Baías e Baronis – Marítimo 1 vs 0 FC Porto

1024

Às vezes há jogos destes. Uma equipa passa 5000% do tempo a atacar, tem montanhas de oportunidades para marcar um golo mas é incapaz de atravessar aquela barreira para registar um miserável golinho que possa fazer com que a fortuna deixe de ter alguma coisa a ver com os destinos que se criam e se fazem do rolar de um esférico de couro numa superfície de relva. E a outra equipa, tolhida e recolhida numa falange grega, aparece do outro lado uma única vez e marca. Eficácia quase perfeita. Mas a culpa do resultado ter sido aquele que vêem em cima não é de mais ninguém senão nossa. Vamos a notas:

(+) Quaresma. Foi inconformado com o resultado do início ao fim e nunca deixou de tentar furar a barreira defensiva do Marítimo pelo ar ou pela relva. Nem sempre bem na decisão final dos lances, foi pelos seus pés que nasceram algumas das mais perigosas jogadas de ataque e só por algum azar (e um excelente dia de Salin) não conseguiu marcar pelo menos um golo.

(+) Ruben Neves. Depois do que o vi a fazer contra o Braga na quarta-feira, vê-lo a fazer meia-hora de alta intensidade, aparecendo em zonas adiantadas enquanto segurava o meio-campo (apenas com Óliver ao lado) e tentando o remate que o fizesse repetir o que tinha feito na primeira jornada do campeonato quando marcou ao Marítimo na estreia na Liga…foi mais que evidente que não fosse a maior fisicalidade de Casemiro e Ruben seria titular de caras no FC Porto. Pecou na finalização, infelizmente.

(-) Os golos falhados. Houve tantas oportunidades de engatar para um jogo de goleada que nem faz bem começar a lembrar as bolas que podíamos ter enfiado lá para dentro. Várias defesas de Salin com diversos graus de dificuldade, mas a mais fácil de todas foi uma em que a minha filha, olhando para o guarda-redes do Marítimo no chão depois de agarrar a espécie de remate a metro e meio que Martins Indi executou, com a bola a sair à velocidade de uma tartaruga tetraplégica, disse em voz alta: “nanar!”. Sim, filha, o guarda-redes podia estar a dormir que até assim agarrava aquilo. Unbefuckinglievable.

(-) A construção de jogo demasiado lenta. A opção por Quintero no flanco fez com que Óliver desaparecesse do jogo durante toda a primeira parte e só a entrada de Tello fez com que o espanhol começasse a ter alguma influência na partida. Mas para lá dessa infeliz opção de Lopetegui, que privilegiou a criatividade de dois elementos que flectissem para o centro desde as posições de falsos-extremos, foi na lentidão da construção que começámos a perder o jogo. Uma primeira parte passada em ritmo de treino, com muita bola trocada de lado para lado e pouca incisividade no ataque à baliza. Sabem porque é que o Benfica venceu por quatro e nós não conseguimos sequer lá meter um? Sim, para lá do absurdo guarda-redes do Marítimo que jogou contra eles. É que a forma como o ataque surge rápido e a movimentação dos jogadores se mostra perante uma defesa cheia de pernas com outras pernas em constante movimento e na velocidade do desenrolar das jogadas. Já não é o primeiro jogo em que se nota que há muita posse de bola, muito controlo do meio-campo mas muito poucas iniciativas de ataque vertical com critério de socar a baliza, de a agredir com as forças que todos querem ter e raramente mostram em termos de sentido prático e eficiente. Houve demasiados passes laterais, excessivas brincadeiras com a bola, incessantes pausas para reposicionamento e poucos, muito poucos remates em condições. Aquela frase a que me referi depois do jogo contra o Belenenses, em que um ou outro remate à entrada da área podiam dar em golo, não entrou na cabeça dos jogadores. E o problema é que raramente foi tentado.

(-) Os desnecessários passes longos. Estou a ver o jogo e começo a sentir veias a pulsar no pescoço. Mais uma vez, pela ridícula enésima+1 vez, lá vai Maicon ou Casemiro puxar a culatra atrás e sacar de um passe de 50 ou 60 metros, just for the sake of it. Não percebo se são indicações de Lopetegui, para que uma equipa que quer construir lentamente consiga de um momento para o outro criar um desequilíbrio rápido numa mudança de flanco, mas os actores que desempenham esse papel são de terceira linha porque a bola muito ocasionalmente faz o trajecto adequado e chega ao destino de uma forma correcta. É enervante, palavra.


O campeonato estava tramado e agora ficou pior, independentemente do resultado que o Benfica consiga em Paços de Ferreira. Seis pontos são tramados de recuperar e nove são muito mais difíceis de roubar. Hélas, não podemos culpar ninguém senão os nossos próprios peitos.

Link:

Ouve lá ó Mister – Marítimo

Señor Lopetegui,

Não há um jogo que o FC Porto jogue na Madeira que não me faça lembrar dos bons tempos que lá passei de qualquer uma das vezes que estive naquela ilha. Para lá das noites de copos, tardes de copos e até algumas manhãs de copos, a estadia é excelente e recomenda-se com toda a intensidade de um remate do Hulk ou um passe curto do Guarín. Só há normalmente um ponto em que os dias são constantemente transformados em versões badalhocas de um fim de tarde bem passado em frente ao Atlântico com um ou doze copos de poncha no bucho: o estupor do jogo nos Barreiros. Deve ser karma hepático, a punir-me por tanto ter agredido o órgão (sem piadinhas) mas é dos jogos que mais me chateiam durante o ano e a par dos “grandes” e do Guimarães, aquele que antecipo com maior violência emocional e temor pelo resultado que por aí possa vir. Aparece-me tudo na cabeça: os livres do Heitor, os remates do Alex Bunbury, as fintas do Edmilson (o moreno deles, não a nossa loirinha), as defesas do Everton, as movimentações do Gaúcho, as cabeçadas do Van Der Gaag e o Briguel. Só o Briguel. Esse asno. (cuspidela para o chão). Isso.

Sejam quais forem os nomes que apareçam na cabeça de cada portista que acompanha este feudo com o Marítimo desde há sei lá quantos anos, a verdade é que são sempre (ou quase) jogos tramados, digam lá o que disserem as estatísticas. E tu que andas desde o início do ano a dizer que cada merdeira de cada equipa que apanhamos pelo caminho é um jogo de “máxima” ou “alta” ou “tremenda” dificuldade, acredita que este vai ser mais um desses. Ainda por cima pode haver muitos portistas na Madeira mas estou disposto a apostar contigo que a grande maioria dos adeptos do Marítimo não o são. Ou seja, espera ambiente hostil com um português asotacado que não vais perceber nem metade. É giro, acrescenta ao pitoresco local, vai por mim.

Ganha lá isso. Eu apostava num ataque com o Quaresma e o Jackson mas dava uma hipótese ao Ricardo para ver se o Tello rende mais quando vem do banco. E no meio-campo volta a pôr o Casemiro, fazes favor, porque o Ruben ainda deve subir as escadas do autocarro agarrado à coxa.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Leitura para um sábado tranquilo

 

Link:

Só valeu alguma coisa se ganharmos na Madeira

20150121 - SC BRAGA - FC PORTO

Vi o jogo em diferido, como tem vindo a acontecer nos últimos tempos por motivos que não interessam a ninguém senão a mim. E em todos os jogos que assim assisto, há uma vontade enorme de acelerar nos momentos mais parados, desde os pontapés de baliza aos lançamentos laterais, passando pelas fitas dos pseudo-lesionados e acabando nas preparações para lances de bola parada que raramente resultam…a sério, já se começavam a treinar cantos em condições…mas fica para outro post para não fugir ao assunto. Mas este não foi um desses casos de fastforwardite que de vez em quando me dá na mona, porque o comando da abençoada box ficou parado no mesmo sítio desde que arranquei com a gravação, tendo uma breve intervenção na altura do intervalo.

Se o jogo de Braga mostrou algo que fez renascer o espírito de qualquer portista que tenha assistido ao jogo, foi a capacidade de sofrimento e de empenho de um grupo que parecia estar a perder alguma daquela alma que marcou o início das trajectórias de muitos de nós, que nascemos e crescemos a ver Andrés e Joões Pintos. E essa força que saiu de dentro e continuou fora, com as centenas (ou milhares, pelo menos assim soavam) de adeptos nas bancadas da pedreira a fazerem com que os ecos de um clube que nos envolve, emociona, enerva e entusiasma a fazerem-se ouvir por todo o Minho. E é esta força que parecia abandonada ao largo de um estádio distante ou deixada para segundo ou terceiro plano em virtude de uma filosofia de jogo pausada, pensada, com poucas preocupações físicas e muitas de virtude mais técnica a sobreporem-se às primeiras. E não contesto essa forma de enfrentar um jogo de futebol, de colocar uma mentalidade diferente do que já foi a tradicional atitude de forquilhas em riste “aqui d’el Rei que nos matam os meninos” de aqui há uns anos.

Mas sentia falta disso, sentíamos todos.

E também por isso há uma tremenda união em torno de uma equipa que não fez mais que empatar um jogo numa competição que ninguém se preocupa muito por ganhar ou não porque não está perto dos primeiros interesses do clube e dos seus adeptos, nos quais me revejo na totalidade neste vector de pensamento. E há sempre os antis, os tradicionais, na bluegosfera e fora dela, que enojam de tanto nariz levantado perante o que foi um jogo épico que nos havemos de lembrar por muitos anos. Há-os sempre, os que dizem mal de tudo e de todos porque o “I told you so” é sempre mais recompensador que de facto alinharem com as cabeças unidas e na persecução de um objectivo comum. Ser carneiro é feio. Ser carneiro quando nos estão a tosquiar à força enquanto nos tentam levar para a beirinha de um precipício e puxam as calças para baixo parece-me outra completamente diferente.

Tudo isto para terminar no seguinte: nada do que foi feito na quarta-feira à noite em Braga serve de grande consolo se não chegarmos à Madeira e vencermos o jogo. Já vimos que há garra suficiente. Mas haverá cabeça?

Link:

Baías e Baronis – Braga 1 vs 1 FC Porto

242095_galeria_sc_braga_v_fc_porto_taca_da_liga_2fg_2014_15.jpg

Retiro o que disse quando afirmei que os jogos da Taça da Liga são um bocejo. Bocejo os tomates! E não fosse o simples facto de ter tido uma espécie de arbitragem trazida do quarto círculo do inferno e podia ter sido um jogo ainda mais emocionante, desde que houvesse mais que uma equipa em campo. Assim, limitámo-nos a ver os incessantes ataques do Braga, a baterem com a certeza de um relógio atómico num rapaz que fez de tudo para que nada penetrasse a linha de golo à frente da qual costuma trabalhar. E fica a luta, o espírito de sacrifício de uma equipa que foi dilacerada por um imbecil calvo que só ficou por ali porque talvez tenha ganho alguma vergonha no focinho. Vamos lá às notas:

(+) Helton. Isto de meter putos na Taça da Liga dá para descobrir algumas pérolas do nosso plantel. Hoje deu-se a conhecer um rapazola brasileiro, pouco mais velho que eu, com uma elasticidade fora do normal, reflexos dinâmicos e certeiros, elevação correcta, perfeição nas saídas e uma presença de espírito que humilha um qualquer Dino Zoff. Não sei se vai ter grandes oportunidades no futuro próximo, mas é bom saber que o nosso terceiro guarda-redes está pronto para entrar em campo a qualquer altura para ajudar a equipa, como disse na memorável flash-interview em frente a um jornalista da TVI que só por vergonha não lhe pediu um autógrafo. Afinal, não é todos os dias que um miúdo de 36 anos mostra que é melhor que todos os outros guarda-redes, em campo e fora dele.

(+) O resto da equipa do FC Porto. Foram micro-heróis, só porque o jogo não tem impacto. Ou melhor, especialmente porque o jogo não tem impacto. E foi um prazer estar confortavelmente sentado no sofá a ver Ruben Neves a correr com a mão na coxa, a dar tudo sem poder dar nada; ver Ángel a voar pela linha com a velocidade de quinze Tellos motivados, depois de interceptar sei-lá-quantos cruzamentos do Agra no seu flanco; ou Campaña, que pouco acrescenta à equipa ofensivamente, a desfazer a barba toda enquanto corta mais um remate de Alan ou trava um passe de Danilo no centro; e que dizer de Gonçalo Paciência, que jogou a interior-esquerdo uns largos minutos para ajudar a equipa a reequilibrar-se depois de estar com oito jogadores de campo; ou de Marcano, que correu uns bons 50 metros com a bola controlada pelo flanco direito só para que a equipa se pudesse soltar um pedaço e descansar meia dúzia de segundos antes de tentar rechaçar a próxima vaga de ataque; e Ricardo, a apanhar com o imbecil do Tiago Gomes e com o Rafa a tentar passar por ele ao mesmo tempo; e Herrera, que entrou e lutou com inteligência desde o primeiro segundo que pôs as botas no relvado. Todos estes foram grandes, os oito jogadores de campo mais os quatro guarda-redes que parecíamos ter na baliza, e vão ficar na memória dos portistas que viram este jogo, pelo espírito que mostraram em campo e pela dedicação a uma causa em que nem eles acreditam. Mas em Braga, hoje, jogou-se mais que um jogo da fase de grupos da Taça da Liga. Jogou-se o orgulho ferido de um grupo. E ganharam. Mantenham essa união, rapazes, é só o que vos peço.

(-) Tello. Inepto em frente à baliza, não foi o homem que precisávamos de ter na frente de ataque pelo simples facto de andar pelo campo com medo e incapaz de lutar pelas (poucas) bolas que lhe apareciam pelos pés ou pelos pés dos outros. Pedia-se um Lisandro, um Derlei, um cão raçudo que perseguisse carteiros de vermelho e branco com fios de baba a oscilar ao vento e dentes ameaçadoramente cerrados. Não foi. Foi um menino e fez com que Agra ou Pedro Santos, parvinhos com a filosofia “é para ali que eu sei, deixa-me correr que eu chego lá” fazer com que Tello parecesse tão distante de um homem que passou os primeiros anos da sua carreira no Barcelona. Estás a ser uma pequena desilusão, Cristian.

(-) Reyes. Asneirada atrás de asneirada até à asneirada que Cosme achou por bem gravosa ao ponto de o expulsar. No entanto, não contesto a falta que veio na sequência de uma camelice a que só faltaram duas bossas para que Diego, o pior mexicano do FC Porto 2014/2015, mostrasse o porquê de ter tão poucas oportunidades como titular no clube onde actualmente está. Passes falhados, intercepções mal medidas, inúmeros lances perdidos, faltas desnecessárias e um nervosismo que faz pensar como raio chegou a ser capitão do Club America quando por lá andava. Muito mau, rapaz.

(-) Este tipo de arbitragens trigger-happy. É fácil ser árbitro em Portugal, porque dá mais trabalho escrever no filho da puta do livrinho do que de facto ter a pedagogia para pôr ordem em vinte e tal nouveau-riches em campo. Há uma falta? Saca-se amarelo. Há uma falta mais perto da área? Saca-se amarelo. Há paleio dos jogadores a seis centímetros do bigode? Saca-se amarelo. E se o jogador se arma em parvo, saca-se vermelho. Porque sim. Não há inteligência para a acção correcta, não há uma tentativa de se impôr pelo respeito e pela simplicidade de processos e de decisões. Há puxar de galão, especialmente quando não é necessário, como um pai que não quer saber dos filhos para nada desde que não questionem a sua autoridade e aí está o caldo entornado com o cinto a sair das calças e os rabos quentes em seguida. E Cosme Machado é mais um entre muitos que preferem estragar um jogo que estava a ser vivo mas não violento, agressivo sem estupidez, rijo sem malícia. E é sempre a mesma merda do problema do critério, sempre o amarelo dado ao gajo que merece mas nunca repetido ao rapaz que merece na mesma na jogada seguinte. Há discrepância de neurónios, há um ziguezaguear de ideias e uma inconsistência de atitude que só pode ser premiada de uma forma: com uma excelente nota dada pelo observador. Enfim, põem-se a jeito.


O empate foi o menos mau dos possíveis resultados em Braga mas a forma como foi conseguido, com suor, garra, espírito de sacrifício e tenacidade encheram-me de orgulho. A palavra já está batida depois das declarações de Lopetegui e do NGP, mas mantenho o que disse. Orgulho. E bem merecido.

Link: