Ouve lá ó Mister – Áustria Viena

Mister Paulo,

Não preciso de te dizer que este jogo é importante porque já o sabes. E já o sabias há muito tempo, ainda antes da rocambolesca jornada dupla contra o Zenit, onde sacámos um ponto em seis depois de uma sequência de infantilidades, expulsões evitáveis e penalties (felizmente) falhados. E se estamos neste momento a lamentar essas oportunidades que tivémos ao nosso alcance e cuspimos fora como uma putéfia esquisita, a verdade é que a culpa é nossa e toda nossa. Tínhamos equipa para ganhar ao Zenit das duas vezes, cá e lá. Tínhamos equipa para ganhar ao Atlético no Dragão e botámos mais um toro na nossa própria fogueira. E tivémos equipa para ganhar a estes moços lá no Prater…será que me podes garantir que vamos voltar a tê-la aqui?

Depois do jogo de sábado, já não sei, palavra que não. Muitos viram um FC Porto a jogar bem, a trocar a bola, com o saco cheio de remates, percentagens altíssimas de posse de bola e um domínio do jogo que só não deu goleada porque a relva é verde e a bola rola para onde Deus quer. Já o Einstein dizia que o Barbas não joga aos dados com o universo, por isso deves interiorizar esta ideia: se as coisas acontecem, é por uma razão. Se te pões a defender um 1-0, vais-te lixar com F grande. Se continuas a ver os teus rapazes a trocar a bola na defesa com a capacidade técnica de um Mogrovejo a jogar de galochas, vais-te lixar com F grande. Se insistes que a equipa joga bem mas não tens coragem de lhes espetar duas lambadas quando notas (como todos notamos) que estão a baixar mais o ritmo que uma música de Marvin Gaye depois de uma rodada de Prodigy, vais-te lixar com F grande. E se não ganhas este jogo…vais-te foder mesmo, porque lixar já é um eufemismo muito simpático.

Então…no pressure.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Nacional

A noite já estava fria e nada parecia querer ajudar a aquecer. O jogo arrastava-se, pastoso, com ataques fracos, insipientes, tristes. Alguns bons passes iam sendo trocados pelos pés de Josué e Lucho, várias boas arrancadas de Danilo e carrinhos perfeitos de Otamendi, no meio de muita parvoíce, passes falhados, pouco discernimento perto da área e remates tortos. E o golo demorou a chegar, mas chegou com alguma justiça. E depois…nada. Nada. Uma inacreditável apatia, a que infelizmente nos temos vindo a habituar, apoderou-se dos jogadores do FC Porto e voltaram, como tinham feito desde o início da temporada, a relaxar com uma vantagem de um singelo golo que pode ser ultrapassada por um pormenor, uma falha, uma desatenção. Foi mais um exemplo da falta de atitude de muitos, começando no banco e passando para o relvado, onde a equipa que por ali passeava para voluntariamente sofrer uma paulada na nuca continuou a cometer os mesmos erros, com a mesma personalidade inexistente que este ano tem sido a imagem de marca de uma equipa. Nós, os adeptos, merecemos mais que isto. Penosas notas abaixo:

(+) Josué. Lutou enquanto pôde e o deixaram e só não o fez mais porque saiu a meio da segunda parte sem que tivesse feito por merecer a saída. Vários passes bem medidos, alguns remates com perigo mas acima de tudo a atitude de um lutador, que tem o coração quase de fora da boca (e dos dedos, como se viu na passada terça-feira) mas que dá o que tem. E como diz o ditado, quem o faz a mais não é obrigado.

(+) Fernando. Continua a ser um dos jogadores em melhor forma do plantel, numa altura em que joga preso a uma movimentação que estranha por não estar habituado a ter um homem a seu lado. Serviu como principal construtor nos inícios das jogadas ofensivas, recebendo a bola dos centrais e tentando progredir de forma a criar desiquilíbrios num dos ataques menos móveis da história do clube.

(+) Danilo. Está com mais vontade, muito mais moral e acima de tudo mais segurança na posse de bola. Não fez um jogo quase perfeito como tinha feito contra o Sporting, mas mostrou ao colega do outro flanco que se pode de facto subir com a bola controlada sem a perder infantilmente, usando o extremo como ponto focal enquanto inclina a trajectória da corrida para dentro ou pela linha a pedir o passe em situações de overlap. Está a ter o melhor ano desde que chegou.

(-) Atitude, ou a falta dela. Não consigo entender como é que se defende um resultado de um a zero. Não só não consigo como acho estúpido, pá, processem-me. Mas um único golo de vantagem parece transformar a cabeça de meia-dúzia de rapazes como se passassem dez modelos da Victoria’s Secret em frente a eles de cinco em cinco minutos e se roçassem umas nas outras enquanto o faziam. É certo que não temos uma equipa com o nível técnico de outros tempos, porque basta reparar na forma como passam a bola uns aos outros que se consegue logo compreender que talento não abunda nalgumas das áreas fundamentais do futebol. Mas começar a brincar (A BRINCAR, CARALHO, A BRINCAR COM A PUTA DA BOLA NOS PÉS E O ADVERSÁRIO PERTO!), com passes picados de cinco metros, domínios de peito para perder a bola para o adversário, passes na queima, passes para o lado sem saber se está lá o colega, ressaltos consecutivamente perdidos porque Deus me livre se alguém mete o pé à bola (não te exaltes, Josué, não estou a falar de ti), combinações que nem no PES funcionam e desatenções insuportáveis…todos estes são resultado de falta de pulso firme por parte do treinador. Para lá da táctica (que não funciona), das substituições (que raramente resultam), das escolhas para o plantel (questionáveis, mas dependentes de resultados) ou da ineficácia em frente à baliza (que acontece), o que falta é um chefe. Um treinador a sério, ou pelo menos que aja como tal. Não consigo entender que este tipo de situações aconteçam de uma forma tão rotineira e aparentemente natural, em que tantos lances sejam desperdiçados porque Alex Sandro passou a bola a vinte metros directamente para os pés de um adversário, ou porque a equipa ataca e contra-ataca em constante inferioridade numérica, ou porque Herrera demorou seis anos e meio a decidir com que zona da bota vai acertar na bola, ou porque Otamendi insiste em ter falhas do tamanho da Torre dos Clérigos (e hoje até estavas a jogar bem, meu estupor). Um treinador a sério tinha dado semelhante murro na mesa que ninguém se atrevia a fazer o mesmo erro duas vezes. E começo a acreditar que Paulo Fonseca, pela atitude que tem demonstrado, está satisfeito com o que os jogadores fazem em campo. Eu não estou. E por isso é que não sou treinador de futebol, porque é possível que fosse obrigado a ter um desfibrilador carregado no banco ao lado da minha cadeira. Não admito este tipo de faltas de atitude em jogadores do FC Porto.

(-) Varela. Conhecem aquelas máquinas usadas nas “batting cages” onde os americanos vão abanar um taco, ou em treinos individuais de ténis? As que lançam bolas sem se saber muito bem onde irão parar, por forma a treinar a coordenação motora e os arranques rápidos? Varela está cada vez mais parecido com uma dessas engenhocas, com a mobilidade e o domínio de bola a condizer com uma que seja feita de cimento. É fácil caracterizar a exibição dele hoje, usando sempre a palavra “não”: não cruzou em condições; não dominou uma bola decente; não fez um arranque suficientemente rápido para ultrapassar o homem que o defendia; não rematou à baliza (incluindo um pontapé que deu em lançamento lateral); não se pode queixar da sua substituição ter sido aplaudida. Não. Fez. Nada. Mariano González com três litros de vinho e o pé direito amarrado às nádegas tinha feito melhor.


Não saí triste do estádio. Saí chateado. Chateado com o treinador, com os jogadores, com a atitude passiva, com as falhas, com os passes mal medidos, com tudo menos comigo por ter optado por ir ao Dragão. Ser adepto dá nisto: há jogos bons, há jogos maus…e há jogos destes.

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Ouve lá ó Mister – Nacional

Mister Paulo,

Que saudades de ver o fêcêpê a jogar, rapaz. Todo este reboliço da selecção e da taça e dos sorteios da taça e da Bola de Ouro que afinal ainda pode ser do Ronaldo e do Vieira a levar nas trombas por causa do BPN e do Jesus que foi suspenso e do Quaresma que agora dizem que pode vir e do Otamendi a titular na Argentina e do russo que ninguém vê há meses…toda esta variadíssima panóplia de eventos e não-histórias estão a desfocar a minha atenção daquilo que é mais importante: o meu clube, a disputar o campeonato do meu país, onde continua em primeiro e que já não faz um jogo em condições (tirando contra o Sporting, vá) há meses. E hoje é o dia ideal para regressares às boas graças do povo, sabes porquê?

Porque é um jogo como tantos outros. Exactamente por ser um jogo como tantos outros, uma partida contra um adversário que pode ser mais complicado ou menos complicado mediante o que a tua equipa dizer em campo. E é nestas partidas que se tem de manter o ritmo, tão afectado neste nosso absurdo calendário com competições da treta e viagens da FIFA, é exactamente nestes jogos que podes marcar a diferença e dizer: “estamos cá. estamos a melhorar. estamos a crescer. e daqui a um bocadinho, sem que derem por isso, estamos a jogar bem.”. Hoje pode ser o dia em que evoluímos de um futebol desorganizado e displicente para uma máquina semi-oleada que dá gosto ver.

Vou para o Dragão cedinho. Vou parar na alameda onde estiverem a vender castanhas e vou-me sentar num degrau a comer esses pedaços de ardósia forrados a carvão, contente da vida a cumprir uma tradição pessoal que já data do tempo das Antas. Mudam-se os tempos, mudam os embrulhos, mudam os percursos para o estádio, mas não mudam as castanhas, não muda o gajo, não muda a tradição. Venham elas e depois, quentinhas e boas no meu estômago, vamos para a vitória. Siga.

Sou quem sabes,
Jorge

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