Não entendo nada disto

Hoje de tarde, em conversa com um amigo, falava da hipótese do Shakhtar poder usar os brasileiros do meio-campo para impôr o físico aos alemães e ainda conseguir uma brincadeira. Ele disse que o Bayern lhes dava 7. Mencionei que as equipas do Mourinho nestes momentos raramente fraquejam e nem que seja por meio a zero, costumam passar. Ele disse que não tinha a certeza.

Para a próxima estou calado. Ou digo que o FC Porto nunca poderá ser campeão, é impossível ganhar por seis na Luz quando lá formos e o Benfas não vai perder mais nenhum ponto até ao fim. Nunca se sabe, se calhar o estupor tem um dedo que adivinha.

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Basileia

20150310 - FC PORTO - FC BASEL 1893

Estou rouco. Rasguei a garganta toda em cada um dos golos do FC Porto, desde as curvas de Brahimi e Herrera às pazadas de Casemiro e Aboubakar, foram pérolas que me ergueram pelo ar num Dragão cheio de euforias mil e com uma harmonia que só uma grande noite europeia pode trazer. É complicado atirar com os clichés sem que nos venham bater no focinho mais tarde, mas este foi um jogo quase perfeito, apesar da lesão de Danilo. Teve de tudo: excelentes trocas de bola, olés, brutalidade defensiva, mudanças de flanco perfeitas, um guarda-redes voador, laterais em lados trocados e golos estupendos. Excelente, meus caros, ex-ce-len-te! Vamos às notas:

(+) FC Porto. Obrigado, meus caros. Obrigado por uma noite de futebol que me fez saltar, que me enervou e me obrigou a gritar para dentro do campo, a insultar adversários e a louvar os vossos esforços. Obrigado, Herrera, por teres subido a produção e por mostrares que me engano muitas vezes quando digo que não sabes rematar uma bola. Obrigado, Casemiro, por aguentares os meses de Setembro e Outubro onde te chamei gordo e lento e em geral uma fraca amostra de ser humano. Obrigado, Aboubakar, por não levares a mal ficares no banco porque o Jackson tem mais calo nisto. Obrigado, Neuer…perdão, Fabiano, por decidires hoje mostrar ao Helton que também sabes jogar adiantado. Obrigado, Alex Sandro, por não trocares os pés quando te trocaram de lado. Obrigado, Maicon e Marcano, por estarem tão atentos e jogarem tão simples, tão bonito, tão prático. Obrigado, Evandro, por saberes esperar fora do campo e por saberes esperar também dentro dele. Obrigado, Brahimi, por mostrares que os livres directos voltam a ser uma oportunidade para marcarmos golos. Obrigado a todos pelo que fizeram hoje, onde um badocha careca na bancada do Dragão voltou a ser um menino, a abraçar o pai e a saltar com os golos como se fossem os primeiros que via na sua vida. Obrigado pela excelente noite que me encheu de orgulho. Não percam este espírito, só têm a ganhar com isso.

(+) Golos em remates de fora da área. Os ingleses costumam dizer: “when it rains, it pours“, que traduzo livremente para: “quando começarem a rematar de fora da área, entram logo quatro de uma vez“. E hoje foi um maná de remates, cada um melhor que outro, com golos geniais dignos de figurar nas listas de melhores do ano. E ainda ficou na memória mais um tiraço de Casemiro e outro de Aboubakar. Chiça que vocês quando se lembram de me dar razão, rapazes, não brincam em serviço!

(+) Casemiro. A única exibição individual que merece destaque para lá do colectivo. Um jogão do brasileiro, o único no meio-campo que conseguia lutar com o corpo perante os badochas suíços e que conseguiu perante a maior capacidade técnica e jogo mais subido e pausado de Herrera e Evandro. Inteligente no posicionamento, lutador no choque e estupendo no corte, fez um jogo quase perfeito com a quantidade de bolas que recuperou, as vezes que surgiu a dobrar os colegas em zona defensiva e a força que transmitiu ao confronto físico com os brutinhos dos adversários que enfrentou. Ah, e marcou um dos melhores golos de bola parada que vi ao vivo. Só isso.

(-) A lesão de Danilo. Não reparei na queda do rapaz porque fiquei a olhar para Fabiano. Cedo deu para perceber que nada se passava com o guarda-redes (que é um fiteiro bem acima da média, admita-se) e quando virei os olhos para Danilo, vi-o inerte no relvado. Passam logo imagens de Foé e Fehér pela mente e arrepiei-me ao pensar que o rapaz podia ter sofrido algo bem pior que uma comoção cerebral. Ainda bem que não é grave. Podia perfeitamente ter sido.

(-) Os lenhadores suíços e a arbitragem novamente amiga. Nunca estive em Basileia, mas deve ser uma localidade com uma notável ausência de árvores, pelo menos nos sítios onde estes moços passarem. Samuel, o líder do bando de assassinos suíços e sem dúvida detentor de livros inteiros com os esqueletos de armário dos árbitros por esse continente fora (uma espécie de Maxi em versão Europeia), jogou aproximadamente 150 minutos a mais numa eliminatória com dois jogos e não consigo entender porquê. Mas não foi o único, porque os amigos do Walter decidiram mais uma vez aproveitar toda a facilidade que o árbitro (outro) lhes concedeu, arrastando pés pelo chão e elevando a entrada de carrinho a uma forma de arte marcial. E depois a puta da cereja mijona em cima do bolo. O lance que dá origem à falta de onde apareceu aquele monumento do Casemiro é notável. Um homem do Basileia no chão, com os colegas a ignorarem-no como se faz a um sem-abrigo numa paragem de autocarro. Seguem com a bola sem qualquer problema, até que a perdem…e Tello, sem saber muito bem se haveria de sprintar ou de enviar a bola para fora (na dúvida, corre, rapaz, corre como o Forrest!!!), apanha mais uma machadada suíça…e ainda é insultado pelo adversário por não ter fair-play. A lata que é preciso ter para aquela atitude é de gente com tomateira de aço e uma gigantesca falta de fibra, à qual se pode somar o árbitro, incapaz de mostrar autoridade perante tamanha falta de nível. Pensem duas vezes antes de elogiar a cultura cívica dos centro-europeus. Muitos são desta laia, gente que merece receber jactos de urina pela traqueia abaixo.


Quartos de final da Champions. Ahhhhh, sabe bem conseguir ser grande nos grandes momentos.

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Ouve lá ó Mister – Basileia

Señor Lopetegui,

Em primeiro lugar, os meus parabéns por teres atravessado esta fase complicada da época com várias vitórias e sem sofreres golos. Era muito importante manter a moral dos adeptos em alta (a dos jogadores também, neste eterno circuito realimentado que é o adeptismo de futebol) e tu e os teus rapazes conseguiram com boa nota. Um B+, vá, pelo futebol jogado e pela solidez defensiva, mas tens de corrigir a ineficácia e as entradas em jogo nos próximos tempos para que possas subir para o A. É daquelas parvoíces das notas “motivadoras” que tantos professores meus usavam no secundário e que só motivavam a que um gajo lhes quisesse rebentar com um pneu do carro quando estivessem a sair ao final do dia.

Mas hoje, basta jogar o que tens vindo a fazer. Digo “basta” porque o Basileia é uma equipa lutadora mas não podemos pensar que nos chega aos joelhos. Chega aos calcanhares, caso contrário não estaria aqui prontinha a ser considerada uma das oito melhores da Europa em 2014/2015. No entanto, com a devida vénia ao trabalho do Paulo Sousa, nós temos mais futebol, mais arte e bem mais saber. E que saudades temos nós de chegar a esta fase, depois daquele tiraço do Ronaldo me ter tirado todo o ar que tinha nos inchadíssimos pulmões, ainda cheios a seguir ao brilharete em Old Trafford, onde o Mariano e o Cebola foram tão grandes e depois…aquele genial estupor lá nos roubou a hipótese de voltar aos quartos de final. Agora, o Mariano joga na segunda divisão argentina (vê aqui se não acreditas) e o Cebola anda a raspar o guito aos gajos do Parma para ver se saca algum antes de se pisgar para o Brasil. Dessa equipa só sobra o rapaz de luvas ao teu lado, já viste como os tempos mudam tão depressa? E tu podes ajudar a que os nomes fiquem marcados na nossa memória ao mesmo tempo que crias novos nomes para uma história sempre renovada.

Hoje à noite, Julen, tens hipótese de te colocares na história do clube. Nada mau para quem cá chegou há uns meses, heim?

Sou quem sabes,
Jorge

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Não é a tua grande oportunidade. Mas é uma oportunidade.

Porto's Aboubakar celebrates his goal against Shakhtar Donetsk during their Champions League soccer match in Porto

Meu caro (3 milhões por 30% do passe) Vincent,

Falo pouco contigo, rapaz. Dei-te uma palavrinha aquando do jogo contra o Shakhtar, quando tentaste acertar num rapaz qualquer que estava na Superior Sul do Dragão mas onde a maldita baliza te apareceu pela frente e te tramou a pontaria. Vá lá, deu golo, mas eu não acredito que tivesses marcado um golaço desses e que ninguém pareça recordar-se disso para lá do obscuro arquivo de meia-dúzia de fanáticos. Enfim, coisas da história de um clube que, habitua-te, tem sempre destes infortúnios.

Não temos um histórico muito vasto de goleadores africanos. Vasto em termos de número, porque em valia tivemos um argelino aqui há umas décadas que até foi jeitoso e marcava golos de costas e tudo, se conseguires imaginar. Mas quando comparado contigo era um poucochinho diferente a nível de…bem…quase tudo. Tu és um calmeirão, um gentil gigante, um armário de força e alguma técnica (já me lembro da tua “rabona” aqui há umas semanas, nada mau) e uma seta apontada à baliza contrária, ao passo que o outro moço era…bem, era só aquilo que todos sabemos. E provavelmente nunca conseguirás jogar como ele, mas também quem é que diz que todos os jogadores têm de imitar um antecessor? Cada um tem as suas mais-valias, o seu nível e a sua capacidade que colocam em campo ao serviço da equipa e tu não serás diferente. Pareces-me um gajo voluntarioso, cheio de altruísmos e simpatias. Lembro-me do teu gesto, oh se me lembro, logo num dos primeiros jogos em que entraste e onde o Quaresma te deu a marcar o golo da vitória (terá sido em Vila do Conde?) e tu procedeste a celebrar junto dos adeptos, sempre a apontar para o colega que te passou a bola, perfeitamente ciente do mau momento que o rapaz passava nos media e, quiçá, até no balneário. Fizeste logo amigos nas bancadas e na televisão, Vincent, não tenhas dúvida. E já agora, desculpa lá, mas isso do Vincent tem de acabar. Aqui serás Bincent. Sempre Bincent que os Vs são só para vitórias sem aves pelo meio.

A malta tende a comparar-te ao Quinzinho. Eu sei, é uma parvoíce e até eu já caí nessa desgraça. Sabes que para os trintões como eu, a imagem do angolano é difícil de apagar e o nome tornou-se um adjectivo ao longo dos anos, usado e abusado para qualificar qualquer jogador da tua raça que tenha a tua raça. Redutor, eu sei, mas não censures o povo pelas parvoíces de uma vida. É malta simples que não sabe ser de outra maneira e não o faz por malícia nem ódios, apenas por força de hábito. E olha que o Quinzinho até ficou bem visto por cá, apesar dos poucos golos que lá ia marcando.

Seja como for, tens agora alguns jogos para mostrar trabalho durante mais que os infelizes 15/20 minutinhos que foste acumulando grão após grão, quando o Jackson deixava de ter pernas para tudo ou quando era preciso outra arma lá na frente. Agora, durante alguns jogos, essa arma serás tu. Diria que o Gonçalo também tem uma palavra a dizer, mas é curtinha e ferida pela inexperiência que tu, titular da tua selecção das camisolas justas e futebol com perfume, já podes jogar com o resto das fichas. Mostra-me lá o que vales, marca uns golinhos e ajuda o teu novo clube. Para o ano, quando fores aposta para arrancar de início, já podemos saber melhor com o que é que podemos contar.

Força, puto. Estamos a contar contigo.

Sou quem sabes,
Jorge

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