Baías e Baronis – Gil Vicente 1 vs 5 FC Porto

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Se é verdade que a expulsão de Jander (sem espinhas, questionável apenas o critério de todos os árbitros que nunca são pedagogos o suficiente para acalmar os meninos enervados) fez com que o jogo se desequilibrasse em grande, não é menos verdade que a nossa equipa colocou hoje em campo todo o talento e a capacidade de criação de jogadas ofensivas que andamos a clamar há algum tempo. E a facilidade com que a bola chegava à área em situação de perigo era tão grande que nem o jogador a menos explicava tudo. Há ali muito talento e com algum trabalho (como hoje em que a equipa não desacelerou mesmo a ganhar por vários golos de diferença) tudo chega a um final feliz. Vamos a notas:

(+) Óliver. Para lá do golo, que é um deleite só de observar em qualquer estádio do mundo, é a forma como se mostra sempre disponível no meio-campo para receber a bola de Casemiro ou Herrera e procede a construir o resto das jogadas, seja com passes curtos ou longos, com rotações naquele baixíssimo centro de gravidade que aproveita tão bem, ou com assistências cruzadas com a tradicional conta, o perfeito peso e a adequada medida. Parece adaptado a jogar neste nosso campeonato onde há pancada a mais e jogadores a menos e onde Óliver, pelo talento e capacidade técnica, se destaca bem acima de tantos outros. Jogas tanto, puto.

(+) Herrera. Bom jogo do mexicano, activo na construção e no último passe, excelente na movimentação no meio-campo e com boa visão de jogo para discernir qual o melhor colega na melhor posição para receber a bola. Alguns remates por cima não mancham uma exibição acima da sua tradicional média de “corro muito mas corro mal”, porque hoje correu muito, como de costume, mas quase sempre bem.

(+) Brahimi. Bem melhor do que tinha vindo a mostrar nos últimos jogos, este que foi o último jogo do argelino durante um mês e coiso foi uma boa mostra do que é capaz de fazer quando está num dia simpático. Raramente ultrapassou adversários em corrida como fez em Setembro e Outubro, mas a forma como combinou com Óliver e Alex Sandro fizeram dele um jogador quase impossível de controlar por parte dos lenhadores Móticos do outro lado. Vai fazer falta, especialmente se Tello continuar naquela tentativa infrutífera de se tornar noutro extremo que não deixa saudades no Dragão.

(+) Os (muitos) golos. Um remate de fora da área; um calcanhar de um defesa central; uma finalização à ponta-de-lança por um homem que não é ponta-de-lança, depois de um bom cruzamento da linha; uma jogada de entendimento perfeita concluída com uma bola picada por cima do guarda-redes; um lance individual em que o avançado recebe a bola longe da baliza, de costas, roda em corrida, tira o central do caminho e remata cruzado em arco para as redes. Houve de tudo, todos eles com qualidade. E a mostrar que temos muitas soluções para chegar ao golo. E podiam ter sido muito mais, não fosse o animal do Adriano estar em dia sim, como de costume.

(-) Tello. De zero a cem, teve vários zeros e zero cens. Zero dézes, raios. Zero de capacidade de controlo de bola, zero no 1×1, zero no remate, zero na inteligência no passe, zero nas assistências. Um jogo completamente ao lado do espanhol, que saiu tarde demais para um Quaresma que foi muito mais astuto, mesmo a jogar a passo.

(-) Casemiro, até ao golo. Na altura do petardo que deu o nosso primeiro golo, estava a pensar para com os meus…espera, não tenho botões hoje…para com o meu zipper do hoodie que visto: “já me começavas a explicar para que é que serves, Casemiro, se não fazes um passe em condições, se adiantas demais a bola e és tão lento que não a consegues controlar e se fazes falta sempre que divides um lance com um adversário…hás-de me dizer para que é que serv…”, e o moço espeta aquele balázio. Foi o que lhe valeu.

(-) A contínua saga das equipas do Mota. Paulada ao nível de limpeza de manifestações em Pequim, jogadores que se interessam sempre mais pelo adversário do que pela bola, trinta corridas para a frente e uma perspectiva incessantemente defensiva do jogo. É isto que temos sempre que José Mota pega numa equipa. E continua a pegar, vá-se lá saber porquê.


Trabalho bem feito numa noite fria em Barcelos. Cinco galos no forno, uma boa exibição e acima de tudo a luta por todas as bolas e o não parar depois de quatro ou cinco golos lá dentro. Gostei.

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Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Señor Lopetegui,

Começar bem o ano é sempre algo que a nossa cultura preza a níveis estratosféricos. A malta faz de tudo para puxar aqueles imaginários cordelinhos com o fulano lá de cima ou, dependendo da fé de cada um, com as forças que regem o nosso dia-a-dia. Há os que comem passas, os que inventam tradições, os que se põem de pé em cima de uma cadeira, os que brindam demais, os que não querem brindar sem ser com copos que possam partir, os que fazem promessas que têm toda a força e empenho para cumprirem (“mas só uma vez também não faz mal, continuo a dieta amanhã”, desse tipo) e os que vão à missa no dia 1, mesmo ressacados.

Eu tenho outro tipo de esperança no arranque de cada ano novinho em folha, a estrear: que seja melhor que o ano passado. E tu, que só cá estiveste desde Julho, não sabes o que a primeira metade de 2014 nos trouxe e que não queremos voltar a ter. E o arranque do ano transacto em termos de jogos para o campeonato foi uma miserável derrota na Luz, com uma exibição que mostrou tudo o que correu de mal durante toda a época. Não queiras, por favor, que o entusiasmo daqueles maravilhosos vinte e três mil que anteontem encheram as bancadas do Dragão se deixe perder no marasmo de uma apresentação frouxa e banal em Barcelos. Faz com que esses e outros vinte e três mil (e mais uns pozinhos) fiquem em pulgas pelo próximo jogo do FC Porto e mal possam esperar para ver a equipa a jogar de novo.

Entusiasma-nos, Julen. Faz com que 2015 seja de novo um ano de Dragão orgulhoso e vitorioso. Tens o meu apoio. Tens o apoio de todos, desde que trabalhem para isso. Acreditamos em vocês!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Rio Ave 0 vs 1 FC Porto

20141230 - RIO AVE FC - FC PORTO

Quase a ritmo de amigável, não fosse a agressividade do meio-campo do Rio Ave e o permanente cascanço nas pernas dos nossos rapazes, mas um jogo que teve pouco de agradável e onde o resultado é o suficiente para sairmos dos Arcos com três pontinhos num dos jogos mais complicados da fase de grupos da Taça da Liga. Alguns bons apontamentos, um meio-campo sôfrego e preso em zona de construção, salvou-se Adrián López que fez o melhor jogo até agora pelo FC Porto, Aboubakar pela luta, Ángel pela simplicidade e Marcano pela inteligência na compensação das muitas falhas defensivas da equipa como um todo. A notas, que se faz tarde:

(+) Adrián López. Esteve bem, finalmente. Um pouco mais lutador do que tinha vindo a mostrar, tratou de levantar a cabeça e tentar combinar com Quaresma e Aboubakar numa linha ofensiva que trabalhou e que nem sempre foi feliz mas que conseguiu mostrar alguns bons pormenores. Uma diagonal muito bem feita acabou com um remate ao poste, depois de dois golos falhados perto da baliza. Neste momento, para recuperação da moral do jogador, até nem foi mau de todo.

(+) Marcano. Reyes, que acabou o jogo como capitão, teve várias falhas na marcação e acima de tudo na intervenção perante os fortes (fisicamente, apenas) avançados do Rio Ave, quase todas elas cobertas por Marcano, que se mostrou sempre firme e seguro na zona recuada, tanto a “cobrir” o mexicano como a dobrar José Angél na linha esquerda. Menos bem no passe longo, foi prático e simples quando era necessário não inventar. E não inventou.

(+) José Ángel. Uma espécie de Emídio Rafael com sotaque castelhano. Joga simples, sobe muito pela ala mas treme no momento de fazer alguma coisa de concreto com a bola. Ainda assim mostrou que está pronto para ser chamado à titularidade, o que com Alex Sandro em modo “montanha-russa” a nível exibicional, pode (e talvez deva) acontecer mais vezes. Rijo a defender, tem de melhorar na decisão dos lances em que é pressionado na defesa recuada. Uma exibição em geral positiva.

(+) Os adeptos do FC Porto em Vila do Conde. Já trabalhei ali perto e sei o frio que pode estar numa noite de Inverno como esta, onde felizmente o vento não apareceu em grande. E centenas de adeptos estavam ali, estóicos, a queimar as rabanadas e a aletria toda a cantar e a incentivar a equipa. Grandes, é o que vocês são!

(-) Evandro. Perdeu pontos, na minha opinião, porque continua a mostrar-se muito nervoso com a bola na sua posse, transmitindo aos colegas que não sabe muito bem o que fazer com ela. Herrera, com todos os seus defeitos, é titular de caras perante o brasileiro.

(-) Casemiro. Sim, rapaz, tu interceptas muitas bolas, mas fazes muitas faltas desnecessárias. E não, meu querido, tu não sabes passar a bola ao longe como achas que sabes, acredita em mim que já cá ando há mais tempo do que tu: se pensas que é uma boa ideia passar a bola pelo ar por cima do defesa, certifica-te que a bola passa PELO AR POR CIMA DO DEFESA. Food for thought.


Pouco mais há a dizer sobre o jogo. Teoricamente seria o segundo jogo mais complicado logo após a partida na Pedreira, por isso esta vitória acaba por “encostar” uma das formações que podiam lutar por um eventual segundo lugar caso houvesse algum acidente de percurso. Enfim, nunca se sabe…

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Ah, sabe bem estar de volta, não sabe, caríssimo? Espero que a Navidade tenha sido proveitosa e que te tenha possibilitado um descanso ao nível que mereces, com toda a preocupação botada às urtigas e o enfoque virado com definitiva e empenhada acuidade perante a garrafinha de vinho e qualquer repasto que a tua famelga tenha como tradição cozinhar para o dia de Natal. Sim, porque tu agora tens de te deixar dessas coisas de festejar o Natal no dia de Reis, essa parvoíce que tem tanto de espanhol como de parvo. Reis. Vai-te lá esquecendo disso porque gostava que ficasses cá uns bons aninhos, se subires um pedacinho do nível de futebol que temos indo a apresentar.

Como ainda és novato no clube (meia-dúzia de meses teus não compensam quase trinta anos meus), vou-te explicar um detalhe que afecta o jogo de hoje como um prego num pneu de bicicleta. As coisas, por aqui, funcionam assim: se perdes o jogo de hoje, és uma besta que nunca devia ter pensado em vestir um fato de treino durante o dia para seguir carreira depois de acabares de jogar; se vences, ninguém quer saber disto para absolutamente nada e a vergonha é mesmo não teres apostado em mais rapazes novos para AGORA SIM fazeres uma rotação em condições. No win situation if there ever was one.

A minha postura perante a Taça da Liga é sempre a mesma desde o início: se der para ganhar, força. Mas não vale a pena perder o sono à custa disto. Usa a oportunidade para dar minutos aos rapazes novos, experimenta o que quiseres e brinca com as tácticas à Football Manager da forma que te apetecer. Se der para ganhar, porreiro.

Sou quem sabes,
Jorge

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