Vi o jogo numa televisão que tremia tanto como as pernas do Costa perante Cantona naquela fatídica noite em Manchester aqui há dezassete anos. Mas o jogo, menos tremido, foi tranquilo, sem grandes motivos de preocupação e acabou por constatar que esta equipa começa a ficar pronta para adaptar o jogo a diferentes circunstâncias, quando elas assim o obrigam. Foi uma vitória fácil, tornada ainda mais fácil pela forma como nos impusemos como equipa grande, com um jogo pausado, sem acelerações exageradas, com entreajuda entre sectores, facilidade de desdobramento ofensivo e sentido prático elevado na altura de fazer sempre o mais simples e abdicar da brincadeira. E quando assim é, especialmente na Champions, conseguimos mostrar que estamos à altura. Pelo menos nesta fase de grupos. Vamos a notas:

(+) Herrera. Duas assistências, um golo. Vou repetir: duas assistências e um golo. É isto que Hector traz no saco no regresso da Bielorrússia, depois de uma exibição que roçou a perfeição e que terá sido uma das suas melhores partidas com a nossa camisola no lombo. É estranho elogiar um jogador que no seu jogo de estreia na Champions foi expulso por acumulação de amarelos em meia-dúzia de minutos e que tem vindo a mostrar tanta insegurança em posse e incapacidade de mostrar no clube o que já vimos de tão bom na selecção, mas a verdade é que Herrera tem vindo a subir de produção e a crescer no meio-campo da equipa. E uma nota de quase alívio, porque já o critiquei tantas vezes que o elogio de hoje até sabe melhor. Carago, homem, se sabe.
(+) Casemiro. Mais um elemento em crescendo, parece que está finalmente a mostrar as capacidades que faziam dele um jogador tão apreciado pelos adeptos do Real Madrid, apesar de perceberem que não tinha lugar numa equipa com tanta qualidade. Continua a mostrar que nunca será um trinco à Fernando, mas mostra bons dotes posicionais (a recuperação de bola para o golo de Herrera é excelente, no momento certo e na altura certa) e capacidade de passe a meia-distância que lhe dão enormes vantagens para um jogo de ataque apoiado como o FC Porto precisa de ter. Parece estar a gostar mais do que faz, ao contrário do que se via no início de época.
(+) Jogar como equipa grande. Ao contrário do que tinha feito no jogo em casa contra estes rapazes, Lopetegui não inventou no meio-campo e apresentou aquele que parece ser o escolhido como “titular”, seja lá o que essa palavra possa trazer no FC Porto 2014/2015. Foi aí que vencemos o jogo, com uma boa rotação de bola entre sectores proporcionada por uma boa exibição de Casemiro e Herrera, com Óliver um pouquinho atrás. Mas a interligação entre Quaresma e Danilo esteve em alta, acima da mostrada por Alex e Brahimi no outro flanco, com Jackson a recuar sempre que necessário e a defesa a subir quando lhe era pedido. Os centrais firmes e sem magia mas com empatia e sentido prático, os laterais afoitos no ataque e inteligentes a recuar, o meio-campo a receber e rodar como era necessário. Bem, muito bem.
(-) BATE. Não houve nenhum jogador do FC Porto que se tenha exibido num nível abaixo do que era pretendido e não fosse o relvado parecer um lago gelado no Minnesota e a bola teria sido trocada com mais facilidade. Muita dessa facilidade prende-se com a fraca exibição do BATE, uma equipa com poucos argumentos para esta fase da prova. Sim, são campeões bielorrussos há quarenta e nove anos, mas compará-los ao FC Porto (ou a qualquer outra equipa do nosso nível) assemelha-se a tirar uma fotografia tremida a um nenúfar mirrado no meio de um lago e chamar-lhe um Monet. Vencemos bem, mas contra um adversário fraquinho.
Primeiros no grupo (obrigado, Athletic!), seguimos em frente prontos para o que daí vier. Seja quem for, esta barreira está ultrapassada com inteligência e (algum) bom futebol. Gostei.