A incerteza das substituições

No jogo contra o Paris Saint-Germain houve dois pormenores que me ficaram guardados na memória. Aos 73 minutos, Vitor Pereira tira Varela e faz entrar Atsu. Nada de estranho, de extraordinário ou questionável. As pernas do português estavam a ceder depois de muita correria e de uma intensa pressão sobre ambos os flancos onde alinhou, ajudando a carregar sobre o adversário e a tapar o flanco para as eventuais subidas de Alex Sandro ou para proteger contra o eventual overlap dos franceses. O ganês entrou, cheio de garra e vivacidade, desfez várias vezes os rins a Jallet, então o seu adversário directo, arrancou dois remates e vários cruzamentos perigosos e ajudou o FC Porto a empurrar o inimigo para dentro da sua área até que James se lembrou de dar aquele toque na bola que nos deu três pontos e saciou a sede de uma vitória que demorava a chegar. A substituição tinha sido óbvia, esperada e correu muito bem.

Oito minutos depois, ainda com o resultado a zeros, Vitor Pereira manda sair Lucho e entrar Defour. O argentino, esgotado depois de correr por ele e pelo que James não conseguia, ajudando a pressionar o adversário pelo chão e pelo ar, com intercepções valiosas e uma mão-cheia de passes brilhantes, sai de campo para dar lugar a um belga voluntarioso, bom tecnicamente, com uma visão de jogo prática, simples, de posse. Defour entrou…e o meio-campo ressentiu-se. Sofreu porque nada corria bem a Steven, nem um passe calmo ou uma desmarcação tranquila antes ou depois da obra-prima de James. A bola parecia queimar e as corridas saíam sempre para o lado errado, deixando o centro do terreno entregue ao mini-mega-Moutinho ou ao Rochedo de Goiás, Fernando, que já cansados ainda tiveram de cobrir as falhas de Defour, que até vinha de uma série de boas exibições com a nossa camisola. O meu colega do lado gritava: “Se foi para esta merda que o meteste mais valia o Lucho cansado, pá!“, dirigindo-se a Vitor Pereira como o principal responsável pelo mini-terramoto que abalou o nosso meio-campo e ajudou a somar ao sofrimento do resto das bancadas, felizmente por pouco tempo. E, no entanto, a substituição fez todo o sentido e só não terá sido feita mais cedo porque o jogo não estava ainda ganho.

É ingrato seleccionar um jogador para sair quando estão todos a jogar bem. Ainda mais quando a equipa, até aí estável emocional e estruturalmente, pode vir a desagregar-se fruto de uma opção menos acertada do treinador que vê o jogo como nós vemos, mas a uma altitude bem mais baixa. E é difícil compreender o porquê de uma ou outra substituição, por muito que seja uma tradição acontecer sempre por volta dos mesmos minutos com quase sempre os mesmos intervenientes (lembrem-se das trocas de Meireles por Tomás Costa, de Tarik por Mariano ou McCarthy por Jankauskas, entre muitas outras), ser oscilante no efeito que traz a uma equipa.

A cabeça do treinador está sempre no cepo durante um jogo. Mas nunca está mais em xeque como depois de uma substituição que não lhe corre bem, especialmente quando a culpa não é dele, nem dos jogadores. It just is.

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Firmeza

Entrevista  a Pedro Baptista, em 2006:

“Nós observamos os adversários, o maior nº de vezes possível, e em função da dificuldade de construção de jogo em determinada zona, em função da dinâmica que o adversário promove, nós trabalhamos sobre isso, o principio de jogo para jogo, a intenção de… não muda, mas estrategicamente fazemos de uma forma ou de outra em função daquilo que nós julgamos ser o mais adequado para aquele jogo, para o ganharmos.”

Conferência de imprensa depois da vitória sobre o Braga, ano passado:

“Se Hulk vai continuar a jogar ao centro? Vamos ver. Para já estou satisfeito com a produção dele, não só com os golos, estou satisfeito com a produção da equipa e com o que nos deu.”

Conferência de imprensa depois da vitória sobre o Beira-Mar, no passado sábado:

“Haverá jogos em que precisaremos disso, mas não estou muito inclinado a mexer no miolo e satisfazer aqueles que acham que o James, jogando a 10, é muito mais jogador. A dinâmica do meio está muito bem assimilada e dá-me gosto de ver o meio-campo assim”

Ao ler as declarações de Vitor Pereira, só fico com uma certeza: cada jogo é um jogo e as opções tácticas dependem do adversário e da melhor forma de o bater. E esteja certo ou não, tenho a certeza que a convicção não muda com o vento. Gosto disso.

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O pós-Hulk – parte II

A saída de Hulk coloca o treinador do FC Porto perante vários cenários tácticos, cada qual com o seu conjunto de complexidades associado, que podem ou não ser bem assimiladas pela equipa que gere. A maior parte das vezes, quando colocados perante uma situação como esta em que uma peça importante sai da equipa, muitos treinadores optam por uma espécie de substituição directa, fazendo uma transição mais pacífica para o futuro próximo sem alterar o modelo em campo. No nosso caso, seria qualquer coisa como isto:

À primeira vista não parece de todo inviável, tendo em conta que o resto da estrutura da equipa se mantém intocável e onde a única alteração seria a troca de Hulk por Atsu no flanco direito. Talvez até Varela pudesse alinhar de início, aproveitando a boa onda do luso nos recentes jogos internacionais e tentando reanimar uma chama que parecia perdida (para ser sincero, não acredito que haja uma fenicização do Silvestre, mas adiante). No entanto, o sucesso da iniciativa depende de vários factores:

  1. A colocação de James no flanco esquerdo, perto da linha, força o colombiano a um trabalho mais preso à linha e dá-lhe menos espaço para fazer o que sabe. Não é rápido o suficiente para ser extremo e creio que nunca o vai ser.
  2. Ficará a faltar um desiquilibrador nas diagonais. Atsu inclina-se bastante para a linha e prefere um jogo mais vertical que o leva a terrenos subidos com velocidade mas precisa de alvos na área.
  3. Defesas muito recuadas nunca são fáceis de furar e o jogo lento a meio-campo fazia de Hulk um jogador fundamental para ganhar espaços nas laterais. Sem ele, o extremo terá obrigatoriamente de jogar mais recuado e num jogo mais sustentado e menos directo.

Uma alternativa possível seria a seguinte:

Aqui, a versatilização do sistema para um 4-4-2 com maior concentração no meio-campo, James mais liberto para fazer aparecer Atsu na “no man’s land” em apoio a Jackson. Atsu, rápido, complementaria Jackson, mais lento mas mais perigoso na área. Mais uma vez, há dificuldades a equacionar:

  1. Há uma renitência natural em mudar o esquema de jogo a meio de uma temporada, porque com todos os benefícios que uma alteração desta magnitude pode trazer, também há um período de adaptação que simplesmente não existe.
  2. Vantagem para as subidas dos laterais, especialmente dos nossos dois brasileiros que podem usar o corredor como no tempo de Mourinho em 2003/2004, quando Paulo Ferreira e Nuno Valente eram os únicos que povoavam aquelas zonas porque Derlei ou Alenitchev nunca ficavam presos à linha…
  3. …mas os raides ofensivos teriam de ser muito bem compensados na zona defensiva, obrigando Fernando e Moutinho (Lucho não tem pernas para isso) a tapar contra-ataques em situações de possível desvantagem numérica.

É certo que de tolo e de viciado em Football Manager todos temos um pouco (vai sair o 2013 não tarda nada, já viram?). E tenho a certeza que muitas outras dúvidas (e outros tantos esquemas) já passaram pela cabeça do nosso treinador para tentar dar a volta ao problema. A palavra, no final, será sempre dele.

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Ainda há espaço para uma dupla de ataque?

Quando comecei a assistir a jogos do FC Porto ao vivo, com o meu cartão de sócio ainda fresquinho no inverno de 1991, lembro-me de ver a dupla de avançados que na altura jogava na frente: Kostadinov e Domingos. Eram dois atacantes que se complementavam, com o instinto do português a fazê-lo jogar mais perto da baliza a enquadrar-se na perfeição com o deambular nomádico do búlgaro a fazer arrastar os defesas e a criar espaços bem aproveitados pelo colega. Desde que D.Jardel, o Goleador, aterrou na Invicta, o sistema alterou-se pelas mãos de Oliveira e o esquema com dois avançados deu lugar ao tridente ofensivo, com dois extremos a alimentarem o único ponta-de-lança. Entretanto, apesar de muitas nuances tácticas que já vi apresentadas por treinadores do meu clube, desde os três defesas do Co até ao falso avançado-centro (Derlei) de Moutinho, passando pelos dois médios criativos (Deco e Zahovic) de Oliveira ou apenas um (Lucho) de Jesualdo, o único factor que se manteve constante foi a existência de um único homem de área na zona central. Jardel deu lugar a Pena, depois a McCarthy, Postiga, Derlei, Jankauskas, Fabiano, Adriano, Lisandro, Falcao e agora até ver será Kléber, por entre muitas tentativas falhadas, como Esnaider, Pizzi, Kaviedes, Romeu, Hugo Almeida, Sokota, Edgar ou Rentería, para não voltar aos tempos de Mogrovejo, Paulinho César ou…guess who…exactamente: Baroni.

Alguma vez voltaremos a ver regularmente uma dupla no ataque do FC Porto, numa altura em que a maioria das equipas por esse mundo fora parece querer privilegiar sistemas com um único avançado? Será que ainda há espaço para esse tipo de esquema táctico no futebol actual?

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Iturbo

Estive aqui todo entretido a ver o jogo da Argentina contra a Coreia do Norte (esses rapazes tão sortudos que terão decerto um regresso a casa que lhes vai proporcionar uma boa forma de emagrecerem os corpos já franzinos em qualquer campo de trabalhos forçados), alheando-me dos comentários do fulano da Eurosport, que se saiu com frases como: “Ora reparem agora em Luque. Vruuuum, parece um míssil!”, ou “Ei, os coreanos estão zangados!”, e que se pôs a ler mensagens do Facebook a meio do jogo, para ver Iturbe.

Não fez um jogo famoso (foi dele a assistência para o segundo golo mas pouco mais conseguiu de positivo durante o jogo), mas já deu para perceber melhor o que é que o puto vale. Tem talento, não haja dúvida, joga atrás do ponta-de-lança com boa técnica, rápido com a bola com uma aceleração brutal quando se aproxima do adversário. É jogador para romper, para rasgar defesas de bola controlada e pode ser ainda mais perigoso em jogos grandes, onde há mais espaços e a velocidade é vital. Tem de melhorar no sentido prático e na decisão do último passe, mas são coisas naturais num rapaz de 18 anos.

Só vejo um pequeno problema: conhecendo o actual estilo de jogo do FC Porto, com o 4-3-3 móvel mas sempre mantendo dois homens na ala e outro no meio, não o vejo a jogar a não ser numa estratégia mais virada para um esquema com dois avançados, um mais fixo e outro (Iturbe) mais móvel, que estará pronto para criar espaços e apanhar as bolas que vão sobrando. Se Iturbe chegar, vir e começar a mostrar que pode vencer, mudará Vítor Pereira a formação base?

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