Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 Académica

Foi giro ver a quantidade de putos no Dragão, vindos das escolas da Dragon Force espalhadas por esse país fora (mais focadas no Norte, pelos nomes que foram sendo chamados pelo altifalante). E que recepção tiveram os jogadores quando entraram para o relvado, que retribuíram com uma primeira parte muito agradável, com algum bom futebol, golos e níveis de criatividade e jogadas ofensivas bem interessantes. E depois foi também a altura do Dragon Force entrar em campo para a segunda parte, porque a grande maioria das imbecilidades que vi nesses segundos quarenta e cinco minutos só podem ser atribuídas à falta de experiência e juventude de miúdos de 12 ou 13 anos. Enfim, não se pode esperar consistência de um grupo que não mostra maturidade. Vamos a notas:

(+) Ghilas. Falso extremo. Parece um conceito tirado do manual de instruções de uma lancha recreativa, mas é de facto a posição que Ghilas ocupou enquanto esteve em campo. Não consegue praticar um futebol fluido como extremo, mas quando joga numa zona mais central, a arrastar o lateral para o meio e a receber as bolas nas suas costas, usa a velocidade e astúcia de avançado para perceber quais são as melhores opções que tem e é muito perigoso nessa função. Perfeito no golo que marcou, estou muito esperançado que tenha a mesma postura e que a equipa aproveite as suas características em Sevilha.

(+) Quintero e Herrera juntos ao centro (na primeira parte). Uma boa surpresa pela forma como trocaram posições constantemente e mostraram que ambos conseguiriam adicionar a tão necessária criatividade a um ataque que anda com muita falta dela. A Académica ofereceu muito espaço na zona central (mesmo, mesmo muito espaço!) e os dois aproveitaram na perfeição, seguindo com a bola constantemente a cambiar de posição e a usar bem o espaço para criar oportunidades para Jackson e Ghilas. Contra equipas mais fortes e com mais unidades a meio-campo (como o Sevilha ou o Benfica)…talvez tenhamos de sacrificar o mexicano pela força e sentido prático de Defour, mas Quintero *tem* de ficar na equipa.

(+) Reyes. Diego “Certinho” Reyes é exactamente o que o médico recomendou para uma equipa cheia de jogadores com mais altos e baixos que uma montanha russa no Dubai. Raramente falha um passe, posiciona-se muito bem perante os adversários e intercepta a bola com classe e muito pouco exagero físico. Continuo a dizer que me faz lembrar Aloísio exactamente por essa forma de cortar a bola…mas talvez seja melhor não continuar a fazer comparações desde que disse que o Carlos Eduardo me fazia lembrar o Deco. Bad Jorge, bad Jorge!

(-) Relaxar em excesso. O jogo teve pouca história mas podia ter sido uma boa exibição ao longo de noventa minutos e só não o foi porque a cabeça dos jogadores mudou-se para a Andaluzia ao intervalo e nunca mais regressou à Invicta. Esqueceram-se de um simples facto que atormenta a mente de todos os portistas há meses: a equipa não sabe jogar descansada e com confiança. Perdem-se em combinações frouxas sem progredir no terreno, assustam-se ao mais pequeno lampejo de pressão adversária, baixam o ritmo para níveis tão inconsequentes como um caracol a atravessar um campo de trigo em pleno estio e atrapalham-se tanto com a bola nos pés que mais parecem polvos a tentar controlar uma bigorna em brasa com os tentáculos. É terrível ver o FC Porto a jogar sob pressão mas consegue ser pior ver o FC Porto a ceder quando ela quase não existe.

(-) Abdoulaye. Já começa a ser complicado perceber o que dizer acerca das exibições do senegalês que veio da nossa formação e que é um bom exemplo do que um defesa central nunca deve fazer. Facilita em demasia nalgumas situações e é excessivo no approach a lances rasteiros, o que faz dele o total oposto de Bruno Alves em termos de altitude a que joga a bola, mas muito similar na agressividade. Falha passes demais a meia-distância mas o pior é que tenta fazê-los para as piores zonas que pode imaginar. Ou seja, uma nódoa na tomada de decisões ofensivas *e* defensivas. Não vejo qualquer hipótese, depois desta metade de época horrível, de o continuar a ver de azul-e-branco na próxima temporada.

(-) Porquê Quaresma e não Kelvin? Não percebi a entrada de Quaresma em vez de Kelvin. Todos temos visto que Quaresma está mais esforçado este ano, mais disposto a ajudar a equipa, até a correr para trás em auxílio defensivo. Mas também todos sabemos que é neste tipo de jogos que Quaresma menos se interessa pelo jogo em si e mais se foca na economia de suor e empenho, preferindo brincar em vez de produzir algo mais prático. E se Kelvin, até por ter tantos dos seus mais directos admiradores nas bancadas que se lembrarão para sempre do que o puto fez em Maio de 2013 como talvez o maior momento das suas vidas portistas, não entra num jogo que estava mais que decidido e pronto para embrulhar e mandar para a Liga ratificar o resultado, ele que deve estar com fome de bola porque não joga nem na A nem na B há meses…então não vejo outra oportunidade para o rapaz este ano.


E se o Benfica vencer esta segunda-feira, o título está matematicamente longe demais para conseguirmos lá chegar. Não é nada que não estejamos já à espera, mas sempre fecha essa porta de uma vez por todas. Ahhhh, to be young and foolish again.

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Ouve lá ó Mister – Académica

Estimado Professor,

Faça algumas contas aqui comigo. Vi agora que o Sporting ganhou ao Paços e está agora com onze pontos de vantagem à condição, como é evidente, o que vai fazer com que tenhamos de ganhar para lhes ganharmos mais oito pontos, o que implica que o Sporting tem de sofrer duas derrotas e um empate até à última jornada quando faltam agora quatro jogos. Ou seja, Gil Vicente e Estoril em Alvalade ou Belenenses e Nacional nos seus estádios têm de roubar os pontos que precisamos para chegar ao segundo lugar (se vencermos hoje, claro) e nós temos de vencer os jogos todos. Em Braga e Olhão, bem como no Dragão contra Rio Ave e Benfica. A conjugação de outros resultados também funciona mas dá mais trabalho, certo? Certo.

E é aqui que começo a hesitar quando vejo a convocatória. Olhar para cima é quase um exercício em futilidade e apesar de saber que o Estoril está perto, mas não me diga que só conseguiu mentalizar-se para descansar o Mangala e o Defour. Vão ser muito importantes na quinta-feira em Sevilha, não duvido, mas continuo a acreditar que o Danilo e o Alex Sandro não podem com a proverbial gata pela cauda e que podem estourar de vez na Andaluzia. É só uma opinião, caríssimo, como é evidente, mas não poderia experimentar o Victor Garcia ou o Quiño? Nem precisavam de ser os dois, bastava um. Percebo que queira levar os Bs a fechar a época em grande, mas preferia ver alguma rotação. Espere. Mas posso estar a falar sem conhecimento de causa e o meu amigo vai espetar com o Ricardo na lateral e o Kelvin na ala. Hmm. Até pode ser, mas acredito quando amanhã entrar no Dragão e vir os putos a aquecer.

Só mais uma coisinha: por favor diga ao Abdoulaye que está num piso mais escorregadio que um lago gelado. Ele que pense bem na vida.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Académica 1 vs 0 FC Porto

foto retirada de maisfutebol.iol.pt

E depois de dois empates, uma derrota. São sete pontos cedidos em circunstâncias que têm tanto de igual como de enervante. Não há estrutura física, táctica e mental no FC Porto em Novembro de 2013. Já atravessei momentos maus com o FC Porto e este é mais um que vai direitinho para um pódio que já lá tem o FC Porto de Octávio em 2001 e o de Couceiro em 2005, sem que consiga dizer ao certo qual deles apresentou pior futebol. A derrota é merecida porque me ponho a olhar para o jogo e tento perceber o que raio se passa na cabeça dos jogadores para se exibirem sem um mínimo de inteligência, organização em campo e convicção que têm um jogo pela frente que é imperioso vencer. Neste momento estamos na merda. Notas, apenas negativas, abaixo.

(-) Zero. Ora então aqui vamos nós. Zero. Foi isto que fizémos hoje em Coimbra. Zero ideias, zero concentração, zero vontade de jogar com cabeça, zero movimentos de ruptura no ataque, zero capacidade técnica, zero remates com perigo, zero jogadas de entendimento, zero concretizações, zero. Zero. É inútil pensarmos que as coisas são facilmente remendáveis com a mudança de um ou onze jogadores na equipa principal do FC Porto porque há uma deriva mental na grande maioria dos jogadores que faz com que raramente se consiga mais que um lampejo de um ataque fugaz que resulta invariavelmente numa tentativa amadora de criar perigo contra qualquer adversário que se nos é colocado. E podemos continuar a fugir para a frente, a pensar que a culpa é de A ou de B, do treinador ou dos jogadores, da SAD ou da senhora que muda o WC Pato, mas a verdade é que a culpa é geral. E não há culpa, havendo-a a rodos. Temos actualmente um plantel com soluções razoáveis, composto por um misto de experiência e juventude que milhares de clubes por esse mundo fora invejaria ter. Sim, perdemos James e Moutinho. Mas esses dois nomes não começam a tocar a pontinha do majestoso iceberg de estrume em que se transforma qualquer jogo do FC Porto desde que o árbitro apita para começar a partida. Paulo Fonseca lidera este bando de rapazes, uns com mais vontade que outros, uns sem dúvida com mais talento que outros, uns com mais garra que outros. Mas todos mostram uma fibra moral e uma determinação que neste momento vale…zero. Zero. Vale zero e hoje valeu zero porque qualquer corrida de um academista foi mais rápida que Danilo. Vale zero porque Mangala parece crer que é um Yaya Touré e decide começar a fintar a partir da sua própria zona de acção, perdendo a bola ao fim de quinze metros. Vale zero porque Alex Sandro se perde em fintas só para entregar a bola ao adversário. Vale zero porque Jackson está consistentemente sozinho e Lucho aparece longe, quase tão longe como Josué ou Fernando, ambos com vontade mas inoperantes em virtude da desorganização geral. Há dois lances que mostram na perfeição o que é o FC Porto neste momento. No primeiro, Varela tem a bola à entrada da área pelo lado direito. No processo de procurar centrar a bola para a área, escorrega e perde a bola para Fernando Alexandre. O médio da Académica, rápido e com sentido prático apurado, pontapeia imediatamente a bola contra o dezassete do FC Porto, ganhando o pontapé de baliza. No segundo, Maicon tenta proteger a bola de Magique, que lhe ganha (mais uma vez) em velocidade e em garra, conseguindo ainda tocar na bola contra o brasileiro, ganhando o lançamento. Estes lances sucedem-se um após o outro em noventa insuportáveis minutos de não-futebol. E tudo isto com o mesmo treinador de braços cruzados, sem perceber o que se passa. Só que eu, cá fora, posso não perceber. Ele, para ser sincero, não.


Um amigo, um dos poucos bons amigos que tenho e que vejo muito menos vezes do que queria, respondeu-me a um email onde discutíamos o último álbum dos Arcade Fire, usou a seguinte frase: “estavam bem era a tocar esta merda de música nova no funeral do Fonseca, enquanto o Vitor Pereira ejaculava para cima da campa e da boca do Danilo, Otamendi, Mangala, Defour, Ricardo, Licá, Josué e Quintero!“. É portista convicto, este meu amigo e usa o vernáculo como poucos. E com maior ou menor badalhoquice, dou-lhe razão na metáfora.

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Ouve lá ó Mister – Académica

Mister Paulo,

Atravessamos tempos conturbados, homem. A equipa não joga uma pontinha de um corninho de caracol e move-se à mesma velocidade do bicho. Tem sido penoso ver o futebol que temos vindo a apresentar e apesar de todos sabermos que não há mal que sempre dure, já começamos a questionar a passagem do tempo por esta ridícula travessia do Kalaári. Foda-se, Paulo, uma vitória e cinco empates a um nos últimos cinco jogos?! E já não ganhamos para o campeonato desde Outubro?! Não pode ser, pá, não pode ser mesmo.

Já vi que convocaste o Carlos Eduardo. Até podia ser uma boa opção, o rapaz anda moralizado e precisamos de um rasgo diferente no meio-campo. E eu apostava no Ricardo. É novo, está cheio de força e os outros dois mais “velhotes” que lhe tapam o lugar parece que não atinam dois jogos seguidos. Sim, Varela e Licá, estou a falar também para vocêses.

Faz lá o que te lembrares para conseguires pôr os rapazes a jogar. Muda a táctica, abana as campaínhas das cabeçorras dos gajos, dá-lhes choques eléctricos, cospe-lhes nas fotografias dos filhos, põe imagens do Sousa Cintra em pelota no balneário, faz o que te der na cabeça. Mas impõe alguma ordem naquela comandita e faz com que os gajos entrem em campo com vontade de rasgar as camisolas dos adversários, de comer a relva com uma pitada de pimenta e de dar pontapés sucessivos nos postes quando falharem um remate. Põe-lhes os tomates no sítio, pá, age como chefe e massacra a mona deles para que não joguem com a mesma vontade de um miúdo em fazer os deveres de Matemática.

Faz o que quiseres. Mas ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

Só vi o jogo depois de chegar a casa, com a recta alcoólica a descer abruptamente depois de um dia em que andou a flutuar por valores bastante mais altos que o expectável para o final de Março. Assisti ao jogo já sabendo o resultado, porque é impossível tentar esconder tudo de toda a gente e há sempre alguém que está pouco interessado no diferido mesmo que não possa ver o directo, por isso a forma como o vi foi mais relaxada, com muito menos stress que o normal e deu para perceber melhor o estado anímico da equipa e a forma como isso influencia o desenrolar de jogadas ofensivas, a concentração nas defensivas e, acima de todas estas teorias…é tão fácil perceber como anda a cabeça de Danilo quando o homem acaba de marcar um bom golo e não festeja. Vamos a notas:

(+) A facilidade da vitória. Foi tão simples, tão fácil, que me deixa sempre a questionar porque raio não se consegue fazer isto todas as semanas, ou pelo menos partir de uma base tão simples como esta. Jogo prático, sem inventar muito, com facilidade de troca de bola mesmo contra um adversário ultra-defensivo. É a imagem de marca de 80% do nosso campeonato e não conseguir contrariar este estilo só nos deixa na mão dos nossos oponentes directos, como aconteceu este ano, especialmente quando perdemos pontos frente a este tipo de equipas. Jogámos bem, sem brilho mas com eficácia, sentido prático e facilidades criadas por nós e não cedidas pelo adversário. Safámo-nos bem.

(+) Castro, pelo golo e pelo seu significado. É irresistível elogiar o rapaz pelo golo, mas acima de tudo pela celebração. Depois de Danilo, no segundo golo, ter mostrado que nem sempre um golo chega para arrebitar a moral de um jogador que sabe que pode fazer muito mais e não corresponde às expectativas dos adeptos, temos no outro extremo o golo de Castro. Foi o terceiro, o ponto final de um jogo banal, sem grandes motivos para excitações, com uma exibição à imagem da equipa. E mesmo esse terceiro golo aparecendo quase aos noventa minutos, em final de festa, foi celebrado por Castro como se fosse um game-winning goal na final da Taça de Portugal. Castro sorria e os adeptos sorriam com ele, porque representou o que tantos portistas estão a ver desaparecer jogo após jogo: o portismo dos jogadores, que para lá do profissionalismo, é um desejo de todos. Parabéns, puto. Podes não participar tanto quanto querias, mas sempre que o fazes a malta sorri.

(+) Moutinho. Há ali um passe na segunda parte em que Moutinho recebe a bola de Fernando ou Danilo, esqueço-me agora quem foi o remetente. João, com meio segundo de tempo disponível para olhar à sua volta e descobrir uma linha de passe antes que Wilson Eduardo (ou Edinho, mais uma vez não posso garantir…mas também não interessa muito à questão, acreditem) lhe caia em cima e lhe tire a bola dos pés, faz um passe de trinta metros direitinho para o caminho de Alex Sandro, que tem o corredor à sua mercê para atacar a área adversária pelo lado esquerdo. E o número oito faz isto repetidamente durante um jogo, de uma forma natural, como se nada o abanasse, com uma confiança que parece estar sempre em alta. Excelente.

(-) O ricochete do desânimo. Vou abordar este tema daqui a uns dias, mas parece-me evidente que nem o apoio das claques (até elas resistentes ao futebol que adormece tanta gente mas que os parece conseguir manter em força no apoio à equipa…e ainda bem!) pode esconder alguma desilusão dos jogadores para com a equipa. Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos. Os jogadores parecem unidos e se há alguma divisão no plantel, não creio que passe cá para fora. O que passa é uma espécie de infelicidade exteriorizada que consigo entender na perfeição, mas que mais uma vez não compreendo o porquê de se terem deixado chegar a este ponto. Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.


Preparem-se para mais umas semanas de sofrimento, meus caros. Os jogos continuarão a ser vencidos (ou assim esperamos), e os três pontos não parecem falhar aos moços de vermelho. A culpa de todo este desterro é total e completamente alocada a nosotros, por isso não nos podemos queixar do destino ou da performance de terceiros. Insisto que se tivéssemos marcado dois penalties, estaríamos em primeiro lugar com um jogo no bolso se conseguíssemos vencer o Benfas em casa daqui a uns tempos. Enfim, assim vão as glórias por-agora-adiadas do nosso mundo…

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