Dragão escondido – Nº29

Ah, um duelo enorme num clássico imortal…quem está atrás do focinho de Tony “Iron Man” Stark em luta contra um elemento das forças do mal?

Força na caixa de comentários! E não vale andar a procurar a imagem na internet, todos o podem fazer e tira a pica à brincadeira toda…torna-se fácil demais, não acham? Batota não entra!

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Braga

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Não se faz, amigos. Um gajo tem um casamento no dia anterior e ainda vai para o jogo meio ressacado, para apanhar um heart-fucker destes. E podia tudo ter sido tão fácil, porque apesar da combativa equipa do Braga nos ter dado água p’la barba (especialmente no meio-campo, bem mais rijo e lutador que o nosso…mesmo com Ruben Micael em campo, imaginem!), há uma clara diferença de talento entre as equipas. Começa a ser um lugar-comum assinalar este pormaior, mas tem sido graças às individualidades que nos temos vindo a safar. Hoje foi San Juanfer que nos safou de um buraco por nós cavado, que poderia ter sido ainda bem pior se não houvesse um lampejo de qualidade colombiana a trazer o golo da vitória e a iluminar as bancadas do Dragão que andam mais nervosas que um adolescente antes de convidar a miúda mais gira da turma para irem ao cinema. Vamos a notas:

(+) Quintero. Quase perfeito no passe curto e médio, especialmente quando consegue rasgar o meio-campo à procura de um jogador que apareça pelo flanco. Vi grande parte dos passes diagonais que fez enquanto esteve em campo da forma mais adequada para avaliar o talento do moço: por detrás dele, no enfiamento perfeito da direcção do passe. Podiam pôr 80% dos médios do FC Porto dos últimos anos a fazer aquele tipo de passes consecutivamente e garanto que não acertavam metade para o dobro das tentativas. Excelente também no golo, provou que a jogar como “10” é como mais rende. Que continue e não se chateie por não jogar sempre.

(+) Danilo. Continuo a gostar muito da forma como está a colocar a alma, o suor e a capacidade física ao serviço da equipa nesta época. E hoje, mesmo depois de falhar um golo feito (porque quis controlar a bola em vez de mandar um tiraço ou encostar a bola de pé aberto para o canto mais distante…seu NABO!), foi dos poucos que me deu um gozo bestial de ver a correr, a subir pelo flanco e a descer em corridas imensas, já que raramente teve o apoio que necessitava da parte do extremo que jogava do seu lado. Palmas, puto, palmas!

(-) As pernas. No jogo contra o Boavista, disse o seguinte: “Estamos na 5ª jornada e já vejo vários rapazes do meio-campo para a frente a vomitarem-se todos para acabar um jogo. Sim, jogámos muito tempo com dez jogadores. Certo, estivemos quase sempre com a bola nos pés, o que cansa mais. Compreendo, Ruben Neves tem 17 anos, Herrera e Brahimi estiveram no Mundial. Mas não é bom sinal quando chegamos a meio da segunda parte e os dois jogadores mais importantes na construção ofensiva da equipa estão agarrados às pernas e o desequilibrador principal da equipa não aguenta mais que duas ou três corridas. Começo a pensar que a rotação imposta por Lopetegui se deve mais a factores físicos que tácticos…“. Não percebo muito de músculos nem das métricas que são idealizadas para a constituição de um corpo humano perfeito. Nem tão pouco sou um perito na percepção do que faz um jogador de futebol conseguir correr noventa atrás de noventa minutos em alta pressão e alto rendimento. Mas posso inferir que se a rotatividade pode permitir que alguns rapazes descansem e se sintam mais capazes para enfrentar o próximo jogo com mais capacidade física, também posso entender que haja alguns rapazes que têm dificuldades em manter um ritmo constante se não jogam todas as semanas. É uma questão de ser encarcerado por possuir um canino ou por abdicar da mesma posse, mas será que a rotação de jogadores não ajudará a que a equipa não aguente mais de 70 minutos em condições? Ou estarei apenas a arranjar desculpas para um plantel que tem tanto de qualidade como de falta de capacidade física?

(-) Macios da defesa para a frente. Houve muitas, imensas, DEMASIADAS progressões com a bola por parte do Braga sem oposição credível por parte dos nossos médios e extremos. Excluindo Jackson deste grupo, ele que tantas vezes vem atrás para cortar bolas de carrinho na perfeição, temos um grupo de rapazes extremamente talentosos mas que não parecem muito dispostos a usar de um jogo mais físico (não violento, atenção!) para chegar aos seus propósitos. Não sei se Tello tem medo de se lesionar de novo na coxa, se Óliver receia magoar o ombro de novo, se Brahimi se amedronta de perder algum do seu imenso talento ao encostar o corpo ao adversário ou se Herrera percebe que não chega cravar as pernas no chão e esperar que o adversário não o contorne. Agora que as zonas de pressão parecem mais bem estruturadas, é definitivamente necessária mais agressividade na recuperação da bola na zona média.

(-) Repetir Marcano no onze. Compreendi a entrada do espanhol contra o Shakhtar, já que precisávamos de um “holding midfielder” para recuperar a bola em força quando fosse necessário frente ao meio-campo menos brasileiro do mundo, apesar de ter três ou quatro brasileiros. Mas no jogo de hoje não consigo perceber a vantagem. A posse seria quase de certeza nossa de início a fim, obrigando os médios a recuar para construírem o jogo de trás para a frente. Herrera, o aguadeiro responsável por trazer a pelota a partir da zona central, atrasa-se no terreno e obriga a que o outro médio bascule enquanto o médio mais ofensivo fique mais à frente a criar linhas de passe. E Marcano, le pauvre, não sabe mais do que agir como parede para receber a bola de costas para a baliza adversária e atrasá-la para os colegas. Não desequilibrava, não recebia a bola em posse e não criava espaços para a receber em condições. E ninguém esperava que o fizesse…a não ser Lopetegui. A saída dele e de Herrera (mais um jogo fraquinho do mexicano) vieram 45 minutos mais tarde do que deviam.

(-) Alex Sandro. Mal nos cruzamentos, mal no controlo da posse em zona defensiva, mal na subida pelo flanco e particularmente mal no endosso da bola em situações de recuperação de bola, com dois ou três passes absurdos e direitinhos aos pés dos adversários. Notou-se bem o estouro das pernas quando começou a pontapear o esférico na direcção da arquibancada. Um jogo para esquecer.


Três pontos. O equivalente ao que foi conquistado nas últimas três jornadas. Continua a ser o meu grande medo nesta equipa: que se perca grande parte do campeonato antes de a podermos apelidar como tal…

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Ouve lá ó Mister – Braga

Señor Lopetegui,

Sabes que já não vejo um FC Porto vs Braga que me ponha entusiasmado desde um perfeito final de tarde em Dublin, onde a cerveja fluía como hidromel em terras medievais (daquelas “a sério”, nada de feiras a imitar o estilo com gajos de Pumas nos pés e latas de Super Bock nas mãos) e a harmonia imperava entre clube, equipa e sócios. E esse jogo, meu caríssimo basco, já foi há três anos e meio. Mais de mil e tal dias de diferença que fizeram com que houvesse um extremar de posições, um grau de exigência de tal maneira alterado que um empate fora na Champions contra aquele que é teoricamente o adversário mais forte do grupo faz com que a contestação aumente, ninguém sabendo muito bem porquê. É a rotatividade, são as falhas, é o meio-campo que não carbura, é o Tello que é guloso e o Jackson que ficou no banco ou o Quaresma que ficou na Invicta. Tudo reclama, ninguém acalma.

Ora hoje, que todos regressam ao Dragão e queremos um bom resultado. Lembra-te que há jogos de selecções nas próximas semanas, por isso esmifra ao máximo o que puderes dos jogadores. Não quero saber se vão passear em amigáveis contra San Marino ou se vão apanhar uma Alemanha na máxima força. Hoje, o que interessa, é o Braga. São aqueles gajos que nos fazem a vida negra de tempos a tempos e que hoje não vão perder a oportunidade de voltar a pôr o ferrolho na defesa e envenenar os contra-ataques. Cuidado com os tipos que vais escolher para o meio-campo mas acima de tudo está atento ao ataque. Ao nosso, não ao deles. Quer dizer, também ao deles, mas principalmente ao nosso. Bottom line, não tires o Tello nem o Brahimi. E não tires o Óliver, mas põe-no a 10. Atrás dele, Ruben e Evandro. E o Jackson na frente. Raios, homem, tens muitas opções mas este era o meu onze, porque atrás disso não vejo mudanças importantes. Danilo, Maicon, Indi e Alex. Fabiano à frente das redes. Soa bem. Acredito em ti e acredito que esta equipa vai carburar, talvez hoje tão bem como na segunda parte contra o Shakhtar. Bora lá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Shakhtar Donetsk 2 vs 2 FC Porto

Shakhtar Donetsk vs FC Porto

Depois das correrias e tropelias do jogo, depois do penalty falhado, dos dois golos oferecidos e do regresso quase-triunfal em meia-dúzia de minutos, só me apetece parafrasear Samuel Beckett: “All of old. Nothing else ever. Ever tried. Ever drew. No matter. Try again. Draw again. Draw better.“. Siga para notas:

(+) Jackson. E cá voltamos nós ao mesmo. Jackson joga, Jackson marca. Apesar do jogo bem razoável de Aboubakar, há ali uma grande diferença na forma como Jackson controla a bola e apesar de ser consideravelmente mais lento que o camaronês, a forma como está na área fez hoje toda a diferença e mostrou que é o único ponta-de-lança a sério no plantel (Adrián nem para lá caminha, quanto mais não seja pela posição em que tem vindo a jogar). Não se intimidou nem teve aqueles tiques de vedeta à Quaresma. Talvez por isso seja capitão em vez do Ricardo. Talvez.

(+) Marcano, apesar de Pepe. Não sou fã de centrais adaptados a trincos. Desde que Pepe foi aí espetado por Mourinho e Queiroz, fiquei ainda com menos vontade de ver esse tipo de adaptações. Gosto de médios defensivos à Redondo ou Makélélé, dos varredores, que joguem com os dois pés e que saibam o que fazer com a bola quando a recuperam, ao contrário dos centrais que habitualmente são mais trapalhões e brutos. Mas Marcano foi o oposto do que estava à espera, com uma técnica apurada, passe simples e bom posicionamento. Manter Ruben Neves no banco foi uma boa opção, especialmente depois do rapaz ter vindo em rampa descendente nos últimos jogos, mas Marcano será sempre uma solução de recurso naquela posição. Ainda assim, há vários jogos em que pode vir a ser muito útil e acabou por somar mais uma alternativa ao plantel. “Football Manager” style.

(+) Danilo. Continua a ter um excelente arranque de época, que me motiva a elogiá-lo quase em todos os jogos. Estranho, muito estranho, especialmente depois de dezenas e dezenas de partidas em que vi um Danilo cabisbaixo, sem vontade de jogar, a hiperbolizar todas as falhas e a minimizar os seus próprios sucessos. Danilo versão 2014/2015 está mais alegre, mais entusiasmado e nota-se em campo pela forma como ataca a bola na defesa e como surge a apoiar o ataque (mais comedido mas acima de tudo mais inteligente) pelo flanco ou em incursões pelo centro. E como o último rapaz que elogiei desta forma foi Maicon…temo a exibição do lateral contra o Braga.

(-) As duas ridículas falhas defensivas. Maicon chegou ao jogo contra o Boavista como um dos jogadores em melhor forma no plantel, imperial na defesa, perfeito no corte, tranquilo em posse e sem parvoíces de maior a apontar. E depois…foi expulso no Dragão por uma entrada idiota e hoje fez uma rosca à Maurício que ia dando auto-golo e cortou a bola para os pés do avançado do Shakhtar, dando origem ao 2-0. Óliver foi apenas ingénuo, a tentar controlar a bola numa zona em que merecia que o treinador entrasse em campo e lhe desse dois tabefes na hora para entender que num jogo deste nível é imperdoável achar que aquela era uma atitude interessante e de grande jogador. Dezanove aninhos, dezanove sapatadas de mão aberta em rabo ao léu. E ficávamos conversados.

(-) Mais um penalty falhado. Já me começam a faltar as palavras para descrever o que sinto quando um árbitro marca um penalty a nosso favor. Como é bem mais normal acontecer na Europa do que cá no burgo, a importância do lance no decorrer de um qualquer jogo acaba por ser bem mais vital e faz com que cada falha seja ampliada para penalizar o seu autor. Hoje a fava saiu a Brahimi, que se dependesse de mim passava imediatamente para o último lugar na lista dos marcadores. À frente dele ainda ia o Fabiano. Sim, o Fabiano, o guarda-redes que não sabe jogar com os pés para salvar a vidinha.

(-) Os brasileiros do Shakhtar. Aposto que deve haver scouts a trabalhar no Brasil e que se adaptam a todos os gostos. Há os que gostam dos rapazes tecnicistas e vão buscar os Decos e os Andersons. Há aqueles que adoram o futebol defensivo e sacam os Dorivas e os Paredes. Também há os do futebol rápido e voador, os que descobrem os Artures e os Derleis. E depois há os scouts do Shakhtar, que estão interessados em tudo o que seja grande, saiba jogar com os braços e tenha planos de acertar em tudo que vê. Não me admita que Bernard não jogue. Os hobbits têm notória dificuldade em dar porrada.


Nunca tivémos o jogo na mão, mas podíamos e devíamos ter vencido estes moços de laranja e preto. Somos melhores que eles, não tenho dúvidas, e podemos acabar com eles no Dragão na última jornada. Com um golo de penalty do Brahimi, outro do Óliver e ainda outro do Maicon. Só para limparem a consciência.

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Ouve lá ó Mister – Shakhtar Donetsk

Señor Lopetegui,

Não te vou censurar pelo empate em Alvalade. Também não te posso dizer que estou em èxtase com o que lá aconteceu, depois de ver aquela primeira parte de nível inferior ao que estou à espera, mesmo à sexta jornada. Como já te disse no início do ano, tenho um sentido de dar rédea larga aos treinadores que aparecem fresquinhos no meu clube para que possam fazer o que lhes apetece, dispondo as peças com a mesma consistência de uma parede de betão ou de uma casa de palha que um lobo de fábula pode mandar abaixo com um almoço de couves e um rabo bem apontado. Ainda por cima quando apareceste aqui com uma carruagem de jogadores de variável talento, quase todos acima do que tínhamos cá no ano passado, entenda-se, mas com graus ainda mais variáveis de adaptação e percepção do que é o nosso futebol. Ou do que tem de ser, porque há diferenças e bem grandes.

Hoje, em Lviv (Lvov? Lvev? Lvv, pronto), estamos à espera de um mau jogo. Um jogo feio, com alguma cagança da parte deles e excesso de humildade da nossa parte. Aquele espírito do “o próximo paga” quando o FC Porto perdia pontos ou jogos nos dias anteriores está mais desaparecido que os brincos da Maddie e não me parece que regresse em força. Há muita coisa que ficou nos anos 90 e apenas a curtos espaços fez um verdadeiro comeback, na altura do Villas-Boas. Quer dizer, nem por isso, já que o animal nem sequer perdeu um jogo que fosse toda a época. Mas sabes uma coisa, Julen? Eu ainda acredito em ti, pá. Acredito que o espírito se está a criar, devagarinho mas certinho, nas almas daqueles fulanos que vão atrás dos tweets do clube e das entrevistas para os jornais e das flash-interviews que vão sendo mais marcantes, mais intensas, mais habituais. E vão começando a perceber que o equipa é deles e é feita deles e que podem fazer coisas muito bonitas se se começarem a entender em campo. Aí entras tu, homem, porque descoordenações como as que vimos em Alvalade têm de ser estudadas, entendidas e erradicadas. Três Es, Julen, como temos de ser hoje: espertos, eficazes e elásticos. Sim, porque se não abrimos um bocado mais as zonas de pressão do meio-campo e se não aproveitarmos os corredores deles para contra-atacar, temos a tarefa mais tramada.

Assim sendo, vai-te a eles! E não penses em mais nada senão em ganhar a esses fulanos.

Sou quem sabes,
Jorge

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