Less will be more

A época está agora a começar e rapidamente vamos ser re-inundados pelos programas da praxe, aqueles púlpitos em forma de cadeiras forradas com as cores de cada pregador, onde os eméritos juízes em causa própria manifestam o gáudio ou a indignação pontual e sempre bem fundamentados em factos bem adaptados à defesa da situação em análise (naquela semana, porque se mudarmos a agulha e invertermos os actores, a argumentação muda e o prego vê-se revirado mais depressa que o Dí Maria a cair na área do adversário), prosseguindo semana após penosa semana em cruzadas pessoais travestidas de interesse comum a favor ou contra qualquer moínho quixotesco que lhes tenha apetecido inventar na altura.

E nós, os não-mediáticos membros da prole que gosta da bola, sofremos com as muitas idiotices que rodeiam as efémeras pérolas de inteligência futebolística e análise fria dos acontecimentos para nos perdermos em discussões estéreis em que ninguém nunca pode sair vitorioso, porque quando uma posição se torna de tal forma inflexível não admite, por definição, o contraditório, e somos arrastados para o marasmo da opinião alheia, criando cada vez mais anti-corpos sem motivo e abdicando do pensamento próprio.

No more, I say, no more.

Declaro aqui a firme intenção de alterar a minha rotina semanal que fui mantendo nos últimos anos e deixar de ser um espectador bovino destes programas com o interesse quase religioso que tinha no passado. Não vou cortar “cold-turkey” (ou seja, a 100%), ainda posso deitar o olho de vez em quando em situações em que me sinta tentado a perceber, caso tenha ocorrido qualquer situação fora do comum, mas quero dar mais importância ao futebol e cada vez menos a algumas figuras que só o prejudicam. Fica desde já o meu pedido de desculpas ao Miguel Guedes, um dos poucos que mereceria maior atenção da minha parte. Miguel, dude, estou certo que compreendes. Os programas de análise da bola, como o Jogo Jogado ou o Pontapé de Saída, ainda posso ir ouvindo/vendo, mas o resto vai deixar de ser uma parte permanente das minhas noites semanais.

Só me fica uma certa pena de uma coisa: perder o inesgotável filão de estupidez que vai sair das bocarras de alguns elementos dessas homilias em directo, personificadas por aquelas personalidades que sem ser preciso grande empenho aprendemos a odiar. Enfim, lá vou eu ter de arranjar maneira de me indignar com os cruzamentos falhados do Palito ou os cortes inconsequentes do Maicon…

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Nunca mais publicas a crónica, homem!

“On an occasion of this kind it becomes more than a moral duty to speak one’s mind. It becomes a pleasure.”

Oscar Wilde – The Importance of Being Earnest

 

Um amigo, depois de ler os Baías e Baronis do jogo contra o Vitória de Guimarães, perguntou-me porque é que eu demorava tanto tempo a colocar o post online, até porque as pessoas podem ficar com a ideia que ando a recolher ideias e opiniões de outros blogs e da imprensa para fazer com que a crónica seja mais universalmente aceite. Para lá do tempo que é necessário colocar de lado para escrever de facto a análise ao jogo, há vários outros factores que atrasam a publicação, como neste caso a viagem interminável para sair da zona do estádio.

Em primeiro lugar, procuro sempre abster-me de ler o que quer que seja sobre o jogo, sejam opiniões de bloggers, comentários em jornais ou noutros sites ou até ideias de amigos sobre o que se passou. É por isso que muitas vezes acabo por cometer falácias não intencionais nas análises, especialmente quando vi o jogo ao vivo. Já quando assisto ao desafio na têvê, não ouço nada mais que os bitaites dos comentadores e tento não me deixar influenciar por eles, tanto os bitaites como os comentadores. Por isso tudo o que lêem, concordem ou não, sai da minha interpretação dos eventos.

Quando o jogo se realiza no Dragão, por exemplo, depois de sair do estádio e chegar ao carro/metro ainda falta a viagem até casa e a somar a isso há sempre um período de estabilização e de arrefecimento, para evitar que saiam insultos ou elogios exagerados fruto das emoções do jogo que acabou de acabar. Nos jogos que vejo via TV, a fase de “pousio” mantém-se, e em ambos deverá ser somado o tempo de uma mais-que-provável refeição, porque só muito raramente estou a comer enquanto o jogo está a decorrer e uma refeição com o sistema nervoso alterado não funciona muito bem no meu estômago. Ainda por cima acho que dou tempo para as ideias assentarem, para analisar mais a frio o que se passou no jogo e para perceber se é ou não meritório o chorrilho de parvoíces que são semanalmente debitadas nessa rubrica.

Fica o disclaimer. Qualquer reclamação, sabem onde é o guichet.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Vitória Guimarães

foto retirada do Maisfutebol

Fui a Aveiro bem disposto e saí de lá com o mesmo espírito. Uma final é uma final e não há espaço a jogos espectaculares nem a exibições fabulosas. O que interessa mesmo nestas alturas é a vitória, e se o jogo calhar de ser mais feio, não fico incomodado por causa disso se a taça no final acabar nas nossas mãos. Hoje, depois de saudar o autocarro da equipa ainda no exterior e à medida que me ia aproximando do meu lugar na bancada, vestido na minha camisola de 1996 (adidas, revigrés e telecel. ah, nostalgia!), era essa a forma como pretendia mergulhar no jogo. No entanto, além das excelentes jogadas com que começamos a partida, há ainda algumas coisas a melhorar, particularmente na zona defensiva. O ritmo de jogo foi de final, de contenção e de segurança, mas quase era deitado por terra pela mesma pessoa que proporcionou as duas grandes explosões de alegria. Sim, vou bater no Rolando, logo depois de o elogiar. Vamos a notas:

 

(+) Souza Como Fernando parece estar a ser encaminhado para fora do clube com a mesma discrição de um remate do Hulk, Souza aparece como o principal candidato ao lugar. E se continuar a fazer jogos como o de hoje, não vai ter dificuldade em sujar equipamentos todas as semanas. Impecável na intercepção, rijo e agressivo q.b., foi o trinco que precisávamos e ainda ajudou nas saídas com a bola dominada, rodando fácil para os colegas principalmente para Fucile, do lado esquerdo. Pareceu um jogador motivado, diferente, mais controlado e menos impulsivo. Espero para ver mais alguns jogos mas a evolução é notável.

(+) Rolando (os golos) Um central goleador, como Rolando, não é usual. Dois golos numa final ainda menos, e Rolando apareceu no local certo por duas vezes e deu o troféu à equipa. Acaba por ser um rapaz que não tendo uma movimentação muito agressiva na área adversária consegue ainda assim descobrir o local correcto para corresponder aos cruzamentos que são bombeados para a área, muitos deles com a precisão de um passe de letra do Sonkaya. Muito bem no ataque (abaixo vem a desancadela).

(+) Fucile Mais um jogo de querer, de garra interminável do meu uruguaio preferido. Se tivesse um pé esquerdo remotamente decente ainda podia ter somado mais à performance, porque o corredor foi todo dele já que Varela insiste em produzir pouco mais que uma abóbora de chuteiras, e Fucile arrastou o jogo todo enquanto pôde, furando pelo corredor fora, ganhando bolas pelo chão e pelo ar. Apesar de se notar a diferença para Álvaro que é mais prático, mais rápido e cruza bastante melhor, Fucile continua a ser um jogador que deve ser mantido no plantel pela versatilidade e espírito de luta que coloca em todos os lances. Quando não se arma em parvo, claro.

(+) Sapunaru À imagem do colega do outro lado, Sapu devia ser um case-study para o futebol nacional. Quando cá chegou era a representação física de um “choninhas”. Simples, tímido, e pouco audaz, parecia ser mais um rapaz para ser encostado depois da fogacidade de Bosingwa. Entra o “túnel-gate” e uma viagem de avião com a selecção com álcool ao barulho, e Sapunaru transformou-se. Hoje em dia pega na bola e faz o corredor até ao fim, apesar de na primeira parte ter ficado preso pela presença de Targino (um dos jogadores mais sobre-valorizados do nosso futebol desde o Cadete), mas mal arranjou um ou outro espaço era ver o romeno a voar baixinho pelo flanco fora. Depois do jogo, é vê-lo a pedir uma bandeira à claque e a levá-la para o campo como se fosse portista desde pequenino. Soube ganhar o apoio dos adeptos e continuará a tê-lo, desde que se mantenha com a sobriedade que nos habituou. Dentro e fora de campo, porque um vodkoólico merece sempre o meu apoio.

(+) A letra de Hulk É raro ser tão “menina saltitante” a analisar os jogos, mas não resisto: o cruzamento para o primeiro golo foi uma obra de arte.

 

(-) Rolando (as falhas) Ora cá vamos então: não sei se foram os dois golos que lhe deram a volta à cabecinha, ou se é fã de numerologia e de teorias de coincidência cósmica, mas se excluirmos os golos, Rolando foi uma granada sem cavilha hoje à solta no Municipal de Aveiro. Falhou vezes demais em zonas perigosas, e não fosse o par de golos tão importantes que marcou e teria um Baroni ainda maior. Atrasos mal calculados, passes de risco, reacção lenta demais para a rapidez dos avançados contrários…falhou mais que Maicon, o que só por si diz tudo. Como nem todos os jogos vão contar com um “bis” de Rolando, espero que tenha sido um jogo acidental e acidentado em todos os sentidos.

(-) João Moutinho Quando não joga bem, o FC Porto não joga bem. Moutinho esteve hoje abaixo do normal, falhando tanto no timing dos passes como na escolha dos caminhos certos para pisar com a bola, o que é estranho e pouco habitual. Acho mesmo que é a primeira vez que dou um Baroni ao nosso João, o que torna ainda mais incomum esta exibição apagada. O calcanhar para o cruzamento de Hulk é excelente, mas o que me fica do jogo é a incapacidade de ruptura e de rotação de bola a que Moutinho nos habituou, e a equipa sofreu com isso porque Ruben, com toda a boa vontade que mostrou, nunca conseguiu produção suficiente para si…e para substituir o colega.

(-) Adeptos do Vitória Que raio de gente é que se vai embora do estádio ANTES da equipa subir ao palco para receber a medalha?! Durante o jogo cantam e apoiam, mas quando a equipa acaba por não obter o resultado que gostavam de ver, “vamos embora que se faz tarde e depois está trânsito”? Já no Jamor tínhamos sido brindados com esta visão, um enorme grupo de adeptos amuados com a vida e com o mundo, incapazes de demonstrar o carinho pelos jogadores que tão ostensivamente exibem antes e durante do jogo. São falsos, hipócritas, que só estão bem quando vencem e deitam tudo fora quando perdem. É gentinha com g pequeno.

 

Mais uma Supertaça. Com esta já vamos em dezoito que vão estar no museu em Abril de 2012, mas esta simboliza mais que isso. Mostra que o estilo de jogo não mudou, os jogadores são os mesmos e sabem que têm de continuar a difícil tarefa de vencer e convencer, porque o nível do ano passado não vai ser esquecido pela maioria dos adeptos. Uma boa parte dos que estiveram este Domingo em Aveiro não voltarão a ver o FC Porto a jogar esta temporada, mas eu e muitos outros vamos continuar a assistir aos jogos tanto fora como no Dragão, e gostei de ver que o nível se manteve. É preciso subir o rendimento e recriar hábitos de jogar contra equipas que defendem com onze, mas as bases estão sólidas. Ainda bem.

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Ouve lá ó Mister – Vitória Guimarães

Amigo Vítor,

Agora é que começa a doer, homem. Este Domingo, contra a malta da terra do Afonso, estás perante o primeiro monte da época. É preciso trepar, pá, é preciso subir ao cume desse pico e dizer bem alto a todos os portistas, cépticos e crentes, que estamos vivos, que não desaprendemos de vencer durante as férias e que até contagiamos os outros com a vontade de ser sempre primeiro…ou achas que o Uruguai ganhou a Copa América por acaso? Havia lá dois dos nossos, e só tiveram sorte porque o Maxi teve um flashback para 2009/2010 e percebeu “ah, é este o doce sabor do triunfo…puta madre, já nem me lembrava, coño!”, senão ainda estavam a chutar bolas à baliza do Villar. E todos nós acreditamos que mesmo tendo perdido aquele jogo com o Lião (por muito que me custe perdoar-te por perderes contra uma equipa a jogar de cor-de-rosa…olha que até o outro “lião” se empertigou todo quando viu o tom das shirts da Juve e inverteu o tradicional curso da natureza, com a gazela do pai da Lyonce a cravar duas setas nos da velha senhora, mas isso já lá vai não é verdade?), que por sinal até foi bem entretido, a equipa vai chegar a Domingo a espumar das ventas.

Mas o Guimas que não te engane…olha que eles são sempre matreiros, não andam a jogar um remate-de-Mariano nesta pré-época mas quando chegam à parte que magoa parece que se lhes levanta a moral e vão em frente! Ainda por cima lembra-te que não vais ter o puto James que lhes deu água p’la barba no Jamor, o Álvaro e o Cebola ainda estão a encher o bandulho esparramados ao sol e o Falcao e o Guarín ainda estão a começar a suar o deles. Se fosse a ti, que não sou, mas se fosse, apostava na mesma equipa que meteste contra o Olympique Licha & Cª. Sem inventar muito, jogar simples, jogar prático, jogar com calma e confiança de campeão.

E já sabes que 1-0 chega, até meio-zero como disse à gaja da TVI que ainda no aeroporto me espetou o microfone no focinho antes de sair para Dublin, agora se pudéssemos arrancar a época como a terminámos…então isso é que era lindo. Mas não te preocupes muito com marcar muitos golos. Interessa-me ganhar, porque o Museu abre em Abril e já lá está o espaço reservado para mais esta. Força aí nessas canetas, olha que vou estar lá na bancada para aplaudir!

Sou quem sabes,
Jorge

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