Baías e Baronis – Moreirense 0 vs 3 FC Porto

 

foto retirada de desporto.sapo.pt

O início da partida foi lento, triste, arrastado. Mas notava-se uma certa arrogância no approach aos lances, especialmente defensivamente, onde o melhor jogador talvez tenha sido Danilo, o que diz muito da aplicação dos rapazes no trabalho defensivo. É verdade que só Ghilas dava um mínimo de nervosismo aos defesas e o Moreirense tem a qualidade técnica agregada de duas tartarugas a Prozac, mas foi enervante perceber que a equipa acabou por nunca conseg…por nunca querer impulsionar o jogo com uma intensidade que lhe permitisse conquistar os espaços que lhe faltaram durante grande parte do jogo. Enfim, a vitória não foi má…ao menos deu para Liedson jogar e Jackson marcar. Not a bad evening. Vamos a notas:

(+) Helton. Depois de uma boa exibição contra o Braga, Helton voltou a mostrar a importância que um guarda-redes tem numa equipa que, como hoje, se apresenta em casa com uma atitude excessivamente arrogante a nível defensivo. Mangala, Alex Sandro e Otamendi (menos que os colegas mas também teve algumas hesitações absurdas) estiveram distraídos e apenas Danilo me pareceu mais atinadinho na defesa. Com este panorama, cabe normalmente ao guarda-redes assumir o controlo das situações e afirmar que quem manda ali é ele. E foi o que fez, com várias defesas na primeira parte, incluindo uma saída em que acidentalmente agrediu o joelho de Ghilas com as suas têmporas. Esteve impecável e foi o responsável principal pelo zero em frente ao nome do clube da casa.

(+) Jackson. Dois bons golos, duas excelentes desmarcações no centro da área e acima de tudo o fim de um período de seca que na altura em que apareceu pareceu assemelhar-se ao Gobi depois de um Verão particularmente seco. O segundo golo então é perfeito, desde o passe de Lucho ao chapéu do ponta-de-lança por cima do guarda-redes adversário. Isto é um ponta-de-lança em condições. Vês, Kléber?

(+) Fernando. Mais um bom jogo e um golo que tanto faz por merecer. Insiste nalguns passes menos fáceis porque é ele que começa a pegar na equipa e a criar os desiquilíbrios a partir de zonas recuadas, especialmente quando vê que Lucho não está a conseguir furar o meio-campo e Moutinho aparece em áreas demasiadamente atrasadas para fazer a diferença. Muito bem no apoio ao ataque e a limpar a borrada que os colegas da defesa iam fazendo.

(-) A puta da soberba. É um mal que nos visita quase todas as vezes que nos deslocamos a um campo deste género contra um adversário que, francamente, tem tanto direito moral a estar na primeira liga que um cacto no Amazonas. A forma absorta como encaramos este tipo de jogos é um dos items que têm vindo a chatear a malta desde há meses e que incomoda tremendamente no jogo de Vitor Pereira, porque há uma lentidão, uma falta de voluntarismo em acabar com o jogo procurando activamente os espaços para conseguir marcar um golinho que seja…que dá sono. Dá sono, garanto. E é verdade que o adversário defendeu (mal) com dez jogadores atrás da bola e só o Kamel do Ghilas lá na frente mas o FC Porto, na maioria dos lances de construção ofensiva, limita-se a ficar à espera que os espaços surjam em vez de os procurar com inteligência e acima de tudo mobilidade. É um tédio ver o FC Porto jogar na grande parte das primeiras-partes dos jogos do nosso campeonato. E depois aquela atitude de soberba que me incomoda profundamente, sem respeito pelo adversário, sem vontade de mostrar quem manda, quem é melhor…parece-me pouco para a diferença entre as duas equipas.

(-) Mangala. Devia pagar um jantar ao Helton em qualquer local que o brasileiro escolhesse, porque fez um jogo miserável e o keeper salvou-lhe o coiro uma data de vezes. Se perder em força para Ghilas seria expectável aí 50% das vezes, já fazê-lo para Fábio Espinho por desconcentração e/ou preguiça é intolerável. Somemos os pontapés em rosca, os lances mal calculados e uma ou outra entrada mais dura e Mangala teve um jogo muito abaixo do que sabe e pode fazer. Dorme bem, moço, mas lembra-te que foi por coisas destas que o Rolando começou a ganhar confiança a mais e a perder a mesma confiança dos adeptos e do treinador.


E agora peço que todos se juntem numa roda de oração enquanto nos sentamos para ver o Benfica a receber o Sporting. E se as coisas correrem muito bem, se o Benfica perder pontos esta jornada…we’re back, baby. Até lá…dobremos as apostas, envenenemos os pessimistas e louvemos os optimistas. Vamos torcer pelo Sporting. Vamos lá, não custa nada.

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Ouve lá ó Mister – Moreirense


Amigo Vítor,

Começa a ficar apertado aqui no burgo, pá. Isto de andarmos de atrelado a sermos puxados pela força da nossa alma enquanto vemos os outros imbecis ao longe não é coisa que me agrade e não agrada a nenhum portista. Estamos mal habituados, talvez, mas o hábito demora tempo a morrer e se não acreditas nisso, pergunta a um gajo que fume e ele diz-te. Olha para o Jesualdo, que esperas te possa vir a salvar o couro neste Domingo, se não lhe custou deixar de andar com o maço no banco e desatou a mamar chiclets como o Jesus. Foi uma tristeza e é a mesma tristeza que todos passamos quando vemos que, lo and behold, não estamos em primeiro. We’re not in Kansas anymore. Coiso.

Mas eu continuo a acreditar, Vitor. Continuo a ver os jogos, até em diferido como nas últimas semanas, como fiz com a final da Taça da Liga. E hoje, dia dos dias, hoje vou ver o estupor do jogo em directo, sentado no meu sofá depois do que promete ser um dia cheio de trabalho. E pelas 20h30 vou pegar numa cerveja e tirar-lhe a cápsula. Alapo a peidola no tal sofá, dou uma golada daquela ambrósia que os Deuses puseram na Terra e olho para a televisão. E o adversário é o Moreirense. Nem preciso de te dizer o que lhes vais gritar aos ouvidos: “ESTES SÃO O BOAVISTA MAS EM VERDE, CARALHO! E PERGUNTEM AQUI AO CAXINEIRO O QUE É QUE SE FAZ A UM BOAVISTA!!!”.

E estás direitinho para uma vitória tranquila. Por favor. Uma vitória. Já me chegava.

Sou quem sabes,
Jorge

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Na estante da Porta19 – Nº12

Nasci para o futebol em grande parte devido a este jogo. Ou melhor, ao jogo que o antecedeu, criado pelos mesmos rapazes, os irmãos Collyer, que se decidiram a desfazer a vida de milhões de pessoas por esse mundo fora com o vício que meia dúzia de linhas de um mero programa de computador conseguem criar na mente de tanta gente. “Football Manager Stole My Life: 20 Years of Beautiful Obsession” é uma boa forma para os seres que não se deixaram possuir por este demónio dos jogos de computador, este ecstasy que me deixava noites sem dormir enquanto perseguia o sonho de ser campeão europeu com o Olympiakos, de subir de divisão com o Gondomar ou de ser dominador da Eredivisie com o PSV Eindhoven. Entre tantos e tantos jogos, temporadas, aquisições, nomes de jogadores que passaram pelos meus olhos e que tentei procurar no mundo real (e descobri, tal como os gajos do livro), clubes que aprendi a amar como o Newcastle e a Sampdoria, mas acima de tudo foram as emoções, a alegria e a desilusão que me fizeram rir, chorar, saltar, insultar e aplaudir. Sozinho, numa única sala, como a grande maioria dos intervenientes neste livro. Imperdível!

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Baías e Baronis – SC Braga 1 vs 0 FC Porto

Uma final tem este tipo de características, que enervam toda a gente. Há duas equipas, uma de cada lado, ambas a tentar ganhar o jogo sem o perder antes de poderem sequer tentar. E quando se juntam duas equipas com capacidades ofensivas igualmente fracas, uma das quais (a nossa) com um permanente engasgar na criatividade e na criação de lances de ataque coerentes, a somar a erros defensivos que são tão evidentes que se tornam patéticos, é impossível afirmar que jogamos bem. Mas…e há um mas…não jogamos assim tão mal. A equipa pareceu motivada, com garra, com mentalidade de “final” como se exigia. Mas foi evidente que nunca conseguiu uma produtividade ofensiva que causasse medo ao adversário, esse sim com um jogo parecido com o que fez no Dragão, sem problemas em jogar lá atrás até se ver a jogar a mais…e mesmo assim mantendo-se a controlar sem bola. Foi frustrante ver o jogo, mas ainda mais frustrante ver que seria quase impossível, a jogar com dez jogadores, conseguir a claridividênvia necessária para lhe dar a volta. Vamos a notas:

(+) Fernando. A maior injustiça deste jogo é o facto de Fernando não o ter ganho. Pareceu sempre jogar a um nível substancialmente superior a todos os colegas, a recuperar bolas da defesa ao ataque, correndo muito mais do que a Fernanda Ribeiro em dias de treino intensivo. Apanhou pancada de tantos jogadores do Braga que não o censurava se fosse ao Sameiro urinar na entrada, mas tentou vingar-se em campo com a força que mostra, com a forma como tenta continuamente levar o jogo para a frente mesmo quando os colegas já não aguentam com as pernas. Está em grande forma física e só tenho pena que poucos o acompanhem. Porque em campo só ele, James e Moutinho se lembravam da última final contra o Braga. E garanto que Fernando não jogou tão bem dessa vez como fez nesta.

(+) Alex Sandro. É muito bom no ataque, este puto. É tão bom que acho que vai ser complicado agarrá-lo para a próxima temporada, mas atravessemos essa ponte quando lá chegarmos. Muito activo na tentativa de levar o jogo sempre para a frente, sempre pelo flanco, com excelente toque de bola e só a precisar de melhorar um pouco nos cruzamentos. Foi o do costume, com alguma brincadeira mas a conquistar os adeptos pela força e inteligência com que ataca. Uma pérola que temos aqui no plantel.

(+) Fabiano. Uma grande defesa aos oitenta e tal minutos depois de um balázio do Hugo Viana e uma saída incrível aos pés de João Pedro ainda mais tarde já seriam momentos altos, mas foi por todo o jogo de segurança (até com os pés, por implausível que pudesse parecer) que transmitiu aos defesas que não senti falta de Helton. Não foi por culpa dele que perdemos o jogo, que é mais do que se pode dizer acerca da última Taça da Liga, quando o actual treinador do Rio Ave enfiou um enorme perú e tramou o resto dos rapazes.

(-) Incapacidade de criar jogadas de perigo. Um Baroni chega para todo este jogo, até porque mantenho a minha opinião: para uma final, não jogamos assim tão mal. Mas a quantidade absurda de erros que cometemos durante uma partida é simplesmente incompreensível. Houve uma repetição de tantos e tantos erros que se vêem há tanto tempo nesta equipa do FC Porto que me questiono se de facto há treino conjunto e um mínimo de tentativa de melhorar os níveis técnicos dos jogadores ou se apenas se foca na troca de bola em peladinhas. Sim, é uma “queixa” antiga dos treinadores de bancada, mas depois de ver esta exibição com tanta falta de inteligência na troca de bola na frente, com o enorme número de passes falhados, más recepções e falta de entrosamento entre laterais e extremos, aliados a alguma imaturidade de vários jogadores, começo a pensar que os treinos se limitam à parte física e pouco mais. Este jogo em particular fez-me lembrar aquelas jogatinas na escola primária, em campos de cimento com balizas sem rede (sim, na minha escola eram assim), onde a malta zarpava em louca correria mal tocava a campaínha para intervalo, juntando-se todos ao molho no centro do campo para pegar na bola e andávamos como doidos a tentar acertar na bola. Não havia equipas, só havia grupos de pó como em bandas-desenhadas antigas, com agudíssimos gritos de pré-adolescentes que ainda não quebravam a voz. E ninguém controlava a bola, só a chutava se visse alguém próximo da baliza, quer estivesse de costas ou de frente para os postes. E quando entrava um golo, naqueles momentos de bênção divina que faziam com que a bola atravessasse a linha sem ninguém fazer nada por isso…ninguém sabia o que raio tinha acontecido. E às vezes penso que há jogos em que o FC Porto só consegue marcar um golo se fôr empurrado por um qualquer arcanjo. Este foi um deles.

(-) Vitor Pereira. Culpar o árbitro pela derrota é tão redutor como dizer que os Alemães caíram nas Ardenas porque havia um ou dois carvalhos a mais na floresta. O que Vitor devia ter dito era qualquer coisa como isto: “Não entendo como é que desde há alguns meses a esta parte treinamos semanas após semanas para chegar aos jogos e raramente conseguirmos criar situações de perigo decentes. Continuo a não perceber porque é que os adversários chegam quase sempre primeiro à bola que nós e trocam a bola ao primeiro toque e nós precisamos de qualquer tipo de influência divina para chegar a esse ponto. Gostava de falar com os rapazes que estão no balneário para saber se já viram aquele número 25 que joga com as mesmas cores que eles e se percebem porque é que ele é dos poucos que o pessoal aplaude. O árbitro? Não falo de arbitragens.” E não falava. Isso é que eu gostava de ver. Perdi a esperança.

(-) Mossoró. Um anão nojento que merece tudo de mal que lhe possa acontecer em campo. É a representação de tudo o que um jogador brasileiro traz consigo, desde o excelente na finta, no drible e na visão de jogo, somados à ridícula propensão para a simulação e para a fiteirice interminável. Gostava de o ver a ser bitch-slapped por algum central maldoso. Um Materazzi bêbado, por exemplo. Batia palmas de pé, palavra.


Perdemos, perdemos bem e perderemos sempre enquanto não conseguirmos impôr o nosso estilo. E esse estilo e o autor do estilo estão por um fio, especialmente depois deste jogo. É que a malta até tolera perder a Taça da Liga. Mas não na final. Muito menos contra o Braga. Lamento, mas a vida é mesmo assim, Vitor.

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Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Este é um exemplo de mais uma esguichadela de urina demoníaca que vejo direccionada às minhas gengivas. Não é que não vou poder ver o jogo em directo? Há gajos com o azar de um Vale e Azevedo apanhado com a pila dentro de uma ovelha, pá, e eu sou um deles. Já não perco uma final do FC Porto desde…olha cum carago, acho que nunca perdi uma final em que o meu clube estivesse presente, carago, mas esta tem um bom motivo e não tens nada a ver com isso, mas garanto-te que a causa é justa e o dever familiar chama antes do desportivo, como deves compreender. Ainda assim, vou apoiar a equipa em espírito, torcendo por dentro como se estivesse pregado em frente à televisão ou, no caso de tantos portistas neste sábado, em Coimbra a beber uns belos duns canecos e a gritar pelo Moutinho.

Não há muito que se possa dizer quando se chega a esta fase. Sim, todos sabemos que a Taça da Liga tem tanta importância para o dia-a-dia de um portista como um cubo de açúcar na vida de um diabético. Mas uma final é uma final e quando se chega a uma final, é para ganhar. Quanto mais não seja para espetar lá com a copa no putativo museu que já anda para abrir desde que o Sansão deu duas bufardas lá no templo e mandou aquela merda toda abaixo. E tu, meu caro, que “só” tens três troféus à tua conta, não te importas nada de acrescentar mais uma linha no cêvê e somar mais um título ao palmarés do nosso clube. E para isso só tens de ganhar um jogo. São noventa minutos de suor por uma eternidade aí de uns dois ou três dias em que todos se vão lembrar disto, especialmente porque vai dar em directo na TVI e os gajos têm a mania de fazer com que cada jogo pareça a final do Mundial.

O Braga que viste no Dragão na passada segunda-feira não vai ser o mesmo que vais apanhar hoje, já sei que pensas o mesmo. Estes cabrõezinhos que apareceram com as camisolas nojentamente vermelhas a jogar para empatar vão hoje dar sete litros para ganhar esta treta, até porque só ganharam uma taça na vida deles e querem ter mais uma para mostrar aos netos. Mas lembra-te de Dublin e percebe que estes moços já tombaram uma vez numa final contra nózes. E hoje vão cair de novo, às tuas mãos.

Força! Força Vitor! Força Porto!

Sou quem sabes,
Jorge

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