Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 Rio Ave

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Quem saiu do estádio aos 85 minutos, como faz habitualmente, perdeu três golos, todos eles memoráveis. Desde o calcanhar de Alex Sandro (involuntário, note-se), aos pés esquerdos de Quintero e Danilo, por motivos diferentes, foi um festival de cinco minutos de golaços e alegria bem espalhada. Mas o resto do jogo não foi tão entusiasmante nem tão bem disposto, porque o FC Porto mostrou mais uma vez que ainda tem um bom caminho a percorrer até conseguir estabilizar a equipa até um ponto em que se possa considerar madura. Há ainda muita desorganização a meio-campo, especialmente sem bola, para que possamos olhar para um futuro próximo com o optimismo que todo aquele talento poderia fazer crer. Ainda assim, a vitória assenta bem. Vamos às notas:

(+) Danilo. Estás com uma moral, rapaz, que nem pareces o mesmo que cá chegou e andou dois anos a penar até conseguires fazer meia-dúzia de exibições decentes! Desde as intercepções na defesa, as subidas pelo flanco, as diagonais que fazes para o meio, estás a dar uma tremenda vida ao corredor direito, que já não via a ser tão explosivo desde que o Bosingwa por cá andava! O golo que marcaste então…upa upa, aos noventa e coiso minutos ainda tiveste pica para receber a bola no meio-campo e cavalgares por ali fora para rematares de pé esquerdo e meteres a bola na gaveta com uma pujança e o mérito de quem trabalhou para isso. Parabéns, homem!

(+) Tello. O melhor jogo dele desde que chegou ao FC Porto, foi dinâmico, vivo, alerta, trabalhador e uma tremenda enxaqueca para o lateral que o defendia. O golo é exactamente o que este rapaz deveria fazer em todas as circunstâncias em que se encontre olhos nos olhos com um defesa no centro da área: finta, drible, arranque, remate. Entrou desta vez e acredito que pode entrar muitas mais vezes se esta “motinha” continuar a ser prático e não abusar do adorno técnico. Esteve muito bem no resto da partida, a aproveitar as subidas de Danilo e a trocar bem a bola com ele. Gostei do entendimento e gostei do empenho.

(+) O enorme talento de Quintero no último passe. Recebe a bola à entrada da área e penso: “vai sair remate em banana, para o cantinho!”. O homem parou e deixou a defesa sem saber o que fazer. Pensei: “oh, porra, remata lá a bol…” e o gajo faz-me aquela parvoíce ao alcance dos deuses só lá do topo. Nada de deuses merdosos, responsáveis pelos figos ou pelos ribeiros secos. Zeus, Hermes, Apolo, os grandalhões. E fiquei com a nítida impressão que Óliver estava meio quilómetro fora de jogo quando recebeu o passe de Juanfer, mas já vi o lance na televisão e vou amanhã mesmo marcar consulta para oftalmologia.

(-) Sofreguidão na zona pressionante do meio-campo. Não é uma novidade mas assusta-me perceber que o FC Porto não consegue segurar-se quando se coloca em vantagem. Há qualquer tipo de entorpecimento mental, de permissividade que se apodera dos jogadores depois de marcarem o primeiro golo, que lhes retira a pressão da cabeça e os faz cometer parvoíces consecutivas, do guarda-redes ao ataque. Hoje, mais uma vez, o golo de Tello fez com que a maioria da rapaziada de cor-de-rosa não conseguisse assentar a cabeça e começasse a falhar passes, a arriscar em demasia com trocas de bola curtas em zonas proibidas, a fazer passes absurdos para a frente e a permitir lances sucessivos de potencial perigo para a nossa baliza. E a subida de um elemento para a pressão subida…é só visto. Óliver, Tello ou Quintero andavam a correr como doidos no meio-campo adversário, procurando interceptar a bola que estava a ser trocada entre a zona defensiva do Rio Ave, fazendo tantos estragos no oponente como uma formiga paralítica a cabecear um rinoceronte. No entanto, o dano era pior para a própria equipa, que se desposicionava no meio-campo e abria brechas bem aproveitadas que só não causaram mais perigo porque o adversário era modesto para o nível onde queremos jogar. É que se fizermos isto contra um Manchester City ou um Barcelona…

(-) Brahimi. Já disse há algum tempo que quando Yacine estiver em dia bom, vai ser um espectáculo vê-lo e devia haver quota extra para os bilhetes. Mas quando as coisas lhe correrem mal…é de fugir. E hoje foi um destes últimos, em que o argelino não acertava com os domínios de bola, os arranques em drible ou os (poucos) passes aos companheiros. E para compor o ramalhete, ainda deu um pontapé num adversário e merecia ter sido expulso. Belo jogo, rapaz. Não faças muitos destes, por favor.


Vinha preparadíssimo para uma crónica cheia de referências ao rabo do Alex Sandro, porque me pareceu que foi com essa parte do corpo que tinha marcado o golo. Eram piadas sobre os “anais da história” e afins. A repetição, que vi há pouco, tirou-me as dúvidas, e o calcanhar não é tão fácil/brejeiro para usar. Hélas.

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Desde o dia 2 de Novembro que não ponho os pés no Dragão. Hoje, vinte e sete dias depois, voltarei a entrar no meu teatro de sonhos para ver o meu clube a defrontar uma das boas equipas deste campeonato, agora que estamos já satisfeitos por uma excelente passagem pela fase de grupos da Champions’, seja qual for o resultado que venhamos a conseguir no jogo em casa contra o Shakhtar, daqui a semana e meia. E por esse motivo, os meus parabéns a ti e ao grupo todo.

Mas hoje, outro galo canta. Porque os teus rapazes têm uma tendência fantástica para desaprender as lições de tempos idos, porque o jogo tem características completamente diferentes do de Borisov e porque não podemos arriscar sequer perder pontos na caminhada para um título que está ainda muito longe mas que continua perfeitamente ao nosso alcance. E é por isso mesmo que temos de entrar para esta partida, para mais uma destas inúmeras partidas de domingo à noite, com o fim-de-semana a terminar e a perspectiva de uma árdua semana de trabalho que se coloca perante os nossos olhos, é pelas almas dos milhares de portistas que vão estar no Dragão com a ânsia de um jogo bem disputado que termine com uma vitória para as nossas cores que temos de entrar com força, com a capacidade de um grupo de triunfadores que queremos sair do estádio com um sorriso de orelha a orelha, torneado por uma alegria que só o FC Porto nos consegue dar. E tudo depende de ti, do Brahimi e do Óliver, do Quaresma e do Jackson. E, noutra escala, depende também do acerto do Indi, das subidas do Danilo e dos passes do Casemiro.

Não deixes baixar a moral do grupo que comandas mas acima de tudo não deixes esmorecer o ânimo do povo que vos acompanha semana após semana. Ganhem o jogo, vençam com dignidade e mérito…e transforma um dos piores momentos da semana numa orgia de golos e boa disposição. Está nas vossas mãos.

Sou quem sabes,
Jorge

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Quem vai à bola, não dá, só leva.

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No fim-de-semana mandei-me para o cinema. Há quase dois anos que não punha lá os pés e não houve interesse de mais ninguém lá em casa, apesar da minha filha ter reagido com um sonoro: “NÃ!” (aliás, parece falar uma espécie de Esperanto minimalista, já que usa a palavra para tudo o que lhe apetece, a parvalhona linda, como o Walter em frente a um prato de bróculos), que me motivou a deixá-la em casa não fosse ela começar com aquilo a meio do filme. E porque apesar de soar interessante levar um bébé com menos de dois anos para um filme de 170 minutos e assitir ao desconforto dos pseudo-cinéfilos (lá chegaremos) quando eu me pusesse a mudar uma fralda lá no meio da sala, a verdade é que não seria de todo prático. Optei, portanto, por ir sozinho.

O mesmo já aconteceu em idas aos jogos de futebol no Dragão ou às Antas, já que por diversas vezes me vi confrontado com a situação de não ter companhia para ver o jogo, seja por que motivo for (morte de familiares e/ou animais de estimação, férias marcadas, aniversários, ressacas, doenças súbitas, ou o infeliz “eh pá hoje não me dá jeito porque tenho uma amiga cá no Porto e ela não quer ir”, que é tao credível como ver o Mariano González a fintar o Pepe. E por cada metro que caminho em direcção ao estádio, vejo grupos de portistas a conversar sobre o último passe do Doriva, o cruzamento do Esquerdinha, o remate do Maniche ou a defesa do Helton. O lento passar do tempo que se torna rápido à medida que envelhecemos faz com que as opções se tornem mais visíveis e cada vez menos complicadas de tomar, como uma estrada que se abre pela nossa frente. Mas nunca me amedrontou o conceito de “ir à bola” sozinho. Jamais. E procurando evitar que tantos portistas, muitos deles com bilhete pago, prefiram ficar por casa em vez de enfrentar o negro horizonte de um final de tarde / início de noite na companhia distante de um grupo de gente que não conhecem, enquanto deslizam num torpor solitário a caminho do estádio, pensem que nunca estarão sozinhos. Longe dos sofás, das televisões, dos Football Managers e das casas de apostas, estão lá portistas. Como vocês.

Por isso não fujam do estádio. Com caras familiares, com ausências notadas, sozinhos, constipados ou com diarreias explosivas. Dêem lá um salto. Sejam portistas “de estádio”. É muito, mas muito bom.

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Respect? Podemos mesmo esperar por ele sentados.

foto retirada do Facebook oficial do FC Porto

foto retirada do Facebook oficial do FC Porto

Vi o jogo num café perto do trabalho e quando o árbitro apitou três vezes e apontou para o centro, paguei o que tinha consumido (uma estranha bebida à base de malte, de tom palha com uma espuma branca em cima…um destes dias ainda hei-de perceber o que aquilo era) e saí. Não vi flash-interviews, comentários do treinador, opiniões dos intervenientes, nada. Só depois de chegar a casa, bem mais tarde, é que percebi o que se tinha passado: aparentemente, nenhum jornalista tinha sido enviado a Borisov para cobrir as incidências da partida.

Estranho, dir-me-ão, mas não me parece tal. Desrespeitoso, como o FC Porto tuitou (e bem), sim, mas estranho, não creio. Afinal, esta é a mesma imprensa que desvaloriza os nossos feitos e se orgasmiza com os dos outros. Dizia-me um amigo hoje em conversa que ao ver o jogo do Sporting achava estranho não ter ouvido o relatador da TVI a pedir para um jogador leonino obrar em campo para ele poder ir lá limpar-lhe o ânus com a língua. Palavras fortes, mas que espelham a facilidade com que não uma mas as DUAS estações de televisão nacionais que possuem os direitos de emissão da Champions’ League abdicarem do dever que lhes deveria ser imputado, ignorando uns em virtude de outros, com os uns a serem sempre os mesmos e os outros a variarem entre as cores da bandeira do país, esse mesmo país que lhes serve de fralda quando se entusiasmam nos verões bianuais com uma ou outra finta mais interessante de meia-dúzia de proto-retornados em Óbidos.

É isto que temos de aturar, amigos. Sempre foi, sempre será. E se o nosso putativo isolacionismo funcionou na perfeição nos 80s e 90s, garanto que nem nessa altura éramos tratados tão mal. E podem continuar, porque durmo bem para qualquer um dos lados. Mas não estranhem chegar aos estádios e serem mal recebidos ou tratados com o desprezo de quem merece pouco menos que línguas no ânus. Mas de ferro. Com espigões. Ferrugentos.

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