Duelos para a temporada – parte II

O segundo confronto coloca um central internacional argentino contra um futuro (ah-tá-bem-sei-lá-desde-que-o-João-Pereira-é-capitão-do-Sporting-acredito-em-tudo) internacional brasileiro:

 

Otamendi
Maicon
Posso chutar, mister?
(características ofensivas)
Bom toque de bola, subidas controladas pela relva. Joga simples e prático. Excelente no jogo de cabeça ofensivo, pior nos absurdos passes a 40 metros para a bancada.
Defende em condições?
(características defensivas)
Ainda não dá a segurança defensiva que todos esperávamos. É rijo e luta com garra e empenho e é fiável…ma non troppo. Bom na cobertura na subida dos lateral esquerdo. Recordista mundial de entradas rasteiras de carrinho só a tocar na bola. Tendência para facilitar em demasia parece estar a melhorar. Bom sentido de antecipação pelo chão e pelo ar mas insiste em deixar a bola bater na relva antes de a cabecear e perde muitos lances dessa forma.
O guarda-redes abdica da barreira…
(lances de bola parada)
Muito móvel nos cantos e livres, surge normalmente no meio da confusão da pequena área. Joga bem de cabeça e aparece sempre na área, especialmente ao primeiro poste.
Oh amigo, até jogo à baliza!
(versatilidade)
Mais à vontade no centro, pode ser adaptado à direita mas com uma óbvia baixa de rendimento (não é, Dieguito?) Não. Jogas no meio. Ponto final.
Parto-te todo, ouviste?!
(sistema nervoso)
Pouco falador com os árbitros mas muito interventivo com os colegas da defesa. Calmo demais…até que faz borrada, depois é vê-lo a mandar bolas para a bancada sem necessidade
So ready for my fucking close-up
(imagem)
Mais sóbrio não podia haver. Low profile, sem tiques de vedetismo, poderia ser candidato a futuro capitão se agarrasse o lugar e ficasse uns largos anos. Um dos bolas-de-bilhar do plantel, aqui há uns tempos parecia ter apontado para uma crista loura (mas todos os brasileiros agora querem ser o Neymar?!) mas até ver…o melão continua rapado.
Como é a música que cantamos a este gajo?
(relação com os adeptos)
Ainda causa alguma desconfiança, mas é considerado como “este-devia-jogar-sempre”. Está em cima de uma fina camada de gelo num lago em dia de sol primaveril. Mais um ou dois falhanços e perde-se de vez.
Link:

Duelos para a temporada – parte I

A História está repleta de duelos. Muhammad Ali contra George Foreman, Aaron Burr contra Alexander Hamilton, Júlio César contra Pompeu, Napoleão contra Wellington, Montgomery contra Rommel, Ripley contra o bicho que baba ácido, Kramer contra Kramer, Paulinho Santos contra João Pinto ou Mariano González contra a Jabulani, todos estes são exemplos de inimigos figadais, de rancores e lutas constantes até que um fique prostrado em metafórica posição fetal, ou no caso do Mariano, que habitualmente resultava num lançamento lateral para o adversário. No plantel do FC Porto deste ano temos direito a assistir a alguns destes duelos, ainda que com contornos consideravelmente diferentes dos supra-citados, porque só num caso ou noutro veremos derramar de sangue, lutas de espadas ou disparos com boa pontaria. Espero.

Por isso vou aqui deixando alguns dos duelos que vão ser travados pela titularidade no FC Porto. Digam de vossa vontade, fazem favor.

 

Jorge Fucile
Cristian Sapunaru
Posso chutar, mister?
(características ofensivas)
Gosta mais de atacar que o exército americano, rompe pelo flanco como uma coisa que rompe muito bem pelo flanco. Mais retraído, mas ultimamente aparece na área para finalizar.
Defende em condições?
(características defensivas)
Bom no 1×1 em condições naturais, cai pouco nas fintas e mantém a postura, mas tende a esquecer-se que a zona que lhe está atribuída é um pouco atrás do meio-campo. Não sendo uma barreira intransponível, é um defesa sóbrio e racional. Continua a dar muito espaço quando tem um extremo rápido e permite cruzamentos mais vezes do que devia.
O guarda-redes abdica da barreira…
(lances de bola parada)
Costuma ser o elemento mais recuado, é aquele bombeiral que fica atrás a guardar a cisterna. Joga bem de cabeça e aparece sempre na área.
Oh amigo, até jogo à baliza!
(versatilidade)
Pode jogar na direita ou na esquerda Consegue jogar à direita e ao centro da defesa
Parto-te todo, ouviste?!
(sistema nervoso)
Agressivo, reclama muito com os árbitros.
Enerva-se facilmente.
Pensa que tem a técnica do Dani Alves mas está mais próximo de um Ibarra.
Agressivo, reclama muito com os adversários.
Propenso a faltas para amarelo quando se posiciona mal no 1×1.
So ready for my fucking close-up
(imagem)
Parafina. Pinta o cabelo, sinal de segurança clara na sua masculinidade. Tem ar de gozo sempre que fala com a imprensa Alcoólico. Continuo a achar estranho ainda não ter visto uma garrafa de “Absolut Sapunaru” num supermercado. Ah, e apanhou uns meses de suspensão por andar à pancada num túnel.
Como é a música que cantamos a este gajo?
(relação com os adeptos)
Ambígua. Uns adoram-no, outros não o podem ver. Começou indiferente, actualmente é um “menino querido” das claques.
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Less will be more

A época está agora a começar e rapidamente vamos ser re-inundados pelos programas da praxe, aqueles púlpitos em forma de cadeiras forradas com as cores de cada pregador, onde os eméritos juízes em causa própria manifestam o gáudio ou a indignação pontual e sempre bem fundamentados em factos bem adaptados à defesa da situação em análise (naquela semana, porque se mudarmos a agulha e invertermos os actores, a argumentação muda e o prego vê-se revirado mais depressa que o Dí Maria a cair na área do adversário), prosseguindo semana após penosa semana em cruzadas pessoais travestidas de interesse comum a favor ou contra qualquer moínho quixotesco que lhes tenha apetecido inventar na altura.

E nós, os não-mediáticos membros da prole que gosta da bola, sofremos com as muitas idiotices que rodeiam as efémeras pérolas de inteligência futebolística e análise fria dos acontecimentos para nos perdermos em discussões estéreis em que ninguém nunca pode sair vitorioso, porque quando uma posição se torna de tal forma inflexível não admite, por definição, o contraditório, e somos arrastados para o marasmo da opinião alheia, criando cada vez mais anti-corpos sem motivo e abdicando do pensamento próprio.

No more, I say, no more.

Declaro aqui a firme intenção de alterar a minha rotina semanal que fui mantendo nos últimos anos e deixar de ser um espectador bovino destes programas com o interesse quase religioso que tinha no passado. Não vou cortar “cold-turkey” (ou seja, a 100%), ainda posso deitar o olho de vez em quando em situações em que me sinta tentado a perceber, caso tenha ocorrido qualquer situação fora do comum, mas quero dar mais importância ao futebol e cada vez menos a algumas figuras que só o prejudicam. Fica desde já o meu pedido de desculpas ao Miguel Guedes, um dos poucos que mereceria maior atenção da minha parte. Miguel, dude, estou certo que compreendes. Os programas de análise da bola, como o Jogo Jogado ou o Pontapé de Saída, ainda posso ir ouvindo/vendo, mas o resto vai deixar de ser uma parte permanente das minhas noites semanais.

Só me fica uma certa pena de uma coisa: perder o inesgotável filão de estupidez que vai sair das bocarras de alguns elementos dessas homilias em directo, personificadas por aquelas personalidades que sem ser preciso grande empenho aprendemos a odiar. Enfim, lá vou eu ter de arranjar maneira de me indignar com os cruzamentos falhados do Palito ou os cortes inconsequentes do Maicon…

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Nunca mais publicas a crónica, homem!

“On an occasion of this kind it becomes more than a moral duty to speak one’s mind. It becomes a pleasure.”

Oscar Wilde – The Importance of Being Earnest

 

Um amigo, depois de ler os Baías e Baronis do jogo contra o Vitória de Guimarães, perguntou-me porque é que eu demorava tanto tempo a colocar o post online, até porque as pessoas podem ficar com a ideia que ando a recolher ideias e opiniões de outros blogs e da imprensa para fazer com que a crónica seja mais universalmente aceite. Para lá do tempo que é necessário colocar de lado para escrever de facto a análise ao jogo, há vários outros factores que atrasam a publicação, como neste caso a viagem interminável para sair da zona do estádio.

Em primeiro lugar, procuro sempre abster-me de ler o que quer que seja sobre o jogo, sejam opiniões de bloggers, comentários em jornais ou noutros sites ou até ideias de amigos sobre o que se passou. É por isso que muitas vezes acabo por cometer falácias não intencionais nas análises, especialmente quando vi o jogo ao vivo. Já quando assisto ao desafio na têvê, não ouço nada mais que os bitaites dos comentadores e tento não me deixar influenciar por eles, tanto os bitaites como os comentadores. Por isso tudo o que lêem, concordem ou não, sai da minha interpretação dos eventos.

Quando o jogo se realiza no Dragão, por exemplo, depois de sair do estádio e chegar ao carro/metro ainda falta a viagem até casa e a somar a isso há sempre um período de estabilização e de arrefecimento, para evitar que saiam insultos ou elogios exagerados fruto das emoções do jogo que acabou de acabar. Nos jogos que vejo via TV, a fase de “pousio” mantém-se, e em ambos deverá ser somado o tempo de uma mais-que-provável refeição, porque só muito raramente estou a comer enquanto o jogo está a decorrer e uma refeição com o sistema nervoso alterado não funciona muito bem no meu estômago. Ainda por cima acho que dou tempo para as ideias assentarem, para analisar mais a frio o que se passou no jogo e para perceber se é ou não meritório o chorrilho de parvoíces que são semanalmente debitadas nessa rubrica.

Fica o disclaimer. Qualquer reclamação, sabem onde é o guichet.

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