
Para um observador imparcial, não-versado nestas andanças da bola, deve ser um espectáculo deprimente e/ou entusiasmante reparar nas reacções na forma como um homem adulto, pai, bem adaptado à vida moderna, pagador de impostos e fã de Pink Floyd vive um jogo de futebol deste nível. E este, que foi um derby com muito pouco de derby (já lá vamos), enervou-me tanto porque como todos os portistas que assistiram ao vivo aquele jogo pós-dilúvio que se disputou no Dragão há uns meses e que a meio da segunda parte da partida de hoje começou a pensar: “Queres ver que ainda vamos empatar outra vez a zero com este monte de gajos que ainda ano passado jogavam na terceira divisão da Liga do São José da Pila Murcha?!”. Foi por pouco e a culpa teria sido nossa. Vamos às notas:

(+) Ruben Neves. Perfeito no passe, duro nas bolas divididas e agressivo quando foi preciso. O trabalho de Ruben foi mais fino, mais elegante e bem mais eficaz que o que habitualmente pauta os desempenhos de Casemiro e apesar de não se ter destacado por nenhum lance individual, foi na forma pausada e inteligente com que rodou continuamente a bola entre os colegas, com passes laterais quando necessário e verticais com alguma audácia, que marcou a diferença em relação aos outros dois rapazes do meio-campo, pelo menos até à entrada de Evandro. Grande jogo.
(+) Tello. Se a entrada de Brahimi foi boa apesar de se ter perdido aqui e ali nas fintinhas do costume, a de Tello teve mais impacto. Hoje lutaste, minha motinha estuporada! Hoje, nos trinta e tal minutos que estiveste em campo, deste o litro todo pela causa e não te alheaste das bolas, não fugiste de nada e foste sempre até ao fim para tentar cruzar a bola para um colega e finalmente conseguiste! O mérito também é teu, carago, porque o Jackson ainda está a perceber onde bateu a bola antes de entrar mas se não fosses tu, a vitória podia ter fugido. Hoje lutaste, rapaz, por ti e por todos. Finalmente!
(+) Marcano. Continuo a dizer que gosto deste rapaz porque é rijo e tem aquela mentalidade “no-nonsense” que tanto gosto de ver num defesa central. Sim, eu sou da velha guarda e acho que centrais à David Luiz (ou o que quer que o Sergio Ramos seja, esse parvalhão) prejudicam mais a equipa do que a beneficiam e prefiro ver um gajo que não tem problemas em mandar a bola para a última fila de cadeiras em vez de ficar a brincar com ela como o seu colega do lado insiste em fazer jogo após enervante jogo. Simples, prático, bom toque de bola aplicado quando deve ser. Like.
(+) José Ángel, pela profundidade no ataque. Subiu impecavelmente pela linha e ajudou imenso quer Quaresma quer Hernani…quer Tello pela quantidade de vezes que apareceu em apoio ao extremo. Pecou um pouco pela falta de agressividade defensiva perante Uchebo, que usou quase sempre bem o corpo para o tirar da frente…e Ángel deixou. Não pode, nem que faça falta, o que aconteceu poucas vezes. Ainda assim um jogo muito positivo para o suplente de Alex Sandro, que se arrisca a ser titular para o próximo ano. Leram aqui pela primeira vez, não se esqueçam.

(-) Herrera O que é que eu te posso dizer que tu já não saibas, meu imbecil. Perdoa-me por falar assim contigo mas é o mais eufemístico dos nomes que te posso chamar hoje. É que não parecias estar em campo. Alheavas-te da bola e do terreno com uma facilidade tremenda, falhavas passes como o Maicon, tremias perante a pressão de um qualquer Idris (que nem Elba é, caramba!) e fugias do jogo como um ratinho amedrontado depois de sair do esgoto numa grande cidade. Foste fraco, Hector, foste o Herrera do ano passado e esse moço não tem lugar neste FC Porto. Mas tu tens e eu sei que tens, por isso vai dormir descansado que amanhã é outro dia. E não voltes a jogar como hoje, por favor.
(-) Muita posse de bola, pouco perigo. Cento e quarenta por cento de posse de bola. Contei eu, não é engano. Ou pelo menos foi a imagem que me ficou do jogo, depois de oitenta e tal minutos em que o Boavista saiu daquela zona do Petit (afinal era ali que o rapaz trabalhava) aí umas duas ou três vezes, bem contadas. E o que fizemos nós durante esses oitenta minutos? Pouco, muito pouco. Sim, as trocas de bola foram decentes e o jogo foi completamente dominado. Mas criámos pouco perigo, excessivamente pouco perigo, de tal forma que os próprios jogadores se começaram a enervar em crescendo e só o golo de Jackson ajudou a acalmar o povo. Há que ser mais incisivo na criação de lances de perigo para as balizas contrárias, mesmo que tenham emparedado as mesmas.
(-) Derby só em nome, por agora. Este não é o Boavista. “Isto” não é o Boavista. Por muito que tenhamos estado tempo demais a tentar desatar aquele nó górdio (sem piadinhas aos Silvas, o Elpídio e o Ricardo, bons espécimens de pançudos que por lá passaram) do Bessa, a verdade é que não houve alma nem saber nem grande capacidade para nos fazer frente ou pelo menos para mostrar que queriam mais que uma merdice dum ponto contra o FC Porto. Um derby não é isto, Petit, um derby joga-se como tu jogavas, de presas e pitões afiados, a querer ganhar mais que o outro sem medo do que possa acontecer se não conseguirem. É que se queres ser um treinador de merda como o homem que sempre mostraste ser perante nós, vais pelo bom caminho para te juntares aos Ulisses e Motas desta vida. E já agora, nem meia-dúzia de picardias entre os jogadores para amostra. Afonso Figueiredo, o novo Briguel, ainda tentou, mas ninguém lhe deu troco. Já não se fazem derbies da Invicta como antigamente, carago.
Mais três pontos num relvado difícil (literalmente) mas acima de tudo a confirmação que a equipa não desiste até conseguir o objectivo. Pode demorar tempo suficiente para mandar pavimentar a Índia de ponta a ponta, mas não desiste. O que já não é nada mau.
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