Baías e Baronis – Málaga 2 vs 0 FC Porto

Na segunda-feira à tarde fiquei indisposto. Fui a um casamento no sábado e a máquina deve ter ficado abanada ao ponto do almoço de segunda me desengrenar o sistema e me pôr às portas da morte, como um homem normalmente fica quando está doente. Passei a terça-feira a trabalhar de casa, como se tivesse levado uma carga de pancada de quatro Mozers e dois Paulinhos Santos. E o jogo de hoje foi mais um pontapé na virilha a juntar-se ao molho que o meu corpo está a aguentar nos últimos dias. Vi um FC Porto amorfo, incapaz de lidar com um ritmo vários níveis acima do nosso, sem força nem capacidade física e mental para conseguir dar a volta a uma equipa que não nos é superior, numa competição que devia continuar a ser nossa e da qual saímos por culpa própria e sem nos podermos queixar de grande coisa. Jogámos mal, merecemos perder e fiquei com a ideia clara que a ilusão que tinha aquando do jogo da primeira mão, que conseguiríamos aguentar a vantagem mesmo contra as desventuras do jogo fora, não passou mesmo disso, de uma ilusão. Vamos a notas:

(+) Mangala e Otamendi. Não estiveram perfeitos, longe disso. Ninguém esteve perfeito hoje em Málaga. Raios, ninguém esteve *bem* em Málaga hoje à noite. Mas estes dois moços foram dos poucos que me conseguiram dar alguma réstia de esperança que a equipa não tinha caído naquele poço de infortúnio em que se baixam os braços, se agarram os joelhos e se pede a Deus que nos ajude. Tanto um como outro foram lutadores, esforçadíssimos e acima de tudo nunca desistiram, nunca viraram a cara nem os pitões à luta e tentaram de trás para a frente mudar um resultado que era justo pelos noventa minutos mas que, nas suas cabeças, não fazia sentido. Não conseguiram mas ninguém se pode queixar que não tentaram.

(+) Defour, até à expulsão. Tem de haver algum tipo de conspiração divina que faça com que o FC Porto tenha várias vezes uma expulsão absurda, ainda que totalmente merecida. No ano passado foi Fucile com aquela enorme estupidez de tentar segurar a bola com a mão em S.Petersburgo, este ano é este tolo a lixar a vida à equipa. E ainda por cima estava a fazer um jogo bem jeitoso (eu que tinha dito ainda durante a tarde que o belga ia ser titular, em conversa com amigos) na posição que o treinador lhe mandou jogar ou em qualquer uma das posições em que andou a percorrer enquanto esteve em campo. A expulsão é merecida, ainda que o acto que levou ao segundo cartão me tenha parecido fruto de algum desnorte…

(-) A diferença de ritmo. Hoje, como em várias outras oportunidades, senti nas minhas entranhas uma sensação de pequenez que já é habitual e que com o meu sempre latente pessimismo tende a tornar-se crónica. Esta equipa, que me iludiu a pensar que podia ser mais e melhor do que é, não o é. E em grande parte não o é porque não conseguiu lutar contra as adversidades de um árbitro amarelador, uma equipa contrária mais agressiva e um jogo em que pouco corre bem. Na Luz, depois do 0-1 virar 1-1 e do 1-2 se transformar em 2-2, pensei que essa mentalidade estaria longe, mas não está. Reparem bem na diferença de ritmo entre as duas equipas, na quantidade de vezes que Fernando perdeu bolas no meio-campo quando pressionado; nas vezes que Varela e Danilo, que é como quem diz “todo o flanco direito da nossa equipa”, se atiraram para o chão clamando por faltas que não existiram; na irascibilidade de tantos que percebendo que o oponente chega primeiro à bola, optam pela falta em vez de tentar batê-lo em velocidade e em poder de choque. Somos fracos nesse aspecto, muito fracos, inesperadamente fracos. Preferimos a falta à luta, reclamamos quando Toulalan abalroa Lucho mas não pensamos que Fernando tenha a lentidão do argentino. Mas tem. Insurgimo-nos quando Defour é pisado, mas não estranhamos quando Varela domina mal a bola e o adversário lá chega primeiro. Temos uma mentalidade baixa, débil, pobre, que é arrumada para o lado nestes jogos como já foi em Londres, em Liverpool, em Manchester, em Milão, em tantos outros estádios por essa Europa fora onde fomos jogar com alguma vantagem e a perdemos. Olhamos para os outros como sendo sempre mais fortes que nós, e nunca assumimos que somos ou podemos ser mais fortes que eles, só porque eles jogam todas as semanas contra equipas que lhes dão luta e nós temos de nos desamanhar contra Moreirenses e Nacionais. Somos fracos, amigos, e a grande maioria dos jogos europeus que perdemos a isso se deve. E sabem o que é mais frustrante? É perceber que lá no fundo…bem lá no fundo…somos bons. E custa-me que os nossos jogadores não joguem com essa altivez, com essa arrogância tão positiva que ganha jogos. Porque quando o fez…foi sempre longe. Mas a pensar assim…cai nos oitavos contra o Málaga e contra qualquer outro Málaga que apanhe.

(-) Sub-rendimento de peças-chave. Moutinho fez uma primeira parte sofrível até ser substituído com dores. Lucho raramente conseguia meter o pé nos lances divididos. James perdeu mais tempo a rodar sobre si mesmo que a prosseguir com o jogo para a frente. Fernando fez passes consecutivamente maus, parecendo que tinha perdido em meia-dúzia de minutos a noção táctica que ganhou em cinco anos. Danilo não acerta um passe em condições e perdi a conta à quantidade de vezes que Joaquín apareceu nas costas de Alex Sandro. Não há equipa que aguente e se Jackson se pode queixar da ridícula quantidade de bolas longas que foi obrigado a lutar contra jogadores mais fortes e talhados para aquele tipo de lances, também Vitor Pereira se pode queixar do facto de nenhuma equipa aguentar tantos passes falhados e tanta inconsequência ofensiva dos mesmos jogadores que sufocaram este mesmo Málaga na primeira mão. Ponham Iniesta, Xavi, Busquets, Dani Alves e Messi em baixo de forma e atirem-nos para o campo contra uma equipa mais rápida e mais agressiva. Acontece-lhes o mesmo e não há maneira de dar a volta ao assunto.


Estou triste, mas não desisto. Abatido, mas nunca derrotado. Ou melhor, derrotado, mas nunca vencido. Estes rapazes têm muito mais para dar do que isto, apesar da excessiva dependência de algumas peças-chave que, quando em dias maus como o de hoje não surgem em patamares condizentes com o seu talento, fazem com que a equipa não consiga funcionar em pleno e se desmorone sem capacidade para se transformar na equipa de guerreiros que todos gostávamos de ter. Não caímos de pé como as putas das árvores. Caímos redondos no chão, de cara na relva, sem um ramo ou uma mão amiga para nos ajudar a levantar. Não tem mal, amigos como dantes. Venha o campeonato e voltemos às vitórias já na Madeira, para continuar com o principal objectivo, resignados a uma temporada em que devíamos ter feito mais na Europa mas que, por culpa própria, não conseguimos. Mais uma vez.

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Ouve lá ó Mister – Málaga


Amigo Vítor,

Chegou o dia. Milhões de portistas vão estar em frente à televisão, unidos em espírito aos milhares que vão estar na Andaluzia a apoiar a equipa em mais uma demanda europeia. E todos eles estão prontos para um jogo que vai ser difícil, contra um adversário matreiro e dinâmico, que nos vai tentar fechar todas as possibilidades de avançarmos em frente na competição. Blá blá, coiso.

A verdade é que somos favoritos. E temos de mostrar em campo que somos favoritos, empurrar o Málaga para trás, fazer um jogo como nós sabemos e furar aquela defesa de caceteiros com uma voracidade tal que pensem que não ganhamos um jogo há um mês, como eles. Esta é a verdadeira competição onde não pode haver falhas, onde qualquer hesitação, periclitância, tremideira…podem lixar-nos a vida. Por isso não sei se joga Moutinho ou se joga Mangala ou se jogam os dois ou até se não joga nenhum deles. Temos de ser fortes, Vitor, temos de ter as lanças afiadas, as soqueiras bem carregadas e as biqueiras de aço firmes na ponta das botas. E vamos mostrar que não há Málaga que nos meta medo, porra!

Para além disso, já viste o que significaria para ti chegar aos quartos da Champions? É que nós, os portistas (como tu, mas noutra qualidade), já lá passámos montes de vezes. Mas tu, Vitor Pereira treinador…ainda não. Inaugura-te, desflora-te, e fá-lo com estilo!

Sou quem sabes,
Jorge

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Faltam dois dias

Vejo o jogo de quarta-feira a chegar e a ansiedade que se vai acumulando no meu corpo e mente começa a ser notória. Afinal o jogo é importante e a forma como os adeptos encaram cada um destes jogos acaba por ser determinante na maneira como os próprios jogadores se moralizam para ele. E estamos todos à espera de ver um FC Porto forte, mandão, que controle a posse de bola e consiga parar o ataque do Málaga que é agressivo, rápido, intenso. É um tipo de ataque que raramente encontramos na nossa pobre Liga, repleta de equipas de ferrolho que se fecham atrás à espera do erro do adversário e que lança homens pelas linhas para conseguir furar a nossa defesa.

Na quarta-feira vamos encontrar uma equipa que não sabe o que é uma vitória desde a semana anterior à visita ao Dragão. Não sei se as vitórias, que de uma maneira tão vistosa e consistente acumularam durante meses na primeira fase da temporada, desapareceram porque a equipa estava a pensar neste mesmo jogo ou se a inteligência competitiva desertou os cérebros de jogadores e treinador. Mas não façamos juízos antecipados ao somar dois e dois e assumir que estes jovens deixaram de saber jogar e que vão estar demasiadamente nervosos quando nos enfrentarem em campo. Vai ser um jogo duro, que exigirá compromisso, bom entendimento ofensivo, coesão defensiva e acima de tudo um espírito de entre-ajuda que tem de estar acima de qualquer deambulação egoísta.

E todos os pontos anteriores estão perfeitamente ao nosso alcance. É só fazerem o que já fizeram várias vezes este ano: jogar a sério. After all, this is the Champions League, baby!

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Estoril

Deve haver uma expressão melhor que a habitual para este tipo de jogos. “Serviços mínimos”, francamente, não consegue transmitir em pleno o tipo de partida que assisti nesta noite no Dragão. “Consultoria em secagem de tinta”, talvez. “Sleep-cardio”, também pode ser. Foi um bocejo gigantesco, intercalado por algumas boas conversas entre portistas que se dão bem e só se encontram ali mesmo no estádio, no meio do público que estava tão interessado no jogo como um touro que vê bandarilhas a dirigirem-se para o lombo. O jogo entrou numa espécie de estado de coma pelos quinze minutos, altura do penalty bem marcado (sem panenkadas) por Jackson, e raramente despertou desse estado vegetativo, com alguns espasmos lá pelo meio a animar o povo. A vitória foi tão fácil que terminámos com um meio-campo composto por Fernando, Castro e Izmaylov. Sim, leram bem. Vamos a notas:

(+) Lucho. Enquanto esteve em campo foi dos melhores jogadores da equipa pela simples razão de jogar com a cabeça levantada enquanto que a maioria dos colegas parecia procurar lentes de contacto perdidas na relva do Dragão (que pareceu melhorzinha, ainda bem!). Melhor no passe que nos últimos jogos, recuou bastante para construir o jogo a partir de zonas mais atrasadas, mas conseguiu sempre encontrar as melhores linhas para os quase-imóveis-colegas. Saiu para descansar porque vamos precisar de um Lucho em condições na quarta-feira.

(+) Maicon. Já antes do jogo tinha pensado que era um jogo importante para o rapaz, especialmente depois da última exibição no Dragão lhe ter valido uma data de assobiadelas dos atrasados que insistem nessa parvoíce. Uma pequena redenção, nada de mais, que a malta quer é que se jogue em condições e que jogadores como Maicon não tentem emular Madjers ou Futres. E foi exactamente isso que fez, jogou simples, prático, a aliviar para fora, para longe, para cima, sempre que foi necessário. O golo fez com que voltasse a receber aplausos, totalmente merecidos.

(+) Defour e Atsu, na primeira parte. Defour tem o que poucos conseguem ter em todo o plantel do FC Porto: inteligência no controlo da bola. Atsu também tem algo que poucos conseguem ter no plantel do FC Porto: velocidade. E ambos puseram estas duas características em prática, com o belga a rodar bem a bola de uma forma horizontal no meio-campo, um pouco à semelhança de um Meireles dos bons tempos, ao passo que o ganês surgiu várias vezes pelo flanco esquerdo do ataque, sem o apoio de Alex Sandro (que jogo de trampa, homem!) mas a conseguir safar-se muito bem da marcação rija dos defesas do Estoril. É importante que estas “segundas escolhas” (que acabam por ser “primeiras” uma grande parte das vezes) continuem a jogar e a dar garantias que temos alternativas para as lesões e abaixamentos de forma dos titulares. Baixaram de produção na segunda parte, mas gostei dos primeiros quarenta e cinco minutos.

(-) Pronto, joguem devagar. Mas não tanto! Se Sir Bobby tivesse estado no Dragão hoje à noite, decerto teria chegado ao final do jogo e perguntado: “I don’t perceber, isto foi um match?”, e mandava pôr pinos no relvado para começar o treino. É verdade que a equipa até entrou bem, com força e vontade de resolver o jogo, o que logo aí me faz questionar o porquê de não o fazer em todos os jogos…mas isso são outros meios-milhares. Mas a partir do momento em que o segundo golo entrou na baliza de Vagner…a equipa travou. Era expectável para qualquer portista que siga o calendário e a evolução da equipa durante a época e ninguém estranhou que o nível baixasse. Mas…e há sempre um mas…foi um exagero. Mesmo. Alex Sandro começava a correr sozinho sem soltar a bola e perdia-a consistentemente; Fernando “picava” a bola por cima dos oponentes para depois a ir buscar a seguir, nem sempre com sucesso; James ficava à espera que a bola lhe chegasse aos pés, não se mexendo e esperando que o adversário fizesse o mesmo, o que raramente aconteceu; Otamendi falhava intercepções, Danilo estava miserável no passe e inexistente no ataque. E a vontade de jogar só apareceu de novo com Castro, que naquele estilo nervoso que contagia os adeptos com mais nervosismo ainda foi dos poucos que abanou com a malta. Nem Izmaylov nem Varela conseguiram trazer dinâmica à equipa, que atirava a bola para Jackson, então perto do círculo central, para que a dominasse e recuasse para atrasar a bola a um qualquer colega dez metros ao lado. Não houve brio de mostrar aos adeptos algo que fizesse da noite mais interessante do que a simples, fria e estática certeza que a vitória era nossa, sem brilho nem grande alegria. Será daqueles jogos, como tantos outros, que nem no rodapé da história ficará, mas já vi dezenas de jogos que antecipam importantes confrontos europeus…e este entra sem dúvida para a lista dos piores.

(-) James. Está mal e não vejo evolução nos últimos jogos. Sim, veio de lesão, mas já reapareceu há alguns jogos e continuo a não ver nem um brilhozinho do James da primeira volta. Lento demais, desconcentrado, com pouca acuidade no passe e num estado de quase permanente descompressão física e táctica. Precisamos do James que rasgou defesas com passes perfeitos, que driblava fácil e passava simples. Precisamos desse James, caso contrário o modelo de jogo da hibridização estrutural ataque/defesa deixa de fazer sentido nos moldes actuais.

(-) A imagem de um campeonato desiquilibrado. O FC Porto não jogou sequer a passo, deixou-se estar sem cansar, sem arriscar lesões, sem preocupações excessivas com pressão e posse de bola. O Estoril começou a pressionar quase em todo o campo e manteve essa pressão o jogo todo. Quantas situações de verdadeiro perigo criou para Helton? Quantas? Lembro-me de um remate torto, dois cruzamentos tensos mas sem destinatário seleccionado…e nada mais. Noventa e quatro minutos de passeio para o FC Porto contra o sétimo classificado da Liga. Percebem agora porque é que fico tão chateado quando coloco sequer a hipótese de perder pontos para estes fulanos?!


Já vi tantos jogos destes que nem me preocupo. Entedia-me um bocado mas sinceramente já nem me chateio com isto. Ainda se o Estoril mostrasse um mínimo de argumentos ofensivos, ainda me podia preocupar, mas nem chegou para tanto. O que interessava era a vitória e essa, com os três pontos que tanto contam, ficou deste lado. E agora, meus caros…tudo a preparar Málaga, porque esses rapazes jogam bem mais que estes…

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