Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Hoje de manhã, em futebolada com amigos, levei uma bolada no focinho que me pôs a ver estrelas durante uns segundos e me deixou o lábio superior inchado como se tivesse andado à pancada. Ainda por cima, a bola sobrou para outro adversário e entrou na minha baliza. Levantei-me e continuei a jogar. Passados dez ou vinte minutos, dei um pontapé no poste, sem querer. Uma unha partiu e a pancada fez com que enchesse a ponta da meia de sangue. Levantei-me e continuei a jogar. Antes que digam: “este gajo é mesmo tosco!”, esperem pelo corolário. Hoje à noite, em Alvalade, não houve nenhum lance que se assemelhasse a estes dois eventos matinais. Mas quase nenhum dos nossos jogadores mostrou este tipo de vontade que até eu mostrei numa amigável futebolada com amigos para, depois de aturdido com um ou outro lance que não tivesse corrido bem, se conseguir levantar e perseguir com garra o que estava ali ao seu alcance. Só houve nervosismo, incapacidade de lidar com contrariedades tácticas, incapacidade de ultrapassar um adversário fraquinho mas que correu mais que nós. Metaforicamente, levamos petardos nos dentes, demos chutos em postes. E não nos levantamos para continuar a jogar, mantivemos o jogo passivo, lento, sem rasgo, sem chama. E perdemos dois pontos, sem necessidade. Vamos a notas:

(+) Otamendi Que me lembre teve uma falha no jogo todo, que podia ter dado um golo ao adversário: o fora-de-jogo não existente a Wolfswinkel que o holandês aproveitou para rematar e Helton para defender, e onde o argentino subiu tarde, caindo na desmarcação do Ricky. Para lá disso, um jogo de intercepções consecutivas, cortes perfeitos, bola levada pelo pé até zonas que não lhe são familiares mas que Nico fez com que se transformassem em áreas onde parecia à vontade. Mantenho que é o melhor defesa que temos (“defesa”, como em “um dos gajos que ficam lá atrás, ao contrário dos defesas/médios-ala que povoam as nossas laterais), para lá do brilhantismo de Mangala e da força e técnica de Maicon, e insisto nesta tecla: como é que o Rojo é chamado para a selecção argentina e Otamendi not so much? Comigo era titular em todos os jogos.

(+) Fernando. Jogou muitas vezes em zonas avançadas, mais do que é normal. Com Defour excessivamente recuado, a tentar sem sucesso agir como Moutinho (há muitos que o consigam? duvido muito.), Fernando foi o que mais tentou e dos poucos da linha do meio-campo para a frente que mostrou que queria mesmo ganhar o jogo com a força do campeão que é e que não quer deixar de ser. Foi lutador, sempre lutador, contra os caceteiros que apanhou pela frente, nunca perdendo o tino a não ser com algumas decisões questionáveis de Paulo Baptista. Não chegou.

(+) Jackson, mesmo sem marcar. É um excelente ponta-de-lança e hoje foi o mais perigoso dos jogadores do FC Porto em Alvalade. Mas não consegue fazer tudo sozinho e está a começar a receber bolas em demasia a partir do meio-campo e até da defesa, que começam a ver nele uma espécie de messias em que todos depositam a confiança suficiente para livrar a equipa de situações mais delicadas. Nem sempre consegue e hoje tentou, sempre com inteligência e espírito de equipa. Resultado? Vários remates ao lado, com constante pressão dos defesas do Sporting, sem apoio dos colegas. Não era o dia dele, mas fez para que o fosse.

(-) Passaram onze dias desde o jogo contra o Málaga… e é assim que estamos. Uma equipa que tem tanto de genial como de permissiva, tecnicamente inapta e tacticamente incapaz de levar o jogo para cima do adversário durante um período de tempo que permita a criação de lances que levem de facto perigo à baliza contrária. Patrício teve mais trabalho pelo ar a tentar roubar a bola da cornadura de Jackson do que pela relva, e o facto de termos alguns jogadores em baixo de forma (Varela, Lucho, James, Danilo…) faz com que a boa forma de outros (Fernando, Alex Sandro, Jackson…) não chegue para compensar as falhas dos primeiros. Falta força, falta tanta força, falta choque, impacto, agressividade, falta jogar com um objectivo claro. Falta alma, falta paciência, falta pachorra para aturar a falta de paciência. Juntemos a este caldo a ausência de Moutinho e transforma-se o FC Porto numa equipa banal, incapaz de manter um ritmo de jogo consistente com o que já vimos este ano contra grandes equipas, particularmente na Europa ou na Luz. É um FC Porto de duas caras, Hyde para os amigos e Jekyll para os inimigos, ou ao contrário, porque nunca sei qual é o bom e o mau. Nem eu nem ninguém, porque no início de cada jogo nunca se sabe qual é o FC Porto que vai aparecer. Se alguma vez alguém tentou diagnosticar bipolaridade a uma equipa de futebol, não podia começar por um sítio melhor que pelo FC Porto de Vitor Pereira.

(-) Os piscineiros do Sporting. Uma curta nota porque não quero deixar passar em claro uma das coisas que mais me enervou hoje à noite, para lá da incredulidade de ter visto Rinaudo acabar sem amarelo e Miguel Lopes, que jogou de raiva e a bater em tudo que viu, a levar um amarelo apenas aos 89 minutos. O que mais me chateou no adversário foi a distinta lata da maioria dos jogadores do Sporting de tentarem sacar tudo que era falta após o mínimo dos contactos os fazer voar para o chão como putos com um fato de Super-Homem. Labyad, Capel, Carrillo mas principalmente Wolfswinkel, que já devia perceber que se chega a Inglaterra para fazer este tipo de merdas, vai ser corrido com um gesto do árbitro mais depressa do que conseguir dizer: “Ref, it’s a foul!”. Ah, só para perceberem o quão lixado devemos todos estar: perdemos dois pontos contra este bando de freiras desfloradas.


Nada está perdido e vamos lá deixar-nos de miserabilismos e toalhas ao chão e outros clichés do género. Mas preocupa-me que tenha sido um mau jogo que se seguiu a outro mau jogo, o que me deixa sem convicção para perceber se vamos ou não conseguir a recta final que precisamos. Se o Benfica vencer em Aveiro, continuamos a depender só de nós para sermos campeões. Mas custou perder dois pontos contra uma equipa que perdeu várias vezes os pontos todos contra equipas muito mas muito mais fracas. E não aconteceu por mérito deles, ou pelo menos não exclusivamente por isso. Muita da culpa do empate é nossa, e deixa-me triste. Mais uma noite triste.

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Baías e Baronis – Beira-Mar 0 vs 2 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

É sempre uma chatice jogar antes de uma jornada europeia. Palavra que deviam acabar com estas tretas e permitir que os jogadores tivessem uma semana só de treinos antes dos jogos europeus, ou então fazer com que pudessem repetir os jogos depois de ir passear à Europa. Mas o calendário existe por um motivo (nem sempre perceptível, é verdade) e temos mesmo de passar por estes mini-calvários de arriscar perder pontos em jogos onde a concentração nunca pode ser a mesma contra um adversário que, francamente, não merece estar na maior divisão de futebol do país. Como tantos outros. Valeram os jogaços de Mangala e Marat, o golaço de Jackson e uma segunda parte bem melhor que a primeira, que entreteu adeptos e creio que até alguns dos próprios jogadores. Foi um bom aperitivo para terça-feira, no fundo, que é o dia para onde todos os portistas já estão a olhar. ‘Bora lá a notas:

(+) Mangala. Este moço está a ficar um jogador do carago, está sim senhor. É verdade que ainda tem muito a polir, o choque ainda sai por vezes fora de tempo, a saída com a bola controlada pode ser melhor e o jogo de cabeça tem de ser mais certeiro. Não há jogadores perfeitos, mas Eliaquim está a fazer uma progressão excelente no ano e meio desde que chegou da Bélgica e continua a ser titular sem o mínimo de contestação. E lembrem-se que é Maicon que está no banco, o homem que conquistou os adeptos a pulso! Foi expulso depois de aparecer na pequena área numa jogada de bola corrida, e que Xistra considerou que tinha sido a terceira ou quarta falta consecutiva que o francês fazia. Aceito o critério e Mangala talvez já devesse ter levado o segundo por reincidência em faltas anteriores…mas não deixo de achar ridículo que um lance em que tenta jogar à bola seja a razão por que finalmente levou o segundo amarelo. É parvo, um bocado como o próprio Xistra. E não me fodam…Mangala vai levar o mesmo número de jogos de Cardozo. Pois. De qualquer forma, para refocar a atenção no talento do rapaz…os meus parabéns, moço. Estás em grande.

(+) Marat. Quem diria que o russo conseguiria aguentar noventa minutos, ainda por cima sem jogar colado a um flanco e a rodar por trás de Jackson durante toda a segunda parte?! Tem uma técnica individual que faz muita falta naquela frente de ataque (quando o comparo com Varela ou Atsu a esse nível…é quase triste pensar que só é titular porque James está agora a reentrar na equipa), mas é na inteligência posicional e na criatividade que fez com que o jogo fosse muito positivo. Apareceu em zonas perfeitas para as tabelinhas, com Danilo e Jackson, Lucho e Moutinho, fosse quem caísse para o seu lado, Marat lá estava prontinho para receber a bola e para a endossar de novo para o colega. É pequenino, o cabrão, mas sabe muito bem o que fazer com a bola e não desiste…pelo menos enquanto tiver pernas, espero que continue.

(+) A crescente audácia de Danilo. Tenho gostado de ver Danilo a subir pelo flanco, com muito menos tiques “centralistas” que mostrou durante 2012. Parece mais sólido de um ponto de vista mental, mais calmo e mais inteligente, com timings mais correctos a deslizar pela linha e a aparecer em zonas de cruzamento de uma forma bastante mais útil e pensada. Tem de melhorar nesses mesmos cruzamentos, mas está a subir de produção.

(+) O golo de Jackson. Grande assistência. Grande controlo. Grande finta. Grande remate. Grande jogador.

(-) Alex Sandro e Cª, nas saídas da defesa. O golo que sofremos contra o Olhanense, apesar de fruto de um excelente trabalho do Targino (aposto que nunca mais volta a correr 60 metros em alta velocidade com a bola controlada e um panzer núbio atrás dele a pisar-lhe os calcanhares), nasceu de uma parvoíce de Alex Sandro. Hoje, o mesmo ia sucedendo, não só com Alex mas com Danilo, Otamendi e Fernando, que insistem em sair com a bola excessivamente descontrolada na saída da área e na criação da jogada de ataque que surge depois da quase inevitável oportunidade desperdiçada pelo adversário. Assusta-me ver este excesso de confiança, muito mais que assusta os próprios jogadores que a exibem, como tem vindo a ser notório nos últimos jogos…


Ninguém poderia esperar um grande jogo mas a primeira parte parecia entrar naquele túnel cárpico de passes infelizes, jogadas inconsequentes e falhas técnicas…até que Atsu se lembrou de rematar com força e não-tanta-colocação-como-Freitas-Lobo-orgasmizou-em-directo, mas o suficiente para matar o jogo logo ali, pouco depois da meia-hora. O Beira-Mar nunca colocou problemas e só Xistra animou a malta, como de costume. Mais três pontos, mais um jogo vencido fora de casa e menos noventa minutos de distância do título. Mas agora…o que interessa é o jogo de terça!

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Ouve lá ó Mister – Beira-Mar


Amigo Vítor,

Sinto-me sujo, sabes? Coberto da imundície de um empate que me chateou profundamente e culpo-te por isso. Tens culpa tu, o mau tempo, a minha faringite, o relvado e o João Pereira. Culpo sempre o João Pereira quando há alguma coisa negativa que me acontece, esse e o Katsouranis são ódios de estimação que não desaparecem rapidamente e estou em crer que são responsáveis por grande parte dos males do mundo, desde o aquecimento global ao timbre do Justin Bieber. Muitas referências culturais seguidas, peço desculpa. Mas dizia que tens culpa porque me arrastaste para uma falsa sensação de segurança que pensei que já não íamos perder pontos (pelo menos no Dragão) até ao fim da época. E depois deixas que os teus rapazes saquem uma surpresa destas que me arranhou ainda mais a garganta e esgadanhou a alma. Não se faz, Vitor, you naughty boy.

Por isso hoje à noite em Aveiro não espero menos que uma vitória, e uma vitória a sério. Já sabes que não preciso de ganhar por 40-0 para activar as minhas glândulas da cagança, sou superior a essas merdas. Quero é um jogo consistente, de uma equipa que tem tudo ao seu alcance para ser campeã, que luta com as armas que tem e as armas que tem são suficientes para desancar no lombo do Beira-Mar de tal maneira que os moços vão pensar que lhes enfiaram uma bazooka soviética enferrujada pelo esfíncter acima. Ganha o jogo, descansa os adeptos e depois descansa os teus, que bem vão precisar de estar com as pernas tranquilas na próxima terça-feira.

Despacha lá isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Beira-Mar

Foi fácil, demasiado fácil. O Beira-Mar, apesar da interessante posse de bola (por nós permitida) na primeira parte, não conseguiu fazer um mínimo exigível para colocar dificuldades a uma equipa do FC Porto que parece confiante, com um jogo estruturado e com evidente capacidade para desenvolver um futebol bonito e com a possibilidade de subir o nível quando é necessário. E hoje quase não foi, porque o jogo durou apenas até ao terceiro golo e o que se seguiu foi um bocejo de trinta minutos intercalado com o golo de Maicon (bela cornada) e um ou outro pormenor de Iturbe, a somar à sequência de parvoíces de Mangala que mostrou que ainda está muito verde para alguém que, aparentemente, saiu direitinho de uma máquina de clonar Pepes. No final, um jogo agradável, três pontos no saco e a noção contínua que equipas como o Beira-Mar, enquanto continuarem a defender quando perdem por três…nunca mais saem do ponto onde estão.. Notas abaixo:

 

(+) A tranquilidade na posse de bola Defour, Moutinho e James formaram o meio-campo de hoje e mostraram o porquê de conseguirmos ter uma superioridade tão evidente. A pseudo-dispensa de um trinco como Fernando, mais agressivo e menos posicional que Defour, leva a que a bola flua bem melhor no centro do terreno. Mas é especialmente a ausência de Hulk que faz com que o espírito da equipa seja obrigatoriamente diferente, com um posicionamento mais recuado e acima de tudo com uma posse de bola mais tranquila e mais controlada. O jogo torna-se menos directo e depende mais da rotação dos jogadores e da bola entre os jogadores. E isso é o mais importante de tudo. O FC Porto não está mais forte sem Hulk. Está mais paciente, forçou-se a ser mais pausado e menos irreverente. Gosto.

(+) James Principalmente no meio-campo, James mostrou que pode vir a ser um jogador fora de série, diferente do que tivemos nos últimos anos e um activo a valorizar enquanto cá está. É diferente do “10” Diego e muito diferente do “10” Deco. Um golo (com sorte, é certo) e duas assistências (a segunda, de cabeça para Varela, é excelente) são os números que ficam depois de uma partida em que mostrou que também sabe lutar, também sabe ir ao chão e tirar a bola aos adversários, também percebe o que precisa de fazer para brilhar para os adeptos e acima de tudo perante o Mundo que o observa. Provavelmente será inclinado novamente para a ala, mas se jogar sempre assim solto e bem-disposto…voltamos a ter o puto em grande.

(+) O golo de Jackson Uma obra de arte, a perfeição futebolística em dois toques de um rapaz que precisava de se redimir depois da “Grande Borrada de Zagreb”. Continua a ser uma excelente parede para os colegas terem um ponto de referência na frente, mas pareceu mais afinado na área, mais pronto a jogar de frente para a baliza, como lhe pedimos. Mas o golo…xissa, homem.

 

(-) A excessiva dureza de Mangala Agora percebi o porquê de Abdoulaye ser convocado! Mangala, a suprir a lentidão de Otamendi para as subidas de Alex, até parecia uma boa escolha, mas havia sempre a possibilidade de ser expulso aos 10 ou 15 minutos de jogo. Pode ter sido só um jogo em que o rapaz passou mal a noite a sonhar que gajos de amarelo e preto lhe tentavam violar a namorada, mas o que é certo é que acertou em tudo que viu. E sempre com virilidade em excesso, com mau timing na intercepção e fraca noção de controlo de espaço. Pior: não acerta um passe em condições que não seja para o lado. Tem de melhorar muito a técnica e a capacidade defensiva no 1×1.

(-) Bolas paradas defensivas Já falei muitas vezes nisto e continuo a insistir: é preciso melhorar nas bolas paradas defensivas. Quase sempre que há uma bola a sobrevoar a nossa área, há qualquer tipo de problema que se apodera dos jogadores porque decerto lhes falta uma vitamina qualquer que os ajude a saltar. Vinte e tal pés no chão não serão a melhor maneira de defender cantos…

(-) O buraco no meio-campo Vitor Pereira, na conferência de imprensa, disse o seguinte: “É claro para mim que, jogando com ele a 10 e apenas dois médios, perdemos consistência.”. Toda a razão. Com o triângulo a manter dois vértices atrás e um jogador solto pela frente, nota-se um certo despovoamento no topo do meio-campo defensivo que se faz notar especialmente a defender ataques rápidos. Vi situações de 3×3 vezes demais no jogo de hoje e fosse contra uma equipa mais inteligente e não sei o que teria acontecido.


Para terminar, foco-me outra vez no Beira-Mar. Uma equipa que passa grande parte do jogo todo enfiada no meio-campo, com uma táctica árvore-de-natal limitada a 50 metros, não merece mais que uma descida de divisão e uma demolição do estádio. Treinadores como Ulisses Morais continuam a insistir na mentalidade do “perder por poucos não é mau” e impedem que os clubes que defendem sejam mais, façam mais, vivam mais. Definham, como o espírito dos seus líderes. Tenho pena.

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