Dragão escondido – Nº33 (RESPOSTA)

Ora depois de múltiplas tentativas, cá está a resposta:

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Um polaco com um apelido que arranca com “M” será sempre presença de nota nos plantéis do FC Porto depois do grande Mly, e Grzegorz Mielcarski (ou Miguel Castro para muito boa gente que ainda se lembra do rapaz e que tem dificuldade em pronunciar nomes estranhos, talvez por isso o conterrâneo que se lhe seguiu, com nome muito maior, tivesse de ser reduzido para Kaz…) chegou com nome e com vontade de ser o target-man na área que Domingos e Edmilson não conseguiam ser por falta de atributos físicos. Acabou por não ter grande sorte, fazendo apenas 55 jogos oficiais nos quais marcou 10 golos e nunca conseguiu impôr-se na equipa depois de uma lesão muito grave no joelho e pela presença daquele verdadeiro eucalipto de avançados de nome Mário Jardel. Rapaz simpático, trabalhador e esforçado, foi uma aposta que saiu furada mas que gravou o seu nome nas mentes dos adeptos que o viram a jogar e que ainda se lembram do rapaz que afinal de contas acabou por ser tetra-campeão quase sem jogar…

A imagem diz respeito a uma eliminatória da Taça contra o Famalicão na época 1998/1999, em que o FC Porto venceu por 4-2 depois de prolongamento. Mielcarski jogou até aos 73 minutos, substituído por Miki Féher. Deliciem-se com uma viagem às vossas memórias:

Deixo-vos a responsabilidade de comentarem o video. Some truly epic stuff there.

Os palpites errados, numa das edições com mais tiros ao lado:

  • Doriva – Fazia parte do plantel mas não esteve presente neste jogo. Also, com aquelas pernas?!
  • Drulovic – Titularíssimo durante a temporada, ficou ao banco neste jogo e entrou ao intervalo.
  • Edmilson – Tinha saído no início da época anterior para experimentar ares da Cidade Luz. Paris, não o Colombo…
  • Féher – Entrou a substituir o polaco e marcou um dos golos no prolongamento, como se viu no video.
  • Fernando Mendes – Titular durante grande parte da época, foi-o também neste jogo.
  • Panduru – Num dos cinco jogos em que foi titular, foi substituído ao intervalo por Drulovic. Pois.
  • Paulinho Santos – Mais um dos habituais titulares que ficou a descansar.
  • Sérgio Conceição – Arrancou em Julho para começar a aventura italiana na Lazio de Roma.
  • Timofte – Ui. Saiu SEIS anos antes e nesta altura estava na Invicta…mas com uma camisola de xadrez.
  • Zahovic – Mais um titular deixado de fora neste jogo da Taça. E o Engenheiro do Penta ia-se lixando…

O vencedor foi o Hugo Cardoso, com um twist (vejam aqui a primeira quase-opção do rapaz…tsc tsc) às 9h28 da manhã! Kudos!

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Assobia se és portista!

Às vezes dá-me vontade de ir ao quarto de banho. Ou à casa de banho, se for do Sul. Ou se lhe apetecer usar termos alternativos para lugares tão comuns como o belo espaço onde o trono de porcelana espera por nós como um fiel amigo, como às vezes me acontece. De qualquer forma, há alturas em que a necessidade ultrapassa a natural resistência humana aos processos involuntários que nos ordenam a vida com um punho de aço e lá cedemos, mais uma vez, sempre mais uma vez, esperando não ser a última. Mas vou divagando como o Herrera com a bola nos pés, voltemos à história.

Saí do corredor e passei o cartão de identificação para abrir a porta de vidro que me separa do exterior. À medida que ia prosseguindo na direcção do alívio, noto que à minha frente vai outro comparsa da bexiga a caminho do mesmo local. Não reconhecendo a personagem, abstive-me de qualquer interacção e continuei no mesmo sentido, distraído com um folhear de páginas no feedly. E foi então que ouvi o fulano a assobiar. Um silvo ligeiro a início mas audível pelo eco que um corredor vazio cria e espalha pelos tantos outros corredores mais ou menos povoados das instalações. Tentei perceber o que era e nem meio segundo foi preciso para que começasse eu mesmo a trautear uma música que já por tantas vezes tinha passado pelos meus ouvidos que a mais fugaz percepção do mesmo som cria um efeito pavloviano de réplica que, por definição, não consigo evitar.

E ouço-a no Dragão. Cantada pelas claques, pelo povo, por todos. Era uma das tantas músicas sem nome, sem identidade nem letra, com pouco mais para a identificar que um “lá lá lá” mas que todos ouvem, todos reconhecem, todos cantam, com aquele espírito de ânimo e de objectivo comum que partilhamos e onde todos queremos chegar.

Aqui, aos 10 minutos:

Afinal, um portista a assobiar nem sempre é mau. Só tem de escolher o sítio certo.

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Hipérboles

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Enervo-me imenso a ver o FC Porto. Tenho alturas em que o nervosismo se apodera de mim e é nesses momentos em que os que me conhecem sabem que me torno impossível de equiparar ao gajo tipicamente bem-disposto com que partilham momentos tranquilos e relaxados numa qualquer esplanada ou numa reunião de trabalho. Ainda outro dia, quando saiu um sonoro “oh foda-se!” mal vi a bolinha que dizia que ia ver Ribery e amigos ao vivo, a malta percebeu que a verbalização do sentimento geral tinha saído da minha matraca e percebeu logo o que se passava. Gente que me entende, felizmente.

Esta mesma malta admite sempre que o percurso de um portista é feito de altos e baixos, como o de todos os adeptos de uma equipa de futebol. Há alturas más em que todos parecem abandonar o barco e se ouvem frases como: “Jogámos ontem? Eh pá, nem sabia, tinha ido dar de comer à tartaruga e fiquei por lá, olha, que se lixe, ah ganhámos ao Beira-Mar com um hat-trick do guarda-redes não foi, pois é, mas mesmo assim não valemos nada, pode ser que pró ano lá vamos de novo e tal”, quando vamos na quarta ou quinta jornada. E há os doentes, os que vivem ainda mais que eu, os conspiratórios, os fanáticos, os imprudentes e os preocupados. São os maximalistas, os que polarizam as vitórias com loas de percursos sem derrotas depois de afastarmos o Senhora da Pita Viçosa United na Taça. Os que nos vêem a vencer por 3-0 com dois penalties e um auto-golo e afirmam que a nossa defesa é a melhor do Mundo e que nem Helenio Herrera nos seus melhores dias tinha sonhado de um esquema parecido. Os mesmos que depois de dois treinos e um golo às três tabelas logo aparecem a dizer que o rapaz vai ser vendido ao campeão da Coreia do Norte (porque não vendemos nada ao Sul, esses vendidos!) por 46 milhões de euros e um frango no espeto.

Esses, os hiperbólicos, são os mais difíceis de convencer e os ainda menos perceptíveis em relação ao estado mental. Bipolares, vão do extremo da alegria à profundeza da infelicidade numa questão de minutos e questionam sem saber os porquês, comparam sem recolher dados e facilmente se detectam pelo exorbitante uso das expressões “basta”, “nunca” e “se fosse eu”. Contextualizando: “Basta de jogadores mimados!”, “Nunca mais vamos ter outra oportunidade de nos chegarmos tão perto do Benfica!” ou “Se fosse eu o Lopetegui já estava a caminho de Espanha!”.

E enquanto vamos atirando estas parvoíces para o ar, nem reparamos numa coisa: já viram que vamos ter uns dias sem bola? Sem bola a sério, digo, porque vamos sempre ter de aturar Nuno “Ronaldo-assina-aqui-as-minhas-mamas” Luz a babar-se à porta do hotel, mas isso é um carnaval de outro nível. Vamos acalmar as coisas, esperar que nenhum puto venha lesionado das selecções e aguardar que a terceira viagem à Madeira (sim, a próxima) tenha melhor resultado que as duas primeiras. Derrota, empate…e agora vitória. Para ser equilibrado.

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Baías e Baronis – Nacional 1 vs 1 FC Porto

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Os bombos. Os cabrões dos bombos deviam ser proibidos, barrados da entrada em qualquer estádio de futebol pós-1980s, onde a malta do Minho (Famalicão, Tirsense e amigos) trazia quarenta adeptos e o que pareciam 700 bombos para a bancada e davam cabo dos tímpanos de qualquer ser humano, bem mais que o Sr. Lourenço e a sua corneta. E estes, na Madeira, com aquele vibrar fatídico que aponta o caminho para a morte, a rampa que dá acesso aos domínios de Hades e do qual estivemos tão periclitantemente perto, são dos piores que me lembro. E o som do tambor continua, marca o passo e a marcha que não conseguimos manter, numa equipa que tem tanto de talento como de cansaço e pressão acumulada e que cedeu hoje depois de tantos jogos estóicos, soçobrando perante uma equipa com mais força, mais agressividade e muito menos a perder. Não foi mau, podia ter sido melhor. Vamos a notas:

(+) Tello. Muito bem em quase todo o jogo mas especialmente na primeira parte, onde para lá do golo fez meia-dúzia de boas jogadas de entendimento com Danilo que podiam (e nalguns casos deviam) ter tido melhor aproveitamento. Foi o Tello que me dá gozo ver jogar, um rapaz cheio de audácia ofensiva, sem parar, em constante movimentação pelo flanco e a fazer diagonais sempre que possível. O golo é exemplo disso, aproveitando uma jogada em tudo idêntica feita pouco tempo antes, optando por trocar as voltas aos defesas e rematar sem defesa possível. Ágil e rápido, é assim que Tello tem de continuar. Acabou o jogo exausto.

(+) Danilo. Fez com Tello um flanco direito de criar inveja a muitos clubes por essa Europa fora, com uma empatia quase perfeita na temporização e no endosso da bola, a fazer com que o outro lado, por muito que Alex Sandro tenha tentado (e tentou, oh se tentou!), nunca conseguiu funcionar com Brahimi como o compatriota fez do outro lado do campo. E ainda mandou mais um petardo ao poste. Merecia ter entrado.

(+) Quaresma. Fez em vinte minutos o que Brahimi não conseguiu fazer nos outros setenta. Inusitadamente objectivo no 1×1, foi mais prático, mais inteligente e criou várias situações de perigo (apesar dos cantos, quase sempre mal marcados, não é, Ricardo?) que podiam ter dado golo se não estivéssemos novamente em dia não na finalização. E é a prova que é melhor tê-lo no banco para que entre cheio de força, porque apesar de não poder fundamentar com uma base estatística, parece ser melhor aproveitado nestas circunstâncias.

(+) Helton. Há uma diferença muito grande com Helton em vez de na baliza do FC Porto. A facilidade com que o jogo flui mesmo passando pelos pés do guarda-redes não tem rival em Portugal e poucos terá pelo Mundo fora, fazendo com que a bola saia rápida, prática e prontinha para os jogadores de campo prosseguirem com o seu trabalho. A somar a isso teve duas ou três saídas complicadas bem resolvidas e um voo a defender um livre directo que ia direitinho para a baliza. Mais uma bela exibição.

(-) O estouro físico. Pouco antes do golo do Nacional, começou-se a notar. Herrera, que até tinha feito uma primeira parte jeitosa, começava a falhar passes. Alex Sandro continuava a correr mas com um ritmo mais baixo. Marcano parecia que estava pronto a vomitar e Brahimi perdia-se na 400ª rotação sobre o seu próprio eixo. No final do jogo, por muito que os rapazes tentassem, já não havia mais nenhuma gotinha para espremer da camisola e as pernas não respondiam, os joelhos dobravam a custo e a cabeça já tinha desaparecido. Mérito para o Nacional por ter (quase) conseguido aproveitar a nossa quebra física, compreensível depois dos esforços dos últimos tempos, mas há que fazer descansar algumas peças-chave num ou noutro jogo. Se for possível, claro.

(-) A ineficácia ofensiva, mais uma vez. Não condeno a falha defensiva que deu origem ao golo porque foi fruto de um lance inteligente e de um posicionamento globalmente deficiente, não havendo um culpado mas vários. Condeno sim a aparente impossibilidade de marcar mais que um golo com várias situações de remate fácil travado pela lentidão de Herrera, a trapalhice de Aboubakar e o nervosismo de Quintero. Somem-se mais uma bola na trave e outra no ferro e temos mais um jogo em que criámos oportunidades que chegasse para sairmos da Madeira com um sorriso nos lábios. Não conseguimos em grande parte por culpa própria.


Hoje perdemos dois pontos. Sim, podíamos ter perdido três. Até podíamos ter sido goleados. Mas também podíamos ter feito o mesmo e a meia-dúzia de quilómetros do outro estádio onde aqui há uns meses perdemos outros três. A ilha definitivamente não nos dá sorte em 2015…

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