Ouve lá ó Mister – Académica

Señor Lopetegui,

Em primeiro lugar: coño, que victoria! Ainda tremo quando me lembro do Jackson a passar pelo Neuer ou do Quaresma a roubar a bola ao Dante! Foi um jogaço e estão todos de parabéns, desde a tua humilde pessoa, passando por todos os jogadores e até aos tipos que tomam conta da relva que o Guardiola se lembrou de achincalhar. Médicos, relveiros (?), serve tudo para arranjar desculpa, afinal o Bayern não perde com o Porto, pois não? Duas vezes? Na terça vamos ver se conseguimos esse feito e digo-te já que caso consigamos passar a eliminatória vou-te escrever aqui um elogio como nunca viste. Just wait and see.

À hora que te escrevo ainda não sei quais foram os convocados para hoje. Não me interessa, confio em ti para saberes em que condições estão os moços mas já sabes que vais levar nas orelhas de tudo que é pseudo-jornalista porque se os tipos não correm hoje é porque não querem saber e só pensam na Champions; se correm é porque não deviam porque têm o jogo na terça que é mais importante; se ganharmos é porque desgastaste ainda mais a equipa; se não ganharmos é porque não temos um plantel com estaleca. Vires-te para onde te virares, essa malta nunca te vai dar descanso. Pela enésima vez, bem vindo ao FC Porto…*suspiro*

O que interessa para hoje é que estejam todos recuperados da justificadíssima histeria da passada quarta-feira e que se foquem neste que é o jogo mais importante da época, só porque é o próximo e neste momento são todos importantes. Vamos jogar ao mesmo tempo do benfas e já sei que vai estar toda a gente com um olho aqui e outro no telemóvel a acompanhar o resultado de Belém, ou um ouvido no Dragão e outro lá no Restelo. Mas tens de convencer os teus rapazes que o que interessa é ganhar este contra a Académica independentemente do que aconteça no mini-derby da capital do império. Não precisas de jogar bem, não precisas de desgastar ainda mais os moços que puseres em campo, mas ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 1 Académica

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Interessante, o jogo de hoje no Dragão. Mostrou o FC Porto com uma imagem personalizada como Lopetegui pretende, com as trocas de bola bem feitas na zona recuada, movimentações interessantes no meio-campo e jogo pelas alas para tentar abrir o adversário. E também mostrou o FC Porto na sua vertente mais aborrecida, com movimentações interessantes no meio-campo e jogo pelas alas para tentar abrir o adversário…raramente o conseguindo. É este o nosso futebol em Janeiro de 2015, com valores extremos de posse de bola mas alguma falta de audácia para conseguir transformar essa posse em algo que de facto dê frutos. Apesar dos quatro golos, claro. Mais abaixo, siga para as notas:

(+) Jackson. Ultrapassou Hulk e transformou-se no melhor marcador da história do Dragão. Longe dos valores de Gomes, Jardel ou até do papá do rapaz que hoje o substituiu, é um nome que vai ficar para sempre associado a golos. E raramente são banais, dos que nos esquecemos tão depressa como um prato de bifes de perú grelhados com pouco sal. São estes como os de hoje (especialmente o segundo), que fazem com que tenha ganho a reputação do “gajo que marca os difíceis e falha os fáceis”. Sem os exageros de uma análise a quente, é um ponta-de-lança quase completo, bom de cabeça, tecnicamente excelente e com jogo de equipa para vender em alta cotação. Parabéns, puto.

(+) Ruben Neves. Já que falamos em putos, temos aqui um espécimen de elevadíssima qualidade que colocámos este ano na primeira linha dos Jorges Mendes sequiosos pelo novo grande talento. Temos por isso um menor (a sério, o puto só tem mesmo 17 anos, confirmem no zerozero como eu tive de confirmar) que mostra talento e qualidade de execução ao alcance de poucos no futebol mundial e cada vez menos cá pelo burgo. A forma como joga de cabeça levantada, mantendo a noção de uma estratégia completa, faz do relvado um tabuleiro de Risco onde planeia a próxima incursão com inteligência, critério, capacidade criativa e espírito de sacrifício. Meu Deus, a forma como o rapaz lateraliza a bola é de fazer Pirlo corar, de sentar Gerrard no banco de suplentes e de mostrar a Matthaus como se joga à bola. Estou a ser exagerado? Dêem-lhe uns aninhos e logo veremos.

(+) Gonçalo. Celebrou o primeiro golo no Dragão como o seu pai festejou tantos e tantos outros golos que marcou nas Antas, com o braço estendido de baixo para cima em arco vitorioso, com um sorriso a cobrir as entusiasmadas feições de quem parece gostar do que faz. Entrou, rematou, marcou e ainda sacou um penalty. Tudo com classe, força e boa noção técnica. Precisamos de mais avançados? Do we bollocks!

(+) Tello. É verdade que falhou vários golos. Sim, vários. Demasiados. Uns mais fáceis que outros, mas ainda assim falhou. Mas mostrou-se muito mais activo que noutros jogos, muito mais dinâmico e pronto para investir contra a baliza adversária. É um Tello assim que quero ver, que todos queremos ver, um Tello que jogue no espaço, nas zonas que o oponente deixe abertas e por onde pode passar com velocidade e, talvez um dia, voltar aos golos. Já falta pouco…espero.

(+) Quintero. Na ala com ou sem espaço? Inútil. No meio sem espaço? Quase bom. No meio com espaço? Fucking genius.

(-) José Ángel a defender. Activo no ataque, forte nas investidas pelo flanco…terrível a defender. Posicionamentos constantemente falhados, algumas enormes hesitações nas bolas aéreas e um certo facilitismo perante jogadores rápidos que lhe apareciam pela linha. Uma espécie de Fucile 2011/2012, para ser gráfico.

(-) A automatização do recuo. Aborrece-me o constante uso deste recurso de estilo futebolístico que começou (não me esqueço) quando Lucho regressou. Há uma permanente vontade de devolver os passes para os colegas e uma exasperante falta de audácia ofensiva individual em prol do colectivo, mesmo que esse colectivo aposte em jogadas de apoio que só funcionam em situações de plena rotação da bola por todos os jogadores, com mais horizontalidade que um dia de ressaca depois de uma valente noite de copos. Percebo a ideia mas falta-lhe um desequilibrador (como Brahimi) para evitar que se jogue para passar tempo. Bolas bem passadas pela relva, ao menos isso temos ganho em relação ao ano passado…

(-) Académica. Se qualquer página de apostas de desporto da bet365 estiver com odds em condições, deve dar à Académica uns 5000000-1 para ganhar o campeonato. Não sei como é que conseguem sacar um ponto sequer de qualquer jogo onde entrem em campo, com tamanha falta de capacidade ofensiva e inúteis tentativas de fechar linhas sem que se tenham de preocupar muito com ataques. Atacar. Bah, coisa de fracos. Merecem sair da Taça da Liga, mereceram sair da Taça de Portugal (contra o gigante Santa Maria da AF Braga) e se há justiça no Mundo, vão merecer sair da Liga.


Et voilá, venha de lá o Marítimo. Meias-finais garantidas, a final está aí mesmo à beirinha e não acredito que o próximo jogo contra os homens de vermelho e verde na Madeira dê tantos golos falhados como o do passado Domingo. Nem com onze Tellos em campo!!!

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Ouve lá ó Mister – Académica

Señor Lopetegui,

Pelas minhas contas, precisamos de uma vitória no jogo de hoje para passarmos à próxima fase desta treta sem nos preocuparmos com resultados de terceiros. Continuo a olhar para esta pseudo-competição de soslaio, sem grande interesse mas com uma vontadinha extra de chegar mais longe do que alguma vez chegámos em virtude daquele brilharete em Braga que mesmo não tendo acabado com três pontos deste lado e a garantia que estaríamos na próxima fase sem grandes preocupações, a verdade é que houve algo naquele jogo que me deixou com tanta garra e sangue na guelra que até fiquei todo contente por esta taça existir. E olha que não é fácil entusiasmar-me com isto! Eu que até nem vi a final disto em directo no ano passado, vê lá tu!

E mesmo o facto de nem tu nem os teus rapazes conseguirem ter confirmado os bons sinais desse jogo no Domingo passado, continuo a apoiar-vos. Continuarei sempre, sabes, porque não sei ser de outra maneira e porque acredito que os erros acontecem e que há jogos que correm melhor que outros. E porque sou um gajo mais calmo que era aqui há uns anos, talvez por fazer a catarse de um mau resultado através do teclado do portátil…e olha que ajudou bastante depois do jogo com o Marítimo. Não queria ter de fazer a mesma coisa hoje, Julen.

Já agora, uma dica: dá uma oportunidade ao Gonçalo a titular. Quem sabe, talvez deixes de pensar em trazer mais malta para o plantel? Vá lá, o puto merece.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

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É assim que todos os jogos do FC Porto deviam ser, pelo menos contra este tipo de equipas medíocres. Uma entrada fortíssima, sem mácula, com pressão intensa, golos fáceis e uma autoridade em campo que não mostra um mínimo de preocupação com a moral ou a capacidade de recuperação adversária. Jogar como os grandes que somos, no fundo. Dois ou três golos depois, a gestão, sempre com bola, com rotação de jogadores e manutenção de uma atitude de arrogância positiva, continuamente a criar perigo para a baliza contrária. Simples, não é? Foi, por nossa culpa. Vamos a notas:

(+) Um meio-campo que funcionou muito bem. A numerologia pode explicar muita coisa, desde os calendários Maias às cartas do professor Mambo, mas o meio-campo do FC Porto foi hoje um exemplo quase perfeito que a escolha de camisolas parece seguir uma inspiração divina que faz com que questionemos a raiz da nossa existência e o nosso lugar no Universo. Para lá do sentido da vida ser 42, como todos sabem, vejamos os números dos três centro-campistas que hoje alinharam em Coimbra com as nossas cores: 16, 30 e 36. Se Ruben Neves arrancou numa posição mais recuada, somemos Óliver à construção defensiva e teremos 36+30=66. Dois números “seis”, portanto, a alternar na combinação defensiva. Se colocarmos o outro 16 a passear ali pelo lado, o “seis” parece uma visão idílica que nunca aparece ao mesmo tempo que se mostra perfeito, em zona pouco criativa mas muito trabalhadora. E se tirarmos Óliver a Ruben e o deixarmos sozinho, 36-30=6, que ele não é mas mostra gostar de fingir ser. Mais pela frente, se subtrairmos Herrera a Ruben e subtrairmos esse número também a Óliver, quando o homem volta para apoiar, temos 30-(36-16)=10. O dez perfeito que também não existe mas que se compõe das ausências e presenças na zona certa, no momento certo. Todos a funcionar, a adicionarem-se e a subtrairem-se, como números em folhas de papel, manuseados por um Deus de lápis em riste. Só faltou um: o 6. Para a semana, talvez.

(+) Óliver. Impecável na zona defensiva em apoio à primeira fase de construção, perfeito na labuta do centro do terreno e trabalhador como poucos na altura de pressionar o adversário, parece estar a atravessar um bom momento e a jogar com a confiança que esperávamos desde o início da temporada. Excelente capacidade técnica, toque de bola de primeiro nível e uma inteligência táctica acima da média fazem dele titular na frente de Quintero e uma peça essencial do estilo de Lopetegui. Excelente jogo.

(+) Jackson. Dois golos perfeitos, um com cada pé, numa exibição que foi quase perfeita em termos de eficácia em frente à baliza. Trabalhou bem e apesar de não ter tido grande impacto no resto da partida, foi ele quem resolveu o jogo logo desde muito cedo e a perfeição com que aquele segundo remate (e segundo golo) entrou na baliza é uma obra de arte que deve ser vista, revista e trevista. Genial, filho do Jack, genial.

(+) O apoio dos adeptos. Quando se colocam bilhetes a dez euros para um jogo a uma hora de viagem de carro da Invicta, é natural que a malta alinhe e este foi um caso paradigmático do que se quer sempre que o FC Porto se desloque a um estádio para praticar o seu métier. Todo o jogo se ouviram os adeptos a cantar, a afastar o frio enquanto saltavam e entoavam os tradicionais cânticos de apoio à equipa e aos jogadores, aqueles que fazem a razão do nosso apoio e da nossa dedicação. Tive pena de não ter estado ali no meio dos nossos, parabéns, malta!

(-) Brahimi. Segundo jogo consecutivo em que Yacine não parece o mesmo de aqui há umas jornadas, o que não sendo algo que me deixe prostrado em posição fetal a lamentar os infortúnios das decisões dos deuses, chega para preocupar um bocadinho. Parece mais lento, menos activo, a complicar mais do que decide e sem perceber qual a melhor maneira de passar pelos adversários. A genialidade tem disto, quando a lâmpada não se acende por cima da sua cabeça naquela imagética tão tradicional dos desenhos animados…só sai borrada. Espero tempos melhores, rapaz, mas não te preocupes, ninguém deixou de acreditar em ti. Até os relógios normalmente certos podem parar de vez em quando.

(-) Académica. Muito, mas muito fraquinho. A entrada em jogo fazia prever uma estratégia tão defensiva que temi o pior caso não conseguíssemos trabalhar a partida de forma a mostrarmos em campo que somos melhores, e a forma como a Académica não ter obrigado Fabiano a fazer uma única defesa em condições num jogo disputado no seu próprio estádio é a prova que não há grande qualidade em Coimbra para lá de meia-dúzia de estudantes bem boas e alguns bares porreiros. Enfim, ebbs and flows da vida.


Jogo ganho, amarelados em risco que deixaram de estar em risco para o jogo contra o Benfica…all is well, venha o Shakhtar!

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Ouve lá ó Mister – Académica

Señor Lopetegui,

Não tenho um grande histórico mental dos jogos do FC Porto em Coimbra, que é o mesmo que dizer que me lembro de mais borracheiras que apanhei nessa bela cidade que golos de azul-e-branco. E ainda por cima parece que me cai o céu em cima sempre que nos deslocamos aí para jogar contra os pretos da terra (estou a falar do equipamento, carago, não há racismos aqui), porque em mais que uma ocasião sou impedido de ver o jogo em directo. Não vi no ano daquela épica batalha na piscina, onde as tropas do Villas-Boas pediram ao Belluschi para brincar como quisesse e o Silvestre marcou aquele golaço de primeira…não vi na época seguinte, quando Vítor Pereira se enterrou pela medida grande com um 3-0 para a Taça que nos deixou fora, furiosos e frustrados. Mas vi montanhas de jogos com o camelo do Pedro Roma na baliza a defender tudo, lá isso vi, por isso eu sei que os números que nos dão favoritismo são só isso: números.

Tem cuidado com os amarelos. Pá, só te aviso disto porque já sei do que a casa gasta, e já vi muitos rapazes a perderem a cabeça por causa dessa treta. O Indi e o Casemiro não são propriamente gajos calminhos e se os puseres a jogar arriscas não os ter para jogar com o Benfas, onde podem vir a dar muito jeito se for preciso andar ao molho dentro de campo…ou até para lhes ganhar, quem sabe. Mas não os tires da equipa, nada disso. Fala com eles, explica-lhes que devem fazer o mesmo que sempre fazem, mas mais pela calada. Menos entradas de carrinho e empurrões com os braços estendidos. Se vires que eles não querem ou não conseguem…aí sim, enfia o Marcano e o Campaña e seguimos contentes como dantes. Só aí. Ouvistes? Bale.

Hoje, mais uma vez, não vou ver o jogo em directo. Jantares e jantarinhos e jantarões que me arrastam (com bom motivo) para longe de vocês, meus caros, e não adianta jurar que não vou voltar a falhar os jogos porque já percebi que as forças do Universo conspiram quais velhos em repartições de finanças ou velhos no dominó de rua. Mas chegado a casa, seja a que horas, vou ver a bola. Porque um portista é também isto, Julen, é um estupor de uma loucura que não se explica, só se sente e parece não melhorar com a passagem do tempo. Ainda bem.

Sou quem sabes,
Jorge

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