Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 União da Madeira

20150113 - FC PORTO - CF UNIÃO DA MADEIRA

Mais um jogo da Taça da Liga e mais um enorme bocejo. A equipa que entrou em campo tentou ser fiel aos princípios de jogo de Lopetegui, com extremo enfoque na posse de bola e na sua manutenção em zonas de conforto para cada um dos jogadores, mas a forma como raramente conseguiu desequilibrar um adversário entediante na postura defensiva foi novamente aborrecida demais de se ver com um mínimo de entusiasmo. Se todos os jogos da Taça da Liga forem tão bons como este, a competição ainda será menos empolgante do que parece. E não será fácil de o conseguir, acreditem. A notas:

(+) Evandro. Ao contrário do que tinha feito na jornada anterior em Vila do Conde, o brasileiro esteve bem melhor e foi o único jogador do meio-campo a mostrar-se activo e acima de tudo pressionante e sem problemas no contacto físico. Ruben (ainda a medo) e Campaña (nada acrescentou ao jogo) eclipasaram-se perante o dinamismo do “quinze”, que tentou subir sempre que possível e em constante movimento no centro do terreno e em apoio aos colegas da frente. Mereceu marcar o penalty e ainda por cima fê-lo bem. Quem diria?

(+) Óliver. É uma diferença abismal ver Óliver e qualquer outro jogador do nosso meio.campo a nível de simplicidade de processos em zona adiantada e na forma como joga de cabeça levantada. Aquele centro de gravidade baixo ajuda imenso mas é no discernimento da posição dos colegas e na condução de bola vertical que mais tem a oferecer. E oferece, felizmente.

(+) Quaresma. Este é habitualmente o tipo de jogos em que Quaresma se senta no seu sofá e anda a passear em campo, mas hoje esteve activo, sempre à procura da bola e mesmo não tendo tomado sempre as melhores opções foi um elemento vital na forma como rematou para o segundo golo, como sacou bem o penalty e como se mostrou sempre pronto a ajudar a equipa.

(+) O regresso (?) de Helton. Não sei se o capitão está em condições para regressar em pleno mas a forma voraz como se tentou mostrar aos adeptos foi como se tivesse voltado a ser um puto de 18 anos a estrear-se na sua equipa de (quase) sempre. É um guarda-redes que nos podia dar mais garantias que Fabiano pela capacidade de jogar com os pés em zonas avançadas e pela tranquilidade que transmite à equipa. Mesmo com 36 anos.

(-) Adrián López. Um jogo fraco, mais um. A mudança para o centro do terreno só pode mostrar a Lopetegui que pode ter de se desenrascar com outro moço (Gonçalo? Ivo? Outro qualquer?) naquela posição no caso de Jackson se lesionar, porque o espanhol parece não ter mantido a subida de forma e fez um jogo apagadíssimo, sem se mostrar livre para receber passes, a trabalhar pouco quando recuava a passo no terreno e falhando um ou dois golos em frente ao guarda-redes. É preciso ter calma para que o rapaz consiga melhorar, mas o tempo escasseia…

(-) A decisão do passe longo que continuo a não entender. Aconteceu a Marcano, a Reyes, a Ricardo e a Quintero. Vêem-se paralisados perante o posicionamento mais subido do adversário, reparam que a equipa não está com o equilíbrio certo e optam pelo passe longo. A minha dúvida perante esta opção é sempre a mesma: porque é que a bola raramente chega ao seu destino? Os passes saem pouco tensos, mal medidos, com força a menos ou a mais, mal orientados…e o que me deixa lixado é que da próxima vez que tentam, acontece o mesmo ou quase. Dudes. Falham um passe, esperem vinte minutos até tentar outro. Até lá, joguem simples. Obrigados.


Dois jogos, duas vitórias. Perfeito, ou quase. Só faltava haver futebol em condições, mas isso…deixo para o campeonato e (esperemos) para a Champions.

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Ouve lá ó Mister – União da Madeira

Señor Lopetegui,

Não estás cá há muito tempo e muito provavelmente nunca antes do sorteio da Taça da Liga tinhas ouvido falar do União da Madeira, um clube pequeno naquela ilha de boa gente, excelente comida, maravilhosa bebida e tri-vencedores de Bolas de Ouro. Mas aqui há uns anos, quando andavam a esgadanhar-se todos para ficar na Primeira Divisão, havia um fulano que por lá jogava que fazia as delícias dos meus horrores. Era um canastrão jugoslavo (para os mais jovens, era um país que ficava onde hoje ficam a Croácia, Sérvia, Eslovénia e mais quarenta mini-países, sem desprimor para a terra do Alexandre) que jogava com a força de doze Vidigais (o Luís, não o Lito) e que tinha um pontapé com a força de sete Isaías (o barbichas, não o profeta). Chamava-se Predrag Jokanovic e antes de ir para o Marítimo e depois para o Nacional jogar e em seguida treinar, ganhou a vida a lixar o FC Porto.

Era feroz, o cabrão, usava os braços como poucos e punha aquele corpanzil à frente dos defesas e dos médios que tentavam contornar o rotundo tronco de carne e ódio e fel e fealdade, enervando toda a gente que o confrontava e mais uns milhares nas bancadas em redor. E é uma das únicas imagens que retenho de ver o União a jogar, a somar ao Marco Aurélio que acabou por se juntar ao Sporting e que era um dos melhores centrais que por cá passou nos anos 90.

Não havendo grande forma de motivares os rapazes para o jogo de hoje, ao menos ganha para que eu, na minha humilde e feliz consciência histórica, me possa virar para um hipotético Jokanovic que vive nas minhas memórias e tenha a lata de dizer: “Fode-te, gordo.”. Se não for por mais nada, ao menos ganha por isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Remates à entrada da área às vezes dão em golo. Imaginem!

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Discuto muito com os meus colegas de bancada durante o jogo. Um dos temas que foi mais analisado neste sábado foi a questão da contínua opção pelas jogadas combinadas em detrimento do remate pronto. Passamos o intervalo e boa parte do segundo tempo a discutir a falta de sentido prático dos jogadores do FC Porto à entrada da área, sendo que a conversa foi animada e focou-se no porquê de tantas situações serem criadas sem que resultem num remate pronto e decentemente apontado à baliza adversária. O meu colega de sempre, que aqui é habitualmente conhecido como Waldorf (e eu o Statler, em homenagem aos velhos dos Marretas), insistia que era absurda a quantidade de bolas desperdiçadas quando um gajo se apanhava em frente à baliza com um mínimo de espaço e insistia em rodar a bola para o lado ou em dar mais um toque ou fazer mais um passe, mais uma tabelinha, mais uma finteta ou mais uma berlicoquice inconsquente. Ele, o adepto do pragmatismo e do futebol acima de tudo eficaz, não lhe interessam os gestos técnicos, os dribles perfeitos ou as combinações ao milímetro. Quer remates. Quer que os rapazes sejam práticos, eficazes, sem brincadeiras.

E a segunda parte deu-lhe razão, tanto no início como no final, porque a abertura com o golo de Óliver e o fecho com o de Evandro mostraram que nem sempre o passe a rasgar ou o cruzamento recuado são as melhores opções. Às vezes, mais vale puxar a culatra atrás e dizer: “Aqui vai aço!”. Teríamos muito a ganhar com isso.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Belenenses

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Marcar cedo, gerir, ampliar o resultado se possível e não sofrer golos. É uma receita que se apresenta como base para a vastíssima maioria dos jogos de uma equipa grande a jogar no seu terreno e que o FC Porto cumpriu com alguma inteligência e a jogar com calma suficiente para estar confortável sem grandes chatices. Entrámos muito bem, com a dinâmica que se pede sempre, marcámos cedo e depois do arranque da segunda parte…a acalmia que nos idos tempos de Sir Bobby daria um treininho após o jogo. Mas em Janeiro de 2015, especialmente com a quantidade de jogos que ainda vamos disputar este mês, não me preocupou muito que deixassem o tenrinho Belenenses brincar durante dez minutos. Só tornou o jogo um bocado mais entediante, apenas isso. Vamos a notas:

(+) Danilo e Ángel. O brasileiro falhou muito mais passes hoje do que é normal, mas a forma férrea com que se tem vindo a mostrar de início ao fim do jogo, com constantes pedidos pela bola, a subir pelo flanco aos 80 e muitos minutos de um dos jogos mais fáceis do ano como se estivesse a vida e o futuro em campo…dá gosto. E ainda tentou um remate cruzado que quase dava golo. Continua a ser um dos jogadores em melhor forma no plantel. Já o espanhol esteve solto, prático, afoito nas subidas e sempre disponível para ajudar o colega à sua frente. Não tendo sido um jogo excelente de qualquer um deles, foram determinantes na postura ofensiva com que enfrentámos o Belenenses.

(+) A primeira parte de Herrera. Excelente nas movimentações, na forma como tentou tantas e tantas vezes rasgar a defesa do Belenenses com diagonais no espaço entre o lateral esquerdo (a posição, não o blog) e o central desse lado que comecei a pensar que afinal o adversário estava a jogar a menos. Gosto mais de ver Óliver a recuar para pegar no jogo e quando isso acontece, olhem para Herrera e para a forma como se orienta em campo à procura do espaço, ou sprinta para a posição certa. Está a correr tanto como ano passado, mas com uma mentalidade mais prática e mais activa. Baixou (muito) de produção na segunda parte.

(+) As tradições que (ainda) se mantém. Já é um hábito de tantos anos ver o Belenenses a entrar com a bandeira do FC Porto no nosso estádio que nem considero a hipótese de se perder esta bonita tradição. E é também disto que o futebol vive, destes pequenos nadas que no fundo ajudam a construir as imagens de uma vida, as homenagens aos antigos, à alma que nos dá esta clubite de que não se morre mas com a qual se vive. Palmas, amigos.

(-) Certo, podem descansar…mas não tanto, rapazes! Depois do segundo golo…se olharem bem quase que conseguem ver o corpo de Herrera a relaxar, numa espécie de Robocop a entrar na docking station em plena estação de polícia (Weller ou Kinnaman, escolham o que mais gostarem), tal foi o relaxamento que se apoderou dele e de tantos outros quando o jogo ficou quase cem por cento fora do alcance do adversário. E compreendo, como sempre o fiz, quando a equipa tem uma sobrecarga no calendário e se está a tentar precaver para não ficar sem gás daqui a umas semanas, mas aborrece-me a falta de discernimento para manter a bola e ao mesmo tempo estar atento ao jogo. É certo que o Belenenses oferecia tanta resistência como um cubo de gelatina, mas há alturas em que penso que a mente de um jogador de futebol tem duas velocidades: activo e morto. Enfim, nada que não esteja habituado e nada que me vá fazer gostar mais ou menos da equipa, mas houve ali 25/30 minutos na segunda parte que só serviram para passar tempo. Ao frio. Com fome. Meh.

(-) Belenenses. Uma equipa que apanhe sete num jogo a meio da semana apresenta-se naturalmente instável no próximo jogo. Somem a falta de vitórias na Liga desde Novembro e temos a receita para uma formação sem vontade de ganhar, com medo na zona defensiva, ausência de pressão alta para não arriscar o mínimo e uma aversão ao risco maior que uma freira de clausura com um cinto de castidade. Se o FC Porto quisesse tinha tentado enfiar mais que sete. Ainda bem, para eles, que não quisemos


Objectivo conquistado, o mesmo que deve ser o alvo de cada jogo: três pontos. Mantivémos a pressão sobre o Benfas e distanciámo-nos dos restantes. Nada mau para um sábado à noite fresquinho.

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos valentes, num frio final de tarde na Cidade Invicta, convidei um amigo para se juntar a mim e partilhar do maravilhoso espectáculo que é um jogo do FC Porto em casa. Enquanto nos deslocávamos para o estádio que ficava um pouco mais a norte quando comparado com a tremenda realização arquitectónica onde hoje vou estar, já depois do tradicional café pré-match que degustei com prazer no habitual avant-tasco, o homem, na altura mais jovem e menos ciente da facilidade com que as superstições se entranham na nossa alma e nos furam o bem-estar e a moral, mencionou que tinha acabado de chegar de Lisboa e que trazia, em homenagem ao jogo de hoje, um pacotinho de pequenos pedaços de céu que são confeccionados numa pastelaria lá perto do estádio do rival do dia. Uma caixa de pastéis de Belém, se ainda não percebeste, e olha que só perdes se não experimentares pelo menos um. Quentinho. Com canela em cima. Uff.

No arranque da partida, já depois de vermos a tradicional entrada dos rapazes de Belém com a bandeira do FC Porto nas mãos a cumprir a tradição histórica que tanto me apraz (bem como a nossa própria versão, com a coroa de flores sempre depositada no memorial a Pepe, lá em baixo à beira-Tejo), toca de abrir o pacote, sacar de lá duas unidades dessa ambrósia de massa folhada, e com um brinde que surpreendeu os colegas da bancada central das Antas, celebramos o facto de estarmos vivos e de podermos assistir a mais uma partida do nosso clube em tão boa companhia.

O jogo, esse jogo, em Janeiro de 2001, terminou com um empate a zero. Continuamos amigos e já partilhamos a bancada várias vezes, em acesos comentários ao jogo e discussões intensas que a amizade, como o tempo, não faz esmorecer. Mas nunca mais quero ouvir falar de pastéis de Belém. Pelo menos em dia de jogo. Faz com que hoje não seja um dia que me faça esquecer essa tão agridoce memória. Hoje, é para ganhar, mais uma vez. Com ou sem pastéis.

Sou quem sabes,
Jorge

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