Ouve lá ó Mister – Bem-vindo, Vítor!

Vítor, novo líder do povo portista!

Em primeiro lugar, gostava de te dar as boas vindas ao lugar mais importante na hierarquia da bola portuguesa. Chegaste ao topo da carreira no teu país e tens pela frente um universo de imprensa agressiva, adversários críticos e cronistas sarcásticos. Prepara-te para uma enorme temporada onde vais ouvir o teu nome repetido até à exaustão em chalaças mais ou menos humorísticas com o rei dos árbitros, piadinhas às tuas conferências de imprensa e intromissões pela tua vida privada. Habitua-te, estás no FC Porto. Bem-vindo.

A tua entrada não é feita pela porta grande, como já deves ter reparado. Acabas por te ver envolvido neste rápido processo de transição pós-Villas-Boas e como já conheces a maneira como a malta gere estas tretas, vais apanhar um bocado com o lastro que foi ficando. Porque agora se sai um jogador é porque vai atrás do antigo mister, ou porque não te liga nenhuma e quer jogar noutro lado, é o costume. Uma das vantagens que tens e aposto que vai ser reconhecida por todos, é que tens o Presidente a apoiar-te. Sabes, como também sei, que és a segunda aposta quase cega em dois anos seguidos, e olha que o shôr Jorge Nuno raramente toma decisões dessas sem pensar tanto como um puto do 9º ano no exame de Português. Aliás, é a primeira vez que um adjunto é elevado directamente a treinador principal do FC Porto, o que te deve dizer que tem confiança em ti. Mas também tens de saber que acabas por ser um gajo que vai estar pressionado. A época passada foi, à falta de melhor expressão, “do carago”, e a próxima, por muito que a malta tenha a noção que vai ser complicada, não pode ficar muito atrás. É evidente que o campeonato é o principal objectivo, mas ninguém fica satisfeito se fôr eliminado na fase de grupos da Champions’ ou se perder a Taça para o Bidoeirense. Parece mal.

Para além disso, tu acabas por ser um rapaz fácil de mandar embora, como o Villas-Boas foi no início da época passada. Se as coisas correrem bem, impecável, nada a apontar; mas se começamos a tropeçar logo no início…pois começam as comparações e “ai no tempo da outro é que era, se o estupor do russo não tivesse vindo…” e é uma chatice. Não quero que isso aconteça porque quero confiar em ti e acreditar em toda a gente que já trabalhou contigo e que diz que tu és um tipo porreiro, estudioso, dedicado e inteligente. Só tens de pôr isso no teu dia-a-dia e continuar o excelente trabalho que fizeste no ano passado. Repara que para marcar a data até mudei a imagem desta rubrica! É esta a confiança que tenho em ti, homem!

Vais começar logo com decisões importantes, pá. O plantel está mais ou menos definido mas nunca se sabe o que é que vai acontecer num futuro próximo, quem fica e quem sai. Que tal dares uma hipótese à canalhada dos júniores? Não vais ter grande margem de manobra, mas é um apelo que vou fazer a todos os treinadores a quem envio estes torrõezinhos da minha psíque, por isso já levaste com ele. Salvo seja, é claro. Castro, Sérgio Oliveira, Rui Pedro…há vários que podem dar jeito e ficarem no plantel para serem bem aproveitados durante a época. A Copa América vai-te lixar a cabecinha, já sei, mas sei que tu sabes.

E, só para terminar, um pequeno conselho de um gajo que já passou por vários treinadores: não te deixes cair na esparrela do discurso fácil. Acredita que à primeira chance que tiverem, os abutres crucificam-te. Por isso, caro Vítor, habitua-te a estes bitaites sem piada nenhuma que te vou amandar antes dos jogos. Se não gostares, tens o meu contacto. Caso contrário, como prometi ao teu antecessor, pago-te um fino com todo o gosto!

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Gone André Gone

Longa vai a história e só se passaram dois dias. De rumor com muito fumo passamos para um incêndio de proporções bíblicas entre o treinador com a ascensão mais meteórica desde Mourinho e o público que o apoiou durante um ano. E que ano, minha gente!

André sai. Sai pela porta pequena na perspectiva dos adeptos, pelos portões do Taj Mahal quando visto pela imprensa. Entram quinze milhões para a nossa bolsa, com a perspectiva de mais alguns “trocos” caso siga Moutinho ou Falcao ou qualquer outro juntamente com o técnico. É um negócio incrível numa altura em que teoricamente as proverbiais vacas estão anoréticas e ajudará a aditivar o orçamento que estará à disposição do próximo treinador para reforçar a equipa, ou simplesmente para manter algumas das peças-chave que possam não querer sair imediatamente. Urge saber que elementos do plantel terão ficado chateados com esta saída e perdido a vontade de permanecer na Invicta para saber com quem é que podemos contar no arranque da temporada 2011/12.

Esta é a análise racional que podemos fazer desta situação. Abaixo, segue a parte mais emotiva. Estão prontos? Vamos a isso.

É uma desilusão. E ao mesmo tempo que continuo a afirmar que compreendo a saída tendo em conta o tamanho da oferta e das condições que terá ao seu dispôr, tanto económicas como a nível de projecto e de ambiente (a única coisa verdadeiramente em comum de jogar na Premier e jogar em Portugal é que ambos começam por “P”…), sinto-me como se tivesse sido abandonado por um amor de Verão depois de quatro quecas extremamente bem dadas. Porque durante toda a época, apesar de me manter alheado das frases bombásticas e focar-me mais nas conferências de imprensa sobre futebol e menos sobre individualidades, havia qualquer coisa em André Villas-Boas que me fazia acreditar que podíamos ter aqui um rapaz que podia ser “dos nossos”. As frases iam ficando lá no fundo…mas ficavam. A atitude era guerreira, nossa, vibrante, alegre, nervosa, portista. Era igual a nós, celebrava as vitórias e sofria as derrotas como nós, como comentei tantas vezes com amigos ou colegas lá no meu sector do estádio. Aquela pequena parte dentro de mim, por detrás de várias camadas de racionalidade e algumas de cinismo, guardavam essas frases para num futuro próximo poder aproveitar o elogio do homem e do treinador.

E…tudo caiu por terra. O timing é mau, muito mau, se bem que nunca se sabe quando é que uma proposta destas se pode repetir. Mas o que André escusava de ter feito e dito tanta coisa durante a temporada sabendo que a malta lhe ia atirar tudo à cara se chegasse ao ponto em que se contradissesse. E o problema neste tipo de coisas é que a malta normalmente não tem memória de peixe. As marcas ficam e muita gente lembrar-se-á de tudo o que se passou desde segunda-feira de manhã, não do que André fez nos onze meses anteriores. A Supertaça, o Campeonato, a Europa League, a Taça de Portugal, os 5-0 no Dragão e a reviravolta da Taça na Luz, os 5-1 ao Villarreal, a demolição dos russos, a facilidade de tantas vitórias, o crescimento de Moutinho, a velocidade de Hulk, o instinto apurado de Falcao…tudo isto teve o dedo de André Villas-Boas.

Não lhe podemos retirar o mérito destes triunfos, por muito que estejamos magoados com a aparente indiferença com que temos sido brindados. Mourinho fez o mesmo e 7 anos depois ainda há quem não lhe perdoe. Com ou sem razão. E é por isso que não fico furioso. Apenas desiludido. Mais comigo que com Villas-Boas. Porque até eu tinha a esperança que fosse um dos nossos e não é. É acima de tudo um treinador profissional de futebol e portista sempre que pode. No ano passado calharam de coincidir.

Link:

Baías e Baronis 2010/2011 – Hulk

Época: Melhor marcador do campeonato com 23 golos. Eleito “Melhor Jogador da Liga” de Agosto a Janeiro. É com todo o mérito que Hulk é a principal figura deste campeonato, pela forma como soube evoluir, como se levantou das cinzas que restaram depois de ter sido queimado em fogo lento (em parte por culpa própria, noutra sem culpa nenhuma) no ano passado, Givanildo foi o melhor entre os melhores na nossa Liga e só não o foi na Europa porque houve um qualquer senhor colombiano que lhe roubou os holofotes. Para além de ter espalhado terror pela ala direita durante vários meses, conseguiu adaptar-se a jogar na posição de ponta-de-lança, e apesar de não ter brilhado ao mesmo nível nunca deixou de ajudar a equipa e de fazer tudo para que os objectivos fossem atingidos. Ganhar. Isso é que interessava. É verdade, para lá de todas as loas que lhe canto, que ainda lhe vejo alguns defeitos. A velocidade e a força com que joga acabam por prejudicá-lo em muitas ocasiões quando fica rodeado de adversários e não tem nenhum colega para passar a bola, mas é algo com o qual que terá de aprender a viver. Renovou até 2016 mas todos sabemos que a cláusula de cem milhões não vai ser batida, por isso tudo depende da vontade de Hulk em sair e da vontade do clube que ele saia.

Momento: Houve vários grandes momentos de Hulk nesta temporada. Os slaloms na Turquia ou em Moscovo, por exemplo facilmente poderiam ser as notas mais altas da temporada. Mas todos sabem que é impossível não falar do 5-0. Esse jogo, mais que os outros todos juntos, fez de Hulk o actor principal de uma equipa recheada de headliners. A forma descarada com que enfrentou David Luíz, Fábio Coentrão e companhia literalmente limitada foi lindo de ver e ninguém mais se vai esquecer da maneira como Hulk deslizava pelo campo e passava pelos adversários como se fossem pinos numa qualquer estrada em obras.

Nota final 2010/2011:

BAÍA

Link:

André

A grande maioria dos Portistas acordou esta manhã, uns alegremente de férias e outros não-tão-alegremente a fazer os preparativos para mais um dia de trabalho (e outros ainda, sem trabalho nem dinheiro para férias, acordaram para um dia com novas expectativas). Aposto que nenhum pensou que iria levar com a notícia do defeso: André Villas-Boas estará a caminho do Chelsea. O JN avançou, a Lusa tentou confirmar e tudo que era publicação online desatou a copiar o texto da segunda para os seus serviços informativos. O mundo estava a abanar. Sucedem-se insultos nos blogues, gargalhada geral na oposição, e nem Fernando Nobre se sentiria mais ridículo que o grosso dos adeptos que, tomando a notícia já como verdadeira apesar da ausência de confirmação oficial, começaram já a campanha “Villas-Boas, és um vendido!”.

Não me junto à multidão com as forquilhas em riste. Passo a explicar porquê.

Sempre houve, há e continuará a haver uma perspectiva extremamente romântica do futebol em Portugal. Os treinadores que vencem são tratados como semi-deuses olimpianos, ao passo que os derrotados acabam por ser comparados, com mais ou menos metáforas, a esterco. No nosso caso, particularmente esta época que findou, o facto de termos um treinador que venceu quase todas as competições em que participou acabou por ditar a elevação a um estatuto de Grande Figura. Aliado a este facto está, inegavelmente, a filiação clubística de André Villas-Boas: é portista, assumido e este sim, desde pequenino. Poderia haver melhor junção de vontades? Um portista a vencer no FC Porto? Orgasmos gerais para a malta.

Os momentos sucederam-se durante a época. Era a cadeira de sonho, levada ao extremo pela imprensa, ávida pelo curto soundbite que transforma o etéreo no eterno enquanto o dragão pisca o olho. O portismo estava visível em tudo, na defesa da equipa e da instituição, na forma como vibrava e celebrava o golo mais inconsequente dos rapazes de azul-e-branco que alinhavam à sua frente. Nunca duvidei (e ainda não duvido) da verdadeira vontade do rapaz em permanecer por cá durante alguns anos. E nós, todos nós, com ele.

Ainda de manhã, em conversa com um amigo que no primeiro dia de férias já estava tão exaltado e me perguntava como é que isto era possível, se já se sabia mais alguma coisa, que o site da CMVM estava tão lento, não havia nada no site oficial, que desespero! Disse-lhe: “Ó rapaz, sai de casa, vai até uma esplanada, pede um sumo de laranja natural porque ainda é cedo para um fino. Lê um livro, olha para o mar e descansa a cabeça. Logo à noite vês se é verdade ou não.”. Foi o que fiz, alheei-me das conversas e discussões durante o dia, sem que houvesse novidades para comentar e foquei-me no trabalho que era o que mais interessava. Cheguei a casa e, como pensei, nada de novo na frente azul.

Voltando à visão floreada da coisa e usando uma comparação com aquele jogo de computador que me une ao nosso treinador (Football Manager), é interessante perceber que a malta tem uma ideia semelhante da realidade como se fosse treinador virtual naquele mundo. Em norma quando se começa uma carreira, procura-se um clube de que se gosta, com quem se sente alguma afinidade, e arranca-se a vida. As vitórias e derrotas sucedem-se mas a motivação não quebra, a vontade de levar o clube à frente, melhorando a equipa, comprando A ou B, despachando o lixo e aplicando as nuances tácticas jogo após jogo até chegar à perfeição. “Pois vencemos tudo no fim do ano? Não interessa, nem penso em sair do clube, para o ano há mais para ganhar e recordes para bater! Já tenho alinhavada a nova equipa, vendo este e compro aquele e está o plantel bem organizado, impecável! Renova-se o contrato? Pode ser, quero é ver se o rapaz rende a médio direito, isto é que vai ser, a época de 2024/2025 vai ser a melhor de sempre!!!”. Pois é. E se eu fosse um jovem de 78 anos diria: “Balelas”.

Não posso ser ingénuo a esse ponto. Um treinador é profissional e acima de tudo para um treinador que pretende ter uma carreira curta como Villas-Boas já disse várias vezes, torna-se complicado recusar uma oferta da magnitude destas que lhe seja colocada em cima da mesa. Se teve uma conversa com Pinto da Costa e lhe explicou que é isso que deseja fazer, olhos nos olhos, selado com um cumprimento e um desejo de boa sorte, parece-me normal. Se foi por trás das costas e negociou com o russo sem falar com ninguém, já acho mal. Quero acreditar na primeira e não na segunda.

O que fica disto tudo? Em primeiro lugar precisamos de uma confirmação oficial. Até surgir estaremos sempre no reino da especulação. Se Villas-Boas sair, os meus votos para o seu futuro vão depender da forma como as coisas se tiverem passado. Se ficar, amigos como dantes. Que trabalhe bem o Iturbe e se decida se o Souza serve ou não para trinco. Mais que isso, neste momento, é invenção.

Link:

Baías e Baronis 2010/2011 – Varela

 

foto retirada de fcporto.pt

Época: Começou em grande e foi baixando de produtividade ao longo da temporada especialmente quando acumulou pequenas lesões que o foram afastando da competição. No entanto foi com ele que o FC Porto teve o ataque mais produtivo e eficaz, com o trio que o juntava a Hulk e Falcao a desfazerem defesas por esse globo fora. Notou-se que o cansaço o começou a afectar lá para o meio da temporada, porque os piques eram mais lentos, a intensidade de jogo era mais baixa e o tempo útil que Varela estava em campo era bem mais reduzido do que no início. Houve bastantes jogos em que não merecia ter ficado em campo até ao fim, mas Varela é esforçado e lutador, sem vedetismos nem tiques de arrogância. Os adeptos também sabem disso e por isso apoiam o rapaz até ao fim.

Momento: Escolho dois momentos em vez de um. O primeiro aconteceu cedo mas foi marcante. No jogo da Supertaça contra o Benfica, Varela entrou em grande e fez o que quis em campo. Corria como se fosse o jogo mais importante da vida dele. Se calhar, na altura, até foi. Já o segundo foi vital, porque as condições do lamaçal em que estávamos a jogar e que alguém decidiu chamar “Estádio Municipal de Coimbra” faziam com que fosse quase impossível marcar um golo decente em futebol corrido. Varela rodou, rematou de primeira e fez um golaço épico!

Nota final 2010/2011:

BAÍA

Link: