Respect

Costumo jogar futebol aos sábados de manhã, já há quase dez anos, com o mesmo grupo de canastrões com quem partilho há muito tempo um grande naco da minha vida. Jogamos dentro de portas sobre um piso de relva sintética e os resultados vão alternando entre as goleadas e os desníveis milimétricos, com lesões e frangos e golaços e penalties e grandes defesas e público e insultos e discussões. O normal nas futeboladas entre amigos. E há sempre respeito, muito embora durante o jogo possa não parecer. Ambas são decididas no início do jogo à boa moda dos liceus, com escolhas alternadas entre dois capitães nomeados por anti-aclamação (que é como quem diz: “faz tu que eu não quero”), e o que sucede numa fatia considerável dos confrontos é que uma das equipas dá ideia de ser mais forte que a outra e prova-o em campo, conseguindo uma vantagem considerável sobre  a outra ao fim de meia-hora e desnivelando a competição. É normal que tal aconteça, mas muitas das vezes que acontece há algo que se segue e que me põe doente: a malta que está à frente começa a facilitar. Não avança como deve, perde bolas na defesa, começa a tentar jogadas de calcanhar, bolas aéreas, combinações ao primeiro toque e desbarceloniza o jogo com uma facilidade tremenda. E não raras vezes o que acontece (e aconteceu nas últimas duas semanas de competição, por exemplo) é que o jogo inverte o sentido e a vantagem se vai perdendo e vai baixando em moral, em inteligência, em alma e, finalmente, em números. Tanto que a outra equipa, os underdogs ou assim tratados durante um extenso período, recuperam o mesmo que os primeiros perderam e acabam por triunfar no meio da anarquia e descoordenação geral da equipa teoricamente mais forte.

E é o que vejo em tantos jogos do Futebol Clube do Porto contra equipas mais fracas que não nos assustam à partida e que ao fim de dez ou vinte minutos provam que não jogam com as mesmas armas que nós. E muitas vezes os nada humildes combatentes portistas olham para baixo e pensam: “Não vale a pena correr muito nem jogar a sério, mais tarde ou mais cedo as coisas hão-de encaixar e vamos ganhar sem problema.”. E olho para um jogo como este contra o Santa Eulália e só penso na falta de respeito que mostrámos em campo e gostava de pedir desculpa ao adversário. Porque os tratámos sem o respeito que merece e que todos os clubes merecem ter da nossa parte, grandes ou pequenos, vermelhos ou verdes, portugueses ou estrangeiros. Sim, mesmo o Benfica.

Se fosse adepto do Santa Eulália tinha ficado chateado. Preferia que o FC Porto tivesse vindo jogar contra nós com vontade de jogar e nos tivesse espetado cinco ou seis a zero porque é essa a real diferença entre nós. Assim tinham-nos mostrado um mínimo de respeito e tratado como iguais.

A Aretha e a UEFA tinham toda a razão. Respect. Também gostava de o ter visto.

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Baías e Baronis – CCD Santa Eulália 0 vs 1 FC Porto

O jogo foi fácil, que ninguém tenha dúvida acerca disso muito embora o resultado possa parecer que houve luta. Não houve. Os rapazes do Santa Eulália tentaram com muita vontade mas pouca qualidade técnica e ainda menos discernimento, o que era perfeitamente expectável tendo em conta a diferença entre as duas equipas. Mas não era expectável a quase total ausência de vontade por parte de vários jogadores do FC Porto que parecem padecer de uma condição estranha neste tipo de jogos contra equipas teoricamente mais fracas e que os leva a serem lentos, a arrastar o jogo, a ficarem à espera que os minutes passem até se esgotar o tempo de jogo e poderem ir para casa de novo. Vitor Pereira não quis falar depois do jogo e compreendo que não o faça. Mas passa por ele tentar e conseguir mudar esta mentalidade tão portuguesa e infelizmente tão portista há muitos anos, não pode amuar e assumir que nada há a mudar. Espero que no balneário tenha falado. E muito. E com vernáculo. Notas abaixo:

 

(+) Kelvin e Atsu Foram talvez os poucos que tiveram o mínimo de discernimento para furar uma defesa com pouca organização e um meio-campo que se valia da quantidade em vez da qualidade para travar os ataques do FC Porto. Kelvin melhor que Atsu na primeira parte, com excelentes pormenores de controlo de bola, rotações para criar desiquilíbrios e condução da bola pelos sítios certos com bom tempo de passe. Na segunda Atsu esteve melhor, mais incisivo a aproveitar a quebra física do adversário e apesar de pouco eficaz no último passe foi talvez o melhor jogador do FC Porto.

(+) O golo de Danilo Se alguém tiver a pachorra de colocar Danilo numa sala e lhe fizer uma pergunta muito simples: “gostas de jogar a defesa direito?”, enquanto o tortura continuamente com uma corda e um CD do Mickael Carreira, a resposta vai ser: “não, prefiro jogar no meio-campo”. sempre, mesmo quando a música estiver alta e a corda ensanguentada. E o rapaz prova isso a cada jogo que faz, porque sempre que pode descai para o centro e aparece pronto para rematar à baliza ou fazer passes como o do passado Domingo contra o Sporting que deu o golo de Jackson. Marcou um excelente golo exactamente nessa posição em que apareceu no apoio, mas não gostei tanto de o ver a jogar no centro quando Vitor Pereira o colocou lá a meio do jogo. Espero por outras oportunidades em jogos secundários porque não creio que consiga tirar o lugar a Lucho ou a Moutinho…

(+) As desmarcações de Rolando Ver Rolando a jogar a trinco é tão natural como ver-me a usar um vestido de majorette e a dançar nas marchas populares da Madragoa. Mas foi curioso ver que a capacidade técnica de Rolando, particularmente na tentativa de furar a defesa com passes certeiros e que só não deram mais frutos porque, sinceramente, não parecia haver ninguém que quisesse mesmo marcar golos. Lento demais para ocupar aquela posição contra clubes com menos de duas divisões de diferença do FC Porto, ainda assim esteve bem.

 

(-) A mentalidade dos que têm algo a provar Que tal aconteça com jogadores credenciados e sem nada a provar, até compreendo. Não aceito, mas compreendo. Agora quando vejo jogadores como Iturbe, Kleber ou Castro a jogarem a um nível tão baixo, tão ausente e tão desinteressado, custa-me perceber o que raio passa pela cabeça desses fulanos. Vejo isto a acontecer há anos e até hoje ainda não vi nenhum treinador que conseguisse pegar numa equipa e a motivasse de uma forma tão francamente intensa que levasse a que os menos utilizados exibam a garra que os consiga fazer subir na consideração de sócios, adeptos e acima de tudo da sua própria equipa técnica. Talvez não haja salvação. Talvez estejamos presos a uma realidade em que os jogadores talentosos vêem que não têm hipótese de “roubar” a titularidade aos colegas mais credenciados e nem tentam. Mas não consigo perceber como é que alguém no início da sua carreira já consegue pensar assim dessa forma. Enfim, não consigo perceber que Castro não jogue rápido de pé para pé e prefira passes longos para lançamento lateral do adversário. Não entendo como é que Iturbe não percebe que fintar seis ou sete jogadores pode não ser a melhor opção. Não me cabe na cabeça como é que Kleber…existe no nosso plantel, porque continua a não mostrar qualidade para isso. São todos novos demais para desistirem tão cedo. Desiludem-me estes e alguns dos outros como Varela ou Miguel Lopes, que têm já um nome a defender e entraram para o marasmo como os outros. Muito fraco.


Os resultadistas dir-me-ão que o que interessa é a qualificação para a próxima ronda e na verdade é mesmo isso que conta. Mas custa-me ver jogadores que têm talento para isso e desperdiçam oportunidades de brilhar, de pressionar as opções do treinador e de convencer os adeptos que são opção para todos os jogos e não só estes da taça. Não compreendo como se atiram estas opções ao vento, palavra que não entendo. Enfim, venha de lá o Dínamo porque este não deu sequer para aguçar o apetite. Parabéns ao Santa Eulália. Quase que tinham sorte.

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Ouve lá ó Mister – Santa Eulália


Amigo Vítor,

We’re back, baby! We’re finally back! Nem a fugaz tentativa dos nossos media ao empolarem o assunto da Selecção a níveis estratosféricos conseguiu motivar-me a desligar as luzes e sair daquele que é sem dúvida o grande foco da atenção de qualquer portista de sangue quente: o seu, meu, nosso FC Porto. E hoje, Vitor, no dia do nosso regresso, em que as camisolas azuis-e-brancas vão mais uma vez aparecer em público duas semanas depois da última vez, não espero menos que uma vitória. É verdade que os rapazes até podem ser simpáticos, têm nome católico e ninguém os censura por nos quererem encostar contra uma parede e fazer-nos o que muitos escoteiros (ou neste caso talvez escUteiros) fizeram no Oregon, mas não daria muita margem aos rapazes. Ganhar é fundamental.

Quanto à equipa, não sei que te diga. Ou melhor, até sei. Não discordo da convocatória e até acho que podias dar hipótese a vários para serem titulares, só te pedia que não inventasses nas posições. Tens o Quiñónez para a esquerda, não ponhas lá o Miguel Lopes nem o Mangala. O Kelvin está pronto para jogar? Não o encostes à ala, põe-no em vez do Lucho para não cansares o capitão para quarta-feira. O Castro está disponível? Enfia-o em vez do Moutinho e não o prendas atrás a “seis”. E de uma vez por todas diz ao Kleber para ver se consegue tocar mais de três vezes na bola durante um jogo inteiro, fazes favor. Ah, e livra-te de pôres o Sebá em campo antes do Iturbe para evitar que metade dos adeptos te caiam em cima. Acima de tudo tenta convencer os rapazes que do outro lado está uma equipa que pode não ter o mesmo foco de mediatismo que a nossa, que os jogadores se calhar vão prós copos antes dos jogos (e os nossos não…certo?) e que as condições de treino são um bocadinho inferiores às que os teus moços têm. Mas ali em campo são onze contra onze e já vi muita borrada a acontecer por faltas de empenho. E tu próprio já viste isso este ano, pois já?

Vá lá. Ganha o jogo e mostra ao povo que não é só em Inglaterra ou na Alemanha que se sabe jogar futebol às 14h30 da tarde. Em Portugal também sabemos. E quem dera que mais jogos houvesse a estas horas, Vitor…

Sou quem sabes,
Jorge

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Na estante da Porta19 – Nº9

Uma análise curiosa e sempre actual da forma como a Premier League veio mudar o âmbito do futebol a nível nacional em Inglaterra e lançou as bases para alterações fundamentais por esse mundo fora a partir da sua criação em 1992. Escrito por Rob Smyth e Georgina Turner, o livro tenta perceber o trajecto de uma competição que desde o seu início foi pautada pela tradição e pela vida intensamente ligada dos seus adeptos aos seus ídolos que se transfiguraram de uma forma até então imprevista mas que hoje em dia acaba por se tornar um quotidiano demasiadamente preso ao estilo e cada vez menos à substância. É uma visão crítica e nostálgica q.b. que coloca os adeptos no centro de tudo e que tenta fazer passar a imagem que são eles quem devem decidir o futuro do desporto que amam muito embora não estejam no comando do seu próprio mundo. Bem escrito, boa leitura.

Sugestões de locais para compra:

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Dragão escondido – Nº15 (RESPOSTA)

A resposta está abaixo:

 

Nada mais nada menos que um dos alentejanos que menos justiça fazem ao nome da sua nobre terra. Henrique Sereno Fonseca fez parte do maravilhoso plantel do FC Porto 2010/2011 que conquistou (quase) tudo que pôde e o rapaz teve a sua quota parte de responsabilidade nessas mesmas conquistas. Apesar de não ter feito um único minuto na Europa League, Sereno foi uma peça importante em muitos pontos fulcrais do FC Porto durante a temporada. Abriu a conta num jogo amigável (contra o Ajax, creio), quando entrou em campo e rapidamente plantou uma patada nas costas de um adversário…mas mais tarde deixou uma marca ainda maior na memória de todos que estiveram presentes no Dragão num jogo contra o Sporting, quando uma corrida sua plena de extraordinário sentido de dever, esforço e capacidade de luta contrariou o que na altura poderia ter sido um golo que levaria o Sporting eventualmente a poder vencer o jogo no nosso reduto. É um rapaz que alterna o jeitoso com o patologicamente doido, é duro demais quando não precisa mas ajuda a equipa em qualquer posição da defesa. Jack of all trades, master of none, dir-me-ão, mas gostei de o ver no plantel. Cheio de medo que fosse expulso na primeira intervenção, mas ainda assim deu jeito andar por cá.

Entre as tentativas falhadas que o povo fez para acertar no nome do moço:

  • Belluschi – O génio argentino, sempre incompreendido por culpa própria e alheia, dependendo do dia, foi um dos responsáveis pelo excelente arranque da temporada e festejou no relvado com os colegas depois de ter entrado a meio do jogo para o lugar de Moutinho. Não podia ser ele na foto porque era pucunino demais;
  • Emídio Rafael – Não só é uma excelente aposta porque esteve naquela festa pintado como um catraio num qualquer alouíne, como estava inclusivamente visível na fotografia! Só há um problema…está visível na fotografia, cara destapada e tudo!;
  • Falcao – Esteve ali no relvado com todo o mérito, a celebrar com os colegas semanas antes de se pôr ao fresco para Madrid. Não era ele na foto e pela altura do rapaz deveria ter sido evidente.;
  • James Rodriguez – Olha que boa hipótese, porque também festejou a vitória no campeonato alguns dias antes de levar o Guimarães a outros patamares de dor não conhecidos antes da viagem ao Jamor. Não há razão para não ser ele. Mas…huh…não era.;
  • Jorge Fucile – Também lá esteve, mas um caga-tacos como o meu homónimo não poderia estar ali ao lado do Rolando. São dez centímetros de diferença, meus caros!;
  • Ruben Micael – Mais uma presença no relvado com o focinho untado de tinta azul-e-branca, mais uma boa possibilidade e até com alguma lógica tendo em conta o resto da foto com 100% de jogadores portugueses, mas um bocadinho ao lado. O facto de ainda ser mais pequeno que Fucile (é verdade, 1,76m do luso para 1,78m do uruguaio) não ajuda.;
  • Tomás Costa – Ui, onde este já andava nesta altura…depois da primeira metade da época passada na Roménia, em Maio de 2011, altura em que estes moços cantavam em pleno Dragão, Tomás Costa jogava já na Universidad Católica do Chile, o seu actual clube;

Side note: esta fotografia, marcante pela celebração de um título recuperado depois de um ano sem o vencer, fez-me lembrar que neste jogo que terminou num empate a três com o Paços de Ferreira, Nelson Oliveira foi expulso depois de uma entrada violenta sobre João Moutinho que quase afastava o colega da final de Dublin. Cabrãozinho. Perdoei-lhe no Mundial Sub-20 mas não me esqueço daquela estupidez.

Enfim, o primeiro a adivinhar (surprise fucking surprise) foi o Dragão de Coimbra, às 7h18. Vou mudar o nome da rubrica para “Dragão escondido que o Dragão de Coimbra vai adivinhar quem é antes de todos”. Pronto.

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