Baías e Baronis – Athletic Bilbao 0 vs 2 FC Porto

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foto retirada do facebook oficial do FC Porto

A melhor exibição do FC Porto de Lopetegui, sem qualquer comparação com os 5-0 em Arouca ou os 6-0 em casa ao BATE. Excelente na cobertura dos espaços, muito bem na recuperação, toda a equipa esteve com força, com capacidade de entre-ajuda e acima de tudo com mentalidade de jogo grande contra uma equipa que não terá sido o melhor Athletic de sempre mas não deixa de ser um adversário que dá água pela barba a qualquer um. Vencemos com total mérito e passámos aos oitavos com a satisfação de dever cumprido e a noção que a equipa parece estar a começar a encontrar a melhor forma de jogar. Juntos. Vamos a notas:

(+) Brahimi. Ainda vai ser processado pela União Geral de Meniscos Rasgados, porque deve ser o inimigo público número um de todos os defesas que o vêem a passar, sem sequer perceber como raio é que se consegue rodar sobre si próprio com tanta velocidade num campo tão enlameado. Estupendo no primeiro golo, a deixar cinco jogadores do Athletic para trás, inteligente no segundo golo ao subir para pressionar o keeper basco quando o colega lhe decidiu mandar a bola aos pinchinhos. É bom, mostra que é bom e só pode continuar a ser bom. E é nosso.

(+) Jackson. Trabalhou como um mouro no exército de Saladino quando a Cristandade atirava com tudo o que tinha contra os portões de Jerusalém. Para lá da quantidade de vezes que veio atrás ajudar a defesa com cortes de carrinho e recuperações de bola no nosso meio-campo, foi nos outros cinquenta metros que mais brilhou. Recebia a bola na frente, no meio dos centrais, recolhia-a no seio do seu perfeito domínio de bola e do espaço circundante e endossava para o colega. Fez isto trilhentas vezes durante o jogo e continua a impressionar a forma aparentemente fácil como consegue controlar a bola mantendo-se tão longe dela. Aquele toque com a ponta da bota é já uma imagem de marca e não fosse A MERDA DO PENALTY e tinha tido uma nota ainda mais positiva. Um Baía com outro Baía às cavalitas, pronto.

(+) Finalmente um meio-campo! Não sei o que é que Lopetegui lhes disse antes do início do jogo, ou se fumaram todos umas coisinhas estranhas que se compram na rua e decidiram em conjunto mostrar que sabem jogar à bola como um colectivo que se entende bem e consegue trocar a bola como homens. Casemiro e Óliver fizeram o melhor jogo com a nossa camisola e Herrera não esteve ao nível dos dois colegas por muito pouco. O brasileiro esteve perfeito na intercepção e no posicionamento defensivo (a sério!), prático no corte, bem colocado para anular montanhas de ataques contrários, fazendo-o com simplicidade e eficácia. Óliver (ou Torres, segundo LFL) não parou todo o jogo, movimentando-se quer no meio-campo a procurar linhas de passe, retendo a posse de bola quando a recebia e pressionando os centrais adversários quando subia para o lado de Jackson. E o nosso mexicano, o anti-herói preferido, esteve bem no passe, a progredir firme no terreno e a soltar a bola para os flancos quando o jogo pedia passes horizontais bem medidos. Foi o que fez. Todos estiveram muito bem, só peço que continuem. Por favor, continuem.

(-) Alex Sandro. Foi o Alex do costume, lento a executar, complicado na decisão, excessivo na posse de bola e na incapacidade de proteger o flanco de uma forma consistente, mesmo com pouca ajuda à sua frente. Subiu de produção na segunda parte, onde esteve mais estável e firme no apoio ao ataque e a sacar faltas aos incrédulos avançados do Athletic, incapazes de perceber como é que um brincalhão daqueles é titular numa das melhores equipas do Mundo. É, meus amigos, sabem que ele nem sempre joga assim…e um dia que volte a fazer o que sabe, pode ser que saia aqui dos Baronis.

(-) O penalty falhado. I…don’t even…*suspiro*

(-) O relvado. Para mandar abaixo a ideia que os clubes de primeiro mundo são superiores aos outros em tudo…fica o exemplo do lamaçal do San Mamés. A fazer lembrar um qualquer ervado dos distritais, onde os jogadores patinavam como que estivessem em cima de um lago gelado ou numa planície de neve sem raquetes nos pés. E mesmo assim, o Brahimi desfez os joelhos aos moços todos. Bem feito.


Oitavos da Champions. Sabe bem, carago, já tinha saudades. Hoje vou dormir descansado. Obrigado, rapazes!

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Ouve lá ó Mister – Athletic Bilbao

Señor Lopetegui,

Aqui há duas semanas foi engraçado jogar contra estes fulanos. Tinha medo do Athletic do ano passado, mas para te ser sincero estes rapazes só me assustaram porque os “nossos” rapazes parecem fazer de tudo para que nunca consiga ter uma noite descansada. Mas também vamos lá ver uma coisa: jogos de Champions não são para descansos nem para relaxar nem para acalmar as pilinhas conjuntas. O que interessa nestes jogos é que estamos a enfrentar a créme de la créme da nata europeia, o folhadíssimo croissant, a fresquíssima bavaroise, a delicada pavlova que é um confronto entre nações através dos seus clubes. Metáfora docinha, é o que é.

Hoje o jogo não vai ser fácil mas não é impossível. O ambiente é complicado mas não é insuportável. Os bascos até são gajos porreiros, gostam é muito do clube deles e raramente o assobiam. E a vantagem é que vocês hoje vão ouvir imensas assobiadelas vindas das bancadas, novamente dirigidas a vocês! Sim, tu e os teus moços vão ser vaiados, enxovalhados, vão sofrer com enciclopédias de insulto fácil em basco e espanhol e na linguagem universal dos dedos estendidos para a frente, reconhecível desde os Maori aos Inuit. E manda-os lá para dentro com a vontade de um Guarín em Sevilha, de um Derlei na Corunha ou de um Hulk em Madrid! E não te peço que ganhes o jogo, porque sei que não vai ser fácil. Porra, Reais e Barças perdem aí pontos com a consistência de um metro japonês, por isso não me incomoda se não vencermos a partida. Mas não quero perder. Nenhum de nós quer perder e arriscar hipotecar uma qualificação que tem tanto de fácil como de dependente da nossa vontade.

Por isso manda os rapazes lá para dentro sem medos. Sem medo nenhum do público, dos adversários ou do que lhes pode acontecer se gritarem: “O País Basco é uma bela duma snaita, é sim senhor!” quando forem cumprimentar o capitão adversário. Já agora, tu eras o primeiro a dar-lhe um tabefe, não eras? Eras. Acho que eras.

Sou quem sabes,
Jorge

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No olhar de um adepto

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No olhar de um adepto, todas as jogadas contam. Há um restinho de quase-nada que se ergue do fundo da nossa alma e começa a puxar pela nossa voz, pelas fibras de todo o nosso ser futebolístico, que nos faz abrir os olhos e focar no homem que tem a bola e que começa uma qualquer incipiente jogada a partir da sua defesa ou no meio-campo. A bola, quer esteja sob o seu controlo ou fora do seu alcance, torna-se o ponto focal de toda a visualização do jogo, toda a esquadria que se vai desenvolvendo como se uma grid de Terminator caísse sobre os nossos olhos, transformando-os em miras telescópicas enquanto procuramos entender a melhor forma de levar o esférico para a frente. Para a vitória, para a baliza, para o idílio.

Maicon recebe a bola de Fabiano. Progride com calma. Calma demais, penso da cadeira do Dragão que me aloja e me permite olhar para o central com a autoridade de quem se acha superior e gere essa arrogância de uma forma tranquila até ao ponto da explosão em milhares de pedaços que rebentam com o nervosismo de quem, no fundo, é impotente para parar o que se desenrola em campo. Mas voltemos ao calvo brasileiro. Maicon recebe a pelota e olha para a frente. O raciocínio é difícil e ao mesmo tempo tão natural, tão habitual que o recurso à memória dos treinos e da esquematização da táctica, que deveria entrar em primeiro lugar na fila, senta-se no fundo da plateia à espera que a infrutífera revisão das recordações o activem. Passe lateral, para Danilo? Está livre, é possível, já o fiz no passado tantas vezes, o risco é quase nulo, ele recebe e se não conseguir subir com a bola pode devolver-ma ou entregar ao trinco. Not bad. E se eu rodar e enfiar a bola pelo meio para o Casemiro? Ou para o Herrera? Há mais risco, mais pernas, mais relva a trilhar, mais oportunidade de me assobiarem se falhar. Ao mesmo tempo ganho terreno, crio desequilíbrios, abano os adversários, faço-os tremer. Hmm. Ponder, ponder. O Indi está ao meu lado mas ainda são vinte metros e o outro parvo está ali perto. E se falho o passe? E se tropeço? E se a bola pára de rodar, se as leis da Física se suspendem durante dois segundos e a bola trava sozinha? Não, para ali não, hoje não, agora não. E se mandar a bola para longe? Para muito longe? Para o Tello, aquele pontinho azul-e-branco que está ali a quarenta metros? Cinquenta! Não, setenta! Mil! Está a sete quilómetros de distância e talvez seja a melhor forma de me safar disto. Já aí vem o avançado, raios te partam que tu és rápido, não parecias nada, como é que chegaste aqui tão depressa, maldito. É isso mesmo, vou mandar a bola para longe, assim não me chateiam, não me insultam. Haverá mais destas, muitas mais. Esta é só uma que já passou. Cá vai.

E normalmente a bola perde-se pela linha. Por culpa dele. Por nossa culpa. Por culpa dos demónios na cabeça. Podia ser qualquer outro jogador, o processo seria o mesmo.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Nacional

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retirada do facebook oficial do FC Porto

Um bom jogo, com uma boa vitória, numa boa noite de uma boa equipa, em frente a uma boa casa com boa vontade. E sem assobios. Quase sem assobios. Afinal de contas, quando a equipa consegue colocar em campo um futebol ao nível do que fez nos primeiros 15/20 minutos, que encostava às cordas qualquer equipa portuguesa e muitas das que por aí fora vão andando, não há razão para insatisfações de qualquer ordem. Algumas boas exibições, excelentes trocas de Lopetegui durante a partida, um rapaz que não engana, outro que enganou durante algum tempo e outro que parece ter deixado de se enganar sozinho. Vamos às notas:

(+) Brahimi. Parece improvável mas está a ser uma verdade impossível de contornar: depois de Madjer, há outro argelino que eleva os rabos das cadeiras do estádio do FC Porto em aplausos permanentes e totalmente merecidos. Yacine Brahimi. Tem nome de jogador e tudo, enrola nas bocas dos adeptos e solta-se com o grito que coloca o povo em brasa e as redes em chamas. Depois de uma excelente primeira parte, onde brilhou pelo flanco esquerdo a desfazer rins madeirenses sem fim, passou um bom naco da segunda parte sem grande produtividade mas sempre a tentar a finta curta em passada rápida, com pouco sucesso. E quando em discussão com o meu amigo do lado já ia pedindo a sua substituição por Tello…o homem faz-me aquilo. Sidestep, feint, sidestep again, kaplow. Deus me livre. Alá. Shiva. Vishnu. Zeus. Osíris. Venham todos. Este rapaz merece ser visto ao vivo.

(+) Quaresma. Ao intervalo, enquanto falava animadamente com o meu pai, ouvia-o a dizer: “E o Quaresma? O gajo até vem atrás defender e ajudar os colegas, nem parece o mesmo!”. E não parecia, mas por culpa sua, por nos ter habituado a ver um jogador tantas vezes indolente e sem vontade de mostrar…vontade de ajudar. O Quaresma que vimos hoje no Dragão foi voluntarioso, bom no passe, perfeito no overlap com Danilo e inteligente a reter a bola nos pés. Este Quaresma é titular no FC Porto, sem dúvida.

(+) Danilo. Mais um óptimo jogo de Danilo, apesar de algumas hesitações na primeira parte, onde deixou vezes demais os adversários passarem-lhe nas costas. Quando se entendeu melhor com Maicon (ao lado) e com Quaresma (pela frente), estabilizou a exibição e desatou a subir pelo flanco. E o golo é totalmente merecido, especialmente porque já o procurava há alguns jogos, sem sucesso. Continua a ser dos melhores este ano.

(+) Lopetegui a mexer. De todas as componentes das alterações que Lopetegui hoje fez na equipa, só não acertei na saída de Quintero. Preferia Óliver porque com Quintero em campo basta um passe para dar golo enquanto que o espanhol “rodriguilha” mais o jogo, mas aceitei a decisão. A saída de um dos dois médios com características quase idênticas era imperativa e a entrada de Herrera foi perfeita porque Hector esteve excelente na forma como complementou Óliver, alternando tranquilidade em posse com a abertura de passes horizontais para abrir o jogo. Herrera muito bem. Ainda não soa bem, mas sigamos em frente. Brahimi por Tello era exigível porque apesar do golaço do argelino, tornava-se evidente que se tivesse de correr dez metros para o marcar, talvez já não o conseguisse. E render Jackson por Quinz…Aboubakar, perdão, foi expectável pela correria do colombiano e a necessidade de o poupar para o importante jogo em Bilbau. Three for three, mister.

(-) Esta equipa não está pronta para jogar sem bola. Olhem para o meio-campo do Nacional. E pensem que tiveram 39% de posse de bola durante este jogo. Uma cambada de ogres prontos para demolir muros de castelos medievais que tiveram o privilégio de poder trocar a bola entre si durante largos minutos em pleno relvado do Dragão. Enquanto o jogo decorria. Com o FC Porto a gerir, atrás da bola. Mas agora alheiem-se desse facto digno de figurar em livros do fantástico e olhem para a constituição do meio-campo do FC Porto. O equivalente do Walter a jogar na posição 6/8/whatevs, somando-se dois elementos que levam o cagataquismo a um nível olímpico, pressionando em zonas estranhas (a sério, Óliver, onde RAIO andavas tu a correr naquele meio-campo se raramente chegavas perto do Ghazal e Cª?!) e incapazes de colocar entraves a jogadores que podiam pegar neles e arremessá-los pelo ar para o Fabiano, sem que fosse sequer marcada falta nem mostrado amarelo. Com a bola, génios. Sem ela, meninos.

(-) Alex Sandro. Deve haver uma regra não-escrita que só um lateral do FC Porto pode estar a jogar em condições de cada vez. O outro é relegado para um papel subalterno, um círculo muito especial do inferno por si criado, onde as invenções se sucedem sem sucesso, onde as falhas são ampliadas como um outdoor com a palavra FAIL em grossas letras negras, onde os passes saem tortos e as intercepções mal medidas. Não estás a ter uma boa época, Alex.


Mais uma jornada sem sofrer golos e com tantas ocasiões criadas que o resultado parece curto. Façam o mesmo na quarta-feira, rapazes.

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Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Temos uma história com estes tipos que tu nem imaginas. Um dos jogos mais humilhantes da minha vida foi vivido neste mesmo estádio, aqui há oito ou nove anos, quando estes fulanos apareceram cheios de bazófia e nos cravaram quatro no lombo. Lembro-me que a meio do jogo já não havia nada que conseguisse fazer para abanar a depressão e já só me ria, juntamente com o meu companheiro de sempre nestas lides da bola. Ria-me, Julen, com uma derrota do FC Porto! Em casa! Por QUATRO! Há alturas em que não se consegue explicar o próprio comportamento e só posso atribuir esse pequeno acesso de loucura a uma qualquer histeria que possuiu a minha mente, até aí medianamente sã. Nunca mais fui o mesmo desde esse dia.

E se havia ainda qualquer necessidade de vencer este jogo, tens mais esse motivo. Estes badamecos habituaram-se a vir sacar pontos aqui à urbe e nós fomos consistentes na permissividade durante os últimos anos, o que me enerva sem que possa fazer o que quer que seja acerca disso. Não me deixam entrar em campo e tirar a bola de cima da linha de golo, dar dois bufardos no Rondón ou uma entrada de carrinho à Otamendi com anfetaminas nas pernas do Marçal (mais um gajo odioso), por isso delego em ti e nos teus a responsabilidade de o fazerem. Não precisa de ser nestes moldes nem com estas particulares doses de malvadez, basta que ganhes o jogo. Basta-me que relembres a esses gajos que quem manda aqui somos nós. Somos. Nós. Mai nada.

Sou quem sabes,
Jorge

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