Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 Dinamo Kiev

Pensei que ia ser um jogo tranquilo, mas rapidamente percebi que já não há jogos tranquilos com este FC Porto. Toda a partida foi disputada a um ritmo tão lento, vagaroso, com fraca qualidade de passe e rotação, jogadores constantemente parados à espera que a bola lhes chegasse aos pés e uma enervante incapacidade de manter o esférico no relvado. Não vi vontade de jogar para ganhar, para arrumar o jogo cedo e chegar a três vitórias noutros tantos jogos. Hoje, os jogadores não estavam para aí virados e insistiram em cometer erros infantis e displicências de um amadorismo inexplicável. Conseguimos vencer o jogo porque a eficácia, outrora tão ausente dos nossos pés, hoje fez uma aparição na altura certa e no lugar certo pelos…pés de Jackson e de Lucho, talvez os únicos que se safaram com notas positivas. Enfim, valeram os três pontos. Notas abaixo:

 

(+) Jackson Finalmente, golos normais, de ponta-de-lança, a aparecer no momento certo a receber os passes dos companheiros e a desmarcar-se na perfeição para acertar na baliza em condições, ao contrário do que tinha feito em Zagreb. Parece estar mais habituado ao nosso estilo e tem razões de queixa dos companheiros porque por diversas vezes conseguiu controlar bolas pontapeadas sem grande preocupação de pontaria por Helton ou Maicon…e não tinha ninguém para quem as passar. Se o primeiro golo é um excelente movimento para um avançado, a aguentar a carga do central ucraniano e a passar a bola por baixo do guarda-redes, o segundo é exactamente o que se pede a um ponta-de-lança: estar no trajecto da bola em condições de marcar. Salvou a equipa, quase sozinho.

(+) Lucho Correu que se fartou e teve ainda de aguentar o jogo inteiro, ele que não deve ter assinado contrato para jogar mais de 70 minutos por jogo foi um dos poucos que esteve ACIMA do ritmo dos colegas, o que é obra tendo em conta a habitual passada lenta do argentino. Duas assistências e muitas tentativas de animar a equipa fizeram dele uma das figuras do jogo, mas surpreendeu-me mais pela pressão alta que continuava a fazer no meio-campo contrário. Bom jogo.

 

(-) A lei do menor esforço Devo dizer que Vitor Pereira me surpreendeu quando a equipa surgiu sem alterações para a segunda parte e ainda mais quando vi que no final apenas tinha rendido três dos seus homens de campo. Digo isto porque a ideia com que teria ficado, caso não soubesse que o jogo contava para a terceira jornada da fase de grupos da Champions League, era que o Dínamo tinha vindo à Invicta para um particular a meio da temporada e ia ser um daqueles jogos chatos em que se muda meia-equipa ao intervalo e os onze que terminam não são os que a começam. Porque foi um jogo inteiro de esperar que o adversário fizesse alguma coisa para que a equipa pudesse espevitar (ma non troppo) e procurar marcar um golo para fechar o jogo. Mas só um, que trabalhar faz calo e isto até se está bem aqui sem cansar muito. James andou perdido grande parte da partida (vêem agora porque é que quando um “10” está em baixo a equipa sente ainda mais que ele?), Danilo raramente conseguiu subir pelo flanco, Mangala não sabe subir pelo flanco (faz lembrar Maicon no ano passado a jogar à direita, faz o que pode), Varela pouco mais fez para lá do golo e até Fernando perdeu algumas bolas por atitudes displicentes. Foi fraco, muito fraco para quem estava claramente a subir de produção até ao jogo com o Sporting e não me convenço que foi a paragem competitiva que lhes tramou a confiança. Foi preguiça, só isso, preguiça. Foi a falta de vontade de mostrar ao Dínamo, como tiveram contra o Paris Saint-Germain, que quem manda somos nós e mandamos porque somos muito melhores. Equipas como esta de Kiev (como o Rio Ave antes dela, com as diferenças ajustadas para a competição em que as defrontamos) arriscam-se a ganhar pontos ao FC Porto quando os nossos rapazes se acham superiores a terem de sujar os calções para vencer um jogo. Não gosto de arrogância prematura quando há muito ainda para provar e por isso não gostei do jogo de hoje.

(-) Moutinho Um jogo totalmente off do João. Falhou mais passes hoje à noite que em toda a época 2010/2011 e nunca pareceu confiante em levar a bola para a frente ou criar linhas de passe em movimento. Displicente a receber a bola, fraco nos passes de retorno e inconsequente nas desmarcações, foi pouco mais que uma parede a três dimensões que passeou pelo relvado a ritmo de treino sem nunca conseguir entrar no jogo. Saiu bem, apesar de Defour pouco ter trazido de novo ou de muito mais produtivo.


É verdade que ainda podemos não nos qualificar para a próxima fase, o que seria injusto mas perfeitamente ao alcance de uma equipa de duas caras como esta do FC Porto de Vitor Pereira. Quem este ano apenas tiver assistido aos dois jogos do FC Porto no Dragão a contar para a Champions, devem pensar que o equipamento secundário traz com ele uma dose de calmantes e uma garrafa de brandy, porque comparar a partida de hoje com o que se fez contra o Paris Saint-Germain é pura brincadeira. Não consigo entender como é que se entra em campo tão motivado a não fazer quase o mínimo exigível para uma equipa que quer ser grande mas que insiste em ter performances abaixo do que pode e sabe fazer. Não consigo entender, palavra.

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Ouve lá ó Mister – Dínamo Kiev


Amigo Vítor,

Hoje não sou eu quem te falo. Opto por dar a palavra à malta que no ano passado jogou contra nós de laranja e preto e que vive em Donetsk, bem mais perto do nosso adversário de hoje que eu. Esses moços, que entrevistei aqui para o cubículo há treze meses, lembraram-se de mim e enviaram-me alguns pedidos bem endereçados para desejar boa sorte à nossa equipa no confronto contra os grandes rivais deles, recolhidos do site dos gajos.

Tudo que eles possam dizer é melhor do que as minhas palavras porque do Dínamo conheço pouco, admito. Kranjcar, Shovkovsky, Milevsky, Yarmolenko e Miguel Veloso. Pouco mais. Por isso ficam os votos (*) de ucranianos anti-Kiev que compuseram este excelente cartaz que represento aqui em baixo e aos quais me junto com menos antagonismo mas o mesmo sentimento. É para ganhar, Vitor!

(*)

  • Vamos ficar desiludidos com uma vitória de 2-0. Três ou mais golos devem entrar para a baliza do Dínamo. Força Porto! O Dínamo, como Cartago, deve ser destruída. (Max)
  • Uma vitória fácil. Deixem que o jogo seja decidido de uma vez com o apoio dos vossos devotos adeptos! (Valentin Burinchenko)
  • O Dínamo perdeu em Donetsk, Poltava, Kiev e Paris, por isso vamos deixar que o Porto os atire para o fundo do mar! (Dill Pomidorych)
  • Uma vitória portuguesa, 6-0 (vovan79)
  • Boa sorte, Porto, que ganhem com uma goleada!  (KieV1965 )
  • Desfaçam-nos! (Rerer)

Sou quem sabes,
Jorge

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Respect

Costumo jogar futebol aos sábados de manhã, já há quase dez anos, com o mesmo grupo de canastrões com quem partilho há muito tempo um grande naco da minha vida. Jogamos dentro de portas sobre um piso de relva sintética e os resultados vão alternando entre as goleadas e os desníveis milimétricos, com lesões e frangos e golaços e penalties e grandes defesas e público e insultos e discussões. O normal nas futeboladas entre amigos. E há sempre respeito, muito embora durante o jogo possa não parecer. Ambas são decididas no início do jogo à boa moda dos liceus, com escolhas alternadas entre dois capitães nomeados por anti-aclamação (que é como quem diz: “faz tu que eu não quero”), e o que sucede numa fatia considerável dos confrontos é que uma das equipas dá ideia de ser mais forte que a outra e prova-o em campo, conseguindo uma vantagem considerável sobre  a outra ao fim de meia-hora e desnivelando a competição. É normal que tal aconteça, mas muitas das vezes que acontece há algo que se segue e que me põe doente: a malta que está à frente começa a facilitar. Não avança como deve, perde bolas na defesa, começa a tentar jogadas de calcanhar, bolas aéreas, combinações ao primeiro toque e desbarceloniza o jogo com uma facilidade tremenda. E não raras vezes o que acontece (e aconteceu nas últimas duas semanas de competição, por exemplo) é que o jogo inverte o sentido e a vantagem se vai perdendo e vai baixando em moral, em inteligência, em alma e, finalmente, em números. Tanto que a outra equipa, os underdogs ou assim tratados durante um extenso período, recuperam o mesmo que os primeiros perderam e acabam por triunfar no meio da anarquia e descoordenação geral da equipa teoricamente mais forte.

E é o que vejo em tantos jogos do Futebol Clube do Porto contra equipas mais fracas que não nos assustam à partida e que ao fim de dez ou vinte minutos provam que não jogam com as mesmas armas que nós. E muitas vezes os nada humildes combatentes portistas olham para baixo e pensam: “Não vale a pena correr muito nem jogar a sério, mais tarde ou mais cedo as coisas hão-de encaixar e vamos ganhar sem problema.”. E olho para um jogo como este contra o Santa Eulália e só penso na falta de respeito que mostrámos em campo e gostava de pedir desculpa ao adversário. Porque os tratámos sem o respeito que merece e que todos os clubes merecem ter da nossa parte, grandes ou pequenos, vermelhos ou verdes, portugueses ou estrangeiros. Sim, mesmo o Benfica.

Se fosse adepto do Santa Eulália tinha ficado chateado. Preferia que o FC Porto tivesse vindo jogar contra nós com vontade de jogar e nos tivesse espetado cinco ou seis a zero porque é essa a real diferença entre nós. Assim tinham-nos mostrado um mínimo de respeito e tratado como iguais.

A Aretha e a UEFA tinham toda a razão. Respect. Também gostava de o ter visto.

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Baías e Baronis – CCD Santa Eulália 0 vs 1 FC Porto

O jogo foi fácil, que ninguém tenha dúvida acerca disso muito embora o resultado possa parecer que houve luta. Não houve. Os rapazes do Santa Eulália tentaram com muita vontade mas pouca qualidade técnica e ainda menos discernimento, o que era perfeitamente expectável tendo em conta a diferença entre as duas equipas. Mas não era expectável a quase total ausência de vontade por parte de vários jogadores do FC Porto que parecem padecer de uma condição estranha neste tipo de jogos contra equipas teoricamente mais fracas e que os leva a serem lentos, a arrastar o jogo, a ficarem à espera que os minutes passem até se esgotar o tempo de jogo e poderem ir para casa de novo. Vitor Pereira não quis falar depois do jogo e compreendo que não o faça. Mas passa por ele tentar e conseguir mudar esta mentalidade tão portuguesa e infelizmente tão portista há muitos anos, não pode amuar e assumir que nada há a mudar. Espero que no balneário tenha falado. E muito. E com vernáculo. Notas abaixo:

 

(+) Kelvin e Atsu Foram talvez os poucos que tiveram o mínimo de discernimento para furar uma defesa com pouca organização e um meio-campo que se valia da quantidade em vez da qualidade para travar os ataques do FC Porto. Kelvin melhor que Atsu na primeira parte, com excelentes pormenores de controlo de bola, rotações para criar desiquilíbrios e condução da bola pelos sítios certos com bom tempo de passe. Na segunda Atsu esteve melhor, mais incisivo a aproveitar a quebra física do adversário e apesar de pouco eficaz no último passe foi talvez o melhor jogador do FC Porto.

(+) O golo de Danilo Se alguém tiver a pachorra de colocar Danilo numa sala e lhe fizer uma pergunta muito simples: “gostas de jogar a defesa direito?”, enquanto o tortura continuamente com uma corda e um CD do Mickael Carreira, a resposta vai ser: “não, prefiro jogar no meio-campo”. sempre, mesmo quando a música estiver alta e a corda ensanguentada. E o rapaz prova isso a cada jogo que faz, porque sempre que pode descai para o centro e aparece pronto para rematar à baliza ou fazer passes como o do passado Domingo contra o Sporting que deu o golo de Jackson. Marcou um excelente golo exactamente nessa posição em que apareceu no apoio, mas não gostei tanto de o ver a jogar no centro quando Vitor Pereira o colocou lá a meio do jogo. Espero por outras oportunidades em jogos secundários porque não creio que consiga tirar o lugar a Lucho ou a Moutinho…

(+) As desmarcações de Rolando Ver Rolando a jogar a trinco é tão natural como ver-me a usar um vestido de majorette e a dançar nas marchas populares da Madragoa. Mas foi curioso ver que a capacidade técnica de Rolando, particularmente na tentativa de furar a defesa com passes certeiros e que só não deram mais frutos porque, sinceramente, não parecia haver ninguém que quisesse mesmo marcar golos. Lento demais para ocupar aquela posição contra clubes com menos de duas divisões de diferença do FC Porto, ainda assim esteve bem.

 

(-) A mentalidade dos que têm algo a provar Que tal aconteça com jogadores credenciados e sem nada a provar, até compreendo. Não aceito, mas compreendo. Agora quando vejo jogadores como Iturbe, Kleber ou Castro a jogarem a um nível tão baixo, tão ausente e tão desinteressado, custa-me perceber o que raio passa pela cabeça desses fulanos. Vejo isto a acontecer há anos e até hoje ainda não vi nenhum treinador que conseguisse pegar numa equipa e a motivasse de uma forma tão francamente intensa que levasse a que os menos utilizados exibam a garra que os consiga fazer subir na consideração de sócios, adeptos e acima de tudo da sua própria equipa técnica. Talvez não haja salvação. Talvez estejamos presos a uma realidade em que os jogadores talentosos vêem que não têm hipótese de “roubar” a titularidade aos colegas mais credenciados e nem tentam. Mas não consigo perceber como é que alguém no início da sua carreira já consegue pensar assim dessa forma. Enfim, não consigo perceber que Castro não jogue rápido de pé para pé e prefira passes longos para lançamento lateral do adversário. Não entendo como é que Iturbe não percebe que fintar seis ou sete jogadores pode não ser a melhor opção. Não me cabe na cabeça como é que Kleber…existe no nosso plantel, porque continua a não mostrar qualidade para isso. São todos novos demais para desistirem tão cedo. Desiludem-me estes e alguns dos outros como Varela ou Miguel Lopes, que têm já um nome a defender e entraram para o marasmo como os outros. Muito fraco.


Os resultadistas dir-me-ão que o que interessa é a qualificação para a próxima ronda e na verdade é mesmo isso que conta. Mas custa-me ver jogadores que têm talento para isso e desperdiçam oportunidades de brilhar, de pressionar as opções do treinador e de convencer os adeptos que são opção para todos os jogos e não só estes da taça. Não compreendo como se atiram estas opções ao vento, palavra que não entendo. Enfim, venha de lá o Dínamo porque este não deu sequer para aguçar o apetite. Parabéns ao Santa Eulália. Quase que tinham sorte.

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Ouve lá ó Mister – Santa Eulália


Amigo Vítor,

We’re back, baby! We’re finally back! Nem a fugaz tentativa dos nossos media ao empolarem o assunto da Selecção a níveis estratosféricos conseguiu motivar-me a desligar as luzes e sair daquele que é sem dúvida o grande foco da atenção de qualquer portista de sangue quente: o seu, meu, nosso FC Porto. E hoje, Vitor, no dia do nosso regresso, em que as camisolas azuis-e-brancas vão mais uma vez aparecer em público duas semanas depois da última vez, não espero menos que uma vitória. É verdade que os rapazes até podem ser simpáticos, têm nome católico e ninguém os censura por nos quererem encostar contra uma parede e fazer-nos o que muitos escoteiros (ou neste caso talvez escUteiros) fizeram no Oregon, mas não daria muita margem aos rapazes. Ganhar é fundamental.

Quanto à equipa, não sei que te diga. Ou melhor, até sei. Não discordo da convocatória e até acho que podias dar hipótese a vários para serem titulares, só te pedia que não inventasses nas posições. Tens o Quiñónez para a esquerda, não ponhas lá o Miguel Lopes nem o Mangala. O Kelvin está pronto para jogar? Não o encostes à ala, põe-no em vez do Lucho para não cansares o capitão para quarta-feira. O Castro está disponível? Enfia-o em vez do Moutinho e não o prendas atrás a “seis”. E de uma vez por todas diz ao Kleber para ver se consegue tocar mais de três vezes na bola durante um jogo inteiro, fazes favor. Ah, e livra-te de pôres o Sebá em campo antes do Iturbe para evitar que metade dos adeptos te caiam em cima. Acima de tudo tenta convencer os rapazes que do outro lado está uma equipa que pode não ter o mesmo foco de mediatismo que a nossa, que os jogadores se calhar vão prós copos antes dos jogos (e os nossos não…certo?) e que as condições de treino são um bocadinho inferiores às que os teus moços têm. Mas ali em campo são onze contra onze e já vi muita borrada a acontecer por faltas de empenho. E tu próprio já viste isso este ano, pois já?

Vá lá. Ganha o jogo e mostra ao povo que não é só em Inglaterra ou na Alemanha que se sabe jogar futebol às 14h30 da tarde. Em Portugal também sabemos. E quem dera que mais jogos houvesse a estas horas, Vitor…

Sou quem sabes,
Jorge

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