Planeta Azul-e-Branco Nº76 – Sociedade Esportiva Ypiranga Futebol Clube
Baías e Baronis – Sporting 1 vs 1 FC Porto
Um clássico que acabe em empate é sempre menos mau, especialmente fora de casa. Se tentarmos perceber a forma absurda como entramos em campo, especialmente depois do golo sofrido evidenciar a ausência de organização no nosso meio-campo e a forma como a equipa não consegue parar o adversário em zonas de construção. É essa a principal falha do FC Porto de Lopetegui, por agora, pelo menos até que a estratégia se mantenha a mesma com os intérpretes que a vão colocando em campo. Ambas as equipas tiveram oportunidades claras e o empate aceita-se. A notas:

(+) Óliver. É um jogador diferente, sem dúvida, e quando está em campo nota-se na perfeição a diferença que mostra em relação aos colegas. Raramente há passes falhados, desconcentrações na construção de jogo e desatenções defensivas. Pode trazer muito ao meio-campo (mais que na ala, creio) quando colocado a jogar por detrás do ponta-de-lança e preferia vê-lo sempre como dez recuado em vez de colocado na linha. Em forma, é titularíssimo.
(+) O controlo da posse de bola na segunda parte. Depois da entrada muito mais forte do Sporting, que nos encostou à área durante a primeira-meia hora, o jogo foi-se reequilibrando e a equipa assentou a cabeça e começou a trocar a bola de uma forma mais consistente e estruturada. Continuo a tremer quando a zona defensiva se amedronta perante o mais ínfimo sinal de pressão adversária, mas é essencial manter a calma e prosseguir na troca de bola tranquila enquanto a zona ofensiva vai criando espaços e linhas de passe coerentes, porque é especialmente em situações individuais que podemos mostrar o que valemos. Foi talvez o pior jogo que fizemos até agora, mas a segunda parte foi menos má que a primeira.
(-) A desorganização da zona de pressão defensiva. Desorganização. Alheamento. Desconcentração. Há muitas outras palavras que podia usar para descrever o que vejo na estrutura defensiva do FC Porto mas podia centrar tudo num conjunto de vernáculo que faria corar uma freira de clausura. É enervante perceber que os homens do meio-campo parecem constantemente mal colocados perante os adversários, não cobrindo os espaços de uma forma coerente e permitindo uma fácil construção de lances ofensivos com uma passividade e destrambelhamento que não parece natural numa equipa de topo. Desde o início da temporada que tem sido a área mais débil da equipa não só em termos físicos mas especialmente pela incapacidade de formar um bloco consistente para impedir que o adversário surja com a bola controlada e em progressão por uma zona onde se pode criar a maior quantidade de situações de perigo para a nossa baliza. Casemiro, Ruben Neves e Herrera, até agora, não estão a funcionar como conjunto.
(-) A ineficácia na finalização Em jogos deste calibre é uma infelicidade falhar golos feitos. Jackson e Tello mostraram isso mesmo, com os lances que tiveram na segunda parte a poderem ser decisivos na conquista de uma vitória que seria até então justa…pela maior eficácia que mostraríamos em frente à baliza, quando comparada com a mesma (in)eficácia nos lances de que o Sporting dispôs na primeira parte (para lá do petardo do Capel à barra). Estes jogos travam-se com fibra mas vencem-se por detalhes.
(-) Bolas paradas ofensivas. Mais uma vez tivemos uma batelada de cantos e alguns livres, com zero perigo criado. Há muitos, muitos anos que continuamos com este tipo de incapacidade de semear o caos nas defesas adversárias através de lances de bola parada e mantemos a tremideira quando a bola aparece na mesma situação mas do nosso lado. Um canto, um golo…uma vitória. Era giro, não era?
Três empates consecutivos não são bons para um campeonato onde os pontos perdidos se podem tornar tão importantes em fases mais adiantadas da prova. O próximo jogo tem de trazer três pontos para o cofre. Sem desculpas.
Ouve lá ó Mister – Sporting
Señor Lopetegui,
Um gajo passa uma semana de cão quando não ganha. Mais que a chuva, o trânsito, o trabalho, a diarreia depois daquele almoço cheio de gordura, tudo é cacahuetes comparado com a memória de um jogo em que nada corre bem. Fica cá dentro, sabes, com um estupor duma persistência que nos tolha a mona e o espírito e nos faz ver tudo com tons de cinzento mais escuros do que o mundo nos proporciona. Uma merda duma semana.
Mas alimenta-nos a perspectiva do próximo jogo. Dá sempre um alento especial pensar que estamos só a meia-dúzia de horas ou minutos ou seja lá quanto for o diferencial de tempo que passa entre a altura em que leres isto e o início da partida (sinceramente, sempre pensei que esta era a última coisa que lias enquanto o Jackson aperta as botas e o Danilo vai fazendo alongamentos, mas pode ser produto da minha mente que anda de tal maneira underclocked que já nem distingue um Doriva dum Casemiro) e que podemos estar prestes a voltar a sentir aquele rush de emoção e de extrema alegria que nos é presenteado com uma vitória do FC Porto. Sim, mesmo em Alvalade, rapaz, olha lá que essa treta de emprenhar pelo ouvido é lixado e se vais andar a ouvir a propaganda da calimeragem, estás mesmo tramado.
Esta semana foi uma festarola lá em baixo. Eram bocas para o NGP, notícias de jornais sobre ambos os clubes, um que perde mas que afinal ganhou, outro que é investigado enquanto o outro deixou de ser. Jogadores a espetarem carrões, outros com ombros novos, meias-surpresas nos meios-campos e médias de idade erróneas. Houve de tudo, até um antigo treinador comum a ser convocado para o qualifying para o Mundial 2018. Lindo, este país, lindo mesmo. Mas alheia-te disto tudo, Julen. Fala aí com os muchachos e prepara-os para o gamanço de uma vida, que para os mais antigos será só mais um, mas os novos (e tantos novos que há este ano) ainda não passaram pelo real enrabanço que habitualmente ocorre aos azuis-e-brancos nessa latrina onde hoje vão jogar. Que deitem tudo para trás das costas: o árbitro, o jogo com o Boavista, a rotatividade. Nada disso interessa. Interessam os onze gajos que lá vão estar e que têm de dar tudo para ganhar. É um clássico e como tal ainda há menos vencedores antecipados, mas fico contente se derem tudo para ganhar. Mesmo que não o consigam.
Sou quem sabes,
Jorge
PS: Ainda por cima, azar dos azares, não sei se vou conseguir ver o jogo em directo e posso garantir que os B&Bs não saem na mesma noite, porque devo regressar a casa tarde e muito provavelmente inebriado. Para poupar o povo a um chorrilho vernáculo portuense cheio de gralhas, adio-a para sábado. Com mais calma e dois ou três guronsans no bucho. A gerência agradece a compreensão.
O nosso oitavo círculo de Dante é em Alvalade
O primeiro post: Basta-me pensar um bocadinho e lembro-me logo que sempre que saímos de Alvalade me sinto como uma ourivesaria na Almirante Reis
Depois, no ano passado, para o campeonato:
E para a Taça da Liga:
É tão típico como as árvores de Natal em Dezembro ou as castanhas assadas em Novembro. Vamos a Alvalade, saímos de lá gamados. Podemos jogar bem e ganhar, jogar mal e perder ou qualquer uma outra combinação. E há tantas outras equipas que se podem queixar do mesmo no Dragão ou noutros estádios.
Este é o nosso oitavo círculo.