Ouve lá ó Mister – Shakhtar Donetsk

Señor Lopetegui,

Não há nenhum portista que queira perder um jogo, seja para que competição for. Mesmo aqueles atrasados que no ano passado (e em tantos outros “anos passados”) desejaram que o FC Porto perdesse para o treinador ir para a rua ou seja lá que inane objectivo a que algumas almas se vão propondo no normal decurso das suas infelizes vidas cheias de fel e ódio e má disposição generalizada…mesmo esses, acredito que lá no fundo sabiam da estupidez que estariam a proferir nesse momento. E os que o desejam, ou são outra estirpe de portistas menos de acordo com o que é habitual chamarmos de “ser humano” ou de “gente racional”, merece ser enforcada pelos tomatinhos até chorarem lágrimas de sangue.

Este intróito menos agradável está aqui por um motivo: em relação ao jogo de hoje, digo-te isto com todas as letras: no one cares. Mesmo. Certo, a malta quer sempre ganhar e nem sequer pensa que um empate possa ser um bom resultado no último jogo da fase de grupos, quando podemos bater um dos nossos recordes de pontos nesta etapa das competições europeias ou seja lá qual é o recorde que podemos atingir. Mas nós somos o Ronaldo, sempre à busca do próximo alvo estatístico a abater? No. One. Cares. Mesmo.

O que a malta se importa mesmo é pelo jogo de Domingo. Esquece todas as rivalidades Real vs Barça em que estiveste mergulhado nos últimos anos, porque te posso garantir que isto chega perto se não a ultrapassa. Hoje vem ao Dragão o Shakhtar, rei da Ucrânia, senhor feudal de todos os brasileiros decentes agora a jogar no estádio emprestado de Lviv, penta-campeão em título do campeonato lá do burgo…e toda a gente vai estar a pensar no jogo de Domingo. Por isso o que esperamos do jogo de hoje? Zero lesões, uma exibição agradável, nada de extraordinário, não perder para deixar este grupo para trás sem a mácula de uma derrota caseira…mas acima de tudo preparares os rapazes mentalmente para o que aí vem. Bom jogo. No pressure!

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

El capitán en los tiempos que corren

jackson_n6

Não houve Jardel sem ter havido um Capucho ou um Drulovic. Não teria havido Falcao se não tivesse co-existido com um Hulk ou um Moutinho. E não há um Jackson sem um Tello, um Quaresma ou um James. Ou há?

Jackson tem sido um dos melhores avançados da nossa Liga desde que cá chegou e está este ano a ser igualmente um dos avançados mais profícuos em toda a Europa. E é em grande parte graças aos seus golos que conquistámos o primeiro lugar na fase de grupos que amanhã fecha no Dragão. Por cá, a vida de Jackson continua a ser polvilhada por uma tremenda sucessão de golos, com 77 em 114 jogos (0,67 golos/jogo, ou seja, cerca de dois golos em cada três partidas), o que não atingindo os quase miraculosos números de Jardel (uns extraordinários 0,96 golos/jogo) ou Falcao (com uns não menos impressionantes 0,82 golos/jogo) acaba por ser uma marca incrível de um jogador que já chegou a ser contestado de uma forma absurda por tantos portistas. Mas Jackson dá um pouco mais à equipa que Falcao e bem mais que Jardel. Para lá das notáveis capacidades como “poacher”, é a forma como volta atrás depois de perder uma bola, como recupera defensivamente para tapar os buracos deixados pelos colegas ou pressiona o último jogador para tentar fazê-lo perder a bola tão depressa como a recebeu. É a inteligência na posse de bola e a capacidade tremenda de a controlar em situações complicadas, sempre parecendo que não está a dominar o lance mas sempre com a presença de espírito de saber onde estão os colegas, de perceber o melhor timing para largar o esférico ou entender se a deve manter mais algum tempo nos pés.

Jackson é, neste momento, tão importante para a equipa como sempre foi e parece estar a liderá-la em campo com autoridade e espírito de conquista. Só precisa de aprender a marcar penalties. Se fizesse isso bem não havia ninguém a dizer mal dele. Dentro ou fora.

Link:

Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

233387_galeria_academica_v_fc_porto_primeira_liga_j12_2014_15.jpg

É assim que todos os jogos do FC Porto deviam ser, pelo menos contra este tipo de equipas medíocres. Uma entrada fortíssima, sem mácula, com pressão intensa, golos fáceis e uma autoridade em campo que não mostra um mínimo de preocupação com a moral ou a capacidade de recuperação adversária. Jogar como os grandes que somos, no fundo. Dois ou três golos depois, a gestão, sempre com bola, com rotação de jogadores e manutenção de uma atitude de arrogância positiva, continuamente a criar perigo para a baliza contrária. Simples, não é? Foi, por nossa culpa. Vamos a notas:

(+) Um meio-campo que funcionou muito bem. A numerologia pode explicar muita coisa, desde os calendários Maias às cartas do professor Mambo, mas o meio-campo do FC Porto foi hoje um exemplo quase perfeito que a escolha de camisolas parece seguir uma inspiração divina que faz com que questionemos a raiz da nossa existência e o nosso lugar no Universo. Para lá do sentido da vida ser 42, como todos sabem, vejamos os números dos três centro-campistas que hoje alinharam em Coimbra com as nossas cores: 16, 30 e 36. Se Ruben Neves arrancou numa posição mais recuada, somemos Óliver à construção defensiva e teremos 36+30=66. Dois números “seis”, portanto, a alternar na combinação defensiva. Se colocarmos o outro 16 a passear ali pelo lado, o “seis” parece uma visão idílica que nunca aparece ao mesmo tempo que se mostra perfeito, em zona pouco criativa mas muito trabalhadora. E se tirarmos Óliver a Ruben e o deixarmos sozinho, 36-30=6, que ele não é mas mostra gostar de fingir ser. Mais pela frente, se subtrairmos Herrera a Ruben e subtrairmos esse número também a Óliver, quando o homem volta para apoiar, temos 30-(36-16)=10. O dez perfeito que também não existe mas que se compõe das ausências e presenças na zona certa, no momento certo. Todos a funcionar, a adicionarem-se e a subtrairem-se, como números em folhas de papel, manuseados por um Deus de lápis em riste. Só faltou um: o 6. Para a semana, talvez.

(+) Óliver. Impecável na zona defensiva em apoio à primeira fase de construção, perfeito na labuta do centro do terreno e trabalhador como poucos na altura de pressionar o adversário, parece estar a atravessar um bom momento e a jogar com a confiança que esperávamos desde o início da temporada. Excelente capacidade técnica, toque de bola de primeiro nível e uma inteligência táctica acima da média fazem dele titular na frente de Quintero e uma peça essencial do estilo de Lopetegui. Excelente jogo.

(+) Jackson. Dois golos perfeitos, um com cada pé, numa exibição que foi quase perfeita em termos de eficácia em frente à baliza. Trabalhou bem e apesar de não ter tido grande impacto no resto da partida, foi ele quem resolveu o jogo logo desde muito cedo e a perfeição com que aquele segundo remate (e segundo golo) entrou na baliza é uma obra de arte que deve ser vista, revista e trevista. Genial, filho do Jack, genial.

(+) O apoio dos adeptos. Quando se colocam bilhetes a dez euros para um jogo a uma hora de viagem de carro da Invicta, é natural que a malta alinhe e este foi um caso paradigmático do que se quer sempre que o FC Porto se desloque a um estádio para praticar o seu métier. Todo o jogo se ouviram os adeptos a cantar, a afastar o frio enquanto saltavam e entoavam os tradicionais cânticos de apoio à equipa e aos jogadores, aqueles que fazem a razão do nosso apoio e da nossa dedicação. Tive pena de não ter estado ali no meio dos nossos, parabéns, malta!

(-) Brahimi. Segundo jogo consecutivo em que Yacine não parece o mesmo de aqui há umas jornadas, o que não sendo algo que me deixe prostrado em posição fetal a lamentar os infortúnios das decisões dos deuses, chega para preocupar um bocadinho. Parece mais lento, menos activo, a complicar mais do que decide e sem perceber qual a melhor maneira de passar pelos adversários. A genialidade tem disto, quando a lâmpada não se acende por cima da sua cabeça naquela imagética tão tradicional dos desenhos animados…só sai borrada. Espero tempos melhores, rapaz, mas não te preocupes, ninguém deixou de acreditar em ti. Até os relógios normalmente certos podem parar de vez em quando.

(-) Académica. Muito, mas muito fraquinho. A entrada em jogo fazia prever uma estratégia tão defensiva que temi o pior caso não conseguíssemos trabalhar a partida de forma a mostrarmos em campo que somos melhores, e a forma como a Académica não ter obrigado Fabiano a fazer uma única defesa em condições num jogo disputado no seu próprio estádio é a prova que não há grande qualidade em Coimbra para lá de meia-dúzia de estudantes bem boas e alguns bares porreiros. Enfim, ebbs and flows da vida.


Jogo ganho, amarelados em risco que deixaram de estar em risco para o jogo contra o Benfica…all is well, venha o Shakhtar!

Link:

Ouve lá ó Mister – Académica

Señor Lopetegui,

Não tenho um grande histórico mental dos jogos do FC Porto em Coimbra, que é o mesmo que dizer que me lembro de mais borracheiras que apanhei nessa bela cidade que golos de azul-e-branco. E ainda por cima parece que me cai o céu em cima sempre que nos deslocamos aí para jogar contra os pretos da terra (estou a falar do equipamento, carago, não há racismos aqui), porque em mais que uma ocasião sou impedido de ver o jogo em directo. Não vi no ano daquela épica batalha na piscina, onde as tropas do Villas-Boas pediram ao Belluschi para brincar como quisesse e o Silvestre marcou aquele golaço de primeira…não vi na época seguinte, quando Vítor Pereira se enterrou pela medida grande com um 3-0 para a Taça que nos deixou fora, furiosos e frustrados. Mas vi montanhas de jogos com o camelo do Pedro Roma na baliza a defender tudo, lá isso vi, por isso eu sei que os números que nos dão favoritismo são só isso: números.

Tem cuidado com os amarelos. Pá, só te aviso disto porque já sei do que a casa gasta, e já vi muitos rapazes a perderem a cabeça por causa dessa treta. O Indi e o Casemiro não são propriamente gajos calminhos e se os puseres a jogar arriscas não os ter para jogar com o Benfas, onde podem vir a dar muito jeito se for preciso andar ao molho dentro de campo…ou até para lhes ganhar, quem sabe. Mas não os tires da equipa, nada disso. Fala com eles, explica-lhes que devem fazer o mesmo que sempre fazem, mas mais pela calada. Menos entradas de carrinho e empurrões com os braços estendidos. Se vires que eles não querem ou não conseguem…aí sim, enfia o Marcano e o Campaña e seguimos contentes como dantes. Só aí. Ouvistes? Bale.

Hoje, mais uma vez, não vou ver o jogo em directo. Jantares e jantarinhos e jantarões que me arrastam (com bom motivo) para longe de vocês, meus caros, e não adianta jurar que não vou voltar a falhar os jogos porque já percebi que as forças do Universo conspiram quais velhos em repartições de finanças ou velhos no dominó de rua. Mas chegado a casa, seja a que horas, vou ver a bola. Porque um portista é também isto, Julen, é um estupor de uma loucura que não se explica, só se sente e parece não melhorar com a passagem do tempo. Ainda bem.

Sou quem sabes,
Jorge

Link: