Não foi um derby normal. Em nada. Duas equipas em momentos de forma semelhantes, com sequências de resultados negativos e treinadores recentes no banco. Ainda que o nosso seja re-estreante e já tivesse assento garantido nos jogos anteriores como adjunto, a imagem que a equipa mostrou em campo pareceu um pouco diferente dos últimos jogos, apesar dos onze jogadores serem exactamente os mesmos que se humilharam na passada quarta-feira contra o Rio Ave. Mais dinâmicos, soltos e lutadores, os rapazes parecem querer mostrar que estão aí para as curvas e o futebol que mostraram, apesar de não ter sido genial, foi bem melhor do que tinha vindo a ser. E espetámos cinco ao Boavista, o que é sempre um motivo para sorrir. Vamos a notas:

(+) O sentido prático. Um meio-campo que joga solto, sem as prisões de uma concepção de organização táctica que obriga a equipa a rodar por zonas desconhecidas e os força a não conseguirem jogar de uma forma fluida é meio-caminho para mau futebol. Sim, Lopetegui tentava implementar a sua estratégia e aplicar o seu modelo aos seus jogadores. Rui Barros manteve os jogadores mas abdicou (até ver) da construção de jogo lenta, variando flancos com muito maior velocidade e aproveitando os muitos espaços que o Boavista cedeu. Os rapazes de azul pareceram bem mais “leves”, com mais confiança e muito mais vontade de produzir um futebol aceitável e isso levou a que o jogo fosse mais mexido, com lances bonitos de entendimento e vários golos a aparecerem com naturalidade. Ah, e outra coisa: houve velocidade. Velocidade pelas alas, velocidade de recepção e troca de bola e até pelo centro! Velocidade, aí está uma palavra que não usava há que tempos…
(+) Herrera. Talvez o melhor jogo do mexicano com a nossa camisola. Muito mexido, prático nos passes, a aparecer em zona de finalização várias vezes e a conseguir concretizar um golo com um excelente controlo de bola e noção de posicionamento, apesar do remate ter sido risível. Teremos um novo Herrera a jogar mais solto, menos obrigado a vir buscar jogo ao meio dos centrais? O tempo o dirá.
(+) Danilo. Mais um bom jogo perante uma cambada de cotoveladores e empurradeiros, a mostrar que nalguns jogos é essencial ter um homem forte no meio em jogos do campeonato, algo que Ruben não consegue e talvez nunca venha a conseguir fazer. Marcou um golo para ficar na memória, com um calcanhar ao primeiro poste. Sim, o Danilo.
(+) Aboubakar. Dois golos e mais um ou dois por marcar. Bem no apoio ao meio-campo, beneficiou imenso da forma como os jogadores do centro do terreno se desdobravam em apoios e não o obrigavam a recuar tanto como era normal, porque Vincent descia para receber bolas altas e rapidamente as soltava e desatava a correr para a frente, como devia ser a normalidade e não a excepção. Assim sim, rapaz!
(+) O golo de Corona. Que perfeição técnica de drible, arranque e remate, a trocar de pés como poucos vi a fazer em toda a minha memória de jogadores no FC Porto. Aliás, posso mesmo afirmar que personalizou algumas grandes glórias do nosso passado em todo o lance: Conceição no approach, Deco no drible, Domingos no remate!
(-) Um Boavista de II Liga. Os adeptos não têm culpa, muito menos os jogadores. Mas este Boavista é um bom exemplo do que um terço das equipas da I Liga valem em relação ao resto das equipas de “topo”. Um conjunto de rapazes que procuram a correria em vez da troca de bola, que privilegiam o choque e o jogo directo e físico em vez de optaram por jogar futebol em condições. Uchebo é uma espécie de reservatório de água à americano com a adição de um rabo de cavalo, ao passo que Luisinho corria como louco e Idris e amigos no meio-campo começaram e acabaram o jogo com entradas tardias, braços esticados e tão pouco futebol que me mete pena perceber que o destino será a II Liga numa questão de poucos meses. E é aí que, infelizmente, merecem estar, eles e mais uns quatro ou cinco.
Não comecemos já a pensar que está tudo bem e que a mudança de treinador resolveu tudo, até porque nem mudamos de treinador nem nada está resolvido. Mas os mesmos jogadores que empataram na passada quarta-feira no Dragão foram hoje vencer por cincazero. Houve bons sinais, sim, mas o tempo dirá se são permanentes.