Lucho/Moutinho/James a marcar o ritmo das partidas está a funcionar bem. Melhor nuns jogos que noutros, mas ainda assim estou agradado com o que tenho visto. Mas daqui a alguns jogos, quando começarmos a encontrar equipas que nos podem fazer fechar lá atrás como uma freira de clausura com prisão de ventre, seja pela valia do adversário ou por circunstâncias do próprio jogo (uma expulsão, lesões de jogadores fundamentais ou vantagens tangenciais que é necessário proteger a todo o custo), aí é que vamos ter de adaptar o nosso estilo para sermos um único corpo resultadista em vez de tentarmos construir uma estrutura que permita à equipa vaguear pelo campo e criar lances ofensivos com cabeça.

E ao contrário do 4-5-1 de Mourinho, onde tínhamos talvez o melhor meio-campo que vi a jogar com as nossas cores (para os mais esquecidos, era composto por Costinha/Maniche/Deco, com a pontual adição de Alenitchev ou Pedro Mendes) e a rigidez táctica colocava uma carapaça quase intransponível a partir da qual saíam bolas perfeitas para a ala onde Derlei estava ou para o centro onde McCarthy tinha habitação permanente, desta vez vamos precisar de uma ou outra arma que nos têm faltado esta temporada: a velocidade. Seja Varela, Atsu ou Iturbe, talvez os jogadores mais velozes que temos ao nosso dispôr, um ou mais desses rapazes vão ter de aparecer em grande para ajudar a suprir a falta que um rapaz como Hulk faz numa equipa que em determinadas ocasiões podia servir como alvo principal para contra-ataques rápidos, letais, eficazes. Vários jogos vencemos à custa de raides rápidos de Givanildo, que surgia como uma flecha Telliana por entre defesas subidos e meios-campos inclinados para a área, só para aparecer em posição de remate da forma mais prática e rápida possível. Lembrem-se de Donetsk, Istambul, Madrid. Recordem-se também das corridas de Guarín ou dos voos de Álvaro pelo flanco, ou regressem um pouco ao passado para os sprints de Jorge Couto ou Lisandro. Todos eles eram jogadores que podiam transformar um jogo parecia condenado a uma postura defensiva (porque esses jogos vão existir, por muito que nos possa parecer impensável ver o FC Porto a defender uma magra vantagem ou um empate com golos no terreno do adversário) num constante jogo de gato gordo e rato lesto.

Tenho esperança que Atsu vai continuar a evoluir e vai ser uma peça importante nessas complicadas noites de retranca. Iturbe também, mas com menos esperança de produtividade a curto prazo. Mas é preciso continuar a trabalhar essas setas para que possam ser úteis num futuro próximo. Nunca se sabe quando é que vão ser necessários durante mais que vinte minutos e não só para fazer descansar os titulares.

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E que tal voltarmos a ser arrogantes?

Há uma incongruência latente nos últimos três jogos do FC Porto, curiosamente todos disputados em diferentes competições. Uma espécie de contradição entre o que se diz e o que vejo ser feito que me está a pôr a cabecinha toda comidinha por dentro. Logo eu, que faço por preferir a lógica em detrimento da paixão sempre que posso, não consigo perceber o que se tem vindo a passar. Então não é suposto termos uma equipa que joga em posse? Que tenta dar o privilégio a manter o controlo da bola, rodando-a entre os nossos jogadores até que seja encontrada uma brecha nas linhas do adversário para conseguir subir de uma forma sustentada pelo terreno, pressionando entre toques atrás de curtos toques, como um exército da era moderna a avançar em passo contínuo pelos terrenos de um campo de batalha? Pensava que sim, mas não é o que tenho visto em tempos recentes.

Desde Santa Eulália, passando no Dragão contra o Dínamo e agora no Estoril, houve largos períodos do jogo em que a bola foi entregue ao adversário com uma facilidade absurda, como se os princípios de jogo tivessem sido atirados abaixo de um penhasco e amarrados com um fio de norte para poderem ser puxados para cima caso fosse necessário. E foi também evidente que bastaria uma pequena aceleração dos processos, uma recuperação moral que faz com que cada jogo tenha de ser nosso desde o início, um regresso à base tão simples como ver o David Luiz a jogar com os braços, bastaria esse pequenino empurrão de velocidade, garra e inteligência competitiva, e o mundo regressaria aos seus eixos e as forças da física e do futebol modernos voltariam a fazer sentido. Mas porque raio temos deixado que os adversários peguem no facho do jogo e nos empurrem para a nossa defesa?

Não entendo, palavra. Parece que estamos a perder a arrogância positiva que devíamos impôr em cada confronto em que estamos envolvidos, aquela exclamação que todos os portistas têm em todos os jogos: “É para ganhar, carago!”. E nos últimos tempos não tenho visto isso. Não apregoo que nos lancemos por cima do adversário como elefantes depois de umas snifadelas de coca, até porque aprovo o estilo e agrada-me ver a construção de trás para a frente com calma e com um jogo pausado e pensado. Mas preciso de mais. Preciso de ver os jogos ganhos com autoridade, sem a tremideira que inevitavelmente se tem sucedido à conquista de um resultado positivo, em que o adversário tem a bola mais tempo do que devia e onde a nossa defesa fica exposta a um lance fortuito, um remate de longe, um ressalto ou uma jogada de inspiração que nos faça perder pontos, para lá do cagaço com que fico sempre que a bola é enviada para a nossa área e tenho de depender que Helton ou Maicon não estejam distraídos a pensar no Batman ou no arroz de pato que vão comer mais tarde.

Preciso de mais. Precisamos todos de um bocadinho mais.

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