Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Um clássico é um clássico e é um clássico. Não importa quão distantes as equipas podem estar na tabela, a nacionalidade dos defesas centrais ou a marca dos equipamentos que usam na pele. O que interessa mesmo é que hoje à noite, pelas 20h45, hora de Portugal e dos Algarves, vão estar onze contra onze no relvado do Dragão prontos a arrancar mais um eterno confronto entre duas das melhores equipas do país.

E é destes jogos que a malta gosta, Vitor, para lá dos da Champions como na passada quarta-feira. É por causa destes jogos que pais deixam as famílias em casa, miúdos tentam arranjar bilhetes à pressa, idosos saem do conforto do lar para se dirigirem ao estádio ou ao café para verem o jogo que todos querem ver. Para arrancarem uma vitória contra aqueles que todos os anos lutam para que não consigam ser melhores que nós. E é essa atitude que quero ver em campo hoje à noite. Não quero um FC Porto lento e despreocupado como vi em Vila do Conde. Não quero um FC Porto ausente e triste como vi em Barcelos. Quero um FC Porto forte como o que jogou no Dragão contra o Paris Saint-Germain, contra o Beira-Mar, contra o Guimarães ou em Zagreb. Quero que faças os jogadores esquecer que do outro lado está uma equipa arrastada para a lama pelos últimos resultados, uma equipa desmoralizada porque teve de comprar almofadas novas em forma de donut porque uns quaisquer parolos húngaros lhes enfiaram um dildo king-size pelo esfíncter. Quero que digas aos nossos gajos: “Ouçam e ouçam bem. Não há espaço para merdices. Não vos quero a olhar para o Capel e pensar que não vale um charuto porque só joga com o pé esquerdo. Recuso-me a aceitar que pensem que o Vulfogrinkel é fraco porque não marca tantos cá como fazia na Holanda, ou que o Rinaudo é uma versão argentina do Doriva com um nome mais engraçado e um remate menos pujante. Nem que se lembrem que o Patrício ainda não percebeu a regra do atraso ao guarda-redes. Quero que entrem em campo, olhem para os verdes-e-brancos e imaginem que ali está uma mulher despeitada, um leão violentado por quarenta corças à procura de vingança. Olhem bem para os olhos deles, à procura de mostrar que são bons. E vocês são melhores que eles. E vocês vão mostrar porque é que são melhores que eles. E vão ganhar. Ganhar. Só isso. Ganhar.”

Vamos ganhar, Vitor. Vamos empurrá-los mais para baixo e mostrar quem é que manda.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

A incerteza das substituições

No jogo contra o Paris Saint-Germain houve dois pormenores que me ficaram guardados na memória. Aos 73 minutos, Vitor Pereira tira Varela e faz entrar Atsu. Nada de estranho, de extraordinário ou questionável. As pernas do português estavam a ceder depois de muita correria e de uma intensa pressão sobre ambos os flancos onde alinhou, ajudando a carregar sobre o adversário e a tapar o flanco para as eventuais subidas de Alex Sandro ou para proteger contra o eventual overlap dos franceses. O ganês entrou, cheio de garra e vivacidade, desfez várias vezes os rins a Jallet, então o seu adversário directo, arrancou dois remates e vários cruzamentos perigosos e ajudou o FC Porto a empurrar o inimigo para dentro da sua área até que James se lembrou de dar aquele toque na bola que nos deu três pontos e saciou a sede de uma vitória que demorava a chegar. A substituição tinha sido óbvia, esperada e correu muito bem.

Oito minutos depois, ainda com o resultado a zeros, Vitor Pereira manda sair Lucho e entrar Defour. O argentino, esgotado depois de correr por ele e pelo que James não conseguia, ajudando a pressionar o adversário pelo chão e pelo ar, com intercepções valiosas e uma mão-cheia de passes brilhantes, sai de campo para dar lugar a um belga voluntarioso, bom tecnicamente, com uma visão de jogo prática, simples, de posse. Defour entrou…e o meio-campo ressentiu-se. Sofreu porque nada corria bem a Steven, nem um passe calmo ou uma desmarcação tranquila antes ou depois da obra-prima de James. A bola parecia queimar e as corridas saíam sempre para o lado errado, deixando o centro do terreno entregue ao mini-mega-Moutinho ou ao Rochedo de Goiás, Fernando, que já cansados ainda tiveram de cobrir as falhas de Defour, que até vinha de uma série de boas exibições com a nossa camisola. O meu colega do lado gritava: “Se foi para esta merda que o meteste mais valia o Lucho cansado, pá!“, dirigindo-se a Vitor Pereira como o principal responsável pelo mini-terramoto que abalou o nosso meio-campo e ajudou a somar ao sofrimento do resto das bancadas, felizmente por pouco tempo. E, no entanto, a substituição fez todo o sentido e só não terá sido feita mais cedo porque o jogo não estava ainda ganho.

É ingrato seleccionar um jogador para sair quando estão todos a jogar bem. Ainda mais quando a equipa, até aí estável emocional e estruturalmente, pode vir a desagregar-se fruto de uma opção menos acertada do treinador que vê o jogo como nós vemos, mas a uma altitude bem mais baixa. E é difícil compreender o porquê de uma ou outra substituição, por muito que seja uma tradição acontecer sempre por volta dos mesmos minutos com quase sempre os mesmos intervenientes (lembrem-se das trocas de Meireles por Tomás Costa, de Tarik por Mariano ou McCarthy por Jankauskas, entre muitas outras), ser oscilante no efeito que traz a uma equipa.

A cabeça do treinador está sempre no cepo durante um jogo. Mas nunca está mais em xeque como depois de uma substituição que não lhe corre bem, especialmente quando a culpa não é dele, nem dos jogadores. It just is.

Link:

Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Paris Saint-Germain

foto retirada de fcporto.pt

Ibrahimovic é a personificação do Arcanjo Gabriel? Otamendi tratou de lhe cortar as asas (e os pés e se chegasse aos dentes, também iam). Verratti é o novo Pirlo/Rijkaard/Michel? Moutinho meteu-o naquele bolsinho de guardar o isqueiro. Sakho é o futuro líder da defesa francesa à imagem de Thuram? James deu-lhe dois ou três nós que o pôs à procura dos rins no relvado. Van der Wiel é o futuro do futebol holandês? Varela fintou-o e depois Alex Sandro fintou-o outra vez. E riram-se dele e para ele. Acima de tudo e acalmando um pouco a arrogância, só quero dizer que não temos que ter medo de boas equipas, porque também somos uma delas. Jogámos com convicção, inteligência e acima de tudo vontade de vencer, sem exageros e vedetismos. Uma equipa solidária, firme e unida. Só faltou acertar mais uma ou duas vezes na baliza para ser perfeito. Não somos geniais, mas somos competentes. E devíamos ser competentes como hoje em todos os jogos que disputamos…mas isso é conversa para outro dia. Hoje só há tempo para celebrar uma excelente exibição numa bela noite para o nosso clube. Notas abaixo:

 

(+) Fernando Vergo-me na sua presença, senhor Reges, pois a brilhante aura da sua exibição paira ainda por cima da minha cabeça como se tivesse sido atingido por um relâmpago de intensidade acima da média. Esteve perfeito no posicionamento, na intercepção e na capacidade de jogar simples e prático, como quase sempre faz quando está com a cabeça no sítio. Roubou montes de bolas ao adversário e rodou-as sempre no sentido certo, com a dose certa de força e a percepção perene da situação da sua equipa e do adversário. Dizia-me o Dragão Crónico, com quem costumo ter o prazer de partilhar os jogos em casa, que não compreende como é que este rapaz ainda por cá anda e não houve nenhum clube europeu que o viesse buscar. Nem eu, meu amigo, nem eu…

(+) Varela Quando penso que já não me pode surpreender, Varela fá-lo. Apesar de um falhanço tremendo num 1×1 contra o guarda-redes do PSG, que nestes jogos dá vontade de bater no autor da ignomínia, a entrada de Varela em campo foi tremenda e ate os próprios franceses devem ter ficado surpreendidos com a vontade do Silvestre em forçar o flanco esquerdo. Recuperava bolas, jogava nas tabelinhas e acima de tudo mostrava um empenho em quase todos os lances que me deixou eufórico e cheio de vontade que Varela volte à forma de 2009/2010, quando cá chegou. Saiu esgotado para a entrada de Atsu, com um aplauso como já não recebia há muitos meses. Totalmente merecido.

(+) MoutinhoUma excelente exibição do nosso João, sempre a pegar na bola em zona recuada e mesmo sem conseguir lançar os ataques como gostava graças ao lento avanço da equipa em campo conseguiu ser um pivot no meio-campo a partir do qual nasceram quase todas as jogadas perigosas do FC Porto. Normalmente virado para o lado esquerdo, com Lucho também muito bem a seu lado, Moutinho entendeu-se muito bem com Alex Sandro e Varela, enquanto as pernas do português aguentaram e continuou a entender-se magnificamente bem com Atsu (que entrou com uma garra notável, parabéns, puto!) por aquele flanco. Mas foi no centro, nas triangulações de primeira com Fernando e Lucho, que Moutinho mais brilhou, pondo os jogadores do PSG atrás de bola com os olhos, nunca lhe conseguindo chegar sequer perto. Excelente.

(+) James Não teve uma grande noite e no início do jogo apagou-se perante a força da entrada de Varela. Sim, foi o que acabei de dizer, fechem a boca. As coisas não lhe corriam bem, a bola prendia na relva e naquelas miseráveis partículas de azoto no ar, as malditas. Não parecia ser a sua noite, mas apareceu mais solto na segunda parte e o golo que marcou foi completamente merecido, porque ao contrário do que vi já muitas vezes James a fazer, desta vez nunca desistiu, só parou quando não teve pernas para mais.

(+) A dupla de centrais À primeira vez que a bola chegou perto da nossa área aos pés de Ibrahimovic, imediatamente o sueco sentiu a presença da Ceifeira a seu lado. Mais concretamente por detrás, porque Nicolas Otamendi tratou de lhe dizer que estava ali e não admitia parvoíces. Belo. Algumas falhas pontuais não mancham uma excelente exibição de ambos, com Maicon a jogar nitidamente nervoso depois daquela gigantesca ingenuidade em Vila do Conde, mas Otamendi deu-lhe a confiança que precisava para crescer durante o jogo e acabar em grande. Secaram quase sempre os avançados do PSG. Nada mais lhes foi pedido.

 

(-) Defour Entrou mal, o belga. Não conseguiu manter o ritmo que Lucho até então tinha imposto, mas as pernas cederam e a entrada de Defour era essencial, mas não correu bem. Perdeu várias bolas, fez passes fracos e nunca conseguiu estabilizar o meio-campo como Lucho, deixando que os franceses conseguissem subir frequentemente até à nossa área, felizmente sem causar mossa de maior. Um mau jogo no meio de vários bons.


Fim de tarde a meio da semana na Invicta? Check. Camisola do FC Porto no lombo? Check. Trânsito a fazer parecer que estavam a atirar benfiquistas abaixo da ponte do Freixo? Check. Carro estacionado no meio de novecentos outros perto da Velasquez? Check. Café tomado no Bom Dia? Check. Poucas variantes podem fazer com que o meu destino não fosse o Dragão, em jogo de Champions. Digam o que disserem, mas estes jogos são especiais, há um ambiente no ar que não se nota nas outras tradicionais partidas de competições menores, porque esta é a grande. É a minha mais melhor preferida, de longe. E com uma partida jogada a este nível com um resultado positivo…que mais pode um portista pedir?

Link:

Ouve lá ó Mister – Paris Saint-Germain


Amigo Vítor,

Sabes, pá, não estou feliz. Não estou, que queres? Tenho uma vida porreira, bem-disposta, sorrio por dentro e por fora e a carteira deixa-me razoavelmente satisfeito. Tenho um bocadinho de pança a mais mas nada que me preocupe por aí fora. Mas não estou feliz. Com a idade fui percebendo um bocadinho disto e um bocadinho daquilo, sei o que faço no trabalho e safo-me bem em casa. Até sei cozinhar em condições, vê lá tu. Mas não estou feliz. Falta-me algo. Falta-me ver o meu clube a jogar bem, pá. Espera, não é isso. Falta-me ver o meu clube a jogar bem de uma forma consistente. Sim, é mais isso. Não será propriamente uma declaração do “pursuit of happiness”, mas por agora chega para fazer passar a ideia.

E hoje podias ajudar a fazer de mim um gajo mais feliz. Era só ganhares a esta cambada de gajos sobre-pagos, sobre-valorizados e sobretudo famosos. Gosto muito de ganhar a famosos, sabes, é daquelas coisas que só conseguimos na Europa, este estatuto de “underdogs”, em que todos olham para nós de cima para baixo, como se fôssemos uns pobres troikados que não temos postura nem poder para mandar o Ray Charles trautear o Carmina Burana. É uma vergonha, é o que é. E estes novo-ricos que hoje vão pôr as patas no Dragão são mais um exemplo disso, porque gastaram mais dinheiro que o nosso estado poupou no fecho das maternidades ou lá que raio medida é que tomou para safar 150 milhões de euros do orçamento. E o ideal para acalmar a malta era mesmo dar cabo deles logo à partida. Com cabecinha, com calma, com inteligência. Mas desfazê-los.

Apostaria no Atsu e no James, com o Jackson ao meio. Já reparei que repetiste a convocatória mas se fosse a ti avançava com o Fernando a titular para aguentar bem o meio-campo e rezar que o Lucho esteja em dia bom e o João em condições para fugir aos onze Mangalas que do outro lado vão tentar acertar em tudo que mexe. E se tiveres de pedir a algum para sacrificar um amarelo só para que o Ibrahimovic saia do Dragão com uma perna mais curta, vou olhar para o outro lado e pensar que foi intervenção divina. Ninguém, mas ninguém te levava a mal.

Venham eles. Somos mais fortes. Vamos mostrar isso em campo.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Un match clé

Porto, un « match clé » pour Maxwell:
http://www.paristeam.fr/club/porto-un-match-cle-pour-maxwell-102580.html

Porto, un match décisif:
http://www.paristeam.fr/club/sissoko-porto-un-match-decisif-102768.html

Porto, une équipe fantastique:
http://www.paristeam.fr/club/ancelotti-porto-une-equipe-fantastique-102733.html

Le PSG va se tester à Porto:
http://www.paristeam.fr/club/rothen-le-psg-va-se-tester-a-porto-102582.html

Pelo que me tenho chegado aos ouvidos, cortesia do meu enviado especial em Paris (obrigado mais uma vez ao Nuno que me referiu que o Canal+ estava a falar extremamente bem sobre o FC Porto, sobre a forma como descobre valores mais ou menos escondidos e os rentabiliza para os vender posteriormente – ainda vou tentar descobrir o video…), e considerando o que tenho lido com o pouco francês que ainda tenho desde que há seiscentos anos deixei de o aprender com a frequência que a escola me obrigava, os franceses chegam com enormes elogios. É nosso dever fazer com que saiam do jogo com a mesma conversa.

Link: