Ouve lá ó Mister – Setúbal

Señor Lopetegui,

Ainda estou de ressaca depois de Domingo ter comido um prato com duas almôndegas estragadas e uma enormidade de massa que as rodeava e que parecia querer estragar ainda mais o repasto. Não te vou mentir, foi doloroso e tenho a certeza que partilhas do que eu e tantos portistas por esse mundo fora sentimos, essa repulsa pela derrota a fazer mossa bem cá dentro e a deixar-nos mais em baixo que a voz do Tom Waits em manhãs frias de Inverno. Mas não desanimei e não vou desanimar e quero que tu também não desanimes, nem que os teus rapazes desanimem! Quero que qualquer variante do verbo “desanimar” seja retirada da vossa cabeça!

Hoje é a oportunidade perfeita que tens para mostrar aos adeptos que o futebol que jogaram no Domingo passado dava para ganhar aqueles e a outros de uma forma calma e sem problemas de maior, só bastava ter um bocado mais de sorte. Aproveita que o Setúbal é uma equipa de trazer por casa e que o Mingos está mais à rasca que um esquilo cego e manco a atravessar a VCI. Já vi que convocaste o Campaña e talvez seja uma boa oportunidade para o rapaz mostrar o que vale, porque com o Casemiro castigado e o Ruben encostado (e o Mikel, ainda é vivo?) vais precisar de cobertura extra nesse sector e pelo que tenho visto do rapaz na B, até pode dar conta do recado.

No fundo, o que todos queremos é ganhar o jogo para irmos descansadinhos para a ceia de Natal. Banquete farto de barriga cheia é sempre engraçado.

Sou quem sabes,
Jorge

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Done. Hurt. Fuck. Next?

adeptos

Sentado na cadeira em frente à mesa da sala, onde pousei o portátil, ainda com uma dor romba nos glúteos depois dos eventos do passado Domingo, vou ouvindo a primeira metade do Dark Side of the Moon e penso no que estará para vir. E à medida que vou passeando os dedos pelas teclas, procurando um subtil escape à tristeza que se abate sobre mim quando penso nos momentos finais da partida, há algo que cresce dentro de mim como uma fuga para a frente, uma tentativa de apagar aquela fugaz sensação de impotência que senti ao ver a minha equipa a não conseguir produzir o suficiente para bater o rival de sempre. Ah, maldição que caiu em cima dos ombros, infortúnio de cem facas que apontam ao lombo e massacram a pele e os tecidos, que perfuram e rasgam e magoam e deixam marcas.

Uma derrota destas deixa-nos sempre com uma memória. E no meio de todas as outras memórias de Portos-Benficas que tenho, esta não vai ser fácil de apagar. Mas vai desaparecer, bem como uma enormidade de outras recordações de miseráveis joguiúnculos que tive o prazer de ver ao vivo. E só não desaparece tão cedo porque a malta que vai aparecendo nestes momentos vão prosseguindo a profetização da queda de uma forma tão rápida e tão intensa como um orgasmo adolescente. No dia seguinte ao jogo, em que os comentários aqui no blog subiram qualquer coisa como 1000% em relação aos últimos posts (algo a que já estou habituado e saúdo com um misto de alegria e consternação pelo status quo continuar a ser bem menos pacífico que costumava ser) e as balas são disparadas num conjunto de direcções tão grande como as que nos podem levar de pólo a pólo. Citados os relatórios e contas das SADs (que refiro ao Tribunal do Dragão ou ao Reflexão Portista pelas análises estruturais e ao Mística Azul e Branca pelo esmiuçanço contabilístico, porque eu não tenho tempo, pachorra nem habilidade para tais deambulações economicistas), as contratações, os empréstimos, os poços e topos e as rectas que os/nos levam para lá, a ridícula brincadeira com o nome do treinador (o meu próprio apelido, complexo e nada familiar, não sofreu durante os meus trinta e tais anos tanta estupidez como Julen Lopetegui em meia-dúzia de meses, numa arte que tem tanto de inútil como de rebuscada), as críticas acintosas ao que os jogadores fazem ou não fazem, porque fazem o que não deviam fazer ou não fazem o que é lógico que urgia fazer ou porque apenas não sabem ou não querem ou não amam ou não sentem ou não vivem. De táctica falou-se pouco, fala-se pouco e fala-se cada vez menos nalguns círculos, porque o que interessa continua a ser o “I told you so”, de lanças apontadas como uma falange grega e mais afiadas que os cinco minutos de uso de uma faca que se vende nos anúncios nocturnos.

Numa altura em que se quer união, há desunião. Quando o nosso exército não foi dilacerado em campo e lambe as feridas que recebeu de uma forma tão cirúrgica que ainda não percebeu como é que não conseguiu sair de lá com alguma coisa para mostrar aos netos, tocam os sinos a rebate e volta a idiotice. Cansais-me, portistas, como me cansais. Quero é ver apoio ao Brahimi mesmo quando falha as fintas, quero ver Quaresma a cruzar com o apoio do povo, quero ouvir o som do estádio a torcer quando Danilo rompe pelo flanco, quero ver Herrera a passar certinho, Indi a tirar a bola ao outro, Óliver a rodar sobre o seu próprio eixo e Tello a acelerar para a baliza. Quero ver todas essas coisas porque o Porto não morreu porque perdeu um jogo. Podem vir duzentos Mendes e setenta milhões de Limas.

O próximo jogo é já na sexta-feira. Vais estar lá, portista?

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 2 Benfica

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Há dias em que nada corre bem. A cerveja está choca, o trânsito está um caos, o céu parece mais cinazento que o costume, as dobradiças estão a ranger e o soalho a estalar quando um gajo chega a casa meio bêbado às quatro da manhã e não quer acordar os pais mas acaba por largar a porta que dá um estrondo quando acerta no batente. Desses dias. E hoje, tanto Jackson, Herrera, Danilo e todo o resto dos jogadores de azul-e-branco que estiveram no Dragão não estiveram nos seus dias. Escolhi esses três, podia ter escolhido outros ou ainda outros três, porque raro foi o momento alto de uma equipa que, não tendo jogado mal, sucumbiu a uma sucessão de infortúnios e a uma tremenda eficácia adversária para ceder todos os pontos, todos os golos e toda a moral a uma equipa que fez para merecer a vitória com mais engenho que arte e mais astúcia que talento. Notas já aqui em baixo:

(+) Quaresma. Entrou cheio de força (apesar de ter perdido a bola logo na primeira jogada) e nunca virou a cara aos duelos contra um dos adversários que, aposto, mais gosta de defrontar e vencer. Tentou tudo o que conseguiu para furar a defesa do Benfica e forneceu mais que uma bola de golo que ninguém conseguiu meter lá dentro. Talvez tenha chegado a altura de substituir Brahimi no onze, porque parece em melhor forma e a tomar melhores decisões perto da área que o argelino.

(+) Casemiro a defender. Forte, rijo, agressivo…às vezes demais, porque arriscou o segundo amarelo em várias ocasiões, foi o tampão possível contra um meio-campo bastante mais forte do Benfica (em todos os sentidos, tanto no físico como no mental, nem falo da absurda diferença no jogo aéreo), servindo como principal homem na recuperação das bolas perdidas no centro do terreno. Só esteve mal nos passes longos, porque assume que consegue fazer o que nenhum trinco faz no FC Porto desde Kulkov. E assume mal.

(+) A eficácia do Benfica. Conto três oportunidades de golo para o Benfica: dois golos e um corte de Alex Sandro que tirou o terceiro. Num jogo deste nível, a equipa que é mais eficaz tende a ganhar e foi exactamente o que aconteceu, porque a forma como aproveitaram falhas de marcação e/ou lentidão na resposta dos jogadores da nossa linha defensiva foi letal e fez a diferença. Estiveram bem no meio-campo, saíam facilmente da zona de pressão no meio-campo e mataram o jogo na altura certa. O resto foi gerir, com bola para a frente, porque nada mais era preciso fazer. Já estava tudo feito, infelizmente para nós.

(-) Saída da defesa em posse. Das duas uma: ou se revêm as possibilidades de interligação entre defesa e meio-campo, ou se compram pés e cérebros novos para Indi, Marcano e Maicon. É que começa a ser absurda a quantidade de bolas desperdiçadas na saída da defesa por jogadores que não conseguem conduzir a bola para diante mais que uns metros e abanam tanto quando um adversário chega próximo o suficiente para lhes cheirarem o after-shave que assusta qualquer adepto. A invariável forma como o central procura o trinco para receber a tabela de volta, ou entrega na linha para o lateral procurar subir com o extremo na sua frente…torna-se previsível e fácil de anular. Hoje, com o Benfica a fechar muito bem nas linhas (Gaitán e Sálvio estiveram em grande na forma como conseguiram tapar o flanco) e o meio-campo a pressionar alto, não tivémos capacidade para fazer melhor que meia-dúzia de passes pelo ar, quase sempre inconsequentes. Se o meio-campo não se mobiliza para vir buscar a bola, vamos ter mais jogos com zero golos marcados.

(-) Falta de ratice. Eu sei que a equipa está cheia de gajos novos. Sei que há jogadores que não têm experiência a jogar clássicos. Mas também sei que as duas frases anteriores só são verdadeiras porque queremos acreditar nelas. Reparem em dois casos que ilustram bem a falta de inteligência emocional e de manha que estes miúdos não mostram e que fazem toda a diferença quando se encontram os Maxis deste mundo: André Almeida vê um amarelo logo no primeiro minuto por falta sobre Tello que lhe ganhou em velocidade. Onde esteve Tello e onde esteve a bola durante a meia-hora que se seguiu? Não sei, mas poucas vezes tentamos puxar o segundo amarelo a André Almeida, ou pelo menos forçar o rapaz a cometer um erro ou a alhear-se da bola com medo de ver o vermelho. Era algo que deveria ter sido aposta imediata (na minha cabeça, pelo menos) para a equipa, forçar o ataque para aquele flanco, massacrar o lombo do rapaz para fazer dele o defesa-esquerdo mais castigado desde que Hulk desfez David Luíz aqui há uns anos: a outra situação passou-se no primeiro golo do Benfica, em que Brahimi é obrigado a ficar a mais de dois metros da linha onde Maxi ia fazer o cruzamento…e ficou. Devia ter mexido os pés, continuamente reclamando com o árbitro, o fiscal de linha, levantando os braços, saltando, importunando o adversário, a chegar-se lenta mas continuamente para a frente (como o Benfica fez em TODOS os lançamentos laterais, claro, e bem) ou como abusou em todos os lances divididos ou nem tanto…até perdi a conta às vezes que Jardel usou os braços ou Samaris levantou os pés com o árbitro a deixar seguir…o que não fez com que os nossos rapazes se erguessem como Brahimi se devia ter erguido, aproximando-se um pedacinho de cada vez mais próximo da linha. Com manha, provocador, inteligente. Estes jogos nem sempre se ganham pelo futebol praticado mas pela tranquilidade e gestão emocional dos jogadores em campo. Hoje, não fomos espertos como eles.


Foi uma patada na traqueia, sem dúvida, mas nada está perdido. Pelo menos até chegar o Arsenal nos oitavos da Champions. E também nada vai estar perdido aí. Ou vai. Já não sei. Dormir, isso, dormir por cima disto e esperar que amanhã o sol brilhe. Vai ser um dia longo, foda-se.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Señor Lopetegui,

Anda um gajo todo o ano à espera deste jogo, Julen. Um ano de misérias ou fortunas, de tristezas ou alegrias, de tanto que nos traz o entusiasmo de uma vida que pode ser mais ou menos efusiva mas que se coloca em perspectiva perante estes noventa minutos que se jogam no nosso estádio, com a nossa equipa, perante o adversário mais imponente que se nos coloca pela frente e que em situações tradicionais é um dos mais complicados de abater. E não tenhas dúvidas, por muito que o histórico recente nos dê um favoritismo tranquilo, a estatística é atirada para um canto e o jogo, quando começa, é de tripla. É sempre de tripla. Sempre.

Ninguém está à espera de um jogo de futebol agradável hoje à noite no Dragão. Garanto-te, do fundo do meu coração que se aperta tanto desde que a bola começa a rolar naquele relvado, que não haverá uma alma naquele hino à arquitectura moderna que pense que o jogo está a ser fraquinho e que o futebol praticado deveria ser mais consonante com o talento que está disposto em campo. A malta quer é ganhar. Pode ser por um-zero, por dois, três, quinze, o resultado é pouco importante nestes momentos. O que o povo portista te pede é que ganhes, ou que quando muito tentes ganhar. Nuances tácticas, movimentações de meio-campo bem conseguidas, incursões pelos flancos, remates de longe, tudo fica muito lá no fundinho quando pensamos no que será poder arrumar com estes gajos em nossa casa e sair do estádio com um sorriso de uma orelha à outra a dizer: “Hoje estes cabrões não passaram!”. Dá-nos a oportunidade de passar a semana a falar do jogo, a reviver todos os momentos como se um video estivesse a rodar sem parar no interior dos nossos cérebros. Imagina-nos felizes, com os “bragging rights” que deteremos com a emoção e alegria imensa de podermos dizer, de punho cerrado a bater no peito, que vencemos. Quem marcou? Não sei, mas vencemos. Foi um bom jogo? Não sei, mas vencemos. Houve lesões? Não sei, mas vencemos.

Venceremos. Venceremos, raios me partam, venceremos. E está tudo nas vossas mãos. Força, rapazes.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Shakhtar Donetsk

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Um ambiente pacífico, relaxado e de bom convívio, a fazer lembrar saudosas noites das Antas, que enchiam de espaço vazio com a visita de um qualquer Famalicão, viveu-se hoje no Dragão. Um jogo tranquilo entre duas equipas com muito pouco a ganhar e ainda menos a perder, de onde se retiram três notas importantes: Ricardo a dizer que não está aqui só para jogar na B; Aboubakar a mostrar que de vez em quando um ou outro remate fora da área até podem dar jeito e Ruben Neves que começou cedo a tramar os joelhos. Vamos a notas:

(+) Ricardo (Pereira, ou “2”). Pezinhos de veludo, fibra nas bolas divididas e um bem-estar geral que contagiou o público e encorajou a equipa. Foi assim que Ricardo (Pereira, que isto de ter tantos Ricardos num plantel devia dar para aquelas palhaçadas à 80s do Ricardo 2 ou 3) se mostrou mais uma vez numa posição que não me agrada mas onde conseguiu uma excelente exibição. Preferia vê-lo como extremo, em alternativa a Tello ou Quaresma, mas compreendo que perca para os “nomes”, pelo menos por agora. Ainda assim, admito que se está a adaptar bem à posição e não é por ser magricelas que não lutou até não poder mais, interceptando bolas em zonas subidas, investindo pela lateral e jogando sempre em alta velocidade e intensidade, mostrando a Lopetegui que pode contar com ele e mandar Opare para outro lado porque este está cá para ficar. A não ser que saia em Janeiro, claro.

(+) O golo de Aboubakar. Vincent, meu filho, as redes ficam caras e se continuas com essas parvoíces vamos ter de te tirar o dinheiro para as arranjar direitinho do teu ordenado. Estamos entendidos? Que volte a acontecer, ouviste?

(+) A resposta das segundas linhas que podiam ser primeiras. Gostei de Evandro no meio-campo, menos nervoso e mais prático que da última vez que o vi. Falta-lhe um pouco mais de audácia para subir no terreno como Herrera (eu, a elogiar Herrera. eu. vejam lá que a meio do jogo cheguei a dizer que o homem fazia falta para impôr ritmo naquele meio-campo. vou ao médico em breve, garanto) mas precisa de mais jogos, mais confiança; Ruben muito bem até à lesão (recupera rápido, puto!), Quaresma sem problemas em arriscar e a subir no terreno com o apoio dos colegas, apesar de algumas jogadas escusadamente “Quarésmicas”; Marcano a jogar fácil na defesa e a servir como tampão no meio-campo, a mostrar que na Europa pode ser muito útil em jogos de mangas arregaçadas e dentes cerrados; Fernández bem nas saídas da baliza com a cabeça e com os pés; Aboubakar a trabalhar muito sem conseguir ser produtivo, muito por culpa de Juanfer Quintero que hoje não estava para ali virado. Há ali alternativas no plantel e não sendo titulares de caras, podemos rodar algumas peças sem que se ouçam muitos riscos na agulha.

(-) Maicon. No jogo em Lviv, falei de Maicon assim: “Maicon chegou ao jogo contra o Boavista como um dos jogadores em melhor forma no plantel, imperial na defesa, perfeito no corte, tranquilo em posse e sem parvoíces de maior a apontar. E depois…foi expulso no Dragão por uma entrada idiota e hoje fez uma rosca à Maurício que ia dando auto-golo e cortou a bola para os pés do avançado do Shakhtar, dando origem ao 2-0.“. Hoje, o regresso do…aham, capitão foi marcado por mais uma avalanche de imbecilidades que fariam Stepanov corar de vergonha. Lento demais em posse, tremido no passe curto e absurdo no longo, foi mais um jogo que marca a diferença entre o Maicon de início de época e a contínua saga do careca que por ali anda a oferecer bolas aos avançados. Continua a facilitar em demasia nos jogos “fáceis” e faz com que comece a pensar em dar mais uma oportunidade a Reyes ou a primeira a Lichnovsky.

(-) Adrián. Uma simples frase: Bolatti conseguiria passar por ele em passo lento. Meu Deus, rapaz, se nem neste jogo, onde podias mostrar mais serviço, te dignas a mexer as pernas, não vejo como é que vais ganhar lugar na equipa. Nem tu, ao que parece.

(-) Quintero. O meu bobblehead preferido continua a não conseguir ganhar pontos em relação ao mais-que-provável dono do lugar na equipa principal (Óliver) porque é tão evidente a diferença de ritmo entre os dois como se estivéssemos a comparar Cristiano Ronaldo com o homónimo brasileiro em 2014. Lento, incapaz de se movimentar em condições para criar espaços no meio-campo e com pouca desenvoltura sem o apoio de Evandro. E Ruben. E depois Marcano. Não deve ter precisado de tomar banho, porque pouco fez hoje à noite.


Duas alemãs, uma suíça, uma italiana, uma francesa e…*suspiro*…duas inglesas. Venha qualquer uma das seis primeiras, por favor.

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