Um Guarín renovado?

Há uma tradição de mal-amados no mundo do futebol e o FC Porto não foge à regra. Há tantos anos que os vejo a derrapar na relva, a escorregar quando em vez de atrasar a bola para o guarda-redes a colocam directamente no caminho do incauto e sortudo avançado, a centrar para a bancada ou a rematar ao poste quando a baliza está deserta. Alguns rapazes simplesmente não caem no goto do povo. Azares, dirão alguns, inépcia, reclamarão outros.

Guarín é só mais um numa longa lista onde figuram nomes como Secretário, Folha, Chippo, Esquerdinha, Chaínho, Soderstrom, Pena, Jankauskas e mais recentemente Marek Cech, Farías ou Mariano (sim, e há muitos outros que podiam entrar na lista…), todos eles rapazes que se esforçavam para serem ídolos de massas, esperneando como porcos na fila para o matadouro a tentar marcar a diferença pela positiva, quando boa parte das vezes as coisas não saíam como queriam.

O meu colombiano preferido depois de Falcao (e talvez James…e definitivamente Valderrama) está em plena ascensão. Ocupando a vaga deixada livre pela lesão de Fernando, Guarín tem beneficiado da táctica “rotativa” no meio-campo de Villas-Boas, que dá mais liberdade aos médios quando a equipa está com a bola, obrigando-os a saírem da posição que ocupam em situação defensiva e a trocar de lugar com os colegas (assim à Barcelona ma non troppo), o que parece estar a agradar ao louco Fredy que já não precisa de estar tão estático na posição 6, função em que não funcionou muito bem nos dois anos em que cá esteve.

Hoje em dia, Guarín parece menos “louco”, mais prático e a jogar simples, usando a força que tem para impôr respeito mas tem abdicado das correrias doentias pelo campo fora, galgando e calcando relva, bolas, botas e tudo o que aparecesse pela frente, só para perder a bola no final da jogada demente que tinha iniciado. Critiquei-o já imenso no passado e continuá-lo-ei a criticar se voltar aos mesmos erros que cometia, mas pareço ver um novo Guarín que pode dar muito jeito nalgumas circunstâncias.

Guarín, como todos os homens mal-amados antes dele, merece a minha crítica e o meu respeito. Às vezes mais um que outro…

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Baías e Baronis – FC Porto vs Juventude Évora

Sábado à tarde, tempo ameno, bom ambiente com muita malta que claramente nunca esteve num estádio de futebol e o FC Porto defrontou aquilo que foi o equivalente a onze embalagens de pão-de-forma Bimbo (tanto visualmente como em termos de talento, salvando-se a boa vontade com que tentaram jogar à bola naquilo que foi pouco mais que um treino com bola. O resultado foi suficiente para um jogo deste calibre e ainda bem, porque se o FC Porto tivesse acelerado um bocadinho, o resultado chegava a números superiores ao 9-1 de 1997. Acima de tudo foi um jogo tranquilo, bem-disposto e com poucos motivos para chatices. Vamos a notas:

(+) João Moutinho  Abriu a conta de golos com a nossa camisola e fê-lo através de uma jogada quase perfeita de entendimento com os colegas. É esta a evidência que faltava e que todos os adeptos ansiavam: Moutinho sabe marcar golos. Durante o jogo foi o jogador mais clarividente como já é seu hábito, com a consciência perfeita de quando passar a bola, quando a guardar, reservando para si o lugar de principal jogador na criação de jogadas ofensivas. É um deleite vê-lo a olhar para o jogo, a rodar a bola quando deve e a pensar o jogo como poucos vi a fazer até hoje. A forma como já conquistou os adeptos é sintomática da empatia que todos sentimos com ele.

(+) James Rodriguez  Boa exibição de um dos jogadores que maiores expectativas tem criado nos adeptos. Villas-Boas apostou no colombiano e não pode dizer que se tenha saído mal, porque esteve quase sempre em bom plano. Perfeito no cruzamento para Falcao no primeiro golo, bem no entendimento para o segundo, ainda somou mais um belo remate em banana e podia (devia) ter marcado em dois lances onde cabeceou fraco quando tinha a baliza vazia à frente. Não me parecendo ser um ala puro (não é rápido nem em velocidade nem em execução), pode ser um excelente “reforço” para a segunda parte do campeonato. É preciso é vê-lo a jogar contra uma equipa que dê mais luta que o Juventude de Évora.

(+) Álvaro Pereira  É completamente diferente ver Álvaro e Emídio Rafael naquele flanco. O uruguaio, apesar das pequenas loucuras que decorrem das subidas permanentes no terreno, é vital nas rotinas ofensivas do FC Porto, com as diagonais que faz para o meio e a forma simples como aparece sozinho, criando espaços e originando desiquilíbrios, tornam-no num homem muito importante para a equipa. Apareceu na altura certa para marcar (ligeiramente em fora-de-jogo) um golo que ainda lhe dará mais moral depois da fabulosa recuperação que teve da lesão que sofreu no jogo da selecção.

(+) Guarín  Mais um bom jogo de Guarín. A constante rotação do meio-campo de Villas-Boas é claramente benéfica para o colombiano, porque pode aparecer bem mais à frente do que lhe foi exigido quando chegou às mãos de Jesualdo que, como jogava com o trinco colado aos centrais, não deu espaço a Guarín para poder subir quando quer. Este Guarín que hoje vi, o Guarín prático e simples, é útil. O outro, nem por isso. Precisa que lhe ensinem a rematar uma bola em condições porque de cada vez que prepara um remate, dá ideia que está a treinar pontapés de baliza, tal é a forma como se inclina para trás e levanta a bola por baixo…

(+) Ambiente no Dragão  É verdade que há coisas que me enervam neste tipo de jogos, desde o pessoal que trata os stands de comes e bebes como os pacotes de amendoíns nos aviões (só por lá estarem não quer dizer que se tenham de comer!!!) até à malta que não se senta quando se deve. Só hoje apanhei um conjunto de meninas teenagers atrás de mim que decerto pensavam que o Falcao era a encarnação latina do Justin Bieber, um homem que perguntou: “Aquele número 4 quem é? Nunca o vi. É o Maicon? Ah, rapou o cabelo!”, ou a melhor pérola da noite: “Este jogo é para quê?”. Mas ao menos estiveram 26 mil pessoas a ver um jogo morno. Dessas todas, muitas podem voltar para jogos mais a sério e o clube só tem a ganhar com isso.

(-) Hulk  Foi notória desde o início do jogo a incapacidade de Hulk em jogar simples e directo. Não conseguiu nunca ser a tradicional locomotiva porque sempre que tentava “brincar”, saía torto. Ao lado do mexido James e do prático Falcao, Hulk pareceu sempre fora da maneira de jogar da equipa, que propositadamente lenta e sem intenção de imprimir velocidade ao jogo, acabou por retirar a Hulk a sua grande mais-valia. Hulk não sabe jogar lento, não sabe recrear-se calmamente com a bola e tende a ser trapalhão e a perder lance atrás de lance porque mais nenhum colega seu conseguia (nem queria) jogar ao ritmo dele. Não funcionou.

(-) Ruben Micael  Continua a desapontar-me esta temporada. Pouco incisivo nos movimentos e nos passes de ruptura, olha sempre para o mesmo lado quando precisa de passar a bola e não parece estar com o mesmo ritmo do ano transacto. Compreendo que a lesão o tenha afectado mas o toque de bola não parece ser o mesmo e a maneira triste como joga está a afectar a sua performance. Tem de melhorar para conseguir lutar pelo lugar com Belluschi.

(-) “Chutas tu ou chuto eu?”  Fui ao jogo com um bom amigo e a sua filhota de 7 anos (vês, Rita, cá estás tu!), e a uma dada altura a miúda disse: “Os jogadores do Porto hoje estão trapalhões e preguiçosos”. Concordo com a parte dos trapalhões com alguns jogadores, mas preguiçosos já nem por isso (desculpa, Rita!). A equipa teve sempre a consciência que se arrancasse para um ritmo intenso de jogo, rapidamente se resolvia a contenda e andávamos a procurar mais e mais golos, levando o adversário a uma humilhação imensa. Ainda assim, o problema esteve em grande parte na falta de sentido de eficácia na entrada da área, onde 3 ou 4 jogadores do FC Porto acabavam por trocar a bola entre si à procura de espaço para furar a defesa recuada dos alentejanos. Podiam ter apostado numa forma mais directa de jogar e com menos brincadeira, mas havia demasiada vontade de adornar lances que podiam ter sido resolvidos com maior sentido prático.

É perfeitamente natural que um grupo de jogadores talentosos como os do FC Porto, quando confrontados com uma equipa que apesar do esforço e do suor não conseguiriam nunca bater-se de igual para igual com os nossos rapazes, tendam a brincar um bocado. É humano e compreensível, todos nós quando jogamos futebol começamos a dar uns toques de calcanhar e a picar a bola por cima dos defesas, três ou quatro pontapés de
bicicleta e uns passes de ombro (não é, Hulk?) para se divertirem um pouco mais do que simplesmente a marcar golos. É tão português como uma boa sarrabulhada. O jogo tornou-se fácil demais e a malta conseguiu entreter-se com boa disposição e alguns golos porreiros. Ah, fosse sempre assim…

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Ouve lá ó Mister – Juventude Évora

André, experimentalista!

Esta semana é diferente das outras. Em vez de lisboetas, austríacos ou sadinos, temos alentejanos no Dragão. Já não me lembro de ver esse bom povo a desfilar pelo mais belo relvado da Invicta desde 2001, quando o Campomaiorense cá deu um salto e onde insultei o Laelson com toda a força ainda no Estádio das Antas. Na altura jogavam gajos como o Ovchinikov, o Pena e o folha…ao lado do Drulovic, do Alenichev e do Capucho. Outros tempos, portanto!

E ainda me lembro do outro jogo contra o Juventude de Évora onde o Jardas espetou sete batatas aos rapazes. Não se faz, Mário, a partir de um “poker” um gajo deixa de ter nomes para chamar a essas sequências, pá! Ainda assim, não espero que a história se repita, até porque acho que devias experimentar um bocadinho. Sei que o pessoal está à espera de uma goleada monumental, com golos de todas as formas e feitios, mas este é o jogo ideal para dar minutos aos moços que devem estar a desesperar por eles. James, Ukra, Castro, Kieszek, Walter, Sereno, todos eles precisam de jogar mais. Já sei, já sei, não se pode mudar a equipa toda, mas dá sempre para ver se temos uma segunda linha que aguente a pressão de ganhar sempre, não achas?

É uma competição mais aborrecida, não há dúvida. Os eborenses (oh pra mim armado em letrado) vêm cá para tentar ganhar, não há dúvida. Ainda assim, não lhes fazendo o favor, esquece que vai estar uma boa casa e que o pessoal quer ver golos. Deixa os nossos girinos rabiar, permite que os nossos bolbos desabrochem, incentiva os vitelos a enrijecer os cornos. Podemos todos ganhar com isso!

Sou quem sabes,
Jorge

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James, Castro e Ukra

«São jogadores fundamentais. O Castro e o Ukra têm sido elogiados por mim em privado e em público. Não quero abdicar deles. Quero continuar a tê-los. O plantel é extenso, mas é um número controlável. São 26 jogadores, podiam ser 24, não é grave. O James tem um potencial incrível e pretendo fazê-lo evoluir. Vai ter uma oportunidade já frente ao Juv. Évora», indicou Villas-Boas.

«O James teve uma semana muito positiva e já lhe disse que conto com ele. Esta é uma oportunidade boa, mas não é definitiva. Não será a última, com certeza.»

André Villas-Boas

Tudo boas palavras para três jovens com futuro mas que até agora poucas oportunidades tiveram para mostrar serviço. Fico à espera que Villas-Boas os ponha a jogar mais vezes.

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