Supporters Direct – EC Project Fan Survey

O amigo João Coelho, sociólogo e estudioso do fenómeno futebol, que editou o livro Porto 1987-2012: 25 anos no topo do Mundo que contou com a participação aqui de quem vos escreve, solicitou a minha ajuda na divulgação de um inquérito criado pelo Supporters Direct, um grupo de associações de adeptos de futebol por essa Europa fora que procura a melhoria do nosso desporto preferido de todos nós através de uma participação mais activa neste fenómeno que nos fascina a todos.

Este inquérito pretende perceber a visão de adeptos de toda a Europa sobre a forma como vêem o futebol e como crêem que deveria ser organizado, dando espaço a uma maior interacção entre os actores principais (Ligas, Federações e outras entidades oficiais) e nós, os humildes adeptos.

Dêem lá um salto e participem. Garanto que estão a fazer mais pelo desporto que o Rui Gomes da Silva.

 

LINK PARA O INQUÉRITO

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Benford's law of controversy

Passion is inversely proportional to the amount of real information available.

Gregory Benford, escritor que se popularizou na área da ficção científica, cunhou esta frase no seu livro de 1980, Timescape. Tomando a Lei da Controvérsia de Benford como verdadeira, podemos concluir que a paixão aumenta à medida que a informação real se torna mais escassa, e diminui com o aumento da informação real. Parece simples a análise desta razão inversa e ainda é mais fácil fazer o paralelismo com o nosso muy amado mundo da bola. Depois deste intróito e a propósito do recente FC Porto – Sporting, permitam-me lançar um pequeno exercício numa arte pela qual tão poucos lusos gostam de deambular (optando antes por viver no próprio ecossistema mental que eles próprios criaram): a honestidade.

Falo pouco de arbitragens. Os portistas não quererão saber e os não-portistas, em bem maior número e com uma capacidade retórica questionável na grande maioria dos casos, obviamente pensarão que não falo porque estou a esconder os óbvios benefícios de que o meu clube está eternamente como feliz receptor. Momento, deixem-me mudar o chip porque está a sair um exagero de floreado e pouco aborrecido e estou muito mais perto da segunda situação que da primeira. Então prossigamos.

Ainda não tinha chegado ao carro e já meio planeta reclamava que o árbitro tinha ajudado o FC Porto a vencer o Sporting. Era por causa dos amarelos, do vermelho, dos penalties, de tudo o que pudessem encontrar para que a culpa fosse, mais uma vez, colada ao nosso nome. E não tardou para que umas dezenas de blogs, sites, jornais, revistas e o Rui Santos viessem a terreno proclamar que, mais uma vez, sempre mais uma vez, o FC Porto foi ajudado para vencer o jogo. E é esta acefalia perene que vinga na nossa comunidade, esta permanente assunção de ajuda ao FC Porto que todos adoram colocar a nosso favor, constantemente usando pouco mais que argumentos datados e quase sempre falaciosos. Porque se formos ver os factos (como fiz aqui há uns tempos por ocasião de uma famosa enumeração dos pecados de Duarte Gomes num Benfica vs FC Porto que foi feita pelo meu clube), não há nada como ser directo, frontal e honesto para tentar perceber que nem sempre o sol brilha quando olhamos para o céu mas se naquela ocasião calharmos de fitar o astro directamente, as putas das retinas acabam por ficar queimadinhas como um naco de carne que passou mais tempo do que devia na grelha por cima dos carvões. Factos, então.

  • O duplo-amarelo a Rojo: evidente. Tanto a primeira falta como a segunda, se bem que a segunda até pudesse dar para vermelho se tivesse mesmo acertado em James com a vontade que se lançou ao moço. No estádio fiquei com a nítida sensação que James tinha saltado para evitar o contacto e fugir de uma traulitada tamanha que o mandasse para a selecção mais cedo. Errei no golpe de vista, não errou o árbitro e deu bem o segundo amarelo.
  • O primeiro penalty: evidente. A culpa recai apenas em Cedric, que ingenuamente arrastou a bola com o braço esquerdo quando se tentava levantar depois de cair sozinho na área. O acto não é involuntário mas deliberado e Jorge Sousa, perto do lance, marcou o penalty sem questionar terceiros. Não precisava.
  • O segundo penalty: não-tão-evidente. Se o primeiro lance foi óbvio para todos, o segundo nem tanto. No estádio, no meu lugar do costume, não me pareceu falta. Vi o braço de Boulahrouz a aparecer pela direita de Jackson e a tocar-lhe ao de leve e observei que o avançado foi manhoso ao deixar-se cair. Não me pareceu que tivesse sido puxado com a tal questão da intensidade que tantos falam. Não me pareceu falta. Jorge Sousa vê o lance de um ângulo um pouco diferente e acha que é o suficiente. Aceito, como aceitaria se não marcasse nada ou se a situação acontecesse na nossa área, podendo questionar a decisão mas pela visão do evento compreendo que tenha decidido assim.
  • O número de amarelos: exagerado. Tanto para um lado como para o outro, mas pareceu-me evidente que houve vários lances de jogadores do Sporting que mereceram o cartão, tanto como alguns do FC Porto que fizeram por merecer o mesmo. Há árbitros que preferem controlar o jogo à custa da força em vez da pedagogia. Se fosse outro árbitro tinham provavelmente dito que não tinha mostrado cartões suficientes.

O problema é sempre o mesmo e sê-lo-á enquanto não quiserem baixar as lanças e perceber que nem sempre é possível avaliar para o lado que querem. Não vale a pena contrariar este jogo com lances de outro jogo, como falar de penalties marcados num lance em Coimbra ou outros que não foram marcados, apesar de em situações idênticas, numa partida na Mata Real. É futebol. E sobre o FC Porto, que putativamente já terá sido prejudicado este ano em vários lances de grande penalidade, ainda não falei. Mas se o fizer, será apenas sobre o lance em questão e na partida em análise. Porque os lances sucedem-se e as decisões são rápidas. E porque a única coisa que posso apontar ao trabalho de tantos outros árbitros como Jorge Sousa prende-se na postura assumida durante a partida.

Assim sendo, se quiserem continuar a ouvir os Duques deste mundo, so be it. Mas tenham em atenção uma coisa: esse tipo de atitudes só pode contribuir para esconder defeitos e falhas individuais e colectivas. Não deixem que a paixão ultrapasse a informação que está disponível. Porque só estão a esconder as vossas próprias incapacidades.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Sporting CP

foto retirada de desporto.sapo.pt

Perto do final do jogo, já depois do segundo golo ter finalmente entrado na baliza do Sporting, as claques começaram a entoar a música do costume. “Outra vez, outra vez, campeonato c’o caralho outra vez…”, e o estádio cantou, como quase sempre faz quando o Sporting nos honra com a sua visita e sai daqui habitualmente a pedir almofadas para sentar o rabinho dorido no autocarro. E cantei com eles, com alegria, até que um dos meus colegas de bancada disse a melhor frase da noite: “É mesmo verdade, as músicas clássicas são as melhores!”. Pumba, embrulha. Dá sempre gosto vencer um clássico, mas este teve o dom adicional de enervar um estádio inteiro pela nossa falta de capacidade de impôr um ritmo consistente e forte de início a fim contra uma equipa que está muitos níveis abaixo da nossa. Custa-me ver brincadeira e um quase desprezo pelo adversário quando o resultado está a um lance fortuito de passar de positivo a negativo. Ainda assim foi uma boa vitória, com menos brilho que na quarta-feira contra o PSG mas ainda assim uma vitória com todo o mérito. Notas abaixo:

 

(+) Otamendi Quase perfeito nos cortes e nas intercepções, fez com Maicon e depois Mangala uma dupla praticamente intransponível no relvado do Dragão. Estava em todo o lado pelo chão e pelo ar, ajudou a pressionar à frente e tapou o que era preciso com o vigor habitual que por vezes é exagerado mas hoje esteve na medida certa. Firme na saída com a bola controlada, foi no lado direito da defesa que melhorou quando Vitor Pereira (bem, depois de ver que Mangala não se estava a adaptar bem a ocupar a mesma zona de Maicon) o trocou para essa posição e foi o melhor em campo do FC Porto.

(+) Helton Mais uma vez, como tinha feito em Faro e Zagreb, foi o guarda-redes que uma equipa grande precisa, porque está poucas vezes em acção mas fê-lo sempre com segurança e impediu que o Sporting marcasse sem ser merecido mas que poderia ter colocado dificuldades indesculpáveis à nossa defesa. Duas grandes defesas e várias saídas da baliza marcaram-no como pivotal na vitória de hoje.

(+) O golo de Jackson Começo a achar que marca os golos mais difíceis e falha os fáceis, mas mais uma vez fez uma obra de arte digna de passar em todas as televisões do Mundo acima de qualquer golo de Ronaldo ou Messi. O controlo da bola na coxa, a inflexão do corpo e o calcanhar em pleno voo foram inesquecíveis para quem tiver estado hoje no Dragão. Se ao menos conseguisse fazer o mesmo em jogadas…vá, normais…e tínhamos aqui uma pérola. Assim…ainda tem muito que provar.

 

(-) Baixar o ritmo cedo demais O jogo de hoje deixou-me nervoso sem necessidade e esse é o pior tipo de nervosismo que posso ter durante um jogo para lá de um ou outro jogador lesionado e a chuva que me pode molhar no regresso a casa. É aquela atitude de “cagão”, como se diz no Norte, de quem olha de cima para baixo sem o respeito que o adversário merece e não procura chegar a um patamar de qualidade que seja condizente com o valor das duas equipas, é essa arrogância negativa que me chateia. Porque um bom resultado de um a zero rapidamente se transforma num infeliz empate graças a um remate fortuito ou um lance azarado do guarda-redes, e ainda há uma semana tivemos um excelente exemplo disso mesmo, em Vila do Conde. E a culpa não pode parar nos jogadores, porque Vitor Pereira não conseguiu colocar os rapazes a jogar com a intensidade que mostraram na passada quarta-feira contra o PSG durante mais que os primeiros vinte minutos, em que estivemos novamente bastante bem. Das duas uma: ou Maicon é o líder espiritual da equipa e quando não está em campo há um relaxamento natural graças à falta do “pastor”, ou os gajos olharam para o Sporting e não o temeram. Mas têm sempre de temer o adversário, ou no mínimo darem-lhe o benefício da dúvida. Hoje fomos arrogantes e tomamos o jogo como ganho antes disso acontecer. Não gostei.

(-) Danilo Está-me a começar a preocupar o rendimento de Danilo na lateral-direita. Constantes desconcentrações no flanco, persistentes falhas no passe e pouca audácia a subir no terreno colocam uma pressão extra na utilização do brasileiro em detrimento de Miguel Lopes que é menos jogador mas muito mais consistente e lutador. Danilo tem de subir a produtividade sob o risco de começar a ser “queimado” pelos adeptos e já sei por experiência que não será fácil recuperar a imagem perante os adeptos.

(-) Sporting É fraquinho, este Sporting, e nem as perenes reclamações contra arbitragens lhes safa a imagem de uma equipa desorientada, com poucas ideias e com jogadores sub-aproveitados. A um meio-campo forte em nomes mas fraco em produtividade e um ataque que pouco cria apesar da velocidade de Carrillo, o posicionamento de Wolfswinkel e a técnica de Pranjic juntam-se dois centrais com mais corpo que inteligência e dois laterais que sobem o suficiente para intimidar mas nunca passam da mediania. Cedric talvez seja o melhor jogador deste Sporting, o que é dizer muito.


E agora, mais uma paragem para selecções e duas semanas sem jogos do meu clube. Chateia-me, mas é assim que o campeonato está estruturado. Talvez funcione para a recuperação de Maicon e Alex Sandro, titulares indiscutíveis neste FC Porto 2012/2013, e deixe descansar alguns jogadores que passaram uma semana intensa com as nossas cores. Que não haja lesões e o desgaste das viagens seja colmatado por um regresso em condições à competição. Por agora descansemos. As emoções voltam em breve.

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Um clássico é um clássico e é um clássico. Não importa quão distantes as equipas podem estar na tabela, a nacionalidade dos defesas centrais ou a marca dos equipamentos que usam na pele. O que interessa mesmo é que hoje à noite, pelas 20h45, hora de Portugal e dos Algarves, vão estar onze contra onze no relvado do Dragão prontos a arrancar mais um eterno confronto entre duas das melhores equipas do país.

E é destes jogos que a malta gosta, Vitor, para lá dos da Champions como na passada quarta-feira. É por causa destes jogos que pais deixam as famílias em casa, miúdos tentam arranjar bilhetes à pressa, idosos saem do conforto do lar para se dirigirem ao estádio ou ao café para verem o jogo que todos querem ver. Para arrancarem uma vitória contra aqueles que todos os anos lutam para que não consigam ser melhores que nós. E é essa atitude que quero ver em campo hoje à noite. Não quero um FC Porto lento e despreocupado como vi em Vila do Conde. Não quero um FC Porto ausente e triste como vi em Barcelos. Quero um FC Porto forte como o que jogou no Dragão contra o Paris Saint-Germain, contra o Beira-Mar, contra o Guimarães ou em Zagreb. Quero que faças os jogadores esquecer que do outro lado está uma equipa arrastada para a lama pelos últimos resultados, uma equipa desmoralizada porque teve de comprar almofadas novas em forma de donut porque uns quaisquer parolos húngaros lhes enfiaram um dildo king-size pelo esfíncter. Quero que digas aos nossos gajos: “Ouçam e ouçam bem. Não há espaço para merdices. Não vos quero a olhar para o Capel e pensar que não vale um charuto porque só joga com o pé esquerdo. Recuso-me a aceitar que pensem que o Vulfogrinkel é fraco porque não marca tantos cá como fazia na Holanda, ou que o Rinaudo é uma versão argentina do Doriva com um nome mais engraçado e um remate menos pujante. Nem que se lembrem que o Patrício ainda não percebeu a regra do atraso ao guarda-redes. Quero que entrem em campo, olhem para os verdes-e-brancos e imaginem que ali está uma mulher despeitada, um leão violentado por quarenta corças à procura de vingança. Olhem bem para os olhos deles, à procura de mostrar que são bons. E vocês são melhores que eles. E vocês vão mostrar porque é que são melhores que eles. E vão ganhar. Ganhar. Só isso. Ganhar.”

Vamos ganhar, Vitor. Vamos empurrá-los mais para baixo e mostrar quem é que manda.

Sou quem sabes,
Jorge

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A incerteza das substituições

No jogo contra o Paris Saint-Germain houve dois pormenores que me ficaram guardados na memória. Aos 73 minutos, Vitor Pereira tira Varela e faz entrar Atsu. Nada de estranho, de extraordinário ou questionável. As pernas do português estavam a ceder depois de muita correria e de uma intensa pressão sobre ambos os flancos onde alinhou, ajudando a carregar sobre o adversário e a tapar o flanco para as eventuais subidas de Alex Sandro ou para proteger contra o eventual overlap dos franceses. O ganês entrou, cheio de garra e vivacidade, desfez várias vezes os rins a Jallet, então o seu adversário directo, arrancou dois remates e vários cruzamentos perigosos e ajudou o FC Porto a empurrar o inimigo para dentro da sua área até que James se lembrou de dar aquele toque na bola que nos deu três pontos e saciou a sede de uma vitória que demorava a chegar. A substituição tinha sido óbvia, esperada e correu muito bem.

Oito minutos depois, ainda com o resultado a zeros, Vitor Pereira manda sair Lucho e entrar Defour. O argentino, esgotado depois de correr por ele e pelo que James não conseguia, ajudando a pressionar o adversário pelo chão e pelo ar, com intercepções valiosas e uma mão-cheia de passes brilhantes, sai de campo para dar lugar a um belga voluntarioso, bom tecnicamente, com uma visão de jogo prática, simples, de posse. Defour entrou…e o meio-campo ressentiu-se. Sofreu porque nada corria bem a Steven, nem um passe calmo ou uma desmarcação tranquila antes ou depois da obra-prima de James. A bola parecia queimar e as corridas saíam sempre para o lado errado, deixando o centro do terreno entregue ao mini-mega-Moutinho ou ao Rochedo de Goiás, Fernando, que já cansados ainda tiveram de cobrir as falhas de Defour, que até vinha de uma série de boas exibições com a nossa camisola. O meu colega do lado gritava: “Se foi para esta merda que o meteste mais valia o Lucho cansado, pá!“, dirigindo-se a Vitor Pereira como o principal responsável pelo mini-terramoto que abalou o nosso meio-campo e ajudou a somar ao sofrimento do resto das bancadas, felizmente por pouco tempo. E, no entanto, a substituição fez todo o sentido e só não terá sido feita mais cedo porque o jogo não estava ainda ganho.

É ingrato seleccionar um jogador para sair quando estão todos a jogar bem. Ainda mais quando a equipa, até aí estável emocional e estruturalmente, pode vir a desagregar-se fruto de uma opção menos acertada do treinador que vê o jogo como nós vemos, mas a uma altitude bem mais baixa. E é difícil compreender o porquê de uma ou outra substituição, por muito que seja uma tradição acontecer sempre por volta dos mesmos minutos com quase sempre os mesmos intervenientes (lembrem-se das trocas de Meireles por Tomás Costa, de Tarik por Mariano ou McCarthy por Jankauskas, entre muitas outras), ser oscilante no efeito que traz a uma equipa.

A cabeça do treinador está sempre no cepo durante um jogo. Mas nunca está mais em xeque como depois de uma substituição que não lhe corre bem, especialmente quando a culpa não é dele, nem dos jogadores. It just is.

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